
MENEZES COSTA
"Com conhecimento se constrói cidadania!"
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- Somos todos iguais
Creio que todos já ouviram esta expressão, o problema é quando as pessoas levam para o lado denotativo. Não há como dizer que todos são iguais, em realidade, nem mesmo que um é igual ao outro, mesmo caso fossem gêmeos idênticos. A ideia conotativa, a que cria um sentido na expressão, é dizer que somos capazes, diminuir a inveja e fazer com que aquele indivíduo busque uma melhora, ou seja, alguém saudável, sem complicações cerebral nem física, olhar para outro e invejar o ponto em que aquele está, indiferente se foi sorte, herdado, somos todos iguais, você é tão capaz quanto, corre atrás e chega lá, mas, diferente daquele que se submete aos atalhos, muitas vezes sendo um caminho derradeiro, crie um trabalho a longo prazo. Não inveje o próximo, caso ache que determinada pessoa não é capaz de estar onde está, primeiro olhe para si, “Quanto de você existe naquilo que você odeia?” (Freud), julgamos alguém por não merecer estar onde está, e de fato, muitas vezes essa pessoa realmente não merece, todavia, você merece? Pois todos somos iguais, pode haver alguém mais capaz para este fim, que se esforça mais. A expressão tinha um valor significativo, algo bom, no sentido de acender uma vontade de melhora, não apenas financeiramente, fisicamente, mas do mental também, no fundo daquele indivíduo, mesmo que no momento este ignorasse, tal frase ficaria em seu subconsciente, todavia, com uma educação precária, obviamente proposital, pois há um motivo para quererem uma sociedade “menos pensante” por assim dizer, uma sociedade a qual ser cético é um defeito – Como você acredita que armar os inocentes trará uma diminuição na criminalidade? Eu vi na televisão que aumentaria – e a pessoa aceita cegamente no que a mídia diz, para que raciocinar sobre, as informações já vieram bonitinhas. É como se a mídia fosse a mamãe pássaro, passando os alimentos mastigados para o filhote, este que por imaturidade apenas engole, embora no caso do pássaro seja normal, pois é um filhote, nesta analogia temos adultos nessa condição, onde apenas engole o que lhe for dado, indiferente do que seja, aliás, é cômodo se ausentar de pensar, buscar outra fonte de informação, colocar no papel e fazer uma comparação das narrativas, tentar compreender o que de fato ocorreu para que seja possível chegar próximo a verdade. Nesta sociedade atual, onde a fragilidade é exaltada, a expressão tornou-se inócua, usada para cobrir erros, a ponto de ser usada por criminosos com um complemento ainda mais, ficando “somos todos iguais aos olhos de Deus”, misturam o conceito de Deus sempre perdoar com esta frase, como uma forma de amenizar seu pecado, todavia, ambos estão deturpados, a ideia não é essa, qualquer ser com mais de 5 anos consegue chegar na conclusão que isto está completamente errado, o sentido é dizer que um pai não diferencia seus filhos, ambos terão o mesmo tratamento para devido ato, Deus não julga sua cor, não julga se você é cego, cadeirante, mas ele irá julgar suas convicções, suas escolhas, o ato, não a pessoa. Embora Pablo Neruda seja um helminto social, retém uma frase que podemos utilizar neste caso. “Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências” aplicando ao conceito anterior, Deus não te julgará por ser um humano, mas sim pelas suas escolhas, sejam boas ou más, as consequências serão definidas. Quando trazemos o sentido deturpado, com uma resistência zerada, apenas levando tudo ao pé da letra, pode-se ter a ideia de que sermos todos iguais justifica meu erro, pelo erro daquela pessoa, ou que se fosse o outro no seu lugar, este faria o mesmo. Não deve-se comparar erros de um indivíduo para o outro, pois todos temos um pecado, o certo é decidir medindo quem se afasta mais do correto. O fato de alguém trair seu cônjuge não o faz tão pecaminoso quanto um assaltante, mas não é por existir um assaltante, que seu adultério deixa de ser um pecado. Lembrando que digo pecado da forma lúdica, não minimizando na religião, mas sim tratando de forma mais pesada do que um erro, pois as pessoas acham brando quando falamos de falhas, pois é normal termos. Apesar de ser natural que cometemos erros, somos falhos, naturalizar isto é atenuar a situação, um adolescente pegar a caneta do amigo e não devolver é normal, isto é atenuar um pequeno furto, faz menos de um ano que terminei meu ensino médio, isso é factível, lidado com risos, como se não fosse nada demais, embora seja uma mensagem que um pequeno furto nem é nada demais, todos fazem, todos são iguais. Quando uma falha não é alvo de correção, esta se proliferará, é como uma praga, caso não seja exterminada, irá contaminar todo o ambiente, fazendo com que isso se perdure, aquela criança se forma e pratica o mesmo no trabalho, enquanto novas crianças chegam naquele ambiente, se corrompem e seguem esse ciclo. Vemos o quão deteriorado está nossa sociedade, quando até nossas expressões estão desvirtuadas. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. I N.º 10 edição de Julho de 2022 – ISSN 2764-3867
- Ludopatia
O surrealismo na banalização da Ludopatia Salvador Dali foi um pintor espanhol nascido em 1904. Seu trabalho artístico se destacou no movimento conhecido como surrealismo. O surrealismo ou sobrerrealismo foi um movimento artístico e literário nascido em Paris na década de 1920 e tem base no marxismo. O Manifesto Surrealista, escrito em 1924, impunha o chamado automatismo psíquico, “estado puro, mediante o qual se propunha transmitir verbalmente, por escrito, ou por qualquer outro meio o funcionamento do pensamento; ditado do pensamento, suspenso qualquer controle exercido pela razão, alheio a qualquer preocupação estética ou moral” . Um segundo manifesto foi escrito em 1930, e tratava mais diretamente aos acontecimentos procedidos depois da publicação do primeiro manifesto, e do esclarecimento da posição política e dos princípios surrealistas. A cumplicidade com os comunistas, e a desconfiança destes e a possível traição que pode ter acontecido por parte de membros que se diziam adeptos do surrealismo, são assuntos tratados nos textos. Dentre as características deste estilo estão a combinação do representativo, do abstrato, do irreal e do inconsciente. Segundo os surrealistas, a arte deve libertar-se das exigências da lógica e da razão e ir além da consciência cotidiana, procurando expressar o mundo do inconsciente e dos sonhos. Observa-se o surrealismo, na prática, através das obras de Salvador Dali, que exibia uma combinação de imagens bizarras e fantasiosas. Uma de suas obras mais conhecidas chama-se Persistência da memória, feita em 1931. O artista expõe uma paisagem típica da Catalunha e uma oliveira seca, árvore muito presente na região. Há também a presença de relógios disformes e derretidos, assim como o corpo prostrado presente no chão. Se Salvador Dali vivesse no Brasil atualmente, certamente produziria uma obra sobre nossa situação. Provavelmente, o nome do quadro seria “Surrealismo” . Sim, é muito possível que Dali denominasse uma obra que refletisse o Brasil utilizando o próprio nome do movimento. Porque, como sempre digo, “o Brasil é surreal!” Mas, ao mesmo tempo, penso que até Dali teria extrema dificuldade em retratar a grande complexidade que existe em solo tupiniquim. Será que a pintura mostraria um mapa derretido? Ou fantasmas andando por Copacabana? Não sabemos. Porém, sem querer tomar o lugar do artista, tentarei dissecar o surrealismo que tomou conta do país nos últimos tempos. Atualmente, temos dois “surtos coletivos” em alta no país: bebês reborn e BETS. Confesso ao leitor que foi extremamente difícil escolher um dos temas, porque tratar de ambos tornaria este artigo deveras longo. Então, tomei a decisão de analisar a problemática das casas de apostas. Jogos de azar não são novidade. Sua provável origem seria do ano 2.070 a.C na China, durante a Dinastia Xia. Alguns historiadores apontam o uso de ossos de animais (dados primitivos) e sorteios com objetos rituais como primeiros indícios de apostas. Na Dinastia Shang (entre 1600–1046 a.C.) foram encontrados dados e objetos de jogos em escavações arqueológicas datadas desse período. Já na Dinastia Han (entre (206 a.C.–220 d.C.) é quando surgem os primeiros jogos semelhantes à loteria atual. Alguns estudiosos acreditam que os recursos arrecadados com esses jogos foram usados até para financiar obras públicas, como partes da Grande Muralha da China. Já na Idade Média, que compreende o tempo a partir do século V até o século XV, A Igreja Católica considerava os jogos de azar pecaminosos, por estarem ligados à cobiça, engano e perda de tempo. Concílios eclesiásticos da época, como o e Elvira (c. 306 d.C.) condenaram o jogo: jogadores poderiam ser excluídos da comunhão ou receber penitências severas. Além disso, muitos reis ligados à Igreja Católica proibiram apostas oficialmente, especialmente entre soldados e nobres — embora a prática continuasse em festas e tavernas. Apesar das proibições, os jogos de azar eram comuns entre camponeses, mercadores, soldados e até nobres, através dos dados, cartas rudimentares e jogos de tabuleiro com apostas em moedas ou bens pessoais. Documentos indicam que, durante as cruzadas, cavaleiros medievais apostavam em jogos antes de batalhas, às vezes jogando até suas armaduras ou cavalos. Ainda na Idade Média, houve a tentativa de regularizar estes jogos. Cidades como Veneza, Florença e Paris começaram a criar leis locais para proibir jogos de azar em determinados lugares e horários. Além disso, aplicavam multas e também licenciavam casas de jogos em algumas situações (quando o Estado lucrava). Essas tentativas marcaram o início da transição entre a repressão moral e o controle institucional que daria mais tarde origem aos cassinos oficiais no período moderno. Já naquela época, há registros (poucos, porém verdadeiros) de apostadores que perderam tudo em jogos de apostas e, em um ato de desespero, decidiram encerrar suas vidas. O suicídio era considerado um pecado gravíssimo pela Igreja e frequentemente não era registrado oficialmente. Contudo, subliminarmente, isso era registrado. Eis um exemplo: “ E o jogador, tendo perdido até suas vestes e honra, lançou-se ao rio, pois não via mais salvação.” Os relatos não citam nomes nem mostram datas exatas, mas servem como testemunhos morais de que o jogo levava ao colapso pessoal. Algumas obras literárias da época do Renascimento, inclusive, relatam personagens que arruinaram suas vidas graças ao vício em apostas, como é de praxe que literaturas reflitam a percepção social de sua época. O Renascimento (que compreendeu o período entre séculos XIV e XVI) foi um período em que a literatura começou a tratar de vícios humanos com mais liberdade e crítica social, incluindo o vício em jogos de azar e apostas. Uma das mais conhecidas é “Elogio da loucura” , de Erasmo de Roterdã. Na obra, a personificação da Loucura critica os vícios humanos, incluindo os jogos de azar, mostrando como as pessoas se enganam ao buscar prazer momentâneo, mesmo com risco de ruína. Uma das citações do livro é: “São aqueles que, sempre perdendo, continuam apostando, como se o próximo lance fosse redentor.” Tratando sobre a legalização de apostas na Idade Moderna e na Idade Contemporânea, o período é marcado por diversos acontecimentos que resumo aqui. Na Europa, casas de apostas e jogos começaram a ser tolerados por governos, desde que pudessem ser regulados e taxados. Há o registro do ano de 1638, em Veneza, Itália, do Ridotto , o primeiro cassino legal do mundo, criado pelo governo para controlar e arrecadar impostos com os jogos durante o Carnaval. Durante a colonização dos Estados Unidos, os jogos foram populares, mas enfrentaram repressão moral. Com o tempo, cidades como Nova Orleans, Chicago e San Francisco viram crescer o jogo clandestino — até que a regulamentação começou. No século XX, houve o boom das apostas legalizadas. Em 1931, o estado americano de Nevada legaliza o jogo, e Las Vegas se torna a capital mundial dos cassinos. Na Europa, vários países (como França, Alemanha e Reino Unido) criaram sistemas estatais de loterias e legalizaram cassinos sob licenciamento. No Brasil, o jogo foi legalizado durante o governo Vargas, mas proibido em 1946, com exceção das loterias federais e corridas de cavalo. Atualmente, o Brasil vive uma “febre” em relação a casas de apostas, popularmente conhecidas como BETS. Em inglês, "bet" significa "aposta" ou "apostar" . É usada tanto como substantivo (uma aposta em si) quanto como verbo (fazer uma aposta). A problemática das apostas online em solo brasileiro é a propagação da Ludopatia. Ludopatia é o nome clínico para o vício em jogos de azar. Trata-se de um transtorno psicológico caracterizado pela compulsão em apostar, mesmo diante de consequências negativas para a vida pessoal, familiar, profissional e financeira. Segundo critérios clínicos (DSM-5 e CID-11), a ludopatia envolve comportamentos como a necessidade de apostar quantias crescentes, perda de controle sobre o impulso de jogar, prejuízo significativo na vida social, familiar ou profissional e endividamento, venda de bens ou até crimes para sustentar o vício. A propagação das casas de apostas online é feita praticamente por grandes influenciadores, que assinam contratos milionários para divulgar estes jogos em redes sociais. Contudo, qual a origem desse valor? Das perdas dos apostadores! A Revista Piauí publicou uma matéria onde trata do “cachê da desgraça alheia” , quando o influenciador contratado ganha por volta de 30% (às vezes, mais) de tudo o que seus seguidores perdem em apostas. A reportagem expôs os cachês de celebridades que viraram a porta de entrada para o que hoje é chamado por especialistas de “pandemia do vício” . O que torna a situação mais problemática é que o público-alvo de tais influenciadores são os que compõem as classes C, D e E, iludidos com promessas de “ganho rápido”, renda extra” e coisas deste jaez. Há quem utilize a premissa do “joga quem quer” , “a população brasileira não está preparada para jogar”, “não tem dinheiro, não joga” , mas que não considera que o vício em jogos de azar são tão nocivos — talvez até mais — quanto em drogas. “ Ah, mas viciados em apostas sempre existiram...” . Sim, e como acompanhamos neste artigo, os jogos de azar sempre fizeram vítimas. Se, em tempos remotos, onde para se apostar era necessário sair de casa e se reunir com outras pessoas, a Ludopatia era evidente, devemos ter o senso de entender que hoje, com o mundo na palma da mão através da internet, a situação piorou drasticamente. Utilizar a premissa liberal de que “aposta quem quer” , sem a devida observação dos malefícios causados pelas apostas, é ignorar que são os mais pobres as maiores vítimas. Se a casa sempre ganha e o mais vulnerável é quem aposta, logo temos uma reação em cadeira infernal, com crescente número de endividados, viciados, depressivos e suicidas em potencial. Influenciador que recebe dinheiro de casa de apostas possui as mãos sujas de sangue. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. IV N.º 54 edição de Maio de 2025 – ISSN 2764-3867
