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As mentiras sob as fundações

As mentiras sob as fundações

O filme A Sombra de Stalin narra a história do jornalista galês Gareth Jones, em sua viagem à nada saudosa União das Repúblicas Socialistas Soviéticas durante o governo do ditador genocida Joseph Stalin no início da terceira década do século passado. A missão de Jones era retratar sua experiência no país comunista para que, de certa forma, o restante do mundo soubesse o sucesso daquele sistema.

Jones não era um opositor às ideias comunistas, ao contrário, até poderia ser considerado um simpatizante do regime, ao menos daquilo que acreditava que o comunismo era. Contudo, o jornalista começa a desconfiar da prosperidade, até excessiva, que os soviéticos experimentavam apesar do cenário de crise no restante do mundo. O galês poderia assumir que a União Soviética estava fora do alcance das mazelas que afetavam outros países por se tratar de uma nação que adotou um sistema que o afastava do capitalismo, associando a crise, a grande depressão, ao liberalismo econômico como os defensores do socialismo até hoje fazem, entretanto, era nítido que havia algo estranho naquela prosperidade soviética.

O que Gareth Jones acaba descobrindo é que os jornalistas estavam inseridos em uma espécie de encenação que representava uma falsa prosperidade do regime soviético, uma vez que estavam convivendo apenas com a elite daquele país, ou seja, os relatos seriam produzidos por jornalistas que desfrutavam da fartura que só os membros do partido e os burocratas em altas posições podiam experimentar.

Jones percebeu que não estava ali para relatar o que acontecia com o povo soviético, mas para vender ao ocidente a imagem que todos gozavam das regalias que, na verdade, eram exclusivas da elite socialista. Sua missão era retratar uma farsa para convencer o restante do mundo que a União Soviética era uma nação prospera com uma economia pujante, não afetada por crises oriundas do sistema capitalista, e o povo experimentava uma vida feliz em meio à abundância de recursos.

A grande virada do filme é quando Jones decide buscar a verdade e lhe é sugerido buscar a resposta na Ucrânia, uma das repúblicas soviéticas na qual o jornalista poderia observar, in loco, a triste realidade do povo que sustentava a farsa do líder socialista Stalin. Jones consegue, após algum esforço, driblar os agentes do governo soviético e, finalmente, chegar à Ucrânia, constatando uma verdade muito pior do quê poderia ter imaginado.

A verdade sobre mal que assolava o povo da Ucrânia não podia ser contada, era preciso que Jones presenciasse o drama para acreditar em tamanha monstruosidade perpetrada pelo regime socialista, que confiscava os alimentos produzidos naquelas terras férteis e expropriava os Kulags, os agricultores ucranianos, para manter o luxo da elite de Moscou e, ao mesmo tempo, penalizar aqueles que não aderiram às políticas doentias de Stalin e seu maldito antecessor. O líder soviético nutria certo desprezo pelos agricultores da Ucrânia e não se importava em desgraçá-los para manter seu nefasto regime.

A morte pela fome, chamada pelos ucranianos de Holodomor, era encoberta pelo regime socialista como se fosse uma sujeira varrida para baixo do tapete, dizimando o povo ucraniano e escondendo do ocidente o quão desprezível é o socialismo. Quando Gareth Jones vivencia o terror que se escondia à sombra de Stalin, o jornalista galês decide, assim que consegue retornar ao ocidente, contar ao mundo livre a respeito de sua experiência na Ucrânia para expor o mal que o regime soviético era e como aquelas pessoas eram atingidas.

Ao denunciar a verdade sobre o Holodomor, algo que ainda é negado por socialistas até os dias atuais, Gareth Jones enfrentou um novo desafio, haja vista que o regime soviético mantinha uma rede de influências para garantir que suas mentiras não fossem confrontadas, de forma que Jones acabou sendo tratado como um propagandista anticomunista, um agente da desinformação que buscava difamar o maravilhoso mundo da União Soviética. Nos dias atuais, o jornalista galês, provavelmente, seria acusado de espalhar fakenews, por ser um negacionista ou teórico da conspiração, sendo alvo daqueles que buscam controlar a informação, entretanto, a descentralização da informação permite que tiranos não consigam calar, ao menos de forma absoluta, aqueles que buscam desmentir suas farsas abjetas.

Manter o Holodomor escondido foi uma das formas da propaganda comunista evitar que o mundo livre soubesse o quão atroz era o regime, desmobilizando, no ocidente, movimentos que denunciassem as mazelas do socialismo. Além de esconder suas vicissitudes, os socialistas infiltraram suas ideias nas universidades e movimentos revolucionários diversos, especialmente, na guerrilha, que no continente africano se mantém até os dias atuais, entretanto, na América Latina deu origem a narcoguerrilha, que ainda conserva seus vícios socialistas e, em alguns casos, laços com políticos afetos àquela vertente ideológica.

