
MENEZES COSTA
"Com conhecimento se constrói cidadania!"
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- Um trono ameaçado!
Aos Católicos do Brasil Hoje é dia de Nossa senhora Aparecida, Padroeira do Brasil. Todos recordamos que no ano de 1888 a Princesa isabel aboliu a escravidão no Brasil e por esse gesto, recebeu do Papa Leão XIII a maior honraria destinada a personalidades católicas de grande destaque e benemerência, a chamada Rosa de Ouro(Fonte: Agência Senado). Entretanto, essa atitude da Princesa lhe rendeu perseguições da aristocracia da época, enfrentando uma verdadeira campanha contra sua imagem. "A República não foi feita contra a família imperial, mas claramente contra Dona Isabel, em seu terceiro reinado (os republicanos diziam que a abolição foi um confisco de propriedade e queriam indenização), e contra os negros. A República foi uma forma de impedir a politização do movimento abolicionista e ascensão dos negros — defende Antunes de Cerqueira”, diz a Agência Senado. Pressionada junto com a família Real a deixar o Brasil, consta que a Princesa Isabel foi ao encontro da imagem de Aparecida deixando o seguinte bilhete: “Eu, diante de Vós, sou uma princesa da terra e me curvo, pois és a Rainha do céu e te dou tão pobre presente que é uma coroa que seria igual à minha, e se eu não me sentar no trono do Brasil, rogo que a Senhora se sente nele por mim e governe perpetuamente o Brasil”. Esse gesto humilde e devoção a Nossa Senhora feito pela Princesa Isabel foi seguido pelo Papa Pio X, que em setembro de 1904, oficialmente coroou Nossa Senhora Aparecida como Rainha do Brasil e, mais tarde, Padroeira do Brasil. Durante a Consagração de Nossa Senhora, o Cardeal Sebastião Leme, então Arcebispo do Rio de Janeiro: pronunciou as seguintes palavras: “Senhora Aparecida, o Brasil é vosso! Rainha do Brasil, abençoai a nossa gente! (…) Senhora Aparecida, o Brasil vos ama, o Brasil em vós confia! Senhora Aparecida, o Brasil vos aclama! Salve, Rainha!" Por ocasião do centenário da Coroação de Nossa Senhora Aparecida, o Santo Papa João Paulo II afirmou: “ [Nossa Senhora] teve uma pátria, pertenceu a um povo, aos quais amou e pelos quais sofreu; podemos pensar que Ela experimentou essa realidade humana que é o patriotismo, conhece seu sentido mais profundo. Tendo levado consigo estes valores para o Céu, Ela sabe o que pedir junto de Deus melhor do que o fizera Ester ao rei Assuero: «Só te peço, ó rei, que salves o meu povo» (cf. Est 7, 3). Hoje, no seu dia, precisamos refletir o quanto o Trono de Aparecida está sob ameça. Ela, que segundo João Paulo II, experimentou essa realidade do patriotismo, sendo amada e venerada por esse povo pertencente a um país de raízes católicas, cujo 1º ato solene após o descobrimento foi a celebração de uma santa Missa, numa praia, com altar improvisado, cravando a cruz do Cristo, como sinal da presença católica para a luta pela implantação do Reino de Deus e evangelização dos povos (“Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a todas as criaturas – Mt 16,15). E hoje, nossa Rainha assiste muitos católicos abandonando a luta pelo Reino de Deus, pela propagação do Evangelho trocado por pregação de ideologias, pela perda dos valores religiosos e do patriotismo, colaborando para entregar seu Trono aos comunistas e socialistas, que odeiam Nossa Senhora, odeiam Jesus Cristo, odeiam as religiões judaico-cristãs. Não de agora, mas bem mais acentuada se faz a perseguição aos cristãos, em especial aos católicos, por comunistas e socialistas: Ortega, na Nicarágua, recentemente, expulsou freiras e padres, prendeu bispo, fechou rádios católicas. Igrejas são incendiadas no Chile e na Venezuela\, e outras igrejas invadidas no Brasil, interrompendo o culto da Santa Missa. Lula, candidato, afirmou em bom tom, que se chegar ao poder vai dizer aos padres católicos e pastores protestantes qual e o seu lugar e sua função, ameaçando a liberdade de expressão e culto religioso. E muitos padres, bispos, leigos aplaudindo… Infelizmente parte da clero e da cúpula da Igreja, de forma negacionista do verdadeiro evangelho e do Magistério da Igreja, faz de conta que não lembra de todos os documentos do Magistério que condenam o comunismo e o socialismo. Só para lembrar alguns: No ano de 1846, Pio IX, na Encíclica Qui pluribus já firmava a posição do Magistério da Igreja contra o comunismo: “Nesse ponto, a doutrina nefasta do comunismo, como eles dizem, é mais adversa à própria lei natural; uma vez admitido, os direitos de tudo, coisas, propriedade e até a própria sociedade humana seriam perturbados pelo fundo. A esse aspecto estão as armadilhas tenebrosas daqueles que, em mantos de cordeiros, mas com espírito de lobos, se insinuam com falsas aparências de piedade mais pura e de virtude e disciplina mais severas: surpreendem gentilmente, fecham ligeiramente, matam ocultamente; afastam os homens da observância de toda religião e destroem o rebanho do Senhor”. Trinta e dois anos depois, em 1878, num documento magisterial a Igreja se pronunciava novamente, agora na voz de Leão XIII:“Clame, não cesse, levante a voz como uma trombeta. Vocês entendem, veneráveis irmãos, que falamos dessa seita de homens que, sob vários e quase bárbaros nomes, são chamados de socialistas, comunistas, eles planejam há muito tempo – a derrubada de toda a sociedade civil”. Papa Leão XIII, em 28 de dezembro de 1878,na Encíclica Quod apostolici muneris, afirmava: “Obedecendo ao dever do Nosso cargo apostólico, não deixamos logo no princípio do Nosso Pontificado, nas cartas encíclicas que Vos dirigimos, Veneráveis Irmãos, de apontar esta peste mortal que se introduz como a Serpente por entre as articulações mais íntimas dos membros da sociedade humana, e a coloca num perigo extremo”. Convém recordar palavras de João Paulo II, quando nos alerta na Centesimus annus que A Igreja recebe o ‘sentido do homem da Revelação divina. “Para conhecer o homem, o homem verdadeiro, o homem integral, é preciso conhecer Deus”, dizia Paulo VI, citando imediatamente Santa Catarina de Sena, que, em oração, exprimia a mesma doutrina: “Na tua natureza, Divindade eterna, conhecerei a minha natureza’”. Acordem católicos: Isto simplesmente não existe na consciência de um comunista. Para eles, Deus foi inventado pelo homem. O Deus do comunismo é o povo proletariado! E, para encerrar, Pio XI, na Quadragesimo Anno reforça dizendo ser incompatível o socialismo com o cristianismo católico: “Para lhes respondermos, como pede a Nossa paterna solicitude, declaramos:o socialismo, quer se considere como doutrina, quer como fato histórico, ou como ‘ação’, se é verdadeiro socialismo, mesmo depois de se aproximar da verdade e da justiça nos pontos sobreditos, não pode se conciliar com a doutrina católica,pois concebe a sociedade de modo completamente avesso a verdade cristã (…)”. Ressalte-se que todos esses documentos estão em plena vigência para o Magistério da Igreja. Então, por que setores da nossa Igreja “esqueceram” esses documentos e não os difundem ao povo católico? Com qual fundamento apoiam os socialistas e comunistas? De fato o Trono de Nossa Senhora está ameaçado! E ao que parece, ameaçado também por dentro! Nesse dia 12 de outubro, nos resta fazer das palavras de João Paulo II, ao lembrar a oração de Ester, como nossa Oração de hoje: “Tendo levado consigo estes valores para o Céu, Ela sabe o que pedir junto de Deus melhor do que o fizera Ester ao rei Assuero: «Só te peço, ó rei, que salves o meu povo” (cf. Est 7, 3). Mãe Aparecida, salve o povo brasileiro! Públio Caio Bessa Cyrino Procurador de Justiça do MPAM e Ministro da Palavra na Paróquia Nossa Senhora Rainha dos Apóstolos, em Manaus
- Batalha de Lepanto e Nossa Senhora do Rosário