- Caçadores de emoção
Em um mundo no qual se exalta a irresponsabilidade, não haverá legado às gerações futuras. A questão é definir o quão premeditada a degradação da sociedade foi, distinguir se decorre do resultado natural do desleixo, consequência da comodidade dos tempos modernos, ou de uma engenharia social que acaba com incentivar que os indivíduos se entreguem ao descaso. Cada vez mais emergem indivíduos que não possuem real valor aos seus pares, que como arautos do mal, seduzem os mais incautos ao precipício em troca de prazeres momentâneos em uma espécie de acordo nefasto do qual acreditam obter uma vantagem que justifica a vassalagem aos piores senhores. São os agentes que gosto de chamar de embalagens vazias , de fácil reposição e, por isso, totalmente obedientes. Podemos sim imaginar que o conforto dos tempos modernos permitiram ao homem deixar suas preocupações de lado ao ponto de focar suas ações somente no presente, relegando gerações futuras à sorte, uma vez que, o caos seria inevitável. Assim, preocupar-se em cumprir uma missão, servido como uma personagem de, tão somente, uma fase em um processo longo no qual não se poderá presenciar o resultado, parece ser, para grande parte da humanidade, o desperdício de suas vidas. Assumindo que a sociedade tem, entre considerável parte de seus membros, indivíduos alienados das questões duradouras, ou seja, que pouco se importam com as consequências futuras de seus atos, tanto para si quanto para as futuras gerações. Poder-se-ia considerar que a deterioração da sociedade é natural, de maneira que, deve-se aferir todo o fruto que for possível, sem quaisquer preocupações com a manutenção das estruturas basilares da sociedade. Ainda diante da premissa de que ocorre uma deterioração não planejada da sociedade, de forma que os seres humanos despreocupados são decorrem da comodidade ora conquistada por nossos antepassados, posto que, ao deixarem de se preocupar com a estrutura social que se consolidou pelas ações de outros na história da humanidade, devemos verificar se tal degeneração traduz-se no crepúsculo de uma era ou de toda a história da humanidade. Resta-nos observar se estamos vivendo o início de um inverno que antecederá uma nova primavera ou se chegamos no declínio final. Não há como deixar de imaginar se humanidade deve superar o rigoroso período de mais um ciclo ou o Apocalipse está próximo? Não me atrevo a responder tal pergunta, trago-a tão somente à título de reflexão, seja por não me considerar o mais capaz de preencher tal lacuna, ou mesmo, pelo simples fato de que, havendo ou não um reinício, o declínio será inevitável. Considerando que a sociedade está se deteriorando naturalmente, para o fechamento de um ciclo ou para o seu fim, não há como se opor a um fenômeno natural de tal magnitude, seria como tentar segurar o fluxo de um rio, ou como diz um estimado amigo, buscar evitar que o alvorecer pela manhã. Em ambas as hipóteses, creio que, os que hoje estão vivos, não terão tempo o suficiente para assistir o fim dessa era ou da humanidade, devendo, contudo, fazer o seu melhor. Afinal, se houver um novo ciclo, que nosso papel seja o mais relevante possível e, se por outro lado, chegarmos ao derradeiro fim da história, que o façamos com altivez, em honra aos que nos precederam. De qualquer modo, ter cada vez mais indivíduos alheios ao ideário de um compromisso com as futuras gerações, como tartarugas que deixam seus ovos nas praias, não se importando quantos predadores se baquetearão de sua prole, é deverás preocupante, haja vista, que recairá sobre outrem a missão de edificar algo para as gerações vindouras. Se estamos em um inverno, não há motivos para deixar de salvaguardar e, principalmente, construir um legado aos que terão a incumbência de reconstruir a humanidade ao alvorecer, bem como, se estamos próximos de um fim, devemos preservar sim a dignidade de nossa existência, não sendo justo com aqueles que outrora lutaram, que o livro da humanidade tenha seu último capítulo escrito de forma bestial. Há que se analisar também se a degeneração da sociedade é tão somente uma leitura que fazemos diante de tampos difíceis, acreditando que existe uma derrocada do homem em relação aos seus antepassados, ou se estamos adotando uma visão pessimista que ignora sempre ter uma fração de degenerados entre os seres humanos. Descartar ante uma análise perfunctória que a crença no declínio da humanidade pode ser resultado de uma visão turva decorrente da ilusão de que as gerações que antecederam eram mais valorosas, ora pelo amadurecimento daquele que vê os mais novos como irresponsáveis, o que é o natural, ora por ter a história se dedicado aos homens de grandes feitos de suas épocas, ainda que sejam abjetos, mas pelo destaque que merecem na construção da linha do tempo. Não há como ignorar facínoras como Hitler ou Stalin quando se fala da história humana no início do século XX. Naturalmente, uma geração em sua fase adulta considerará que os mais jovens são imaturos e, portanto, aquém de seus contemporâneos. Isso pode se explicar pelo simples amadurecimento daquela geração, que ao assumir responsabilidades compatíveis com sua idade, tendem a se portar de lidar com maior seriedade em relação aos diversos assuntos de suas vidas. Claro que temos os afetados pela síndrome do Peter Pan, indivíduos que tentam frear o envelhecimento natural, deixando deliberadamente de amadurecer, tentam manter-se jovens e irresponsáveis em uma luta infrutífera contra o tempo. Alguns parecem congelar em uma fase da vida que não pretendem deixar, portando-se como os jovens de sua época mesmo quando seus contemporâneos já se encontraram na fase adulta, outros tantos buscam assumir a juventude do momento presente, simulando, apesar de sua real idade, ser alguém que se adaptou aos novos tempos e as modas supervenientes. Excetuando os afetos por tal síndrome, que também passam a ser depreciados por aqueles que seguiram o fluxo natural da maturidade, torna-se algo comum, aos que chegam a idade adulta, ver na juventude uma geração relapsa e pouco dedicada a construção de um mundo melhor. Por sua vez, sempre que o peso da responsabilidade recai nos ombros dos mais jovens, é comum que amadureçam, mesmo que relutando, para fazer assumir o controle de suas vidas em seu devido tempo. Indispensável também analisar que a história busca relatar os fatos de maior relevância para a humanidade, não faria sentido guardar para a posteridade a biografia de um indivíduo que passara sua vida como um ébrio relegado à sarjeta. Não se conta nos livros os feitos de pequenos artesãos ou fazendeiros, ainda que estes tenham sido essenciais em sua missão para a posteridade, pois, faltaria espaço para relatar tantas vidas. Quem ocupa lugar nas leituras são aqueles cujos feitos tiveram maior destaque dentre os homens, não sendo aqui o termo maior destaque usado de forma elogiosa, haja vista que, os déspotas têm seu lugar na trajetória da humanidade. Não há como discorrer sobre o leal servo que ordenava as vacas no Império Romano, mas Calígula tem seu nome escrito na história dos homens, sendo ele um tirano ou não. Tal constatação faz-se necessária para explorar a hipótese de que, ao analisar os livros de história, observamos os homens de maiores feitos, não podendo fazê-lo em relação aos indivíduos de forma geral de determinada época. Tratamos de líderes grandioso, heróis, pensadores, grandes artistas, tiranos e pessoas cuja relevância os dera destaque, todavia, ao nos deparamos com a sociedade atual, lidamos com o indivíduo medíocre, sem nenhum condão ofensivo, que não se destaca em suas ações. O indivíduo comum é responsável por cumprir seu papel histórico, basta refletir sobre quantos foram os guerreiros que tombaram por grandes feitos que foram deixados, intencionalmente ou não, no anonimato. Das conquistas gloriosas às guerras mais aterradoras, personagens desconhecido desempenharam papéis que foram determinantes para o resultado. Como observado, não há motivos para desmerecer o ser humano que não tem seu nome em um livro de história, tampouco, aqueles que são considerados medíocres, contudo, é imperioso considerar que, ao comparar os nomes ora estudados do passado e aquele com que se convive, existe uma grande diferença. Se por um lado o passado nos apresenta um grupo seleto em destaque, o presente nos oferece o convívio de forma indistinta de nossos contemporâneos. Ao perceber que se pode julgar os mais novos pela ótica errada, ignorando o amadurecimento vindouro, bem como, em uma análise mais historiográfica, nos deparamos com uma gama seleta de indivíduos que marcaram sua passagem pela história da humanidade, resta evidenciado que a impressão que de que as mais novas gerações são debilitadas em relações às suas predecessoras pode ser um equívoco. A degradação da sociedade, se dúvida, pode ser fruto da falsa impressão como consequência das hipóteses supracitadas, entretanto, é preciso realizar uma análise mais apurada, comparando, não o homem comum aos que outrora tiveram destaque, mas aqueles que nos dias atuais aparentam ser os que terão seus nomes escritos na história humana. Far-se-á necessário avaliar as figuras que se destacam, para o bem e para o mal, e, principalmente, comparar as edificações atuais em relação àquelas do passado, considerando, claro, que as mais modernas têm como premissa o conhecimento das mais antigas. Ao avaliar os avanços tecnológicos, vai parecer que a sociedade atual avança muito mais se comparado aos tempos passados, todavia, deve-se considerar que a invenção de uma determinada tecnologia, em regra, decorre do aperfeiçoamento de outra já existente. Facilmente pode-se concluir que um telefone atual absorvera tanto a tecnologias de seus antecessores como aglutinou aquilo que os microcomputadores, em especial os portáteis, já ofereciam. Seria como comparar carros modernos com carroças se considerar que aqueles foram criados por indivíduos que já conheciam estas. Faz-se necessário então apontar qual seria o motivo de acreditar que as gerações atuais estão aquebrantadas em se comparando aos que antes caminharam sobre a superfície de nosso planeta, considerando, especialmente, os indivíduos capazes, ainda que artificialmente, de conduzir outros. Neste diapasão, fica evidente o ponto em que chegamos. Quando a história nos brinda com déspotas, percebemos que trata de indivíduos sem moral, não sendo possível observar uma flagrante distancia entre os antigos e os atuais, entretanto, quando se tata de autores e artistas, assim como sair de um nevoeiro, podemos enxergar nitidamente a gritante diferença entre aqueles que tiveram destaque em seu tempo, independentemente da sua moralidade, e os que atualmente são destinatários da atenção das massas. Precisamos olhar para a carência no campo intelectual, incapaz de produzir obras memoráveis, nada perto de se comparar a William Shakespeare , John Ronald Reuel Tolkien ou Machado e Assis em nossa literatura atual, restando aos mais jovens os quadrinhos e as obras cinematográficas, que cada vez mais se resumem a reedições que sequer conseguem superar as obras originais. O jovem atual acaba vendo em figuras sofistas, ou até mais vazias, como exemplos. A música tornou-se uma repetição frenética de batidas, ou seja, reduzindo-se ao ritmo desprovido de melodia cujo atrativo é a exacerbada erotização de seus interpretes ou coadjuvantes, por vezes, degringola-se à níveis ainda mais dantescos, tornando uma ode ao consumo e ao poder. O consumidor acaba por ser alimentado de um caldo cultural tão abjeto que se vê envenenado e incapaz de se libertar, tornando-se adicto por algo sem valor, mas que é a única visão de mundo que lhe fora oferecida. Surge uma geração que busca o prazer imediato e inconsequente, incapaz