Construir algo verdadeiro é contrário ao socialismo, uma vez que, sendo uma ideologia relativista que esconde sua verdadeira natureza, na qual a elite revolucionária pretende se impor através de uma ditadura mascarada, seja alegando servir ao trabalhador ou ser uma democracia, sendo, portanto, necessário esconder suas falhas, mazelas e tudo aquilo que aponte contra a nefasta ideologia do público em geral.

A China, país do qual os defensores do socialismo se gabam de estar em uma crescente econômica ímpar, nitidamente mascara as informações para parecer mais próspera e menos falha que realmente é. Basta observar o caso da construtora Evergrande para perceber que há uma clara manipulação de dados com o fim de enganar o mundo acerca do desenvolvimento chinês. Evidente que um socialista dirá que empresas por todo o mundo estão sujeitas a gestores dispostos a ludibriar terceiros distorcendo dados, mas naquela ditadura socialista unipartidária, o capitalismo serve aos interesses estatais e é pelo Partido controlado, permitido ou esvaziado.

Outro curioso caso é o do Turcomenistão, outrora um das repúblicas soviéticas, cuja capital Asgabate apresenta construções extravagantes que ostentam uma riqueza que não é usufruída pelos cidadãos. Em verdade, a capital parece uma linda cidade fantasma quando visitada e os poucos que conseguem entrar no país são monitorados para que não tenham acesso à realidade dos turcomenos, tal qual o governo soviético fazia em relação aos jornalistas, escondendo os ucranianos.

Os regimes de Cuba, Venezuela e Nicarágua também negam sua real natureza, fantasiando-se de corajosos oponentes e vítimas das potências ocidentais, alegando combaterem o imperialismo quando, na verdade, servem os interesses do imperialismo socialista, ou seja, forçam seus cidadãos a ajoelharem aos governos de China, Rússia, Irã e outros, fingindo que estão os libertando dos EUA e da Europa.

O maior problema dos revolucionários é que, no afã de construir sobre mentiras, acabam por esconder sob suas fundações uma força que não poderão controlar, pois como diziam os mais velhos, “a mentira tem pernas curtas”, apontando que ela não consegue correr para tão longe que um dia não seja alcançada e exposta.

O colapso de uma construção que tem a mentira sob suas fundações é inevitável e o máximo que os líderes revolucionários poderão fazer é postergá-lo, caso em que, não importa-lhes se a estrutura ruirá, mas se eles não estarão nela quando acontecer. Assim como Papa Doc e Baby Doc conseguiram deixar o Haiti após expropriarem tudo o quê puderam e Joseph Stalin morreu sem ser julgado por seus crimes, os líderes revolucionários lutam para que o poder não escape de suas mãos, para que possam gozar suas vidas no luxo e impunes, haja vista que não acreditam em justiça divina.

Papa Doc, para dizimar a oposição no Haiti, instituiu a política de partido único, obviamente o dele, assim como ocorre na China, e enfraqueceu o exército e criou uma milícia voluntária, uma força composta por criminosos que podiam matar e expropriar os cidadãos, chamada Tonton Macoutes (Tio do Saco em Português), algo que remete à Guarda Nacional Bolivariana de Hugo Chaves, podendo inspirar uma polícia ligada ao regime, como se fosse uma força nacional ou uma corporação criada para assumir a segurança sob um controle centralizado. A experiência do Haiti e da Venezuela era para ser mais que o suficiente para mitigar a ideia de uma força militar centralizada para funcionar como polícia, pois, estaríamos criando uma instituição perigosa, mas isso não será tratado no momento.

Para sustentar mentiras, a liderança revolucionária produz conteúdo acadêmico à la carte, com estudos direcionados aos seus interesses, servindo como arcabouço, ainda que fraudulento, para as pautas socialistas. Construindo narrativas sem qualquer sustentação na verdade, os revolucionários acabam vendo suas obras desmoronaram, usando da força para encobrir suas mentiras e tentar manter os escombros de pé. Chegamos ao ponto em que o regime precisará eliminar aqueles que tentem abrir os olhos dos demais, pois aceleram o processo de autodestruição que os líderes revolucionários, embebecidos pelos luxos que o regime os propicia, consideram como uma destruição imposta por seus rivais, que não são nada além de todos que, em algum momento, decidam expor suas mentiras encobertas.