No Golfo de Lepanto, depois conhecido como golfo de Corinto, travou-se a maior batalha naval do Século XVI. Os otomanos ampliavam um violento ataque aos territórios cristãos e avançavam sobre a população ocidental. Os cristãos sentiam-se desanimados, as forças muçulmanas pareciam invencíveis, vilipendiavam o cristianismo, negavam a divindade de Jesus Cristo, invadiam os territórios cristãos e escravizavam a população. Haviam subjugado 12 mil seguidores de Cristo e os condenaram a trabalhos forçados na África. Por fim, tomaram a ilha de Chipre. A pedido do Papa, os cristãos se uniram para deter a destruição dos fiéis, formaram a Liga Santa, com forças navais da Espanha, Nápoles, Veneza e Gênova1. A Armada lançou-se ao Mar Jônico para enfrentar os agressores fé sagrada. A superioridade da esquadra inimiga era gritante, mas isto não intimidou os guerreiros de Cristo. O Papa São Pio V, pediu à cristandade que se pusesse de joelhos a rezar o Santo Rosário enquanto a batalha revolvia o mar. Ele mesmo, junto com um grupo de oração, incessantemente jejuava e rezava o terço o pedindo auxílio à Mãe de Deus para defender a palavra e os seguidores de seu Filho no embate que se desenvolvia. O comandante da esquadra cristã, Dom João da Áustria, no principal mastro da nau capitânia, hasteou o estandarte com a imagem de Jesus Crucificado, presente de Sua Santidade para lembrá-lo da missão de defesa da santa fé. Sob seu comando todos os marinheiros se confessaram e receberam o Sacramento da Comunhão2. Rezavam incessantemente o Santo Rosário, o mantinham junto ao corpo, em súplica a Nossa Senhora para que os auxiliasse nessa luta em defesa da cristandade. Os mouros dispuseram seus navios em forma de lua crescente, símbolo da expansão impiedosa de seu império. Os navios cristãos foram dispostos em duas colunas, em forma da Santa Cruz. Súbito, ouviu-se o ribombar de um canhão inimigo, era a afronta moura que avisava o início do ataque. As embarcações cristãs rumaram para a luta. O embate foi violento e o desequilíbrio numérico das esquadras inundava a alma dos guerreiros inimigos de soberba. Os cristãos impuseram a seus corpos todas as forças do espírito, alimentava sua determinação o sentido de suas existências: a defesa da fé revelada ao povo hebreu, confirmada e esclarecida, por Jesus Cristo, aos apóstolos. Surpreendentemente, os ventos mudam de direção, os cristãos dominam o combate e os otomanos são derrotados. A Liga Santa libertou os 12 mil cristãos escravizados. Os marinheiros mouros relatam que viram, sobre os mastros principais das embarcações da Liga Santa, uma Senhora exuberante, poderosa, irresistível, que os repeliu com a força de sua majestosa presença. No instante da vitória, no dia 07 de outubro do ano da graça de 1571, o Papa São Pio V levantou os olhos para fitar o céu de Roma, nele estava estampada a imagem da mesma Senhora Magnífica que derrotou os guerreiros mouros. O Pontífice voltou-se para os religiosos, que rezavam com ele, e disse: É hora de pararmos de pedir, vamos agradecer, Nossa Senhora acaba de nos dar a vitória. 10 dias depois, chegou à Santa Sé a notícia da vitória cristã em Lepanto. Confirmou-se a visão do Papa. Agradecidos, os marinheiros cristãos chamaram sua defensora de Nossa Senhora das Vitórias, depois, Nossa Senhora do Rosário. As vitórias foram alcançadas através da oração do Santo Rosário. Santíssima Senhora, dai-nos a vitória! Rogai por nós, Nossa Senhora do Rosário! Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Nº. 21
- As “relações intergeracionais”, o Così è (se vi pare) progressista
Luigi Pirandello foi um dramaturgo, porta e romancista italiano. Recebeu o Nobel de Literatura em 1934. Uma de suas peças mais conhecidas chama-se “Così è (se vi pare)” (Assim é... se lhe parece), escrita em 1917. Nela, o autor retrata o tema da verdade, o contraste entre realidade e aparência, entre verdadeiro e falso, mas questiona a verdade como sendo objetiva. “Verdade relativa” sempre foi uma das cartas na manga dos casacos vermelhos, pertencentes aos membros da ala progressista; afinal, onde não há freio nem limites no que tange à costumes, existe um verdadeiro “vale-tudo”, sem ordem e sem pensar nas consequências. Uma dessas “verdades relativas” é: “quem disse que menores não podem decidir com quem se relacionar, mesmo que seja com maiores de idade?” Os progressistas chamam isso de “relação intergeracional”: uma relação amorosa entre um menor e um adulto, com o consentimento de ambos e que não necessariamente resulta em abuso. Isso foi o que decidiu a Suprema Corte da Colômbia no mês de Agosto. Menores entre 14 e 18 anos agora podem tomar a “decisão livre” de casar-se civilmente ou estabelecer uma união estável, com a “vontade responsável” de formar uma família. Para a Corte, “os maiores de 14 anos e menores de 18 anos” podem, “conforme sua idade e maturidade”, decidir “sobre suas próprias vidas e assumir responsabilidades”. “Ninguém mais poderia ser dono de seus destinos. Assim, devem ser consideradas pessoas livres e autônomas, com a plenitude de seus direitos”, acrescenta o texto. Com a sentença, já não é necessária a autorização dos pais. Infelizmente, cristalizou-se algo que foi durante muitos anos uma bandeira de movimentos da ala vermelha da força. Essa postura indecorosa foi defendida por Simone de Beauvoir e seu amante, Jean-Paul Sartre (que, sabidamente, aliciavam menores), além de Michel Foucault, Jacques Derrida, pelo romancista e ativista pelos direitos dos homossexuais Guy Hocquenghem, entre outras personalidades. A feminista radical Shulamith Firestone, em sua obra “A dialética dos sexos”, defendia a “liberdade sexual para que todas as mulheres E CRIANÇAS possam usar a sua sexualidade como quiserem (...) serão permitidas e satisfeitas TODAS AS FORMAS DE SEXUALIDADE.” Para os progressistas, assim é se lhe parece: se um menor pode dar consentimento, por que ser refreado em sua sexualidade? Para os conservadores, porém, além de um freio moral, há uma verdade incontestável: um menor NÃO tem capacidade de consentir. E mostrarei isso com o caso da própria Beavouir. A filósofa e seu amante cooptavam menores para sua rede nefasta de abuso. A primeira vítima foi Olga Kosachiewicz, filha de um imigrante perseguido pela Revolução Russa. Simone e Sartre prometeram à família cuidar da menina, que à época, tinha 17 anos, e pagar suas despesas com educação. Aos poucos, a menina foi envolvida em uma teia nefasta e seduzida por Beauvoir. Olga começou a ir mal nos estudos e seus pais a convenceram a voltar para casa. O casal, prometendo mundos e fundos, conseguiram trazer Olga de volta a seu convívio. A menor relacionava-se com Simone, mas relutava em estar com Sartre, principalmente por conta de sua aparência. Olga aceitava dinheiro do filósofo, porém recusava a ter relações com ele. A pressão psicológica era tão grande que Olga mutilava-se constantemente. Para se “vingar”, Sartre seduziu a irmã da adolescente, Wanda. Infelizmente, as duas irmãs foram as primeiras de uma longa fila de menores cooptadas por este casal psicopata. Das amantes que tiveram, pelo menos uma suicidou-se e outra tornou-se viciada em entorpecentes. O cerne da questão é: se, de acordo com os que defendem as ditas “relações intergeracionais”, o menor pode decidir entrar e sair do relacionamento, por que as moças cooptadas pelo casal francês não o fizeram? Devemos sempre lembrar que a ala progressista não possui freio moral, como já dito no início deste texto, e por conta disso, há uma falsa imagem de “liberdade”: podemos fazer tudo se sentirmos vontade, dizem. Relativizam até um atentado gravíssimo contra menores em prol de uma “autonomia sexual infantil”. Em 2020, a ex-ministra da Família e agora, senadora eleita Damares Alves, denunciou que algo semelhante transita pelos corredores do Congresso. Segundo ela, o projeto de lei de número 236/2012, propõe que a idade do consentimento recue para DOZE ANOS. De acordo com Damares, apesar do relator da proposta ter rejeitado a medida, alguns assessores parlamentares falavam de reduzir a idade de consentimento para 10 anos, o que seria como legalizar a pedofilia. – O relator rejeitou, manteve 14. Mas nem foi apreciado o voto do relator e nem foi apreciado o projeto inicial. Eu saí do Senado em dezembro de 2018. Nos corredores, já se falava, entre assessores, da possibilidade de apresentar uma emenda para diminuir para 10 [a idade do consentimento]. O que se faz com isso? Legaliza-se a pedofilia. Então, eu preciso reagir. Percebe-se a tentativa de se normalizar algo nefasto e que sequestra a infância de milhares de crianças. Mas, já que tudo no mundo moderno é relativizado, não se pode caracterizar isso como “violência”, mas como “escolha”. Afinal, Così è (se vi pare). Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania N.º 21 Faça o download, gratuitamente, do seu exemplar e leia demais artigos: https://www.direitonasescolas.com/revista-conhecimento-cidadania