de apreciar a beleza e movida por paixões cada vez mai artificial e, portanto, vazias. A máxima de que é melhor viver dez anos à mil que mil anos à dez. Ao assumir que a vida deve ser encarada com a preocupação de somente aproveitar os prazeres mais fúteis, obtendo aquilo que se deseja de forma imediata e sem encarar as consequências, temos indivíduos que servem como um terreno fértil, o comportamento do lumpemproletariado torna-se cada vez mais a regra, haja vista que, dedicar-se ou estabelecer metas é nada mais que despender tempo. Nota-se uma grande ausência de busca por qualidade e a pulsante fome por aquilo que não tem valor real, sendo apenas resultado de um desejo artificialmente alimentado, fazendo com que, cada vez mais, o homem inspire-se em figuras insípidas cujo o atrativo é somente a propaganda e o sentimento de pertencimento de manada. Voltando ao ponto em que surgiu a incógnita acerca da motivação do declínio da sociedade, pois é necessário refletir a respeito de um possível delir do propósito que assola a juventude, como sendo algo natural ou preordenado. A humanidade perece mesmo decair ante o fim, seja de um ciclo ou de sua existência, mas, é importante observar se tal declínio é uma questão do acaso ou uma armadilha muito bem preparada por aqueles que pretendem destruir aquilo que se solidificou durante os milênios de nossa existência. É fácil observar que existe uma crença na qual é necessário destruir tudo aquilo que se construíra para reinventar a sociedade, acreditando que a única solução é a inventiva criação do progresso que, não podendo aproveitar o legado do passado, soterrará o mesmo para chegar a um futuro utópico imaginado. Em outras palavras fazer do mundo um paraíso. A parte que não é contada é como será o tal paraíso e o pior, quanto custará, não se trata de uma questão monetária, para estabelecer tal utopia. Promessa mentirosa de um mundo perfeito, recriado segundo a imaginação de homens imperfeitos, passa pelas mais diversas propostas, todas tentando conduzir a humanidade a aceitação de que tudo pode ser relativizado, não havendo, portanto, uma “verdade absoluta”, ou seja, assumindo que narrativas são mais impostantes que a verdade. Para isso, criam-se um mecanismo para difundi a mentira como verdadeira , calar que se contrapõe e para envernizar a fraude com uma falsa premissa de academicismo. Cada vez fica mais evidente que uma intenta revolucionária poderia ser aquilo que move as engrenagens para levar o homem a sua derrocada, prometendo um fim maravilho, porém mentiroso, para dar o poder a um centro nervoso , dotado da capacidade girar a roda do destino ao seu favor. Na trama doentia revolucionária os mais afoitos, ainda que movidos pela mais pura intenção, sucumbiram ao tentar imprimir uma mudança pelos maios mais céleres , deixando a prudência de lado, por outro lado, os mais ávidos ao desejo momentâneo destruir-se-ão pela sua própria temeridade , pois, correm o constante risco de uma vida desregrada, aquilo que se convencionou chamar de “vida louca” entre o lumpemproletariado. A revolução precisa quebrar a sociedade, e não só ela, mas cada parte de sua menor fração, ou seja, para quebrar e reconstruir a humanidade, entender que é necessário destruir o indivíduo como ser, castrando-o. Subtrair a liberdade de consciência e forçar o homem a acatar o relativismo em lugar da verdade, o coloca em condição de ser não pensante, em que pese os revolucionários acreditem que questionam tudo, é nítido perceber como repetem mantras dos quais sequer sabem o significado . Isso decorre da falha primordial da revolução, posto que, sua artificialidade é o resultado de uma promessa mentirosa que não tem nenhum lastro na verdade, por isso, as pautas ora defendidas pelos revolucionários apresentam uma tendência natural em se conflitar, uma vez extremadas e sustentadas em narrativas, não conseguem se encaixar me uma malha natural. Tal incompatibilidade exige dos revolucionários adaptar suas propostas mentirosas a ponto de renunciarem-se, fazendo com que minorias barulhentas que servem aos interesses da revolução se calem de forma sepulcral ante algo que parece uma flagrante afronta a seus valores. Em verdade não há valores por trás das minorias, são apenas massas de manobras capitaneadas por vassalos bem alimentados dos líderes revolucionários, líderes que não se furtam em beber o sangue de seus seguidores ou as embalagens vazias que precisam tocar o rebanho de vítimas para o abatedouro daqueles que os construíram e os alimentam. Um líder de movimento minoritário ou um artista de destaque sem talento, sabem que sua utilidade os coloca em condições favoráveis, desde que, jurem e pratiquem a vassalagem inconteste aos senhores da revolução. A geração quebrada por suas próprias fraquezas alimenta a revolução ao passo que tornaram-se degenerados amantes do momento, mimados que se entregam sem lutar e pobre, não materialmente, mas em suas virtudes . O filme Caçadores de Emoção (Break Point) de 1991, estrelado por Patrick Swayze e Keanu Reeves tinha como pano de fundo uma gangue de criminoso que praticavam roubos para “manter seu vício” em uma vida de aventuras. “ Após uma série de assaltos a bancos bizarros no sul da Califórnia, com os bandidos usando máscaras de vários ex-presidentes, o agente federal Johnny Utah se infiltra na gangue suspeita de ter cometido os crimes. O grupo de surfistas, liderado pelo carismático Bodhi, é viciado na adrenalina do roubo. Porém, Utah se apaixona por Tyler, uma das integrantes do grupo, e isso complica o seu senso de dever” . Embora seja somente uma obra de ficção, não há como negar que, no cenário atual, inúmeros crimes são praticados com o intuito de sustentar uma vida de vícios, sendo tal tese até acolhida por magistrada da mais alta corte de nossa nação. Não obstante, um espectro político, do qual aparentemente tal autoridade integra, constantemente defende a descriminalização do uso de entorpecentes, o que, sem dúvidas debilitará ainda mais as futuras gerações, que considerarão como algo normal o contato com determinadas substâncias. A geração “vida louca”, que acredita que se entregar aos prazeres mais pueris de forma insensata é viver de maneira intensa, é incapaz de perceber que ao mesmo tempo que se julga capaz de subverter o sistema, acaba por aderir quaisquer modas que lhes são apresentadas com um caro ar de sedução ou, principalmente, impostas por uma visão de que, para pertencer a determinado grupo, faz-se necessário castrar a vontade individual e curvar-se aos desígnios daqueles que tocam a manada, ignorando que qualquer ação que seja considerada um desvio será motivo de açoite, da forma que, uma vez cooptado por determinado secto de uma suposta minoria, da qual pode o indivíduo fazer realmente parte ou somente está se inserindo por carência, não lhe será permitido se opor ao seu feitor. Por derradeiro, fica evidente que há uma fase da vida em que o indivíduo acaba por portar-se de forma irresponsável, se vendo livre da autoridade familiar, sem, contudo, ter dado início a sua responsabilidade como adulto. Tal momento é oportuno para os anseios revolucionários, abrindo uma janela para que seus líderes possam cativar o recém “liberto” e uma vez arregimentado, estará preso as fileiras vermelhas por diversos motivos, sendo um deles a fragilidade de que rompeu com a sua sociedade próxima e estável, a família, e rumou com aventureiros em busca de emoções baratas, fazendo de seus pares revolucionários o porto seguro de sua nova vida. Ao se deixar encantar pela luta por uma utopia de perfeição, o indivíduo assimilará todas as mentiras como fontes de sua existência, por vezes reagindo de forma irracional quando confrontado diante de uma verdade que não consegue negar. Ainda pior será quando os laços construídos junto às legiões revolucionárias tiver efeito real sobre o mesmo. Se renunciar à fé que abraçou ao se converter como membro da horda da revolução é algo hercúleo, torna-se ainda mais difícil quando há uma depravação moral ou até mesmo física. Não por acaso, os agentes revolucionários lutam pela destruição de laços de família, amizade e honra, mas pela renúncia constante de virtudes e pela submissão dos incautos ao seu veneno escravizante que são os entorpecentes. Para estes líderes, seus feitores e vassalos bem alimentados é essencial incutir nos indivíduos a vida sem responsabilidade, na qual não há consequências das ações , relativizando qualquer que seja o pecado. A derrota é precedida pela fraqueza e os planos revolucionários passam pela eliminação de tantos quantos forem necessários para a construção de seu utópico mundo perfeito, ainda que este nunca seja alcançado. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. I N.º 15 edição de Julho de 2022 – ISSN 2764-3867
- José Bonifácio, O Patriarca
O ano de 2022 é de crucial importância para a história do Brasil. Como sabemos, este ano teremos eleições para os poderes executivos de estados e em nível federal, além da reconfiguração das cadeiras das casas legislativas (câmaras e um terço do Senado Federal). Esta eleição poderá representar também, mudanças significativas na composição da instância máxima do Poder Judiciário. Como não bastassem tantos elementos importantes, 2022 é também o ano do bicentenário da Independência do Brasil. Em 1822 o Brasil contava com nomes exemplares que são a base e o fundamento da construção de um país que hoje buscamos preservar: D. Pedro I, D. Leopoldina da Áustria e, por último, mas não menos importante, José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência. Homem que com todos os méritos ocupa com destaque merecido, posição importante nas histórias do Brasil e de Portugal. Esta figura ímpar na lista de heróis nacionais do Panteão da Pátria é o tema deste primeiro artigo preparatório à comemoração do bicentenário da independência. Nascido em Santos, São Paulo, no dia 13 de junho de 1763, sendo filho de Bonifácio José Ribeiro de Andrada e Maria Barbara da Silva, José Bonifácio contou com a formação possível a um jovem em Santos, mas em 1777 precisou ser direcionado a São Paulo para a conclusão de seus estudos básicos, onde estudou gramática, lógica e retórica (Trivium). Aos dezoito anos foi enviado a continuar seus estudos em Portugal, devido às políticas de Estado da Coroa portuguesa, que não concedia cartas régias que permitissem a abertura de cursos superiores no Brasil. Seu destino foi a Universidade de Coimbra, onde dois de seus tios já haviam se formado e que proporcionaria as condições necessárias para o desabrochar de suas potencialidades. Na Universidade de Coimbra matriculou-se em dois cursos simultaneamente, o curso de Direito Canônico e o curso de Filosofia Natural. Em 1787 conclui o bacharelado no curso de Filosofia Natural e no ano seguinte consegue seu segundo bacharelado em Direito. Em 1789 alcançou feitos memoráveis, pois habilitou-se à magistratura e associou-se a Academia de Ciências de Lisboa. Naquele mesmo ano é convidado a integrar missão de estudos que se efetivou em 1790, a qual iniciou pela França e avançou em suas pesquisas nas ciências de química, geologia, mineralogia e metalurgia, quando viajou à Itália, Áustria, Hungria e Alemanha, fixando-se por aproximadamente dez anos em Freiburg. O interesse daquela missão era o de aprofundar os conhecimentos nos estudos minerais, o que proporcionaria muitos avanços às ciências em Portugal, e consequentemente riquezas. A segunda metade do século XVIII foi um momento de efervescência de ideias na Europa. O conhecido século das luzes influenciou os jovens estudantes daquele período e teve impactos diretos no processo de independência americana e na Revolução Francesa. Bonifácio não estaria imune àquelas ideias. Seu período inicial na França possibilitou testemunhar os eventos revolucionários e parte do morticínio parisiense. A experiência dramática, somada às ideias que cultivava no terreno do Iluminismo, fez de Bonifácio um iluminado diferenciado. Sem o fetiche racionalista anticlerical, mas atento às questões sociais, acrescido de uma profunda formação filosófica clássica, fez dele um homem preparado para os desafios que enfrentaria em seu futuro. Em 1800, tendo retornado a Portugal, é criada a cadeira de metalurgia na Universidade de Coimbra, especificamente para aproveitar seus conhecimentos acumulados. Foi também nomeado intendente-geral das Minas e Metais do Reino, diretor das Casas da Moeda, Minas e Bosques e membro do Tribunal de Minas. Mesmo sob tantas responsabilidades, foi chamado a se ocupar com a gestão do plantio de pinhais, no que ele pôde demonstrar uma preocupação bastante precoce com a integração do homem ao meio natural. Fato que ele já havia demonstrado anos antes ao apresentar seu estudo intitulado “Memória sobre a Pesca das Baleias”, para acesso à Academia de Ciências de Lisboa. Naquele trabalho dizia ele: “É que o meu interesse é pôr aos olhos dos que podem emendar os abusos, a perda que anualmente recebe esta pescaria, já pelo mau método de pescar as baleias, já pelo péssimo fabrico do azeite extraído. É fora de toda a dúvida que matando-se os baleotes de mama, venha diminuir-se a geração futura, pois que as baleias por uma dessas sábias leis da economia geral da natureza, só parem de dois em dois anos um único filho, morto o qual, perecem com ele todos os seus descendentes” . Anos mais tarde ele acrescentou às suas ideias a seguinte observação: “Sem matas, quem chupará dos mares, dos rios e lagoas os vapores que dissolvidos e sustentados na atmosfera caem em chuva e em parte decompostos em gases, vão purificar o ar e alimentar a respiração dos animais? Quem absorverá o gás ácido carbônico que deles expiram, e soltará outra vez o oxigênio que aviventa o sangue e que sustenta a vida?”