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O colapso econômico que ignoramos


O colapso econômico que ignoramos

O verdadeiro colapso econômico está longe dos grandes bancos, governos ou da tecnologia.

O apocalipse está anunciado e a maioria de nós ignora, mesmo sendo capazes de mudar o jogo.

Fica comigo até o final que eu vou te apresentar um universo escondido que está diante dos nossos olhos mas a nossa ignorância não nos permite vê e que se chama ABELHA.

Será mesmo real o apocalipse econômico, caso as abelhas fossem extintas?

Parece exagero, mas veja isso: segundo Einstein, “se as abelhas desaparecerem da face da terra, a humanidade teria apenas mais quatro anos de existência, pois, sem abelhas não há polinização, sem a polinização não haverá flora, sem flora não haverá animais e sem animais não haverá a raça humana”.

No mundo existem mais de 20 mil espécies de abelhas catalogadas, mas pesquisas no mundo todo apontam para a extinção das abelhas, os EUA já perdeu quase metade da população de abelhas desde o final da segunda guerra mundial.

Algumas abelhas, dessas milhares catalogadas, já não se encontram na natureza. Ou já foram extintas ou só existem nas mãos de criadores como eu.

Ah, perdão, deixe apresentar-me.

Eu sou Emmanuel Duarte, fundador do Projeto Vale do Mel. Projeto este que tem como finalidade a preservação e educação a respeito das abelhas nativas SEM ferrão. Atuamos desde a educação infantil nas escolas com teatro de fantoches, livros autorais, músicas temáticas, cinema interativo e apresentação das abelhas sem ferrão em caixas didáticas até a fase adulta com palestras e cursos para quem quer aprender a criar essas abelhas em casa e produzir o seu próprio mel.

Voltando ao colapso, esse fato começou a ganhar destaque no ano de 2005 e de uns tempos para cá um fenômeno estranhamente triste tem chamado a atenção de pesquisadores e ambientalistas:

De dezembro de 2018 a fevereiro de 2019, foram encontradas mais de 500 milhões de abelhas mortas em apenas 4 estados brasileiros, 400 milhões só no Rio Grande do Sul, 7 milhões em São Paulo, 45 milhões no Mato Grosso do Sul e 50 milhões no estado de Santa Catarina.

Além disso, algumas das abelhas nativas foram incluídas na lista de ameaçadas de extinção em 2017 e 2018.

Essa diminuição das abelhas é conhecida como DISTÚRBIO DE COLAPSO DAS COLÔNIAS, que infelizmente abrange o mundo todo.

As abelhas possuem uma das mais importantes funções do ciclo de vida na terra, não foi atoa que foi eleita o ser vivo mais importante do planeta.

Cerca de 70% de tudo que comemos dependem diretamente das abelhas, elas são responsáveis pela polinização.

Mas o que exatamente é a polinização?

Bom, assim como os animais dependem do sexo feminino e masculino para a reprodução de sua espécie, assim também são as plantas.

A flor possui o órgão feminino e também o masculino que precisam se cruzar para gerar nova vida, mas diferente dos animais que podem ir ao encontro do tão desejado acasalamento, as plantas estão fixadas ao chão e é aí que aparecem as abelhas como sendo a solução para esse problema.

Superficialmente podemos dizer que as flores oferecem o néctar e o pólen que servem de alimento para as abelhas, em troca disso o pagamento é feito em serviço, sim, as abelhas ao visitar a flor, ela fica revestida de pólen e ao visitar outra, ela transporta o pólen da primeira para a segunda flor, fazendo o cruzamento, com isso a planta gera sementes que vão gerar novas plantas, além de frutos é claro.

Existem algumas espécies de plantas que podem fazer esse cruzamento apenas pelo vento, mas mesmo essas espécies que não dependem do cruzamento feito pelas abelhas, quando polinizadas por elas, produzem frutos maiores, com mais nutrientes e com muito mais valor de mercado. Podendo até dobrar de tamanho como é o caso da berinjela e do girassol, por exemplo, na soja o benefício é de 18% a mais de grãos quando a lavoura é visitada por esses incansáveis insetos.

Existem outros polinizadores como o beija-flor, morcegos, moscas, ratos, besouros entre outros, mas as abelhas são de longe as mais importantes, estima-se que as abelhas são responsáveis por polinizar 80% de todas as plantas com flores do planeta.

Com a diminuição das abelhas, naturalmente se diminui a produção de frutos e sementes que servem de alimento para nós humanos e demais animais, sem dizer o nascimento de novas plantas, pois sem sementes não existiria a manutenção das florestas.

Além disso, tem um valor econômico muito importante com tudo isso, imagina o pior dos cenários, NÃO TEMOS MAIS ABELHAS NO MUNDO.

Bom, mas podemos polinizar manualmente as plantas como já é feito na china em algumas de suas regiões, que por causa do excesso de poluição e falta de matas nativas já não tem abelhas o suficiente em algumas regiões.

Aqui no Brasil nas lavouras de maracujá, a polinização manual já é uma realidade por falta de uma abelha chamada mamangava.

Mas quanto custaria para o agricultor fazer o serviço de polinização que hoje é gratuito, graças às abelhas?