- Belo Horizonte
Caderno de Variedades da Revista Conhecimento & Cidadania Em 1701, o bandeirante João Leite da Silva Ortiz chegou à Serra de Congonhas à procura de ouro. Em lugar do metal, encontrou uma bela paisagem, de clima ameno e próprio para a agricultura. Resolveu ficar e construiu a Fazenda do Cercado, onde desenvolveu uma pequena plantação e criou gado. O progresso da fazenda logo atraiu outros moradores e um arraial começou a se formar em seu redor. Viajantes que por ali passavam, conduzindo o gado da Bahia em direção às minas de ouro e pedras preciosas, fizeram da região um ponto de parada. O povoado foi batizado de Curral Del Rei. Aos poucos, o Curral Del Rei cresceu apoiado na pequena lavoura, criação e comercialização de gado e fabricação de farinha. Algumas poucas fábricas, ainda primitivas, instalaram-se na região: produzia-se algodão, fundia-se ferro e bronze. Das pedreiras, extraía-se granito e calcário. Frutas e madeiras eram vendidas para outros locais. Com a decadência da mineração, o arraial se expandiu. Das 30 ou 40 famílias existentes no início, a população saltou para a de 18 mil habitantes. Elevado à condição de Freguesia, mas ainda subordinado à Sabará, Curral Del Rei englobava as regiões de Sete Lagoas, Contagem, Santa Quitéria (Esmeraldas), Buritis, Capela Nova do Betim, Piedade do Paraopeba, Brumado Itatiaiuçu, Morro de Mateus Leme, Neves, Aranha e Rio Manso. Vieram as primeiras escolas, o comércio se desenvolveu. No centro do arraial, os devotos ergueram a Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem. O Distrito foi criado com a denominação de Nossa Senhora da Boa Viagem do Curral del Rey, por Ordem Régia de 1750 e, em 1890, renomeado como Belo Horizonte. Elevada à categoria de município e Capital de Minas Gerais, com a denominação de Cidade de Minas, em 1893, e passou a denominar-se Belo Horizonte, em 1901. Ocorreram sucessivas divisões administrativas e desmembramentos desse território, sem que houvesse mudança no nome da cidade. O ciclo de prosperidade durou pouco e diversas regiões que constituíram o antigo arraial se tornaram autônomas. Rapidamente, a população diminuiu e a economia local entrou em decadência. No final do século XIX, restavam cerca de quatro mil habitantes. Com a Proclamação da República, em 1889, cresce a esperança de transformações. Para entrar na era que então se anunciava, deixando para trás o passado monárquico, os sócios do Clube Republicano de Curral Del Rei propuseram a mudança de seu nome para Belo Horizonte. Nesse clima de euforia, os horizontinos receberam a notícia da construção da nova capital. Mudança da capital de Ouro Preto para Belo Horizonte A primeira tentativa de transferir a sede do Governo de Minas para uma cidade diferente de Ouro Preto data de 1789, quando os inconfidentes planejaram instalar a capital de sua república em São João Del Rei. Depois disso, mais quatro tentativas foram feitas, todas fracassadas. A questão só veio a ser considerada após a Proclamação da República e, dessa vez, não seria uma simples transferência, mas a construção de uma nova cidade. Em 1891, o Presidente do Estado, Augusto de Lima, determinou – por decreto – a transferência da capital para um lugar que oferecesse condições precisas de higiene. Adicionada à Constituição Estadual, a lei provocou muitos protestos da população ouro-pretana. Os mineiros dividiram-se entre os '‘mudancistas’', favoráveis à nova capital, e os '‘não mudancistas’'. Cada um desses grupos fundou seu jornal, promovendo reuniões e debates. O Governo Estadual, enfrentando essas disputas, criou uma Comissão de Estudos para indicar, dentre cinco localidades, a mais adequada para a construção da nova cidade e Belo Horizonte venceu. Em 17 de dezembro de 1893, com a Lei Nº 3 adicionada à Constituição Estadual, a sede do Governo transferiu-se para Belo Horizonte, onde a nova capital deveria ser inaugurada. A mesma Lei criou a Comissão Construtora formada por técnicos responsáveis pelo planejamento e execução das obras, dentre os quais estavam alguns dos melhores engenheiros e arquitetos do Brasil, chefiados por Aarão Reis. Belo Horizonte foi inaugurada, ainda em construção, no dia 12 de dezembro de 1897. Fonte: IPHAN
- Por que liberais fazem a curva à esquerda?
O segundo turno de qualquer pleito eleitoral é marcado por apoios: políticos e personalidades diversas aparecem e declaram voto em determinado candidato que mais se assemelha às suas convicções, fazendo que com seus admiradores elejam o tal político. Inclusive os concorrentes perdedores do primeiro turno articulam com seus partidos qual será o melhor caminho a seguir a partir daí. Nestas eleições o presidente Jair Bolsonaro recebeu apoio de vários políticos: os governadores eleitos Romeu Zema (NOVO) e Cláudio Castro (PL), além do governador de São Paulo Rodrigo Garcia (PSDB) tornaram público que estão à direita na segunda etapa da eleição. Na classe artística, chamou a atenção a união de vários artistas sertanejos em prol da reeleição de Bolsonaro: Leonardo, Zezé Di Camargo, Sula Miranda, Gusttavo Lima, Chitãozzinho e a dupla Henrique e Juliano se reuniram em Brasília, no palácio do Planalto, e em entrevista coletiva à imprensa pediram aos fãs que reelejam o presidente. Na ala vermelha da força, os apoios não surpreenderam, a priori: Fernando Henrique Cardoso, tucano raiz, já se posicionou a favor do petista, Simone Tebet (MDB) decidiu ficar contra o agronegócio (que Lula chamou de “fascista”) e foi para o lado esquerdo, juntamente com Ciro Gomes (PDT). Contudo, um grupo de pessoas surpreendeu ao declarar apoio ao descondenado petista: liberais econômicos. Pedro Malan (ex-ministro da Fazenda do governo FHC), Elena Landau (ex-assessora da presidência do BNDES e ex-diretora da área responsável pelo Programa Nacional de Desestatização do governo FHC) e o movimento liberal LIVRES expuseram sua escolha por Lula. Esses movimentos trouxeram uma interrogação: como que liberais econômicos podem apoiar alguém que, quando esteve na presidência, roubou bilhões dos cofres públicos? Como ninguém trouxe essa explicação, me permito esclarecer esta dúvida. Primeiro, gostaria de esclarecer: o conservador já é liberal economicamente falando, porque entende que o Estado deve ser mínimo, e não inexistente. Contudo, via de regra, o liberal não é conservador; muitos pensam que esta classe, por defender a Economia, está do lado direito da força, e não é assim. O maior exemplo que temos em solo brasileiro é o Movimento Brasil Livre (MBL), que vendeu uma imagem de direita liberal, mas chegaram a fazer manifestação juntamente com Ciro Gomes em 2021. E por que os liberais tomam esta atitude? Um dos motivos é a culpa: há um clamor promovido por uma classe “intelectual” para uma chamada “sociedade mais justa”. A esquerda prega que a “classe burguesa” é quem promove a desigualdade, pois concentra a renda. O que esse grupo faz para “aliviar” esta culpa? Investe seu dinheiro em movimentos de esquerda, que alegam trabalhar por esta “justiça social”.E como acontece a “lavagem cerebral” para que liberais ajam dessa forma? O saudoso professor Olavo de Carvalho, em seu artigo “Direto do inferno” (disponível no livro “O mínimo...”), mostra quem são os agentes da culpa: “Os cientistas sociais, os psicólogos, os jornalistas, os escritores, as ‘classes falantes’ (...) são forças de agentes da transformação social, as mais poderosas e eficazes, as únicas que têm uma ação direta sobre a imaginação, os sentimentos e a conduta das massas.” As “classes falantes” contaminam a massa, o povo; o povo se rebela; a esquerda acusa os ricos; e os ricos, com peso na consciência, contribuem para a “causa”. A esquerda “elogia” a postura, a “classe falante” propaga e o povo compra a ideia. E assim, o sistema se autoalimenta. O liberal possui um pensamento que resume-se a uma palavra: dinheiro. Notem a postura destes que estão ao lado de El Cachacero: não levam em conta a questão moral, a falta de caráter, o rombo nos cofres públicos, enfim. Em contrapartida, ao levantarem-se em favor do ex-presidiário, citam a expressão “democracia”. Vamos analisar de qual “democracia” eles sentem falta. Em 2014, o jornal Valor Econômico publicou um levantamento com base em dados dos 50 maiores bancos: os lucros foram de R$ 279,9 bilhões durante todo o governo de Lula, contra R$ 34,4 