. A partir de 1808 comandou forças de resistência às invasões francesas sob Napoleão, quando buscava defender a cidade de Coimbra, somando mais uma competência às muitas habilidades que já possuía. Seu antigo sonho de retornar à terra natal só pôde se realizar em 1819, quando já era Secretário Perpétuo da Academia Real de Ciências de Lisboa e, em seu discurso de despedida dos membros daquela entidade anunciou: “ É esta, ilustres acadêmicos, a derradeira vez que tenho a honra de ser o historiador de vossas tarefas literárias e patrióticas, pois é forçoso deixar o antigo que me adotou por filho para ir habitar o novo Portugal onde nasci. Depois que deixei na adolescência a amena província de São Paulo e me acolhi à Lusitânia, que meiga me recebeu em seus hospedeiros braços, trinta e seis anos são passados” . Em 1820 já no Brasil, e após algumas incursões de pesquisa por São Paulo, José Bonifácio foi nomeado Conselheiro por D. João VI. Aqueles foram dias agitados para o Brasil e em especial para Bonifácio. Em 1821 a Revolução Liberal do Porto impunha o regresso do rei a Portugal, mas também abria as portas da participação da família Andrada na política nacional. Antônio Carlos era Deputado, Martim Francisco era Secretário de Estado, ambos eram irmãos de Bonifácio, que ocupava então a posição de vice-presidente da província de São Paulo (cargo hoje equivalente ao de vice-governador). Em carta aos deputados brasileiros que defenderiam os interesses nacionais frente às cortes portuguesas, Bonifácio mais uma vez demonstrou o quanto estava adiantado em relação à visão de um Estado que sequer existia de fato: “Que se cuidem legislar sobre a catequização e civilização geral e progressiva dos índios bravos que vagueiam pelas matas, e sobre melhorar a sorte dos escravos, favorecendo a sua emancipação gradual” . Reivindicava também a criação de escolas e de uma universidade para o Brasil (em São Paulo). Defendia o Brasil unido, formado por suas províncias e governado por um governo geral (brasileiro). Aquelas eram ideias diametralmente opostas às pretendidas pelos pares portugueses. Coube também a Bonifácio o pedido feito a D. Pedro para que este não atendesse à determinação vinda de Lisboa, que impunha seu retorno a Portugal. Em atenção àquele pedido D. Pedro proferiu a célebre frase, “Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto, digam ao povo que fico!”. Convidado por D. Pedro a ocupar o cargo de Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Reino e Estrangeiros, Bonifacio foi testemunha e partícipe dos eventos que culminaram com as mensagens escritas por D. Leopoldina e por ele mesmo, onde D. Pedro era informado sobre o envio de tropas vindas de Lisboa para conduzi-lo de volta a Portugal. Era chegado o momento, o sentimento estava amadurecido e Bonifacio sabia disso. Liberdade! Apesar das sugestões de D. Leopoldina para que D. Pedro I ouvisse os conselhos de Bonifácio, a relação entre ambos não poderia perdurar. Em razão do caráter impetuoso e quase autocrata do novo imperador, em 1823 Bonifácio se vê obrigado a renunciar ao cargo de Ministro. As diferenças de visão quanto à maneira de governar, a oposição de seus adversários políticos e até mesmo as posturas pouco ortodoxas no que tange ao comportamento sexual do imperador, inviabilizaram a continuidade de seu ministério. Com isso, a participação política do grande arquiteto da independência foi posta em compasso de espera. Espera de novos movimentos da história que mais uma vez trariam ao centro do poder aquele que muito ainda havia de oferecer ao Brasil. Em 1831, somadas as crises internas em virtude de sua gestão, e a crise sucessória em Portugal após a morte de D. João VI, D. Pedro I abdicou do trono nos seguintes termos: "Usando do direito que a Constituição me concede, declaro que, hei mui voluntariamente, abdicado na pessoa do meu muito amado e prezado filho, o sr. D. Pedro de Alcantara” . Com apenas cinco anos de idade, o futuro imperador necessitava de uma condução que o preparasse para a dimensão da responsabilidade que, em sua tenra infância, sequer suspeitava. Ainda que as diferenças políticas tivessem afastado D. Pedro I de seu antigo conselheiro e amigo, não haveria ninguém com mais preparo, habilidade e caráter ilibado para receber a honrosa tarefa de guiar o pequeno e majestoso pupilo. Apenas dois anos durou a tutoria de Bonifácio junto ao menino Pedro II. Em 1833 mais uma vez seus adversários políticos buscaram afastá-lo do cargo e da possível influência que poderia impor ao futuro imperador. José Bonifácio afastou-se de vez da política, ao que parece decepcionado com a pequenez de espírito já vigente no seio da política nacional àquela época, mas é certo que buscava naquele momento em que já se via maduro, realizar seu singelo desejo confidenciado em 1806 ao conde de Linhares: “Estou doente, aflito e cansado e não posso com tantos dissabores e desleixos. Logo que acabe meu tempo em Coimbra e obtenha a minha jubilação, vou deitar-me aos pés de S.A.R. (Sua Alteza Real ) para que me deixe acabar o resto dos meus cansados dias nos sertões do Brasil, a cultivar o que é meu" . Assim foi! A singela Ilha dos Amores (atualmente Paquetá), na graciosa Baía da Guanabara no Rio de Janeiro, foi o retiro escolhido por um dos maiores brasileiros que esta Nação viu nascer. Em Paquetá, em uma casa simples, diante da grandeza de seu morador, José Bonifácio de Andrada e Silva encerrava em 6 de abril de 1838 sua passagem por este mundo, deixando como legado a sua história e um país que, se existe hoje tal qual conhecemos, se deve em seus fundamentos à sua valiosa contribuição. O Brasil de 2022 se assemelha ao de 1822, empenhando sua liberdade aos homens de honra que juraram defendê-lo, vê-se ameaçado por forças inimigas que querem reduzi-lo à servidão, mas com Deus e por Sua misericórdia, venceremos! Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. I N.º 15 edição de Julho de 2022 – ISSN 2764-3867
- Conservadores e revolucionários
Há um meme entre nós? Por que rimos enquanto o debate definha? Já perdi as contas de quantos memes, vídeos engraçados e slogans criativos pude ver nos últimos anos. A maioria cumpre com humor e graça a tarefa de transmitir uma ideia ou repercutir um fato. Algo me chama a atenção, e não é de hoje! Tudo é sempre muito superficial, resvalando nos aspectos mais evidentes, mas sem agregar conhecimento real sobre o que está ocorrendo diante dos olhos dos espectadores. O cenário é comum nas mídias sociais que acompanho, mas parece ser uma tendência mundial. Já ouvi estrangeiros elogiando a capacidade infinita do brasileiro de criar memes sobre quase todo tipo de situação e, como a política é o tema em destaque nos últimos quinze anos, os memes políticos são os que mais vejo. Para além dos memes, os slogans, palavras de ordem e aforismos, são recorrentes nas redes sociais. A grande questão que observo é que os memes que, em tese, serviriam para abrir os olhos ou despertar consciências pela via do humor, apenas separam ainda mais os grupos divergentes. Não sou contra o humor, longe disso. Cresci assistindo a programas hilários e com alto teor de crítica política, conduzidos por Chico Anísio, Jô Soares ou Agildo Ribeiro (os dois últimos tendentes à esquerda), entre outros, mas a diferença de nível entre as épocas é... deprimente. Se o humor já foi ferramenta para iluminar contradições, hoje parece servir mais como cortina de fumaça. O embate entre conservadores e revolucionários parece, por sua própria natureza, insolúvel, pois se baseia no confronto de visões de mundo diametralmente opostas. Já tratamos da questão do apego a ideologias da juventude em outro texto da Revista Conhecimento e Cidadania: “ Testemunhas atávicas da História ” . Resolvemos aprofundar o tema, trazendo novas reflexões. A imagem que ilustra esta reflexão não é um meme, mas se compartilhada isoladamente vai produzir pouco ou nenhum efeito. Será como um alimento vazio de nutrientes, mas bem saboroso. Produzirá efeito momentâneo e não agregará vitalidade ao corpo. Assim é o embate nas redes, muitas vezes circunscrito a bolhas sociais: estéril, vazio, inútil, mas engraçado. Por trás dessa efemeridade, há uma força mais profunda — e menos visível — movendo os antagonismos: Cada lado se firma em convicções tão arraigadas que os argumentos se tornam irrelevantes: para quem tem fé numa visão de mundo, nenhuma explicação é necessária; para quem não tem, nenhuma explicação é possível. Essa adaptação, inspirada na máxima atribuída a Tomás de Aquino, pode traduzir o que vemos nas arenas ideológicas contemporâneas. Conservadores e revolucionários falam, mas raramente se escutam. Dialogam para seus próprios públicos, não para os adversários. Assim, o consenso, se vier, será obra da vida — não do debate. Dentro desse cenário, o conservadorismo guarda, em si, um valor precioso: é o depósito da experiência histórica, da sabedoria adquirida pelo longo processo de tentativas, erros, acertos e sofrimentos. Mas esse compêndio de experiências requer muito mais que um meme engraçado para ser apreendido. No entanto, alguns conservadores contemporâneos caíram na armadilha da superficialidade. Limitam-se a repetir: " As coisas são como são ", " sempre foi assim ", " Para que mudar se sempre funcionou? ". Realmente falam a verdade, mas com a profundidade de um pires. Essa pobreza de argumentação é uma avenida aberta para os revolucionários, que, articulados, denunciam essa falta de consciência e apresentam-se como heróis da razão e da justiça. O paradoxo, porém, não é exclusivo de um lado. Por trás da firmeza de cada lado, tanto conservadores quanto revolucionários guardam uma semelhança basilar: podem encontrar-se fundamentados em algo oculto — o medo. Medo da escassez, da dor, do sofrimento, da solidão, da morte. Uma das emoções mais primitivas e que segue acompanhando o ser humano em sua trajetória. Esses medos, que fazem parte da experiência humana na Terra, podem dirigir silenciosamente as ações tanto dos conservadores quanto dos revolucionários. Há revolucionários que acreditam que serão beneficiados por sua visão de mundo quando ela se tornar realidade; outros já estão sendo beneficiados agora e lutam para não perderem seus privilégios, mesmo à custa do sofrimento alheio; outros, ainda, são ingênuos, pois lhes falta o conjunto de experiências e conhecimentos que proporcionam uma visão ampla e clara da realidade como ela é. Se o medo pode ser o combustível, o labirinto pode ser a metáfora. Ao longo da vida, somos confrontados com nossos medos de forma filtrada, gradual, para que possamos evoluir sem sermos destruídos. Mas para os recalcitrantes, para aqueles que se recusam a aprender pelas vias suaves, restam os confrontos sem anestesia: vivem o drama em sua forma mais crua, sem adornos. Mas até para concordar com essa possibilidade explicativa, é necessário crer que há um certo direcionamento por parte de uma força oculta que nos rege. Essa jornada de redenção é individual e coletiva, lenta e dolorosa, e não oferece garantias de sucesso. Alguns, mesmo após todas as advertências, perdem-se por tempo demais. O Gênesis captura essa dinâmica de maneira simbólica e profunda: " De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás. " (Gênesis 2:16-17) A advertência nasce da sabedoria do Criador, que conhece todas as dores e perdas que podem advir da experiência humana. Enquanto para alguns a palavra é suficiente; para outros, a experimentação pessoal é a única via possível — ainda que lhes custe a vida. Assim desenrola-se o fio do destino humano, que tem como guia a sabedoria divina, representada materialmente pelas Sagradas Escrituras. Assim como o novelo de Ariadne entregue a Teseu: o fio está lá, conduzirá à saída, mas exige que cada centímetro do labirinto seja percorrido, com coragem, dor e incerteza. Cada volta do caminho é uma lição; cada retrocesso, um convite à humildade. O preço da desobediência, da soberba e da ignorância é o próprio labirinto — e, às vezes, a perdição definitiva. G.K. Chesterton, ao refletir sobre a tradição, afirmou que " a tradição é a democracia dos mortos ", a voz daqueles que vieram antes de nós, provando com suas vidas aquilo que hoje herdamos como sabedoria. Esquecer ou desprezar essa voz é um ato de arrogância juvenil — é arrancar a escada depois de subir. E assim, conservadores e revolucionários continuam a se enfrentar. O conservador que se limita a dizer " é assim porque sempre foi " cede terreno ao revolucionário que, embora muitas vezes ingênuo ou mal-intencionado, apresenta-se armado de perguntas legítimas e coragem de mudar. Mas se a revolução triunfar sem consciência das razões que sustentavam a ordem antiga, logo se aprenderá — pelo sofrimento — que aquilo que foi desprezado na teoria, faltará como substância da prática. O drama das redes, portanto, não se limita apenas ao campo dos embates político-ideológicos: é existencial. Mais do que uma batalha de memes, ou do enfrentamento de candidatos e seus eleitores, temos um enfrentamento de visões de mundo. Cada geração é chamada a reconectar-se ao fio de Ariadne da tradição, mais que religiosa, metafísica, e atravessar o labirinto de seus próprios medos e escolher: aprender pela razão ou pela experimentação, pela escuta ou pela queda. E enquanto uns despertam ao suave tilintar de um alfinete, outros precisarão da explosão de uma bomba para quem sabe, enfim, abrir os olhos. Enquanto esse drama se descortina no dia a dia — com a queda da moralidade, o aumento das corrupções, a explosão da sensualidade, a lenta erosão da família —, vamos rindo de mais um meme. Do outro lado, nossos companheiros usam ardis retóricos, nossas próprias contradições e hipocrisias para o contra-ataque. Batalha inútil. Mas eis a questão final: quanto do labirinto ainda precisaremos percorrer até reconhecermos que o fio de Ariadne já está em nossas mãos? Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. IV N.º 54 edição de Maio de 2025 – ISSN 2764-3867
