Por que liberais fazem a curva à esquerda?
O segundo turno de qualquer pleito eleitoral é marcado por apoios: políticos e personalidades diversas aparecem e declaram voto em determinado candidato que mais se assemelha às suas convicções, fazendo que com seus admiradores elejam o tal político. Inclusive os concorrentes perdedores do primeiro turno articulam com seus partidos qual será o melhor caminho a seguir a partir daí.
Nestas eleições o presidente Jair Bolsonaro recebeu apoio de vários políticos: os governadores eleitos Romeu Zema (NOVO) e Cláudio Castro (PL), além do governador de São Paulo Rodrigo Garcia (PSDB) tornaram público que estão à direita na segunda etapa da eleição. Na classe artística, chamou a atenção a união de vários artistas sertanejos em prol da reeleição de Bolsonaro: Leonardo, Zezé Di Camargo, Sula Miranda, Gusttavo Lima, Chitãozzinho e a dupla Henrique e Juliano se reuniram em Brasília, no palácio do Planalto, e em entrevista coletiva à imprensa pediram aos fãs que reelejam o presidente.
Na ala vermelha da força, os apoios não surpreenderam, a priori: Fernando Henrique Cardoso, tucano raiz, já se posicionou a favor do petista, Simone Tebet (MDB) decidiu ficar contra o agronegócio (que Lula chamou de “fascista”) e foi para o lado esquerdo, juntamente com Ciro Gomes (PDT).
Contudo, um grupo de pessoas surpreendeu ao declarar apoio ao descondenado petista: liberais econômicos. Pedro Malan (ex-ministro da Fazenda do governo FHC), Elena Landau (ex-assessora da presidência do BNDES e ex-diretora da área responsável pelo Programa Nacional de Desestatização do governo FHC) e o movimento liberal LIVRES expuseram sua escolha por Lula. Esses movimentos trouxeram uma interrogação: como que liberais econômicos podem apoiar alguém que, quando esteve na presidência, roubou bilhões dos cofres públicos? Como ninguém trouxe essa explicação, me permito esclarecer esta dúvida.
Primeiro, gostaria de esclarecer: o conservador já é liberal economicamente falando, porque entende que o Estado deve ser mínimo, e não inexistente. Contudo, via de regra, o liberal não é conservador; muitos pensam que esta classe, por defender a Economia, está do lado direito da força, e não é assim. O maior exemplo que temos em solo brasileiro é o Movimento Brasil Livre (MBL), que vendeu uma imagem de direita liberal, mas chegaram a fazer manifestação juntamente com Ciro Gomes em 2021.
E por que os liberais tomam esta atitude? Um dos motivos é a culpa: há um clamor promovido por uma classe “intelectual” para uma chamada “sociedade mais justa”. A esquerda prega que a “classe burguesa” é quem promove a desigualdade, pois concentra a renda. O que esse grupo faz para “aliviar” esta culpa? Investe seu dinheiro em movimentos de esquerda, que alegam trabalhar por esta “justiça social”.E como acontece a “lavagem cerebral” para que liberais ajam dessa forma? O saudoso professor Olavo de Carvalho, em seu artigo “Direto do inferno” (disponível no livro “O mínimo...”), mostra quem são os agentes da culpa: “Os cientistas sociais, os psicólogos, os jornalistas, os escritores, as ‘classes falantes’ (...) são forças de agentes da transformação social, as mais poderosas e eficazes, as únicas que têm uma ação direta sobre a imaginação, os sentimentos e a conduta das massas.”
As “classes falantes” contaminam a massa, o povo; o povo se rebela; a esquerda acusa os ricos; e os ricos, com peso na consciência, contribuem para a “causa”. A esquerda “elogia” a postura, a “classe falante” propaga e o povo compra a ideia. E assim, o sistema se autoalimenta.
O liberal possui um pensamento que resume-se a uma palavra: dinheiro. Notem a postura destes que estão ao lado de El Cachacero: não levam em conta a questão moral, a falta de caráter, o rombo nos cofres públicos, enfim. Em contrapartida, ao levantarem-se em favor do ex-presidiário, citam a expressão “democracia”. Vamos analisar de qual “democracia” eles sentem falta.
Em 2014, o jornal Valor Econômico publicou um levantamento com base em dados dos 50 maiores bancos: os lucros foram de R$ 279,9 bilhões durante todo o governo de Lula, contra R$ 34,4 bilhões durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso. O Valor Econômico analisou ainda outro indicador que, segundo a reportagem, pode comparar com mais precisão os balanços nos dois períodos. Considerando a rentabilidade média sobre o patrimônio líquido, os bancos continuam ganhando mais no governo Lula, cujo indicador é de 20,1%, do que no FHC (7,04%). Ele mede o quanto os bancos estão tendo em retorno sobre o capital que investiram (patrimônio).
O adversário eleitoral Ciro Gomes chegou a dizer que o Partido dos Trabalhadores (que irônico, não?) transferiu mais dinheiro aos bancos do que aos pobres:“R$ 4,88 trilhões, no período em que o Lula deu as cartas do poder brasileiro, foram transferidos para os bancos, via juros. E, R$ 332 bilhões foram transferidos para os pobres no Bolsa Família. Isso é uma coisa concreta.”
Agora, trago um recorte do jornal Esquerda Diário, que, por incrível que pareça, trata deste assunto com honestidade intelectual, mostrando que a relação de Lula com a alta classe é antiga:
“A política de facilitação de crédito, como a redução do dinheiro que os bancos têm que deixar depositado nos bancos, resultou numa liberação massiva de reais no mercado. Em 2002, o crédito disponibilizado no país era de R$ 380 bilhões, em 2010, chegou a R$ 1,6 trilhões.
Isso se transformou em ‘o aumento do poder de compra dos brasileiros’, ao passo que o salário médio dos trabalhadores não representou esse salto. Com o constante aumento da inflação, acompanhado do aumento dos juros, o que foi chamado de ‘poder de compra’ dos trabalhadores, era o aumento da parte do salário que ia para o bolso dos banqueiros.
Nunca os banqueiros lucraram tanto no país. Em 2011 calculou-se em torno de R$ 200 bilhões (sem corrigir com a inflação atual, o que elevaria esse valor) nos 8 anos de Lula. Com grande parte do salário dos trabalhadores destinado aos cofres dos bancos, mesmo numa crise econômica, os bancos continuam aumentando seus lucros.
Todas as políticas que beneficiaram estes banqueiros tiveram como resultado o endividamento em massa.”
Liberais geralmente viram à esquerda porque lhes falta a bússola moral para reger a vida moral. O professor Olavo explica isso em seu artigo:
“Por que não sou liberal”: O liberalismo é a firme decisão de submeter tudo aos critérios do mercado, inclusive os valores morais e humanitários (...) O liberalismo é um momento do processo revolucionário que, por meio do capitalismo, acaba dissolvendo no mercado a herança da civilização judaico-cristã e o Estado de direito.”
Aqueles que não possuem uma régua moral para se guiar acabam cooptados pelo discurso progressista de lutar pela “justiça social” e alimentam o monstro que irá devorá-los, mais dia, menos dia.
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