bilhões durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso. O Valor Econômico analisou ainda outro indicador que, segundo a reportagem, pode comparar com mais precisão os balanços nos dois períodos. Considerando a rentabilidade média sobre o patrimônio líquido, os bancos continuam ganhando mais no governo Lula, cujo indicador é de 20,1%, do que no FHC (7,04%). Ele mede o quanto os bancos estão tendo em retorno sobre o capital que investiram (patrimônio). O adversário eleitoral Ciro Gomes chegou a dizer que o Partido dos Trabalhadores (que irônico, não?) transferiu mais dinheiro aos bancos do que aos pobres:“R$ 4,88 trilhões, no período em que o Lula deu as cartas do poder brasileiro, foram transferidos para os bancos, via juros. E, R$ 332 bilhões foram transferidos para os pobres no Bolsa Família. Isso é uma coisa concreta.” Agora, trago um recorte do jornal Esquerda Diário, que, por incrível que pareça, trata deste assunto com honestidade intelectual, mostrando que a relação de Lula com a alta classe é antiga: “A política de facilitação de crédito, como a redução do dinheiro que os bancos têm que deixar depositado nos bancos, resultou numa liberação massiva de reais no mercado. Em 2002, o crédito disponibilizado no país era de R$ 380 bilhões, em 2010, chegou a R$ 1,6 trilhões. Isso se transformou em ‘o aumento do poder de compra dos brasileiros’, ao passo que o salário médio dos trabalhadores não representou esse salto. Com o constante aumento da inflação, acompanhado do aumento dos juros, o que foi chamado de ‘poder de compra’ dos trabalhadores, era o aumento da parte do salário que ia para o bolso dos banqueiros. Nunca os banqueiros lucraram tanto no país. Em 2011 calculou-se em torno de R$ 200 bilhões (sem corrigir com a inflação atual, o que elevaria esse valor) nos 8 anos de Lula. Com grande parte do salário dos trabalhadores destinado aos cofres dos bancos, mesmo numa crise econômica, os bancos continuam aumentando seus lucros. Todas as políticas que beneficiaram estes banqueiros tiveram como resultado o endividamento em massa.” Liberais geralmente viram à esquerda porque lhes falta a bússola moral para reger a vida moral. O professor Olavo explica isso em seu artigo: “Por que não sou liberal”: O liberalismo é a firme decisão de submeter tudo aos critérios do mercado, inclusive os valores morais e humanitários (...) O liberalismo é um momento do processo revolucionário que, por meio do capitalismo, acaba dissolvendo no mercado a herança da civilização judaico-cristã e o Estado de direito.” Aqueles que não possuem uma régua moral para se guiar acabam cooptados pelo discurso progressista de lutar pela “justiça social” e alimentam o monstro que irá devorá-los, mais dia, menos dia.
- Cátaros, Políticas Sociais, Preconceitos e Constituição
Há muito tempo surgiu a doutrina gnóstica, ensinava que no princípio dos tempos existiu uma divindade perfeita, continha em si tudo o que existe. De um instante para outro, este todo deu início a um processo constante de partição em pedaços iguais, em essência, e opostos em acidentes. Deste processo surgiram masculino/feminino, claro/escuro, o alto e baixo etc. Segundo estes teóricos, também de um instante para outro, a partição produziu uma partícula diferente, os demais pedaços da divindade primeira, que antes se julgavam iguais, ao ver a partícula diferente perceberam que não eram completos, faltava-lhes algo que estava presente na partícula diferente. Isto desintegrou a divindade, suas partículas se dispersaram e prosseguiram o processo de partição interminável. Para conter a desintegração da divindade, surgiu um ente, o Demiurgo, que criou a matéria e dentro dela aprisionou as partículas divinas. Interrompeu o processo de desintegração através do aprisionamento das partes do divino. Neste processo há uma divindade boa, o todo inicial, e um Deus mau, o criador da matéria. O paganismo fundava-se nesta doutrina, a matéria era má porque aprisionava do divino que precisava, a qualquer custo, libertar-se para tentar trilhar um caminho de retorno à unidade original, à plenitude. O platonismo é mostra clara desta cosmovisão. Platão, em Fedon, afirmou categoricamente estar seguro do avanço que lhe traria sua transferência para junto dos deuses que são excelentes amos, por isso não se revolta com a ideia de morte, pelo contrário, tem esperança nela. Por isto, as crianças deveriam ser educadas para temer a morte o menos possível e tornarem-se adultos corajosos para lutar pela liberdade mais do que pela própria vida. Depois deste pensador, Cristo ensinou que não existe “início”, como dizem os gnósticos, Deus é infinito, não há princípio nem fim, ademais existe somente um Deus. É bom, não comporta partições, é simples no sentido de unidade, personificação, cuja vontade difusora de amor criou a matéria. No Cristianismo a matéria é dom, essencialmente boa, por isso a defesa da vida é a primeira lei natural. No cristianismo a liberdade é valor fundamental. Esta é uma das mensagens advindas da crucificação de Cristo, que além da revelação de fé, sobre ressurreição de corpo e alma para os que se empenham em viver a ordem de valores por ele ensinada, nos ensina que a liberdade, inclusive direito de expressão da verdade, exige coragem e grandeza de personalidade. O Homem deve empenhar-se na vivência das virtudes. O gnosticismo pagão se infiltrou na igreja de Cristo através de diversas seitas inclusive dos maniqueístas e sobretudo dos cátaros. Estes pregavam a mortificação do corpo, a autoflagelação, eram contra o casamento pois produzia mais matéria, os filhos, novos cárceres da alma, centelha divina aprisionada. Nessas circunstâncias, achavam preferível o amor livre e matavam mulheres, sobretudo as grávidas. Profanavam os templos e cultos católicos pois não aceitavam a existência humana como um bem, nem que Deus houvesse se encarnado em Jesus. O suicídio era o ponto alto da doutrina cátara como forma de libertação da partícula divina presa na carne. Violavam a primeira lei natural, basilar para o catolicismo: preservação da vida. Sua conduta produzia indignação social e reações em que tanto os cidadãos quanto o poder político secular, os agrediam e matavam violentamente. A desagregação social que produziam era tamanha que há quem defenda que se sua doutrina se tornasse universal devia levar a extinção da raça humana. Os cátaros marcaram vivamente o simbolismo da realidade material do homem como um mal, cuja malignidade era insuperavelmente maior na mulher em face de sua natural fecundidade, capacidade de reprodução. A doutrina era oposta à orientação católica de elevada distinção da dignidade da mulher, que o Novo Testamento traz a lume através do escrito descritivo do primeiro milagre de Jesus Cristo. Nesta oportunidade, a mãe de Jesus, ao pedir-lhe que intercedesse pois havia faltado vinho na festa onde estavam, Este respondeu: “Mulher, o que existe entre nós? Minha hora ainda não chegou.”. De imediato, atende seu pedido e transforma água em vinho. Ao enfatizar a palavra mulher, Jesus revela e ressalta que a mulher é capaz de dar causa à vontade divina de realização do bem, tem força suficiente para vencer obstáculos: “minha hora ainda não chegou”. O pedido de uma mulher move a vontade de Deus. A simbologia da mulher transmuta-se de subserviência ao maligno, comum às ideologias gnósticas, para a intercessora de bênçãos junto a Deus Filho. Os movimentos sociais que posteriormente expressaram a igualdade entre homens e mulheres, inicialmente em face da lei e posteriormente em direitos e obrigações, assim como proteções específicas relativas a maternidade, partem da orientação Cristã. Assim também as normas constitucionais proibitivas de qualquer tipo de discriminação do ser humano. Seguiram-se a estes movimentos as inserções normativas constitucionais de reconhecimento de igualdade, entre homens e mulheres, de modo que a variação de sexo é acidental, incidente sobre uma mesma substância denominada espécie humana6. A igualdade de que tratam as normas modernas, em especial a Constituição brasileira, é a igualdade essencial. Nesta senda, reza o inciso I, artigo 5º que reconhece a igualdade, em direitos e obrigações, para homens e mulheres. É esta mesma essencialidade comum à espécie humana que autoriza a Constituição da Republica de 1988 a reconhecer, no artigo 5º, que