Bom, em 1997, cientistas fizeram essa pergunta e colocaram um time de pesquisadores para encontrar essa resposta e acredite, eles chegaram ao valor de 33 trilhões de dólares por ano somente para fazer a polinização manual das lavouras, e claro que sem a mesma perfeição.

Para você entender melhor o que isso significa, o PIB de todos os países juntos, ou seja, o produto interno bruto de todos os países em 1994 foi de 18 trilhões de dólares, veja, o custo com a polinização manual seria de quase o dobro do PIB mundial.

As abelhas são responsáveis por um rendimento de US$ 30 bilhões por ano em lavouras e o seu trabalho na reprodução das matas nativas é definitivamente incalculável.

A extinção das abelhas quebraria o ciclo de vida na terra, afetando toda a cadeia alimentar, pois as plantas geram frutos e sementes que são alimento de aves e alguns animais que por sua vez são alimentos de outros animais, incluindo o homem.

Além do alimento, as abelhas também são responsáveis por outros setores da economia, como o setor de vestuário por exemplo, sem abelhas a produção de algodão seria gravemente afetada, com isso grande parte das texturas de roupas que conhecemos já não existiria mais.

Tem também o fator poluição, por exemplo, a canola que é polinizada pelas abelhas, é utilizada como óleo de cozinha, mas também como combustível, sem as abelhas não teria o óleo como combustível e com isso usaríamos ainda mais combustível fóssil.

Mas porque as abelhas estão morrendo?

Segundo especialistas, as principais causas são os parasitas e agrotóxicos.

Desde 1945, fim da segunda guerra mundial, o mundo todo investiu em lavouras com cada vez mais pesticidas e agrotóxicos.

Existem muitos outros problemas como parasitas, poluição, desmatamento, entre tantos outros que causam a morte das abelhas.

Os animais herbívoros seriam os primeiros a serem afetados, pois sem a reprodução da flora, chegará um momento que não haverá mais plantas que servem de alimento para esses animais e consequentemente seria a sua morte.

Um bom exemplo disso é a criação bovina, cujo a base de sua alimentação é alfafa e soja, ou seja, sem as abelhas essas plantas não existiriam na mesma proporção, afetando diretamente nossos hábitos alimentares.

Outro motivo extremamente importante seria a economia. Até a metade do ano de 2021, o Brasil exportou o equivalente a 29 milhões de dólares com mel, fora outros derivados como pólen, própolis, cera e etc.

Durante todo o ano de 2020, o Brasil exportou mais de 45 toneladas de mel. O faturamento nacional passou de 98 milhões de dólares neste ano.

Mas diante desse cenário caótico, como nós, meros mortais podemos ajudar?

Acredite, não precisamos ser donos de fazenda, milionário ou governante, para fazer a diferença.

Existem mais de 20 mil espécies de abelhas espalhadas pelo mundo, e nós brasileiros fomos agraciados com mais de 300 espécies de abelhas nativas SEM FERRÃO.

As mais famosas delas são a abelha Jataí (Tetragonisca Angustula) e a Uruçu Nordestina (Melipona Scutellaris), essa última inclusive, ficou conhecida de todo o Brasil nos versos da música Morena Tropicana, do cantor Alceu Valença, “…Pele macia, é carne de caju; Saliva doce, doce mel, mel de urucu…”.

Essas abelhas têm despertado o interesse de pessoas comuns como eu e você, pois a grande maioria delas são dóceis e fáceis de criar, podendo ser criada inclusive em apartamentos de grandes cidades, como é o caso de São Paulo, por exemplo.

Eu moro próximo ao centro da cidade de Taubaté/ SP, e crio mais de 50 colônias em minha casa, passando de 100 mil abelhas ao todo.

As abelhas sem ferrão estão por todo o território nacional, são encontrados facilmente em praças, bosques, muros, fendas de rocha e até no subsolo como é o caso da Jataí da Terra (Paratrigona Subnuda), que faz seu ninho em buracos no chão, abandonada por formigas, facilmente encontrada nos gramados de praças de boa parte do Brasil.

Nós brasileiros, precisamos nos despertar para a importância das abelhas, fomentar a educação nas escolas sobre esse assunto e fazer cada um de nós a sua parte.

Eu fiz uma adaptação de uma linda história contada pelo sociólogo Betinho que diz assim:

“Houve um incêndio na floresta, os animais desesperados fugiam por todos os lados.
Em meio àquele desespero, a onça-pintada, observou que uma abelhinha voava de um lado para o outro, pegando gotículas de água no riacho e jogando no incêndio.
Inquieta e intrigada, indagou a onça: Abelhinha, o que você está fazendo? Fuja! Você acha mesmo que vai conseguir apagar o incêndio com esse pouquinho de água aí?
Então a abelhinha respondeu: Bom, apagar eu não sei se posso, mas estou fazendo a minha parte.
A onça então constrangida começou a ir ao riacho para pegar água e jogar no fogo. Foi aí que animais como a anta, o tatu, cutia e caititu ao verem aquela cena, decidiram fazer o mesmo, e em poucas horas, o fogo foi combatido, e a floresta foi salva”.

Que esse artigo seja uma abelhinha na sua floresta, que seja um convite a combater o incêndio da desinformação quanto ao tema.


Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. I N.º 01 - ISSN 2764-3867

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