- Afundando navios
“A pior ditadura é a ditadura do Poder Judiciário. Contra ela, não há a quem recorrer” . Rui Barbosa Existe uma prática na qual se afundam navios para que sirvam como bases para o surgimento de corais, surgindo uma flora que abrigará e alimentará uma fauna marinha, criando ou expandindo assim um ecossistema rico. Não é a natureza do navio, mas é um bom uso para algo que se tornou inservível. O chamado afundamento de navio é realizado quando a embarcação deixa de ser funcional, seja por um dano, pelo custo elevado ou pela obsolescência, reaproveitando a maior parte para a criação de corais, entretanto, os naufrágios decorrentes de acidentes e guerras foram a inspiração para tal prática, haja vista que, observou-se que as embarcações naufragadas acabaram se tornando abrigo para corais e, consequentemente, para a fauna marinha. Não se trata do uso incorreto da embarcação, já que, para que sirva de base para os corais, o navio se encontra inservível para aquilo que foi projetado, portanto, é uma forma de aproveitar aquilo que sobrou, como um cadáver de animal que serve como nutriente para plantas na floresta. Ao construir uma casa, o encarregado deve pensar na forma que aquele imóvel abrigará aqueles que o habitarão, como dormirão, usarão a cozinha, banheiro e outros espaços, entretanto, um construtor não está, em regra, preocupado com o mau uso do imóvel, ou seja, ele não constrói paredes macias para indivíduos que decidam bater suas cabeças ou uma tubulação de esgoto que permita ao morador jogar todo seu lixo pelos ralos, uma vez que, seria impossível antever a degeneração do uso, ou seja, que se dada função diversa daquela para qual a casa fora construída. Igualmente, projetistas de automóveis não projetam seus veículos pensando naquele que, eventualmente, decida invadir uma área de passeio e passar sobre os pedestres. É certo que em grandes cidades, especialmente aquelas que sua população sofrera a corrosão pela cultura do lumpemproletariado , ou seja, tomada pelo progressismo revolucionário, sucumbiu ao culto à postura marginal, por vezes, indivíduos transitam em suas motocicletas pelo passeio sem o menor pudor, colocando em risco a vida dos que caminham pelo local, entretanto, tal bestializada conduta não pode ser prevista pelos construtores das motocicletas. Culpar o fabricante pelo mau uso do equipamento impediria que facas fossem vendidas, o que, por si, deveria ser considerado como resultado de uma deficiência cognitiva inadmissível, logo, responsabilizar operadoras de plataformas digitais pelo conteúdo, ainda que seja abominável, inserido naquela determinada rede é igualmente estúpido. Evidente que no campo da desonestidade intelectual, no qual se pretende usar o mau uso para atribuir ao produto a culpa, de maneira que, buscam avançar com uma agenda que os é útil valendo-se de uma caso em que há clara corrupção do uso. O caso recente em que uma menina de Brasília supostamente morreu em razão de um desafio proposto em uma rede social, serve de trampolim para que, mais uma vez, políticos autoritários ou incautos, tentem enfiar suas presas nas operadoras das plataformas digitais, algo que resultará em maior controle da informação, permitindo que o totalitarismo avance ainda mais sobre o povo brasileiro. Se por um lado, os incautos querem dar uma resposta rápida e não pensada para o caso da garota de Brasília, os déspotas aproveitam a oportunidade para, lançar sua nova tentativa de calar vozes dissonantes. Aqueles com mentalidade totalitária lutam pelo controle da informação, posto que, ao centralizarem os meios de comunicação garantirão que somente as ideias que pretendam difundir sejam promovidas pela mídia mainstream , tendo em vista que, ao contrário do quê afirmou um determinado magistrado brasileiro, seria mais difícil que regimes totalitários, como o Nazismo, pudesse alcançar o poder com fizera na Alemanha do início do século passado, pois, se houvesse informação descentralizada, em verdade, a propaganda do partido poderia ser confrontada em um ambiente de informação livre. Não por acaso, ditaduras como a chinesa e a norte-coreana não permitem aqueles que habitam seus domínios tenham acesso a argumentos, notícias ou registros históricos que possam confrontar aquilo que é considerado como versão oficial, que, em síntese, significa a versão que interessa ao regime. A imprensa e mídia mainstream, comumente associada ao regime totalitário, servem como meio para unificar a informação e a cultura solidificando a versão oficial, logo, para qualquer regime autoritário, faz-se necessário o controle das narrativas afastando aquelas que não comungam dos interesses dos que ocupam posições de poder. A grande mídia definha quando pode ser confrontada, não por ataques coordenados, mas por sua perda da capacidade de persuasão, haja vista que, quando apresentada uma versão mais detalhada, menos enviesada, dos fatos, poderá o receptor da mensagem julgar qual a mais verossímil, libertando-se do monólogo da besta que tenta vender sua narrativa como a única válida. Não por acaso, a mídia mainstream defende com todas as forças aquilo que chama de regulação das redes, quando, na verdade, pretende calar todas as narrativas que não sejam a oficial, ou seja, a da mídia mainstream. Há projetos de lei que responsabilizam plataformas até por anúncios veiculados, entretanto, não existe a mesma exigência quando se trata da grande mídia. O objetivo, ao menos aparente, seria retirar uma receita das plataformas e redirecioná-la aos canais de mídia mainstream que, em conluio com o Estado, pretendem controlar aquilo que o cidadão pode saber. A perda da capacidade persuasiva da mídia faz com que ele perca a sua função para os poderosos que, apesar de alegarem que se trata de um meio de entretenimento, usam a força do convencimento para manipular o povo, de maneira que, em havendo outras versões, mesmo as autoridades não poderão negar os fatos e impor sua narrativa mentirosa. A melhor forma de destruir a desinformação é confrontá-la com a informação real, de maneira que, o meio mais eficaz de combater a mentira é expô-la, por tal razão, aos que insistem em dizer que o rei não está nu, restará calar todo aquele que se dispuser a dizer a verdade. Enquanto a grande mídia luta para não afundar, fingindo que não há um rombo em seu casco, mais agentes independentes surgem para desempenhar seu papel, alguns se profissionalizando e outros se mantendo no amadorismo, criando algo positivo sobre aquilo que será o cadáver da mídia mainstream. O belo coral que surgira no lugar do navio afundado, dará um novo significado à liberdade de informação e, em breve, não haverá obstáculos aos que pretendem se expressar livremente, pois, cada um será um canal de informação e não será considerada válida qualquer vantagem que a antiga imprensa busque manter sobre os indivíduos. No há motivo para lamentações, pois, a mídia mainstream morrerá para dar lugar a algo melhor que evoluiu naturalmente, não sendo obra de agentes revolucionários que tentam enfrentar a realidade, tampouco, de uma catástrofe. O fim da hegemonia da informação será benéfico e trará a verdade cada vez mais a lume, permitindo que cada um busque suas fontes conforme sua vontade ou interesse real pela informação. A decadência da mídia mainstream advém do avanço tecnológico, da busca espontânea pela informação e, não podemos negar, de sua corrupção sistêmica, uma vez que, em sua maioria, a mídia mainstream decidiu se associar com o poder em um verdadeiro conluio para manipular as massas. Acostumada a mentir sem alguém para a contrapor e alimentando-se de somas consideráveis em troca de apoio, uma parcela considerável da mídia acabou se condenando ao distanciamento do mundo real e, consequentemente, dos indivíduos. Ao afastar-se das pessoas em geral, a mídia perdeu-se em uma espécie de vale do qual somente os seus participam, acreditando que os sons que ecoam em seu vale são os únicos existentes, começou a falar apenas para os seus, ignorando o mundo que o cerca. Enquanto romantiza o banditismo em suas obras e discute ideologia de gênero a mídia finge não ver que o crime organizado massacra o povo e que a maioria sequer se importa com gêneros artificialmente cunhados para agradar hordas transloucadas de servos da revolução, mesmo a revolução é uma farsa que não convence. Certamente, os corais que florescerão sobre o cadáver da mídia mainstream serão muito mais úteis e verdadeiros que seus navios, libertando as massas da cegueira imposta pelos impostores que os antecederam. Não há como negar que a perda da credibilidade da mídia é resultado de sua escolha pela desinformação seletiva em favor da revolução, seja por cumplicidade ou corrupção, a opção por enganar acabou se tornando o fator essencial para sua queda, considerando que o advento dos meios de comunicação independentes, fizeram com que boa parte do povo pudesse conhecer narrativas que se contrapunham às falácias do cartel midiático. Por outro lado, a mídia mainstream pode aproveitar o afundamento do navio para florescer como um coral sobre sua própria carcaça, como fez os renomados jornalistas Alexandre Garcia, Augusto Nunes, Luís Ernesto Lacombe e outros tantos que preferiam a verdade à submissão aos desmandos das autoridades. Infelizmente, a ideologia totalitária que pretende se impor através da mentira, não se furta ao uso da força e, conhecendo o poder coercitivo dos tribunais, cooptou as almas dos magistrados para que sirvam sua sinfonia da destruição. O Judiciário dissociando-se da justiça jogou seus valores na sarjeta para promover uma verdadeira caçada aos que não se curvam à sua ideologia dominante, tornando-se um ator político o qual sua essência não o permitia. A revista britânica The Economist publicou artigos em que aponta para o poder excessivo do Poder Judiciário brasileiro, elencando como principais personagens alguns dos ministros do Supremo Tribunal Federal que não ousaremos mencionar em razão, justamente, de seus excessos, pois, diferente da The Economist, sediada em Londres, quem está sob o julgo de tais autoridades deve, segundo a própria revista, temer seus arroubos autoritários, ao menos por lucidez. O Poder Judiciário que decidiu se tornar ator político, e não se resume ao STF, decidiu, assim como a mídia mainstream afundar seu próprio navio por se desviar de sua essência, posto que, a promessa da tripartição de poderes, ou funções, colocava tal poder como aquele a quem o cidadão recorreria diante de uma injustiça praticada por políticos ou demais autoridades, cabendo ao Judiciário, inerte e imparcial, se manifestar quando uma injustiça fosse levada à sua presença. Um Judiciário que busca protagonismo, quando sequer deve aparecer no palco político, guardando o respeito por sua imparcialidade, acaba se destruindo, contudo, a função de dizer o direito é indispensável à sociedade, portanto, quando o navio afundar, e ele afundará, teremos que reinventar o Poder Judiciário, não na forma que os revolucionários queriam, mais poderosos e contaminado por sua ideologia, mas da forma que nos forçaremos a fazer devido aos seus arroubos autoritários, ou seja, menos poderoso e mais responsável. A inconsequência das ações dos membros do Judiciário e do Ministério Público e a vasta gama de privilégios, quando sequer reconhecem como absurdo os ganhos muito acima do limite constitucional, imporá ao povo que os poderes, privilégios e irresponsabilidade afetas aos membros do Poder Judiciário e do Ministério Público sejam discutidos e reestruturados, não para evitar que o navio afunde, mas para colocar outro navegando em sua rota. Os restos do navio afundado servirá, assim como o Museu do Holocausto, como lembrete do quão é necessário limitar poderes de quem quer que seja, para que, no futuro, outros abusos não se repitam. O coral que florescerá sobre a carcaça do velho navio afundado, será a lembrança histórica às futuras gerações para que nenhum homem tenha tanto poder que não possa ser impedido de errar ou abusar de seus pares. Devemos compreender que não devemos delegar poderes exorbitantes às autoridades, pois caso o poder corrompa, será necessário que freios sejam impostos. Para os que conhecem os heróis em quadrinhos, é bom lembrar que mesmo o personagem Batman guardava um pedaço de Kryptonita, para o caso do Superman se corrompesse pelo caminho, lembrando que Bruce Wayne não tinha poderes para, em um cenário normal, subjugar os demais membros da Liga da Justiça. Será que chegamos ao ponto de enfrentar o alerta de Rui Barbosa e buscarmos meios de limitar os poderes do Judiciário? “ Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente pela mesma razão ” . Dito popular, por vezes atribuído a Mark Twain (escritor e humorista americano) ou a Eça de Queiroz (escritor e diplomata português). Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. IV N.º 53 edição de Abril de 2025 – ISSN 2764-3867