todos são iguais perante a lei. Refere-se à igualdade essencial da qual são acidentes a cor da pele, o comportamento religioso a forma de exercício da liberdade individual etc. Enfim, o Estado brasileiro registra, na Constituição, a herança ancestral ocidental que se estruturou através da transposição do paganismo grego para o cristianismo. É este o fundamento de sua orientação sistêmica de respeito à dignidade humana como espécie. Esta cosmovisão que se crava na Constituição brasileira e traz como elemento a confiança na autonomia individual para gestão do próprio destino, tem o mesmo sentido utilizado pela União Europeia e expresso em um de seus documentos gerentes de desenvolvimento econômico: apoio aos compromissos de geração de emprego e estímulo à aprendizagem para que o crescimento individual seja resultado do esforço próprio de superação das dificuldades individuais e motor do desenvolvimento nacional. Nesta linha de entendimento, a Constituição da República Federativa do Brasil estabelece, no inciso IV, artigo 1º que o trabalho e a livre iniciativa são fundamentos do Estado e associa a esta premissa o objetivo de Estado de desenvolvimento nacional na forma do inciso II, artigo 3º. O artigo 3º da Constituição da República traz como único instrumento de ação, para alcance dos objetivos de Estado, o desenvolvimento nacional, é de se entender que os demais objetivos serão alcançados através dele. Nesta linha, o objetivo estatal de solidariedade, expresso no mesmo dispositivo, também se subsume ao instrumento de desenvolvimento nacional. O que se impõe ao Estado, objetivamente, é o desenvolvimento. Este, abriga o fomento à geração de empregos, ao livre empreendedorismo, ao sistema de aprendizagem, à estabilidade emocional através da harmonia social e segurança, bem como o cuidado com a saúde. É fundamental ter em mente a realidade atestada historicamente de que o desenvolvimento sócio/econômico somente se potencializa impulsionado pelo aumento da diferenciação acidental. Esta observação produziu a assertiva de que a evolução cultural, com a civilização dela decorrente, trouxeram a diferenciação, riqueza crescente e grande expansão da espécie humana. Nestas condições, o dever estatal de promoção do desenvolvimento nacional para geração da sensação de bem-estar interno exige o fortalecimento da percepção individual de igualdade essencial, simultaneamente, com o favorecimento à diferenciação acidental. É a realidade que se apresenta como condição de execução de qualquer competência Estatal de desestímulo à discriminação estabelecida pelo inciso IV, artigo 3º da Constituição. Por seu turno, o dever de facilitação da aprendizagem inclui o favorecimento do acesso a informações técnicas, associadas ao fomento do reconhecimento da igualdade essencial da espécie humana, tanto quanto o crescimento da virtuosidade humana. É assim por causa da revelação, efetivada pela História de que a moralidade, reflexo de condutas virtuosas, foi o elemento determinante para a civilização atual, pois foram os grupos que seguiram suas regras que conseguiram multiplicar-se e enriqueceram em relação a outros grupos. O estímulo, do Estado, ao fortalecimento da virtuosidade humana é condição de desenvolvimento nacional que coopera para a construção da justiça social estabelecida pelo inciso I, artigo 3º da Constituição. O dever de desenvolvimento da virtude humana é imperativo civilizacional e condição de realização do objetivo Estatal de superação de preconceitos como determina inciso IV, artigo 3º da Constituição. Ao Estado brasileiro, por imposição constitucional, compete edificar um ambiente interno favorável ao progresso individual, técnico e de caráter, resultante do empenho próprio de cada cidadão. O fomento ao crescimento individual é atividade de Estado basilar para geração do desenvolvimento nacional, como decorrência natural do esforço conjunto da população brasileira “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente”, parágrafo único, artigo 1º da Constituição brasileira. Para realizar os ensinamentos da História, as políticas públicas e ações de grupos privados fundadas em diferenças acidentais precisam ser desestimuladas e substituídas por outras que fortaleçam a igualdade essencial. O sistema normativo orienta para o estímulo à aprendizagem técnica associada ao crescimento das virtudes humanas, pois o que gera bem-estar individual, harmonia social e prosperidade é a cooperação de todos com base na confiança advinda da virtuosidade do comportamento humano. É importante despregar-se das garras da contradição de ressaltar a diferença acidental com o discurso de promoção do bem de todos. O bem comum somente repousa no colo da igualdade essencial, única possibilidade de igualdade humana nesta terra e único caminho de destruição das discriminações. Os símbolos da doutrina cátara ainda estão vivos no mundo moderno, escondem-se e revelam-se em imagens, obras de expressão plástica, interpretações de teatro, música e que, subliminarmente, ressaltam diferenças acidentais dos seres humanos como instrumento de geração de antagonismo social. A associação da imagem da mulher à malignidade é apenas um exemplo da vitória do vício da crueldade, estimulado através do fortalecimento das desigualdades acidentais como fundamento para desavenças, sobre o mandamento cristão de caridade humana, alcançável apenas com o desenvolvimento equilibrado da virtuosidade individual. Este movimento parte, necessariamente, do reconhecimento e fortalecimento da igualdade essencial da espécie humana. As políticas, ou legislação infraconstitucional, de suporte social precisam evitar vivamente fundar-se em desigualdades humanas acidentais e permanentes para passar a apoiar-se em realidades transitórias, que permitam mobilidade dos integrantes dos grupos beneficiados. São exemplo deste segundo tipo os habitantes de determinados espaço, as pessoas que se encontram desacompanhadas no sustento de suas famílias etc. As normas infraconstitucionais e políticas públicas, ou privadas, fundadas em desigualdades humanas acidentais permanentes são desagregadoras porque apoiam-se sobre o binômio algoz/vítima. São contrárias ao objetivo estatal de desenvolvimento nacional, porque essencialmente discriminativas. A premissa sob que se fundam nega diretamente o reconhecimento da igualdade essencial do homem. O discurso de redução de desigualdades sociais e da discriminação através de ações de avivamento das desigualdades acidentais do homem é contradição interminável. Tal comportamento labora sobre o engano, esconder-se em promessas de correção de circunstâncias históricas ou condição social quando o resultado por elas produzido é a animosidade interna entre os cidadãos. Tais ações atraiçoam, porque prometem o que, potencial e intencionalmente, não são capazes de concretizar. Findam por aprisionar à infindável dependência do Estado, os indivíduos para quem dizem buscar tutela. Entrava-lhes a dignidade e a confiança individual na própria capacidade de superação da realidade desvantajosa. Nestas circunstâncias, para alcance do desenvolvimento nacional, o sistema constitucional determina que a realização dos objetivos de Estado se operem através da utilização de instrumentos verdadeiramente capazes de concretizá-los. São os recursos, reafirmativos da dignidade humana, fundados no reconhecimento da essencialidade igual do homem, em sua capacidade individual de superação de dificuldades e de contribuição para o desenvolvimento comum. O engano, mentira e a traição que se escondem na base das ações que se pretendem redutoras da discriminação e das desigualdades sociais, mas se fundam no fortalecimento das desigualdades acidentais permanentes, surpreendentemente estão presentes na etimologia da palavra diabo. Para os gregos, diábolos é aquele que engana, traiçoeiro, e para os latinos diabolus é o espírito da mentira, personificação do mal. Será por esta causa que a Constituição da República é avessa às ações e políticas de fortalecimento das desigualdades acidentais permanentes? Ou será, simplesmente, porque o constituinte conhecia a doutrina gnóstica de que a partição dos essencialmente iguais os transforma em opostos e provoca a desintegração da divindade? Será que nossa Democracia constitucional resiste a partições dos essencialmente iguais? Deus nos ajude!
