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Qual a sua missão?

Aprendendo com Jonas, o profeta fujão


Qual a sua missão?

A Bíblia relata a história de um profeta teimoso, um profeta que não queria fazer o correto, aquilo que Deus mandou fazer; esse é o profeta Jonas.

“Veio a palavra do Senhor a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Dispõe-te, vai à grande cidade de Nínive e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até mim.Jonas se dispôs, mas para fugir da presença do Senhor, para Társis; e, tendo descido a Jope, achou um navio que ia para Társis; pagou, pois, a sua passagem e embarcou nele, para ir com eles para Társis, para longe da presença do Senhor.

Mas o Senhor lançou sobre o mar um forte vento, e fez-se no mar uma grande tempestade, e o navio estava a ponto de se despedaçar.

Então, os marinheiros, cheios de medo, clamavam cada um ao seu deus e lançavam ao mar a carga que estava no navio, para o aliviarem do peso dela. Jonas, porém, havia descido ao porão e se deitado; e dormia profundamente.

Chegou-se a ele o mestre do navio e lhe disse: Que se passa contigo? Agarrado no sono? Levanta-te, invoca o teu deus; talvez, assim, esse deus se lembre de nós, para que não pereçamos. E diziam uns aos outros: Vinde, e lancemos sortes, para que saibamos por causa de quem nos sobreveio este mal. E lançaram sortes, e a sorte caiu sobre Jonas.

Então, lhe disseram: Declara-nos, agora, por causa de quem nos sobreveio este mal. Que ocupação é a tua? Donde vens? Qual a tua terra? E de que povo és tu?

Ele lhes respondeu: Sou hebreu e temo ao Senhor, o Deus do céu, que fez o mar e a terra.Então, os homens ficaram possuídos de grande temor e lhe disseram: Que é isto que fizeste! Pois sabiam os homens que ele fugia da presença do Senhor, porque lho havia declarado.

Disseram-lhe: Que te faremos, para que o mar se nos acalme? Porque o mar se ia tornando cada vez mais tempestuoso.

Respondeu-lhes: Tomai-me e lançai-me ao mar, e o mar se aquietará, porque eu sei que, por minha causa, vos sobreveio esta grande tempestade.” (Jonas 1.1-12)

Muitos cristãos já se depararam alguma vez na vida com esse texto, mas hoje o faremos de forma aprofundada; meu objetivo ao escrever o presente artigo é trazer o leitor a uma reflexão profunda sobre seu chamado diante de Deus e que não adianta fugir, Ele nos encontra (nem que seja no ventre da baleia).

Quem não se aprofunda no texto chega ao ponto de julgar o profeta: “Ah, é um homem desobediente, quis fugir”; do que exatamente Jonas estava fugindo?

Ele foi chamado para pregar em Nínive; hoje, Nínive é Mossul, cidade iraquiana; Mossul esteve sob o domínio do grupo terrorista autointitulado Estado Islâmico (EI), que a ocupou em Junho de 2014 e a declarou sua capital em solo iraquiano. Em meados de outubro de 2016, o governo iraquiano (apoiado pelos curdos e por uma coalizão internacional) lançou uma grande ofensiva militar para retomar o controle de Mossul e das regiões vizinhas. A cidade foi reconquistada pelas forças iraquianas em 10 de julho de 2017.

O espírito radical do Estado Islâmico não se deu apenas neste período, mas vinha de muito tempo atrás; Senaqueribe, rei da Assíria, o mesmo que enviou uma carta de afronta ao rei Ezequias (2 Crônicas 32.1-23), tornou Nínive uma cidade imponente; em esculturas em pedra nas paredes de seu palácio ele fazia questão de exibir suas vitórias e como subjugava os povos inimigos: cenas de batalhas, empalamentos e cenas dos homens de Senaqueribe desfilando os despojos de guerra diante dele.

Agora se tem uma ideia de porquê Jonas fugiu: ele não possuía o menor apreço por aquele povo; os ninivitas eram cruéis, ímpios. Para Jonas, não mereciam perdão. E a raiva do profeta não parava por aí: Jonas sabia que, ao pregar, aquele povo poderia se arrepender e ser salvo!

E mais um agravante para o leitor entender Jonas: das doze tribos de Israel, ele pertencia à tribo de Zebulom. Em toda a história do povo hebreu, Zebulom era a “tropa de Elite”, uma espécie de Bope, que sempre pegavam em armas para defender sua nação. Ou seja, Jonas quis fugir para não ter que matar alguém.

Tudo isso fez com ele fugisse (que iludido!) da presença de Deus três mil quilômetros. Jonas embarcou em um navio saindo de Jope (que ficava em Samaria) em direção a Társis. Esta era uma cidade portuária localizada no sul da Espanha; era considerada a viagem marítima mais longa.

A imagem abaixo mostra a distância de Jope para Társis


É possível que o leitor, ao chegar até aqui, se pergunte: “Mas então, por que Deus chamou justamente Jonas para esta missão tão difícil?” É porque ele era o que chamamos popularmente de “casca grossa”; Deus sabia que Jonas aguentaria.

E não é isso que fazemos hoje? Para não cumprir o chamado de Deus em nossa vida como um todo, tratamos de fugir! Fugimos da profissão, do casamento, da paternidade, da responsabilidade, da instrução, da vida regrada, da disciplina e de tantas outras coisas. Agimos como se Deus não soubesse o que está fazendo! Chega a ser um pecado, pois estamos, com nossas atitudes, dizendo “Eu sei mais que o Senhor”. E é nessa que vem a tempestade e a baleia nos engole.

Por que Deus impediu Jonas? Ele não poderia chamar outro que cumprisse a missão? Até poderia. Mas existem situações que temos que confrontar, e enquanto não passarmos por isso, não seremos curados em nossas emoções e nem seremos realizados, pois a alegria verdadeira vem quando cumprimos nossa missão. Era Deus salvando Jonas dele mesmo!

Imagine ser engolido por uma baleia! Deve ser bem nojento, não é mesmo? Mas era a única maneira de Jonas ser interrompido na sua fuga e ser colocado, literalmente, em um “cantinho do pensamento”, de onde não poderia sair. Nas trevas, no escuro, na impossibilidade, Jonas teve que refletir sobre o que seria menos custoso: cumprir a missão ou fugir dela.

Nesta última edição do ano da Revista quero desafiar o leitor a fazer uma autoanálise: “Será que tudo o que vivi em 2024 foi uma tentativa desesperada de fugir daquilo que Deus me chamou para fazer? Será que não foi Deus que fechou as portas para que eu possa me emendar?”

Quando a tempestade veio, os marinheiros perguntaram a Jonas: “Que ocupação é a tua?”; em outras traduções está “Qual é a tua missão?”. Ou seja: qual o teu chamado? Do que você está fugindo? Lembre-se: você não nasceu para fugir, não adianta comprar o ticket mais caro para sair disso, sua missão é insubstituível, só há felicidade cumprindo a missão que Deus deu mesmo que seja difícil. Aquele que escolheu é contigo e conhece a sua capacidade. Não fuja, enfrente!

Feliz 2025!


Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. IV N.º 49 – Edição de Dezembro de 2024 - ISSN 2764-3867


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