- Teologia da missão integral
A maldição da teologia da missão integral no meio evangélico Nos dias que antecedem a Páscoa temos a quaresma , que são quarenta dias onde os cristãos refletem sobre a vida, morte e ressurreição de Jesus. E na contramão, temos a imprensa militante com suas matérias repetidas ad eternum: “Jesus realmente existiu?”, “Jesus teve um caso com Maria Madalena ?”, “Jesus ressuscitou mesmo?” e outros títulos aberrantes. A mídia dita “tradicional” , sabemos bem, quase sempre foi anticristã, então não há mais surpresa. Contudo, o maior problema está no meio da igreja, que a Bíblia denomina de joio. Nosso Senhor Jesus Cristo explicitou esta situação na seguinte parábola: "O Reino dos céus é como um homem que semeou boa semente em seu campo. Mas enquanto todos dormiam, veio o seu inimigo e semeou o joio no meio do trigo e se foi. Quando o trigo brotou e formou espigas, o joio também apareceu. Os servos do dono do campo dirigiram-se a ele e disseram: O senhor não semeou boa semente em seu campo? Então, de onde veio o joio? Um inimigo fez isso, respondeu ele. Os servos lhe perguntaram: O senhor quer que o tiremos? Ele respondeu: Não, porque, ao tirar o joio, vocês poderiam arrancar com ele o trigo. Deixem que cresçam juntos até a colheita. Então direi aos encarregados da colheita: Juntem primeiro o joio e amarrem-no em feixes para ser queimado; depois juntem o trigo e guardem-no no meu celeiro.” (Mateus 13.24-30) O joio é morfologicamente muito parecido com o trigo e cresce nas zonas cerealíferas; é considerada uma erva daninha desse cultivo. A semelhança entre essas duas plantas é tão grande que em algumas regiões costuma-se denominar o joio como “falso trigo”. Contudo, após maduro, o joio é fácil identificar e arrancar, diferenciando assim o trigo do joio. Outro nome para joio é cizânia, que significa discórdia, divisão. Ou seja, o trigo, a semente verdadeira, traz resultado. O trigo é a representação da palavra de Deus; já o joio é a confusão semeada pelo diabo. E o joio que temos atualmente possui dois nomes: teologia da libertação e da missão integral. Mesmo com nomes aparentemente diferentes, essas “teologias” possuem o mesmo objetivo: retirar a divindade de Cristo, tratando-o como mero profeta e homem bom, que pregava o amor e a “justiça social” e que por isso foi morto. A teologia da libertação infectou a Igreja Católica, contudo, hoje podemos ver o joio crescido, havendo condições para que o mesmo seja extirpado. Mas, quando se trata da teologia da missão integral, a situação ainda não está muito clara para as lideranças evangélicas. Muitos pensam que estão realizando a vontade de Deus quando, na verdade, estão “plantando o joio com o trigo” . Neste momento, alguns possuem muita dificuldade em discernir uma coisa da outra, e isso é preocupante. Citarei dois exemplos de “joios” sendo plantados em nosso meio. A rede globo é a maior emissora do país e a que mais odeia os cristãos, em especial, os que ela denomina “crentes” de forma pejorativa. Quando em novelas, sempre retratou mulheres evangélicas como feias e completamente bregas no tocante à vestimenta. O ápice do ataque foi em 1995, com a minissérie “Decadência” , escrita por Dias Gomes. No primeiro capítulo, a obra mostra o “pastor” em um caso de adultério e que, antes do ato sexual, retira o sutiã da amante e o coloca por sobre a Bíblia. Durante muitos anos, a emissora foi ostracizada pelos evangélicos. Contudo, visando ganhos monetários, a mídia dos Marinho mudou de tática: aos poucos, foi incluindo personagens evangélicos em suas tramas, desta vez, sem o esteriótipo de “zé povinho” , que sempre lhe foi peculiar. Até cantores gospel têm suas músicas incluídas nas trilhas sonoras das produções. Agora, a última cartada foi a produção de um documentário. “Crentes - além dos muros” é uma produção da GloboPlay que mostra a atuação das igrejas evangélicas nas periferias. “Mas isso é maravilhoso” , pode pensar o leitor. É justamente aí que a teologia da missão integral ganha força. A série não trata de conversões e de como o Senhor Jesus transforma vidas, mas faz uma separação entre “evangélicos históricos” (batistas e presbiterianos), como sendo uma espécie de “elite”, e os pentecostais (assembleianos e outros), que pertencem à periferia. Propositalmente, a série associa boas ações com salvação. Nas imagens, são vistas ações sociais diversas realizadas pelas igrejas das periferias (balé, artes marciais, alcoólicos anônimos, etc.). Ressalto que estas atividades são de vital importância, mas não possui qualquer interesse em mostrar que a conversão se dá por meio da palavra, e sim, pelas boas obras desfrutadas pela população. Onde está Jesus? Ele não existe na série. Um dito antropólogo que aparece na série, chamado Juliano Spyer, retrata o perfil dos membros dessas igrejas: “Os membros são, majoritariamente, pretos ou pardos, pobres, periféricos, jovens, e a maioria são mulheres”. Existe uma matéria aplicada em diversos cursos superiores denominada metodologia de pesquisa, onde se aprende a como realizar uma pesquisa e quais ferramentas utilizar para que esta seja a mais confiável possível. Parece que Spyer não estudou isso no curso de Antropologia: nas palavras dele, ele chegou a essa conclusão pilotando uma moto e contando igreja por igreja. Outro personagem da série é interessante para nossa análise: pastor José Marcos, líder da Igreja Batista em Coqueiral. Aliás, em uma rápida pesquisa no perfil do Instagram da Igreja, me deparei com um banner de um seminário intitulado: “Martin Luther King: a força do Evangelho para redenção social” . Em uma outra postagem, ele anuncia um “culto de graças” para os novos aprovados nas instituições de ensino UFPE, UPE e ETE. Além disso, pediu também um prato de comida para a festa. “Mas é importante comemorar!” , pode dizer o leitor. Sim, mas a “festa” substituiu o culto de Domingo. O tal pastor, em seu depoimento para o documentário, trouxe um dado: “80% dos pastores tiveram algum tipo de adoecimento mental” . Fiquei curiosa, afinal, não me lembro dos meus pastores terem participado de qualquer tipo de pesquisa. Acredito em pastores que estão sobrecarregados, mas 80% é um número alarmante. Será que esses dados são confiáveis? Como jornalista, fui checar. Em uma matéria do site Folha Gospel, intitulado “ Pastores estão entre os mais afetados pela síndrome de burnout ” (publicada em 09/04/2024), encontrei um estudo chamado “The State of Pastors” (A Situação dos Pastores em tradução literal), que foi produzido pela Visão Mundial e pelo Instituto Barna Group. Achei esse nome estranho, resolvi me aprofundar na pesquisa. Ao abrir a aba “Sobre” do tal instituto, quase tive uma síncope: a Barna Group trabalha com instituições que não possuem nenhum viés cristão, como a Gates Foundation. E o mais chocante foi a associação com uma ONG de “proteção aos animais” , Humane Society, mas que, na realidade, é uma instituição que visa implementar o veganismo. Agora o leitor entende a ação da teologia da missão integral? Custou um pouco (quase que de forma monetária), mas encontrei finalmente o tal estudo. Como imaginei, os números citados pelo pastor no documentário, embora preocupantes, são inflados. No estudo, 54% dos pastores sentem exaustão mental ALGUMAS VEZES. Na tabela “Risco de Burnout” , somente 11% possuem alto risco de serem vítimas. Agora, vamos à amostragem. Vou escrever aqui ipsis literis como está no site da Barna: “ Barna realizou 523 entrevistas online com pastores protestantes seniores (45 anos ou mais) nos EUA a partir de agosto 28–Setembro 18, 2023. As cotas foram definidas para garantir a representação por denominação, tamanho da igreja e região. Foi aplicada ponderação estatística mínima para maximizar a representação, sendo o erro amostral de +/- 4,3% ao nível de confiança de 95%.” Em relação às denominações que participaram da pesquisa, Barna dividiu entre “principal” e “não-principal” (quase a divisão que a rede globo fez para seu documentário): Linha principal : pastores de denominações protestantes, como Africano Metodista Episcopal (AME), American Baptist USA, Igreja Cristã Discípulos de Cristo (DoC), a Igreja Episcopal, Igreja Evangélica Luterana da América (ELCA), Igreja Unida de Cristo, Igreja Metodista Unida (UMC) e Igreja Presbiteriana EUA (PCUSA) Não-principal : pastores de tradições protestantes, como igrejas carismáticas/ Pentecostais, a Convenção Batista do Sul, igrejas na tradição Wesleyana-Santidade e igrejas não denominacionais não incluídas na linha principal Não daria para explicitar quais as diretrizes de cada igreja neste singelo artigo, mas, a título de exemplo, citarei um caso. Pesquisando o site das Igrejas Batistas Americanas dos EUA, descobri uma aba que trata sobre ecumenismo. Sim, as instituições batistas possuem diretrizes para tal. Se os “institutos de pesquisa” possuem associações progressistas, não se pode esperar que o resultado seja isento. Embora o estudo trate de um tema que considero importante — a situação dos pastores — ele não é confiável, haja vista que nem todas as denominações foram ouvidas. E o objetivo da pesquisa visa o seguinte: tratar mais do social da igreja e menos do espiritual. Vamos entrar em outro caso prático do avanço da teologia da missão integral. Como disse no início deste artigo, quase toda a mídia de massa é anticristã. Mas, o que fazer para atrair este público? Simples: “vamos trazer pastores como colunistas, mas que falem aquilo que nós queremos ouvir.” Na semana santa um artigo chocou até quem não é cristão. Intitulado “ Judas traiu Jesus ou Jesus traiu Judas? ”, o texto de opinião foi publicado pela Folha de São Paulo e escrito pelo pastor presbiteriano independente, Valdinei Ferreira. Como estudante autodidata de Teologia, confesso que nunca tinha ouvido falar deste pastor. Nomes como Hernandes Dias Lopes, Augustus Nicodemus, Arival Dias Casimiro, o pastor e também locutor JR Vargas, entre outros, são nomes conhecidos no meio evangélico. Mas seu Valdinei não me era conhecido até vê-lo na Folha. E existem apenas duas opções para um pastor ter seu nome estampado neste jornal: ou a Folha detesta, ou ama e concorda com sua ideologia. Infelizmente, este pastor parece ser amado. Valdinei é líder da Catedral Evangélica de São Paulo. No site da igreja, descobri que a instituição possui uma revista intitulada “Visão” . Em duas edições, percebe-se o viés progressista: a edição nº68 apresenta uma matéria de capa com o título “Ódio e polarização” (penso não ser necessário explicar sobre o quê — ou quem — se trata, não é?). A edição nº 70 traz como destaque uma matéria chama “Sionismo cristão” . Fiquei com a pulga atrás da orelha, confesso. Fui pesquisar. Prometo analisar o tema sionismo com mais detalhes, mas em resumo isso significa a autodeterminação do povo judeu, o direito de voltar e ocupar sua terra de origem. A palavra vem de Sion, Sião, o Monte Sião, o Monte do Templo, que remonta à instituição de Israel como nação a partir da conquista de Jebus, que se tornou Jerusalém. Ou seja, não é pecado ser sionista, pelo contrário. E para fechar com chave de lama, uma das fontes de pesquisa para esta matéria foi Judith Butler. Voltemos ao pastor: encontrei uma matéria de 2017 no portal UOL, onde Valdinei comenta sobre um manifesto intitulado “Reforma Brasil”. Os itens do documento são: Fim do foro privilegiado; Fim das reeleições sem limites para o legislativo; Fim das emendas legislativas no orçamento da União; Criação do voto distrital; racionalização “do tamanho, da proporcionalidade e dos custos da representação política na esfera da União, dos Estados e dos Municípios”; Redução da influência do dinheiro no financiamento das campanhas eleitorais; Aprimoramento dos mecanismos de nomeação e aprovação para os tribunais (Supremo Tribunal Federal, Tribunal Superior Eleitoral e Tribunais de Contas de União, Estados e Municípios). Nada demais, a priori. É uma lista aparentemente justa e não vejo problema na manifestação da igreja em geral. Contudo, a coisa começa a ficar estranha logo a seguir quando o referido pastor se incomoda com líderes evangélicos se candidatando a cargos públicos e alega que não há “seriedade” nessas candidaturas. E deixo aqui um trecho completo da matéria onde é nítido o viés progressista do seu Valdinei: “ Indagado sobre os temas de natureza moral combatidos na bancada evangélica – entre os quais os vinculados aos direitos da população LGBT e, mais recentemente, sobre os limites a exposições artísticas em museus --, o pastor classificou as ações como “cortinas de fumaça” dos parlamentares que empunham essas bandeiras”. Finalmente, vamos analisar o artigo escrito para a Folha. Uma das estratégias utilizadas tanto por membros da Teologia da Libertação como da Missão Integral é o argumento da autoridade. Para ratificar sua posição, eles buscam pesquisadores, teólogos, líderes e afins. E é disso que Valdinei se utiliza para tentar validar sua tese. O artigo inicia com o pastor citando Jean-Yves Leloup. Este é um teólogo, escritor e tradutor francês de textos em grego e copta, nascido em 1950 em Angers. É autor de mais de noventa livros em francês, alguns traduzidos para outras línguas, incluindo inglês, alemão, espanhol e português. O tema principal de seus escritos