- História de Campos do Jordão
Imagem: https://www.cidadeecultura.com/historia-campos-do-jordao/#:~:text=Com%20o%20falecimento%20de%20Ign%C3%A1cio,origem%20ao%20nome%20da%20cidade. Por ordem real, com o objetivo de transportar o ouro de minas de Itajubá (MG), em 1720, foi aberto um caminho por Gaspar Vaz, que saía desde o Vale do Rio Sapucaí até Pindamonhangaba (SP). Apesar de o caminho Ter sido fechado, Gaspar Vaz estabeleceu-se na região, transformando-a em importante centro comercial de gado. Em 1771, Inácio Caetano Vieira De Carvalho, também atraído pelos encantos da região, resolver aqui se estabelecer. Em 27 de Setembro de 1790, por meio de carta do Governador da Capitania de São Paulo, obteve sesmaria. Após 1825, a gleba foi vendida ao Brigadeiro Manuel Rodrigues Jordão, ficando, o lugar que era denominado “Os Campos”, conhecido como “Os Campos do Jordão”. Em 1874, as terras foram adquiridas por Matheus da Costa Pinto, que fundou o povoado de São Matheus do Imbiri, atual Vila Jaguaribe, justa homenagem ao Dr. Domingos Nogueira Jaguaribe, que introduziu importantes melhoramentos no povoado, hoje marco da fundação de nossa cidade. No início deste século, devido ao clima com alto nível de oxigênio, aliado a baixas temperaturas, a região passou a ser referência no tratamento de tuberculose, criando, a partir de então, diversos sanatórios. A cidade, nesta época, passou a atrair médicos e pacientes de todo o país, muitos deles políticos influentes e grandes empresários. Em razão de longos períodos de tratamento que a doença exigia, muitos fixaram residência e trabalho na cidade, colaborando com o desenvolvimento da região. Domingos José Nogueira Jaguaribe, médico, político, escritor e fundador do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, interessou-se pela região, que já ganhara notoriedade e, em 1891, comprou boa parte das terras de Matheus da Costa Pinto. Então, dividiu em lotes para venda, nos quais foram construídos pensões e hotéis para receberem doentes da tuberculose e do alcoolismo. Em 1918, a vila passou a ser chamada de Vila do Jaguaribe, em homenagem ao morador que trouxe progressos para o local. Abernéssia, famoso bairro que hoje abriga diversas atrações turísticas, igrejas, lojas e avenidas, teve início com a vinda de um escocês, o engenheiro Robert John Reid, que, por volta de 1907, foi nomeado agrimensor na ação judicial de divisão da Fazenda Natal. Recebeu, como pagamento pelos seus serviços, uma vasta área de terras na região. Em 1915, Vila Nova passou a ser chamada de Vila Abernéssia, nome da chácara em que Reid viveu, como homenagem ao morador ilustre. O nome Abernéssia foi criado pelo próprio Reid, fazendo alusão às cidades escocesas Aberdeen e Inverness. Pela Lei nº 2.140 de 01/10/1926, Campos do Jordão transformou-se em Estância Hidromineral. Em 1938, o então interventor federal Adhemar de Barros, encantado com a paradisíaca natureza local, decidiu construir, além de sua casa de campo, uma sede de veraneio do Governo do Estado, em Campos do Jordão. Depois de levantadas as paredes e coberto o “Castelo”, como era chamado pelo povo, permaneceu o prédio fechado por 26 anos. A construção só foi concluída em 1964. Nesse mesmo ano, era inaugurado o Palácio da Boa Vista, contando com a presença do Presidente da República, Marechal Humberto de Alencar Branco, anfitrionado pelo Governador Adhemar de Barros. No período de 1967 a 1971, o Palácio Boa Vista foi muito explorado em eventos culturais, principalmente em exposições de artes plásticas brasileiras da época pré-modernista e da fase compreendida entre 1913 (ano da primeira exposição de Lasar Segall) e 1950, quando a Pinacoteca do Estado começou a adquirir obras de artistas modernos, o que significou a admissão oficial da arte contemporânea em nosso País. Nessa época o palácio torna-se Museu e Monumento Público, sem, entretanto, perder suas funções de veraneio. Em 1969, o então governador Abreu Sodré, por solicitação de seu Secretário da Fazenda, Luiz Arrobas Martins, cedeu espaço no saguão interno do palácio para apresentações de música erudita. No ano seguinte, foi criada uma Comissão Organizadora dos Concertos de Inverno de Campos do Jordão, com a pretensão de promover na cidade programas idênticos aos grandes centros turísticos da Europa e Estados Unidos. Devido ao sucesso desses eventos culturais, que passaram a ser frequentes, os espetáculos exigiam a criação de um espaço mais amplo e independente para abrigar um número cada vez maior de expectadores. Em 1979 foi inaugurado o Auditório Campos do Jordão, mais tarde denominado Auditório Cláudio Santoro. O complexo é dotado de 900 confortáveis poltronas numeradas, modernos sistemas de calefação, iluminação e acústica, além de um palco com capacidade para apresentação de grandes orquestras. Em 1998, a Secretaria de Estado da Cultura, que administra o auditório, construiu uma concha acústica para apresentações ao ar livre de música popular. O festival é considerado atualmente um dos mais respeitados concertos de música erudita e de câmara de toda a América Latina. Por ter característica climáticas e paisagísticas semelhantes a de várias regiões da Europa, Campos do Jordão passou a receber construções com arquitetura típica dos alpes suíços, espalhadas por praticamente todo o seu território. Não é à toa que Campos do Jordão foi batizada carinhosamente de "Suíça Brasileira". O município tem como principal atividade econômica o turismo e é um dos principais destinos de inverno do Brasil. Brigadeiro Jordão “Era amigo do Imperador D. Pedro I e fez parte do Governo Provisório. Naquela época, foi incluído entre os 10 maiores proprietários de terras da Província de São Paulo, chegando a ser diretor do Tesouro da Província. Alguns historiadores localizam-no no famoso quadro de Pedro Américo, alusivo ao Grito do Ipiranga, em 7 de setembro de 1822, quando este subia a Serra de Santos. Ademais, o local da Proclamação da Independência do Brasil, no Ipiranga, ficava na Fazenda Palmeiras, de propriedade do brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão”. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania N.º 24 Fontes:https://www.camposdojordao.tur.br/historia https://www.cidadeecultura.com/historia-campos-do-jordao/#:~:text=Com%20o%20falecimento%20de%20Ign%C3%A1cio,origem%20ao%20nome%20da%20cidade.
- A Quarentena e os Bandos
Temos vivido a tal quarentena que remete a quarenta, mas, na verdade, é por período indeterminado. Dizem que estamos presos, mas não há prisão capaz de conter a infinidade de atividades que podemos desenvolver num mesmo espaço físico e, sobretudo, não há meios de aprisionar a nossa capacidade de pensar, criar, desenvolver habilidades, interagir, ser solidários e expressar amor. Então o que nos incomoda exatamente, nesta situação de afastamento social? O primeiro pensamento que me ocorre é que estávamos habituados à ininterrupta tentativa de fazer o mundo e tudo que nele há, funcionar a favor de nossos interesses individuais, que escolhemos a partir de nossa baixíssima capacidade de percepção da realidade existencial, de nossa condição individual dentro da circunstância coletiva e sobretudo de nossa identidade: o que somos aos nossos próprios olhos? A que servimos? Que destino estamos imprimindo aos dias que se nos apresentam de presente? Modernamente, reduzimos o tamanho de nossas famílias, não moramos mais todos juntos, avós, filhos, tios e netos, achamos que esta forma de convivência dificultava os relacionamentos, cada um precisa fazer conformar o mundo ao seu modo de vida, começamos a considerar que as presenças afetavam nosso direito à privacidade. Afrouxamos os laços de convivência e os parentes que estavam conosco nas refeições e nas conversas do fim do dia passaram a ser vistos com dia e hora marcados, cada vez mais esporadicamente, perdemos a noção fundamental de bando original, a família em sua estrutura mais larga. Tentamos substituir essa convivência familiar pela convivência social mais adequada ao propósito comum de conformação do mundo aos nossos interesses. Como um grande número de pessoas convencionou que esta era a maneira adequada de viver, formamos um grupo imenso de pessoas com o modo de proceder semelhante, um bando substitutivo do bando original, a organização familiar inicial. No bando original, estávamos mais próximos dos exemplos ancestrais que reforçavam a aceitação do outro, a tradição familiar favorecia da aceitação individual pela semelhança, portanto, os papeis que representávamos estavam mais vinculados a nossa realidade interna, a nossa essência, à verdade do nosso eu. No bando substitutivo os papeis, precisaram ser reconstruídos para atendimento da expectativa comum de conformação do mundo aos nossos interesses individuais, ganharam uma padronização de certo e errado de acordo com esse propósito, não havendo a partilha de emoções familiares a sustentar a aceitação mútua como no bando original, precisamos de padrões de certo e errado mais uniformes para sermos aceitos pelo novo bando. Nos afastamos muito da verdade do nosso eu para nos encaixarmos neste bando substituto, e o afastamento incluiu a supressão de atividades que destinávamos ao embelezamento de nossa essência como o tempo dedicado às artes, a leitura, à contemplação à comunicação com o divino e à convivência com os que nos eram essencialmente semelhantes e partilhavam a mesma história ancestral. Empobrecemos nossa essência, por falta de tempo. Talvez seja este o mal-estar coletivo que tantos comentam, deixamos de ser quem somos e de estar com os que nos são semelhantes. A quarentena suprimiu os espaços para representação dos papéis destinados à conformação do mundo aos nossos interesses, desmanchou os palcos e, sobretudo, enfraqueceu os vínculos com o bando substitutivo, por isso emergiu uma sensação de abandono, no sentido etimológico da palavra: a – ban – dono, “a” prefixo de negação; “ban” indicativo de bando e “dono” referente a senhorio. A ideia de que resultamos abandonados, sem bando e sem dono, nasce porque nos afastamos do bando original e o bando substitutivo não existe mais, tal como o vivenciávamos. A pandemia atual parece nos reconduzir ao bando original e à redução da convivência para nos restringirmos aos mais semelhantes a nós, semelhança é elemento que favorece a aceitação natural, se for assim, penso que tendemos a desenvolver papeis mais verdadeiros, mais próximos de nós mesmos. O hoje confirma que o mundo é naturalmente inconformista, é ele que estabelece as regras para desfrute da vida que ele generosamente nos presenteia, tomara que esta pausa nos habilite à humildade, à gratidão pelo seu acolhimento e generosidade para conosco, nos habilite à reverência incondicional à vida, ao embelezamento de nossa essência e ao reconhecimento da sacralidade da existência para merecer estar vivo . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania N.º 25
- Onde está a sua esperança?
