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É carnaval


É carnaval

Eu adorava o carnaval. Sobretudo, assistir às escolas de samba. Durante 20 anos, frequentei o Sambódromo, embevecida com aquele espetáculo de cores e sons, hipnotizada com o pulsar da bateria, que acelera o coração da gente e com a oportunidade de presenciar um dos maiores espetáculos da Terra. Entretanto, essa magia se desfez para mim e eu explico por quê.

Hoje, o carnaval tornou-se um festival de excessos, acompanhados de violência, sujeira e degradação. As belíssimas fantasias deram lugar à vulgaridade e à nudez, o diabo passou a ser reverenciado por várias agremiações em seus desfiles, as drogas são consumidas livremente, tornando-se, inclusive, desculpa para que tudo seja permitido. As ruas tornaram-se perigosas e as pessoas sentem-se vulneráveis, pois vários crimes são cometidos impunemente.

Se os desfiles no Sambódromo mostram artistas e famosos, os blocos de rua trazem a degradação do ser humano comum, que se embriaga até cair e urina em qualquer lugar (até em cima de outro ser humano, num ato que é denominado chuva dourada). Nesses mesmos blocos, as pessoas são assaltadas e algumas até violentadas.

Tudo isso me entristece. A modernidade normalizou os excessos, justificando muitas das aberrações que estão ao nosso redor com frases feitas, que não possuem qualquer conexão com a realidade. Então, o criminoso que rouba, espanca e estupra, é produto da “desigualdade social”. O casal que faz sexo em plena rua, está “vivendo a liberdade sexual”. O uso de entorpecentes em qualquer lugar vem da “política de descriminalização de drogas”. O artista que desfila nu ou encena o Diabo, está “representando a sua arte”.

Para tudo há uma justificativa. Entretanto, as desculpas criadas, para explicar o caos e a desordem sociais, não são capazes de impedir que, muitas das vezes, haja consequências terríveis para esses comportamentos, com as quais tenhamos que lidar.

O retorno de muitas pessoas à religião e aos valores morais e familiares tem a ver com o outro lado dessa moeda, uma forma de reação natural ao que não se quer viver, ao lugar para onde não se deseja que a sociedade caminhe. Tudo tem um limite.

Há um renascimento de um conservadorismo forte no mundo todo, no literal sentido da palavra: conservar aquilo que deu certo para a civilização, preservando valores morais e atitudes, que não podemos permitir que pereçam, pois o que estamos testemunhando é um show de horrores que parece não ter fim. Avançamos tanto em conhecimento, escolaridade, tecnologia, mas regredimos em valores e costumes.

Acontece que muitas sociedades sucumbiram, pela perda de seus valores mais importantes. A sociedade grega. Roma antiga. Temos vários exemplos do que não devemos fazer, sob pena de perecermos como civilização. Entretanto, para o bem e para o mal, o ser humano está sempre testando limites, esticando a corda, querendo mais.

Não há mais o que se possa desejar, que não esteja legitimado na sociedade atual. No entanto, embora sejamos livres para fazermos o que quisermos, nem tudo que nos é permitido, nos convém. É preciso que, urgentemente, mude-se a direção do leme desse barco em que todos estamos, para que não afunde.

Eu não frequento mais o carnaval do Brasil por um simples motivo: os valores que estão sendo incensados, nessa festa popular, não me representam. Ali temos a desordem e o caos da civilização potencializados ao máximo. Nesse cenário trágico que encontramos, nos dias de folia, ninguém é poupado. Contudo, ainda nos é dado o livre arbítrio para decidirmos se queremos fazer parte ou não.


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Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. IV N.º 51 edição de Fevereiro de 2025 – ISSN 2764-3867


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