é a espiritualidade cristã. Traduziu e comentou os evangelhos apócrifos da biblioteca de Nag Hammadi, segundo Tomé, Filipe e Maria (Maria Madalena), bem como o Evangelho segundo João e o Apocalipse. Explora também as tradições meditativas e monásticas da Igreja Ortodoxa (Hesiquiasmo) e os ensinamentos dos Padres da Igreja, especialmente os Padres do Deserto, em particular Evágrio do Ponto. Investiga o papel do Feminino na história do Cristianismo e considera o diálogo com outras tradições espirituais . Leloup é pioneiro da psicologia transpessoal e fundador do Instituto para o Encontro e Estudo das Civilizações ( ecumenismo ) e do Colégio Internacional de Terapeutas. A partir de 1981, foi responsável, juntamente com outros religiosos e seculares, pelo Centro Internacional, “universidade do terceiro milênio”, dedicado ao espiritual e à interculturalidade, aberto ao acolhimento de tradições espirituais orientais na antiga hospedaria dominicana de Sainte-Baume. É importante conhecer a biografia deste filósofo para entender onde Judas entra nesse assunto. Leloup analisou o “Evangelho de Judas” , um livro tão apócrifo que nem católicos, nem protestantes o reconhecem como canônico. Para o filósofo, Judas é um arquétipo, que mostra que todos podemos fazer o mal pensando estar fazendo o bem. O livro apócrifo — pasme, caro leitor! — diz que Jesus de Nazaré pediu a Judas para ser entregue aos oficiais, o que não faria do discípulo um traidor, mas obediente. Trecho na íntegra do artigo do seu Valdinei: “… Jesus teria ‘enganado’ Judas por saber que ele era um zelote — integrante de um grupo armado que lutava contra os romanos. Judas teria atendido ao pedido por imaginar que a prisão de Jesus desencadearia um conflito no qual o Messias, entendido como um libertador militar, se revelaria.” E mais: “… que cada cristão admita seu lado obscuro e reconheça que todos são capazes de traições e equívocos em suas interpretações sobre Jesus (…) quando ouço políticos evangélicos, como Nikolas Ferreira, afirmando ‘Deus está do nosso lado’, lembro de Judas – e de como convicções firmes sobre o bem e mal podem ser enganosas.” Primeiro: alguém que se diz cristão e se utiliza de um texto apócrifo para fundamentar uma tese pode ser chamado de qualquer coisa, menos de cristão. Segundo: cogitar, ainda que remotamente, que Nosso Senhor deu um “sambarilove” em alguém é cuspir em Sua Dignidade, Divindade e zombar do seu caráter. Terceiro: esse tipo de interpretação ofende o propósito da vinda do Senhor Jesus a este mundo: verter Seu Precioso Sangue para salvar a nossa alma! (até mesmo a do infeliz que escreveu isso). Todo cuidado é pouco quando se trata da TMI. É uma vertente maligna que deseja extirpar a divindade de Cristo, exaltar a “justiça social” e a “salvação” de um sistema político, não das almas. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. IV N.º 53 edição de Abril de 2025 – ISSN 2764-3867
- A dominação sorrateira
A guerra sempre fora uma forma de um grupo exercer sua força sob outro, desde tribos, clãs, famílias, reinos, impérios, entre tantos outros, todavia, a Guerra Fria pôs um fim neste tipo de guerra, embora esteja ocorrendo entre Rússia e Ucrânia, mas até mesmo esta guerra, não é tão atroz quanto as anteriores, acaba por ser mais um embate econômico do que um enfrentamento direto. Disto, retemos vários pontos a serem abordados. Primeiramente, deve-se ter em mente um escalonamento entre poder e riquezas, isto é, Elon Musk não retém o poder para decretar uma guerra direta contra um Estado, ao menos no cenário atual, desconsiderando algo utópico como uma frota de robôs ou qualquer ideia neste sentido, no mais tardar, temos a inviabilidade de um país se virar contra uma religião, pois tende a ser um degrau mais forte para as pessoas, o mais patriota que alguém seja, sua fé ainda será mais resguardada. Com tal efeito em mente, temos um caso concreto sobre a dominação dos três pontos, isto é, as pessoas dariam suas vidas em prol de proteger sua fé, um Estado terá o poderio militar, instituições para instruir estas, e a riqueza para comprar armamentos, ou até, entrar numa guerra econômica, visto que, um mega milionário não faz frente a um país, todavia, se este tiver consigo um Estado, o qual necessariamente haverá poderio militar, justamente por ter essa fonte econômica para comprar seus equipamentos, poderá exercer tal controle. Não parando aí, também há o caso da fé, como todo país comunista, a religião é rechaçada pelo ente autoritário, criando com o passar dos anos uma adoração ao governante, substituindo sua bravura pela fé, no jargão “pela causa” do comunismo, é claro. Com isso, há de tudo para dominar um grupo, indiferente da abordagem, ou de que grupo seja, pois há o âmbito econômico, religioso é estatal. Muitos já devem saber de quem estou a falar, mas para aquele que não o tenha entendido, farei algumas demarcações em seu domínio expandindo ao redor do mundo. Ao começarmos na América do Sul, continente com inúmeros governos ditatoriais, obviamente comunistas, e a China se aproxima desta forma, principalmente pela Argentina , por ser um país grande, com mão de obra, e é justamente o que a China deseja, um país se afundando na lama, em que o governo quer manter-se rico, e para isso, venderá o seu povo afim da economia chinesa em prol de seu locupletamento. Com a moeda Argentina sem valor, a China pagará miséria para o povo trabalhar em suas usinas , por exemplo. Conforme o governo argentino subtrai os ganhos e vendem seu povo à China, ficam na mão dos chineses, mas, ao mesmo tempo, para a estabilização de seus interesses, são como aliados pelo bem do comunismo. De tal forma, cedem espaço para os chineses terem bases militares na América , não somente na argentina, todavia, este será seu principal foco, pois como dito, os argentinos serão usados como massa, inclusive para guerras, caso seja necessário para tomar a América Latina. Similarmente ao ocorrido nas Américas, temos a presença também na África , inclusive de forma militar , sendo mais uma forma de expansão deste governo ditatorial, que através da fonte econômica começa a interligar todos os governos socialistas mundiais, impondo seu poderio militar para impedir que tais governos possam melhorar, como foi o caso do Brasil, que já estava exausto destes governos os quais acabam com o povo, para reter poder e impor um regime comunista, se tivéssemos nas mãos chinesas, jamais Bolsonaro chegaria ao cargo de Presidente da República, mesmo que o povo o quisesse, pois dizem democracia, mas defendem o fim desta. Para finalizar, devemos lembrar que a China não avança apenas geograficamente, mas retém uma forte representação cultural, com suas big techs. Por exemplo, no mundo dos jogos, Tencent, uma empresa chinesa, é uma das maiores empresas de games, caso não seja a maior, isto é, ela tem fortes investimentos e ações em empresas como Epic Games, Blizzard, Actvision, Garena, Riot, SuperCell e até mesmo Dark Souls, é basicamente impossível algum jovem não conhecer, no mínimo, uma dessas empresas, isto sem falar de outras redes sociais, como ByteDance, dona do TikTok. A China está em crescente expansão, em diversos sentidos, e acaba por passar despercebidos pelas fontes de mídia ignorarem o fato, ou fazerem parte do plano, abafando os casos de forma proposital. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. I N.º 15 edição de Julho de 2022 – ISSN 2764-3867
- O Senador Incitatus
Incitatus pode ter sido o membro mais peculiar do Senado romano ou uma desinformação seletiva, mas a resposta, até hoje, intriga e divide aqueles que se interessam pela história da civilização que outrora conquistou grande parte do mundo e que influenciou de forma ímpar toda a civilização ocidental. Tal figura que pode ter ocupado ou não o posto de parlamentar no primeiro século depois de Cristo, teve sua origem na à época chamada Hispania, atualmente a Península Ibérica, local em que se situam Espanha e Portugal. Era uma figura imponente e próxima do Imperador Calígula que, segundo alguns relatos, o nomeara para a função de Senador de Roma. Há que diga que o Imperador o fez para demonstrar seu total poder e a submissão do Senado à sua vontade, impondo aos demais senadores tamanho dessabor ante sua fraqueza perante o César. Qualquer semelhança com uma case de igual nome nos tempos atuais, é mera coincidência. Outros tantos apontam que Calígula teria apenas insinuada que faria a nomeação como forma de provocar senadores que demonstravam grande incapacidade para o posto que ocupavam, seria nada mais que uma insinuação jocosa por parte do primeiro cidadão romano. Entretanto, com o fim de difamar o Imperador, espalhou-se a notícia da nomeação para dar tom de seriedade ao fato, colocando assim a imagem do governante de Roma como um indivíduo desrespeitoso. Tal hipótese seria nada mais que distorcer as falas do Imperador para dar-lhe um tom de desequilibrado e desviar a atenção do real problema, que seria a incompetência ou o despotismo de parte dos senadores, o que, também parece uma prática que perdura até a contemporaneidade. Quem imaginaria a possibilidade na qual alguém dá interpretação distorcida às palavras de um governante para prejudicá-lo e, ao mesmo tempo, proteger que pouco ou nada faz pelo povo? Para quem não conhece a história, Incitatus, que de fato nascera no extremo oeste do Império, era sim próximo de Calígula, mas não por ser seu amigo ou parente, mas por ser seu cavalo. Sim, Incitatus era um equino e o Imperador teria sugerido sua nomeação para o Senado. Em uma das hipóteses o governante de Roma agira como um louco e, de fato, deu posse ao seu animal, tornando-o membro do Senado, assim teria afirmado que os membros daquela casa não significavam nada e poderia suplantar seus poderes quando bem o quisesse. Como mencionado, estaríamos diante de senadores fracos, o que não foi a última vez na historia. Por outro lado, Calígula pode ter apenas dito que empossaria Incitatus como Senador para provocar os membros daquela case e fazer com que saíssem de uma zona de conforto em nome de seu orgulho, já que não o faziam pelo povo romano. Também é importante constatar que há indivíduos que, no desempenho de suas funções, estão aquém de animais, de tal sorte, teria o Imperador insinuado que mesmo um cavalo seria um Senador de melhor desempenho que alguns que à época ocupavam aquela posição. Não tendo meios de contradizer as provocações de Calígula, pode ser que senadores e seus asseclas tenham transformado a justa provocação em um devaneio por parte do governante, como forma de desinformar o povo acerca das reais intenções do mesmo. Não havia internet para buscar informações de fontes diversas e, portanto, permaneceremos com a dúvida. Independentemente do que tenha ocorrido, grande parte das pessoas consideram que seus representantes poderiam sim ser trocados por um equino, seja o motivo que for, pode ser até que não estejam errados, mas o descrédito das instituições é um processo de implosão no qual a desmoralização ante a sociedade decorre necessariamente pela ação dos membros dela própria. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. I N.º 15 edição de Julho de 2022 – ISSN 2764-3867
- Muito mais que um movimento, um destino
No século XX, o Brasil se tornou um campo de batalha ideológico em ebulição. Anarquistas, socialistas, integralistas, populistas e militares travaram uma disputa pela alma política do país, em um ciclo que alternava autoritarismo, rebeldia e tentações democráticas. Cada uma dessas forças trouxe sua própria interpretação sobre o que seria a justiça social, o desenvolvimento nacional e o lugar do indivíduo diante do Estado. Agora, no século XXI, emerge uma vertente ainda pouco compreendida, mas já protagonista em diversas pautas: o liberalismo conservador, que propõe uma combinação inédita entre economia de mercado, liberdades individuais e preservação de valores tradicionais. Como todas essas forças se digladiaram até que emergisse um novo movimento? Teria sido a exaustão das forças ideológicas ou da paciência da população que levou ao surgimento de um movimento inédito no cenário nacional? Quem sabe, um misto da falência das ideologias com o fim da capacidade de esperar por um futuro que jamais chegou? Segundo o título de um dos livros do escritor austríaco-judeu radicado no Brasil, Stefan Zweig — Brasil, um país do futuro , lançado em 1941 —, e com base em sua visão sobre a cultura, o povo, a natureza e os recursos do país, o Brasil representaria a melhor imagem de uma nação bem-sucedida. Mas, ao que parece, muitas coisas não seguiram seu curso natural, e o futuro não sorriu como se previa. Uma das primeiras ideologias a desembarcarem em nosso país foi o anarquismo. No final do século XIX, as primeiras greves operárias no Brasil foram lideradas por imigrantes italianos, espanhóis e portugueses, que trouxeram na bagagem as ideias libertárias de Bakunin e Kropotkin. O anarquismo brasileiro nasceu dentro dos sindicatos, pregando a destruição do Estado e sua substituição por uma organização horizontal de coletivos livres, baseados em acordos voluntários e autogestão. Posteriormente, chegou o socialismo, que desde cedo assumiu um caráter mais institucional. A fundação do Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1922, com forte influência da Revolução Russa, foi um marco. Ao contrário dos anarquistas, os comunistas acreditavam em uma transição através da luta de classes e da implantação de um