Semana de Natal. Neste ano, tudo está sendo atípico: não tenho visto janelas iluminadas com as luzes tradicionais, não está acontecendo aquela famosa correria de fim de ano para as compras da ceia ou de roupas novas para usar na festa; estamos em um limbo repleto de incertezas, o que faz com que as pessoas, ainda que não demonstrem, estejam preocupadas com o que o amanhã reserva. Há patriotas ainda acampados nas portas dos quartéis, outros em Brasília, depositando todas as suas fichas em uma única ação. Os que não estão acampados por diversos motivos, estão assistindo as movimentações da transição e quase tendo uma síncope a cada anúncio de possíveis ministros: já temos na lista Fernando Haddad, Flávio Dino, Margareth Menezes, Rui Costa. De fato, isso é pior que um pesadelo! Porém, venho através deste artigo para fazer uma pergunta: onde está a sua esperança? Há aqueles que já a perderam, e eu não julgo. Mas nem tudo está perdido. Para o Brasil? Para o seu Estado? Para o mundo? Não! Para você! “Dani, como assim? Então quer dizer que não devo mais lutar?” Nada disso! Mas me permita explicar como que o discurso global esquerdista se infiltrou no meio dos conservadores e cristãos. Como age o meio progressista? Através do coletivismo: eles não dizem que querem ajudar os pobres, mas “acabar com a pobreza”; eles não falam sobre atuar nos bairros para promover conscientização ambiental, mas em “discurso global contra emissão de gazes, contra o agro, etc.”. Ou seja, eles NUNCA tratam do individual ou local, mas do global; isso faz com que a dominação seja mais fácil de se conseguir. Além disso, o discurso global não leva em conta as especificidades de cada lugar e do grupo de pessoas que ali residem. Agora, percebam que este é o discurso que tem se infiltrado aos poucos no meio conservador: “precisamos salvar o Brasil!”. Óbvio que devemos lutar pelo melhor para o nosso país, mas este discurso coletivista, em vez de nos fortalecer, esvazia nossas forças. O Brasil é um país continental, com necessidades diversas, como que eu, um ser pequeno, conseguirei esta tarefa hercúlea? Simples: se cada um salvar a si mesmo. E apenas com o Evangelho isso é possível! “Ih, lá vem ela com esse discurso religioso...”. Nada disso! Não trago aqui discurso religioso, mas de realidade! Não temos condições de salvar o mundo, mas podemos (e devemos!) salvar a nossa alma. No momento mais difícil para o povo de Israel – o cativeiro babilônico – Jeremias escreveu: “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança” (Lamentações 3.21). O profeta entendia que não dava para mudar aquela situação externamente, mas dentro dele; uma coisa que aprendi na igreja é: quando mudamos a visão, mudamos a condição, e isso deve acontecer primeiro dentro de nós. Quem já teve a oportunidade de viajar de avião sabe que a aeromoça dá várias instruções em caso de emergência, e uma delas é: “Em caso de despressurização da cabine, máscaras de oxigênio cairão automaticamente (...) Auxiliem crianças ou pessoas com dificuldade SOMENTE APÓS TEREM FIXADO A SUA”. Não temos a menor condição de ajudar alguém se estivermos mal, e não podemos “salvar o Brasil” se nós mesmos não estamos! Trato aqui de salvação da alma, mas não apenas disso. Se sua casa estiver desajustada, se seu casamento estiver mal, se você não tem disciplina com suas atividades, não conseguirá salvar um país inteiro! Jordan Peterson, psicólogo clínico canadense, em sua obra “12 regras para a vida”, deu a lição 6 o título “Deixe a sua casa em perfeita ordem antes de criticar o mundo”. Se eu fosse a autora da obra seria: “Salve a sua alma antes de salvar o mundo!”. Nosso Senhor já havia “dado a dica” quando disse: “Mas buscai PRIMEIRO o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas.” (Mateus 6.33). A maior esperança que podemos ter em meio a este caos que assolou o Brasil é saber que Nosso Senhor é com aquele cujo coração já lhe foi entregue. Já falei algumas vezes e repito: a política não é um fim em si mesma. Ela é necessária enquanto vimemos neste mundo, porém não deve nortear a nossa vida a ponto de abandonarmos nosso convívio familiar e, acima de tudo, com Deus. E: a guerra é espiritual. Se todo o problema fosse simplesmente político, o presidente Jair Bolsonaro não teria dificuldades em resolvê-los; e guerra espiritual não se vence com discurso, mas de joelhos dobrados. Independente da situação que vier, o lema que nosso presidente nos ensinou, na ordem que está, é que fará a diferença: DEUS, FAMÍLIA, PÁTRIA E LIBERDADE. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania N.º 25
- Os piratas do norte e o rei Alfredo
Quando brilhou o primeiro raio de luz do dia 06 de maio de 878 o Reino de Wessex assistiu, aterrado, a mais um ataque dos piratas do norte. Não satisfeitos com os saques que realizavam na costa, em especial a pilhagem de mosteiros cristãos, decidiram dominar a Grã-Bretanha. O Grande Exército Viking já havia invadido e vencido os outros três reinos da região, Northumbria, Anglia Oriental e Mércia, até que a banda comandada por Guthrum realizou um ataque definitivo em Edington. A carnificina que envolvia suas conquistas empestava o ar. Famosos pela barbárie da violência que empregavam contra os outros povos, dominavam uma técnica de tortura e execução especial. Punham de joelhos suas vítimas e cortavam-lhes as costas até alcançar as costelas. Quebravam-nas e viram-nas ao contrário, a pavorosa imagem assumia a aparência de assas. Por fim, arrancavam-lhes os pulmões pelas costas. Esta ferocidade era conhecida como “águia de sangue”. Haviam invadido a região da Europa e marcado a queda do Império Romano do ocidente, cujos Senhores mais abastados fugiram das cidades e instalaram-se em grandes propriedades no interior. A população os seguiu, pois os assombrava o pavor de serem trucidados pelos bárbaros. Nestas terras mais afastadas das cidades, entabularam um juramento: os senhores acolheriam a população em suas propriedades, lhes concederiam o direito de cultivo da terra e a defenderiam dos ataques e invasões dos germanos. Em troca, a população produziria alimento para sua mantença. Este pacto fundamentou os feudos nascidos da desagregação do império. Na região da Grã-Bretanha ainda não havia sido necessária a formação de feudos, até esta fatídica manhã de 06 de maio de 878 quando os campos revelaram uma imensidão de guerreiros invasores. Haviam chegado à costa em uma grande armada de navios-dragão, langskip, cujas proas eram encimadas pela imagem da cabeça da temida serpente marinha Jormugand. Acreditavam que ela era gigantesca, seu comprimento circundava a terra, e que mordia a própria cauda para formar um anel em torno do mar. Os navios eram compridos e estreitos como a serpente. Possuíam um calado estreito dotado de uma quilha o que lhes permitia cruzar oceanos e navegar em rios sem que os nórdicos precisassem trocar de embarcação. Eram dotados de pares de remos, por vezes até 36 pares, e os guerreiros sentavam-se em suas próprias bagagens para remar. O impulso dos remos se acrescia ao das velas, o que produzia grande agilidade de navegação, favorecia o ataque e a fuga nas emergências. Alfredo, O Grande, rei de Wessex havia sido enganado pelos nórdicos em um tratado anterior quando pagou para que eles deixassem o reino em paz. Foi traído, em pouco tempo os ataques recrudesceram. Quando veio o ataque em Edington, as forças guerreiras do rei eram diminutas