A luta pela censura nas redes sociais, que para a mídia mainstream é a tentativa de manter o monopólio da informação e, por conseguinte, sua existência no patamar de outrora ocupara, para os senhores socialistas é a forma de encobrir a verdade e postergar a queda de sua estrutura erigida sobre a farsa que é a revolução. Não por acaso a esquerda mundial pretende avançar com medidas que resultem na censura, países como China e Rússia restringem o acesso e funcionamento de plataformas para que não haja vozes que se contraponham às versões oficiais.

Na Europa e na América Anglo-saxônica a esquerda tenta emplacar lei para censurar as redes chamando tais medidas de regulação. A mesma postura se verifica na esquerda brasileira que, ressalvado o Partido da Causa Operária, ao se deparar com a resistência dos membros do Congresso Nacional, busca pela via do ativismo judicial, promover a censura, por mais que isso signifique atropelar o Poder Legislativo, uma vez que, os revolucionários acreditam que os fins justificam os meios e nada pode impedir os avanços do socialismo.

A esquerda chamada socialdemocrata, que usa a democracia para chegar ao poder e destruí-la em nome de seus ideais socialistas, tanto que, alia-se aos socialistas declarados em oposição à direita, mesmo que signifique ajudar que o autor do delito consiga “voltar à cena do crime”, evidenciando a falta de pudor daqueles que outrora se colocavam como centro-esquerda ou esquerda moderada.

As narrativas são inventadas e reinventadas para tentar justificar os arroubos autoritários, contudo, o tempo faz com que as mentiras sob as fundações dos revolucionários corroam sua sustentação, provocando o inevitável desabamento. Processos que usam artifícios amplamente condenados, como a pesca probatória e delações sob coação, além de a completa dissociação do princípio do devido processo legal, como vítimas que julgam, investigam e provas que a defesa ignora, são meios deploráveis que os asseclas revolucionários tentam justificar como formas de garantir uma democracia que se sustenta na imposição do medo e o cerceamento da liberdade.

De medidas exacerbadamente heterodoxas a ataques à subsistência de opositores, a elite revolucionária tenta intimidar e calar os que tentam confrontá-la trazendo a verdade à tona, acelerando assim o processo de desabamento do regime. Se o estamento corrompido pode servir para impor um sistema nefasto, por outro, ela sofrerá com a inevitável hipertrofia autofágica, posto que, os excessos resultarão em poder se controle e na autodestruição, como está acontecendo com o Poder Judiciário em razão do ativismo.

O ativismo judicial faz do Poder Judiciário o maior dos três, engolindo o Executivo e o Legislativo, este último, sendo o que mais representa o povo, reagirá e sufocará o primeiro por seus abusos, mas antes de cair, o Poder Judiciário, não reconhecendo seu desvirtuamento, lutará por ainda mais poder e fará com que a reação seja ainda mais forte.

Os revolucionários, para garantir sua posição de poder, precisam sustentar a mentira à força, para isso, corromperam as instituições, mas ao se desviarem de sua natureza, é natural que tais instituições entrem em um processo de degeneração e autodestruição, negando, contudo, sua parcela de culpa. As autoridades, à frente de tais organismos, se preocupam tão somente se a queda não ocorrerá durante a sua estadia, pois, caso ocorra, responderão por seus desmando.

Curioso pensar que aqueles que outrora praguejavam os Estados Unidos da América e pediam que pessoas fossem destruídas em sua liberdade ou subsistência por defenderem o quê acreditavam, agora se contorcem por temerem que seus centuriões sejam alvo de medidas restritivas daquela nação. Se o imperialismo americano é o maior mal e aqueles que não comungam da revolução merecem, para alguns, até mesmo “uma boa cova”, deveriam, os revolucionários, comemorar o total rompimento de relações com os EUA e com aqueles que com aquele país livre negociam.

Os que pregam o ódio ao ocidente deveriam cantar de alegria ao se verem privados dos vícios do capitalismo e seus luxos, frutos da desigualdade social, mas como na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a elite revolucionária não pretende deixar seu conforto por suas convicções, pois desejam que as privações recaiam sobre os inocentes.

Os socialistas não estão dispostos a pagar o preço por aquilo que acreditam, exceto se a conta recair sobre os ombros alheios.

Aos homens de bem resta que fiquem longe dos revolucionários e lutem para que as mentiras sob as fundações sejam expostas, fazendo com que e o castelo dos ímpios desabe com eles dentro para que respondam pelo mal que causaram.

“Vós tendes como pai o demônio e quereis fazer os desejos de vosso pai. Ele era homicida desde o princípio e não permaneceu na verdade, porque a verdade não está nele. Quando diz a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira”. São João 8:44


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Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. IV N.º 54 edição de Maio de 2025 – ISSN 2764-3867


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