Estado socialista, centralizador e dirigido pela vanguarda do proletariado. Diante desse avanço das ideologias revolucionárias, em 1932 surge a Ação Integralista Brasileira (AIB). Sob a liderança de Plínio Salgado, o integralismo apresentava-se como uma alternativa “nacionalista, espiritual e moral” aos “perigos estrangeiros” do comunismo e do liberalismo clássico. Fortemente inspirado no fascismo italiano, o integralismo propunha um Estado autoritário, hierárquico e corporativista, capaz de eliminar os conflitos sociais pela harmonização forçada entre classes. Com saudações reminiscentes do fascismo europeu e o lema “Deus, Pátria e Família”, os integralistas rapidamente se tornaram uma das forças organizadas mais expressivas dos anos 1930. No jogo de xadrez das forças políticas, Getúlio Vargas soube neutralizar os extremos e construir seu próprio regime. Após o golpe de 1937, que instituiu o Estado Novo, Vargas fechou o Congresso, dissolveu os partidos (incluindo o Integralista e o Comunista) e implementou um governo centralizador, amparado por uma sofisticada propaganda de culto à personalidade, num autêntico fascismo à brasileira. Embora adotasse o discurso da justiça social, o varguismo manteve a economia sob forte controle estatal, estruturou o sindicalismo em moldes corporativistas e promoveu um nacionalismo cultural que buscava reforçar a identidade brasileira sob a égide do Estado. Quando Getúlio Vargas morreu, em agosto de 1954, o cenário político brasileiro já era bem diferente do que se via nos anos 1930. Anarquistas, integralistas, comunistas foram forças que, de fato, disputaram espaço no Brasil especialmente durante a década de 1930 — período de grande polarização ideológica, instabilidade política e influência das correntes internacionais. Só que, ao longo do Estado Novo, Vargas perseguiu praticamente todos esses grupos, enfraquecendo-os bastante. Quando Getúlio voltou ao poder em 1951, num contexto democrático, o quadro era outro: os anarquistas já tinham pouca influência, principalmente restrita a sindicatos pequenos, sem força política ampla; os integralistas haviam sido praticamente desmobilizados desde 1938, após o fracasso do levante integralista contra Vargas; quanto aos comunistas, eram os que ainda mantinham alguma organização, mas o Partido Comunista do Brasil (PCB) estava ilegal desde 1947, atuando na clandestinidade. A morte de Vargas não abriu espaço para aqueles grupos históricos, o que ela fez foi aprofundar a disputa entre forças nacionalistas e liberais-conservadoras, civis e militares, que já estavam se acirrando no início dos anos 1950. Essa polarização acabaria desembocando na contrarrevolução de 1964. O movimento de 1964 marcou o retorno de um governo centralizador e anticomunista, mas também estatizante. O regime militar consolidou um modelo de desenvolvimentismo controlado, criando estatais e dirigindo grandes projetos de infraestrutura, como a Transamazônica e Itaipu. A economia foi regulada pelo Estado, que intervinha sempre que julgasse necessário. Apesar de seu discurso conservador nos costumes e sua firme oposição ao comunismo, o regime militar não se aproximava do liberalismo econômico clássico, muito menos da defesa ampla das liberdades individuais. Com o fim do período dos governos militares em 1985, o Brasil esteve “ ocupado ” demais buscando equilibrar sua economia, criar um caminho de consenso político entre antigas e novas forças políticas e reconstruir sua autoimagem enquanto nação. Somente no final da década de 2010, após a crise política que abalou o governo Dilma Rousseff, é que o Brasil começa a presenciar o surgimento de um movimento até então raro: uma direita de viés liberal-conservador, com forte apelo popular e influência digital. Este novo segmento surge defendendo o liberalismo representado pelo livre mercado e o empreendedorismo, a redução da carga tributária e do tamanho do Estado, a defesa das liberdades individuais e de expressão e o combate à corrupção. Dando suporte moral a todas estas pautas seguem a preservação da família e dos valores tradicionais. Todas essas pautas defendidas por grupos diferentes e esparsos, confrontados com o já conhecido comunismo e acompanhado pelo progressismo. A percepção era como a de acordar de um sono longo e profundo em meio a um cenário confuso e conflituoso. Além de sua agenda, o liberalismo conservador brasileiro difere de seus antecessores pelo método: não possui um partido-Estado, não propõe liderança centralizada, nem culto personalista, mas se ancora fortemente na defesa da liberdade de expressão e descentralização proporcionada pelas redes sociais. Ainda que os opositores do liberalismo conservador brasileiro identifiquem um partido como o PL — Partido Liberal — como o centralizador dos políticos de direita; a figura de Jair Bolsonaro como o catalizador do movimento, em razão de um suposto culto à sua personalidade; e mesmo a existência de um lema muitas vezes repetido por Bolsonaro que é “ Deus, pátria, família e liberdade ”, que remeteria ao integralismo; há questões a serem esclarecidas: a órbita dos políticos de direita em torno do PL é circunstancial, em razão de não existir um legítimo partido que honre os ideais do liberalismo conservador (como teria sido o Aliança pelo Brasil). Bolsonaro não é a imagem ou o ícone do movimento liberal conservador, no máximo seu representante mais popular na atualidade, ou seja, o movimento é maior que seus representantes. Quanto ao lema, este é estruturalmente parecido, mas nunca igual, pois é encerrado pela palavra liberdade, que muito mais que uma simples palavra, opõe diametralmente o liberalismo conservador do ideário autoritário do integralismo. Apesar de seus adversários tentarem rotulá-lo de “ extrema-direita ”, trata-se de um fenômeno distinto das experiências autoritárias do passado: não busca o controle estatal sobre a sociedade, mas a contenção do Estado e o fortalecimento do indivíduo. É um movimento orgânico e que não pode ser identificado em partidos ou ícones, não exalta o Estado sobre o indivíduo, não cerceia, mas antes liberta o cidadão do jugo autoritário das políticas estatais ou de qualquer aventureiro totalitarista. Depois de um século marcado por conflitos entre coletivismos de viés autoritário, o Brasil assiste ao amadurecimento de uma vertente liberal-conservadora que, pela primeira vez, une mercado, liberdade individual e tradição cultural. Um capítulo inédito na história política nacional e, possivelmente, o mais relevante para as próximas décadas. O futuro é hoje. O futuro é inédito. O futuro tem um nome, e este é liberdade! Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. IV N.º 53 edição de Abril de 2025 – ISSN 2764-3867
- O delir do propósito
Antigamente era cultural o propósito, isto é, no campo do entretenimento era comum ver personas com uma motivação, um objetivo a ser cumprido, indiferentemente de qual seja. A priori, não aparenta algo relevante, pois aquele sonho de criança muitas vezes não é algo que você realmente quer, todavia, viver à maneira Zeca Pagodinho, “Deixa a vida me levar, vida leva eu”, é um subterfúgio para acomodar-se onde está, ficam em sua zona de conforto, deixando a vida passar, sem a menor pretensão de vida. Geralmente, acaba por passar despercebido este comportamento hodierno, embora o mesmo seja um dois principais problemas, uma vez que este está completamente emaranhado aos demais valores, desde religiosos, filosóficos, até as virtudes pessoas, pois, se nada almeja, se não pretende deixar nada para o próximo, para que melhorar, se esforçar. Aqui, faço uma interligação de textos para maior compreensão e uma leitura sobre cada tópico referente ao assunto. Com a falta do equilíbrio interno , perde-se os bons hábitos , os quais adquiriam valores e cultura para seus praticantes, de modo que, ao ficar sem práticas para somar em seu conhecimento, muito menos em formar sua moral, cai-se em um dos maiores problemas físicos atuais, isto é, problemas os quais remédios surtem efeito, ou seja, não são na formação de um indivíduo, mas, em verdade, são doenças neuropsicológicas . Baseando-se nestes textos, temos um efeito em cascata e, infelizmente, é improvável que alguém sem a mínima vontade de viver, muito menos de deixar algo para o próximo, retorne aos bons hábitos, a frequentar seu templo, ler a filosofia de seus antepassados, justamente por este buscar o caminho menos árduo, mesmo que isto significa seu decaimento. Ratifica-se tal conceito, quando até mesmo que busca uma ascensão social, pensa apenas no quanto conseguirá desfrutar da ambrosia, esperando sucumbir ao passar dos anos. Muitas vezes, tendo a oportunidade de continuar ‘ascendendo’, todavia, interrompe para torrar todas suas conquistas, podendo deixar um legado, um caminho a ser seguido para seu sucessor. Instaurar qualquer pensamento longínquo tem sido uma tarefa penosa, as pessoas não plantam tâmaras, apenas jacas para obter resultados em poucas centenas de dias. Entretanto, o lado contrário está disposto a morrer pela causa, ou até mais, pois estes levam os ‘valores’ de sua cultura marxista a ferro e fogo, quem não as cumpre é merecedor das mais arbitrárias penas, o que é visível principalmente em favelas, comunidades dominadas por uma guerrilha narcossocialista . Legitimar os atos de criminosos, desde que estes façam pela causa, é a maestria dos comunistas, visto que, se fora pelo bem da proliferação desta cultura nefasta, tudo é permitido, não importando o crime cometido, todos são absolvidos, ou no mínimo, amenizados, e saindo do meio legal, os praticantes do delito nem sequer serão vistos com um olhar pejorativo, pois serão irmãos que lutam pela mesma coisa, apenas com armas diferentes, um usa a caneta, outra usa, desculpe o exemplo esdrúxulo, a bunda para rebolar na internet para ganhar palanque, e tem até os que usam literalmente armas de fogo. Limite é uma palavra a qual estes não conhecem, todavia, não devemos tornarmos monstros para lidar com outros, uma vez que estes mentem descaradamente, basta vislumbrar a verdade objetiva que suas máscaras cairão para o povo. Ainda que seja fácil vencê-los no campo das ideias, a batalha é árdua, pois para isto, precisamos manter tudo aquilo que citei, a fé, filosofia, hábitos, conhecimento acadêmico, isto porque não nos damos a liberdade de justificar os meios pelos fins. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. I N.º 14 edição de Junho de 2022 – ISSN 2764-3867
- A Éris do Tio Sam
A deusa da mitologia grega Éris, no panteon romano chamada de Discórdia, é a divindade que representa o conflito, a disputa, a rixa ou simplesmente o aquilo que recebera o nome dado em honra a mesma em seu espectro romano. Filha da deusa Nix, Éris era a personificação da discórdia, movendo as intrigas que geravam conflitos, sendo uma divindade muito próxima ao deus da guerra Ares. Nos tempos atuais, não é difícil encontrar entre pessoas próximas alguém que parece ser um emissário, ou mesmo descendente, da divindade greco-romana, haja vista, a predisposição que determinados indivíduos parecem ter para criar ou alimentar conflitos. Por vezes observamos traços da deusa em pessoas próximas e outras em autoridades ou celebridades, que parecem ter um dom nato para semear a discórdia e o conflito, criando celeumas em quaisquer lugares que estejam presentes. Recentemente, esteve no Brasil, uma figura mundialmente conhecida e, na melhor das hipóteses, intrigante, mas que, basta observar o rastro por onde passa e podemos espiar a ação de Éris. Trata-se da Victoria Nuland, ocupante do alto escalão do governo progressistas que ocupa, ainda que de forma questionável, a Casa Branca. Sua passagem pela Ucrânia pode ter tido alguma influência no cenário atual daquele país e a passagem pelo Brasil não deixa de ser preocupante. Lembrando que o ex-presidente Donald Trump tinha afastado tal figura do alto escalão do governo. Não há como afirmar que Victoria Nuland tenha a missão de disseminar a discórdia, mas no jogo do poder a simples aparição de alguém que parece ter a conspiração em suas veias em terras brasileiras para, justamente, defender o sistema eleitoral do Brasil , quando o governante do EUA assumiu o poder após um processo eleitoral que pós em cheque a confiabilidade do sistema daquele país, deve ser observada com a devida suspeição. É importante que, em um momento decisivo, fiquemos atentos para que conspiradores a serviço do caos não possam tocar no timão e enviar nossa nação ao naufrágio, observando os sinais para não cairmos nos erros já experimentados por outros povos, pois, a única forma de precaver contra o mal é ter a consciência que ele sempre estará nas sombras espreitando e aproveitar-se-á da primeira oportunidade para atacar, ainda que, com as garras retraídas e com um sorriso em sua face. Será que tivemos a visita da Éris dos tempos atuais, podendo ser o prelúdio de uma era de embates ainda mais gravosos, e os demais “filhos” da discórdia, estariam eles entre nós? Parece que só o tempo dirá. “ Eu fiquei em São Petersburgo Quando vi que era a hora de mudanças Matei o Czar e seus ministros Anastasia gritou em vão Pilotei um tanque Tinha a patente de general Quando a Blitzkrieg começou E os corpos federam Prazer em conhecê-lo Acho que você já sabe o meu nome Mas o que está te intrigando É a natureza de meu jogo” Sympathy For The Devil – The Rolling Stones Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. I N.º 13 edição de Junho de 2022 – ISSN 2764-3867