comparadas com o exército inimigo. Alfredo e seus homens haviam lutado com todas as suas forças mas este ataque dos vikings havia sido de tal violência que praticamente aniquilou a resistência anglo-saxônica, os nórdicos começaram a comemorar a vitória. O rei de Wessex, devoto de Nossa Senhora, diariamente recorria a Ela e formulava pedidos de ajuda e inspiração. Conta-seque neste dia em que a derrota mais uma vez se abatera sobre seu exército, Alfredo retirou-se para rezar, abatido pelo fracasso e pelo sofrimento que rondava o destino de seu povo. De joelhos e mãos postas pediu orientação à Mãe de Deus, nesta meditação perdeu a noção do tempo. Ao abrir os olhos avistou, no alto, uma Senhora radiante mas com uma profunda tristeza estampada nos olhos. Trazia sete espadas cravadas em seu coração, mas com força, determinação e bravura empunhava a oitava. Estupefato, Alfredo teria lhe perguntado se deveria ainda resistir, se seus homens poderiam voltar para casa ou se os germanos matariam a todos com requintes de crueldade. A Virgem haveria respondido que, é dever de seus filhos seguir no escuro e manter a alegria no coração, cientes de que Ela caminha com os seus e que o brilho fulgurante de Deus se mostra aos que perseveram no caminho da verdade e da justiça. Alfredo voltou para o grupo e, com energia renovada, teria dito: levantem guerreiros, vamos atacá-los, Nossa Senhora lutará conosco! Os poucos homens do exército de Alfredo Guerrearam com todo vigor e, inacreditavelmente, venceram os Piratas do Norte. Graças a esta vitória a Grã-Bretanha não precisou de feudos para livrar seu povo dos bárbaros. Caminhemos nós também, meus irmãos, com força, determinação e bravura. Coragem! Mesmo no escuro mantenhamos a alegria no coração! A verdade e a justiça sejam nossas guias, para que possamos alcançar a graça de ver a Luz. Deus nos ajude!
- Ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil
Neste ano de 2022 comemoramos o bicentenário da Independência do Brasil, ou seja, no dia Sete de Setembro celebraremos os duzentos anos do famoso ‘grito do Ipiranga’, “Independência ou Morte!”. A Revista Conhecimento & Cidadania preparou para você leitor, três textos introdutórios imediatamente anteriores a esta edição ( José Bonifácio, O Patriarca , Leopoldina, Um Coração de mulher e Pedro de Alcântara, A impetuosidade liberalizante ) , de caráter biográfico e pretende oferecer agora uma visão ampliada do cenário dentro e fora do Brasil, que acompanhou o processo de nossa Independência, processo que se estendeu de 1821 a 1825. Iniciaremos esclarecendo que o Sete de Setembro é atualmente a nossa data oficial, porém já foi comemorada em outra data, ou seja, o dia doze de outubro que era o dia do nascimento de D. Pedro I e foi também o dia de sua aclamação como imperador do Brasil. Para alguns estudiosos do tema, o dia vinte e nove de agosto de 1825 seria a data mais correta para a celebração, visto que naquela data foi assinado o Tratado do Rio de Janeiro, firmado entre o Brasil e o Reino de Portugal, reconhecendo nossa Independência de maneira oficial. Ainda durante o segundo reinado o dia doze de outubro foi substituído pelo Sete de Setembro, para dissociar o evento da figura do imperador, garantindo a impessoalidade do fato (impessoalidade que viria posteriormente se tornar um princípio constitucional). Fato é que só muito posteriormente o Sete de Setembro se tornou oficialmente o Dia da Independência por meio da Lei Federal número 662 de sete de abril de 1949. O quadro que ilustra este artigo é obra do pintor Pedro Américo, executada em 1888 é uma representação artística e idealizada do fato ocorrido sessenta e seis anos antes nas proximidades do Riacho do Ipiranga em São Paulo. Por ser uma representação, não segue necessariamente o rigor histórico, mas pretende antes atender a um interesse. O quadro serve de reforço à construção de um sentimento de identidade nacional, fundamental à existência e manutenção de uma nação. A rememoração dos fatos, a celebração dos ícones e o culto aos mitos fundadores, todos são elementos constituintes do que poderíamos chamar de ‘processo de criação do sentimento de brasilidade’. Os soldados presentes no cenário representariam a Imperial Guarda de Honra de D. Pedro I, criada a partir do famoso Dia do Fico, entretanto o fardamento remete aos trajes de gala da tropa, assim como a indumentária de D. Pedro I. Em ambos os casos estariam inadequados aos eventos retratados. De igual modo, a utilização de cavalos para o trajeto Santos-São Paulo seria inviável, preferindo-se o uso de mulas. Como dissemos não é o objetivo de uma representação artística, atender aos rigorismos históricos de uma obra escrita, mas antes atender ao seu objetivo de comunicação com o observador. O ‘Grito do Ipiranga’ pode ser entendido como o clímax de um processo de separação política entre o reino do Brasil e os reinos de Portugal e Algarve. Esta afirmação é parcialmente correta como veremos adiante, mas não pode ser associada necessariamente à conquista ou à manutenção das liberdades em nosso país. Crer na Independência como um fim em si mesma, ou que esta caminha de mão dadas com a liberdade, é fechar os olhos às transformações impostas pelo tempo, pela natureza e pelos homens. Na brilhante citação atribuída a Thomas Jefferson, alertando que “o preço da liberdade é a eterna vigilância” , é que planaremos sobre os eventos dos idos de 1822, buscando perceber o quanto os fatos se interligaram, criando uma tela onde podemos apreciar como que estáticos, o tempo e os entes que inauguraram os nossos frágeis tempos de liberdades. Durante as décadas recentes, diversas obras literárias buscaram representar a Independência do Brasil como uma dádiva que não contou com a viva participação do povo. Apresentou-se por muito tempo os colonizadores portugueses exclusivamente como exploradores, usurpadores de riquezas e genocidas das etnias nativas. Reduzir o período colonial à obra de párias portugueses que legaram apenas destruição, morte, atraso e fracasso, tem criado, fortalecido e mantido um sentimento de vergonha ou de não identificação com a própria história que só tem causado danos ao país. A expressão cunhada por Nelson Rodrigues, o “complexo de vira-latas” define bem o desencanto a que foi levado o imaginário popular brasileiro. Quando falamos em processo de independência, normalmente nos remetemos também à todas as revoltas anteriores que de alguma forma questionavam a autoridade portuguesa sobre alguma parte de nosso país. Há que se diferenciar as de viés nativista e as separatistas. No primeiro caso, buscavam se opor ao poder das autoridades locais sem pretender a autonomia da colônia como um todo. No segundo caso os objetivos eram mais abrangentes, ainda que iniciados a partir de um ponto de vista restrito aos seus locais de origem. Em todos os casos é inadequado supor a possibilidade de qualquer identificação coletiva da população ao que viria a ser o Brasil. Tínhamos regionalismos pujantes e um nacionalismo em estado de gérmen. Assim, elencamos dentre as nativistas a Revolta de Beckman (1684), a Guerra dos Emboabas (1708 a 1709), a Guerra dos Mascates (1710 a 1711) e a Revolta de Filipe Santos (1720). Dentre as separatistas temos a Inconfidência Mineira de 1789 e a Conjuração Baiana de 1798. Não é correto entender estes eventos nativistas ou separatistas como preparatórios e cumulativos para chegarmos à independência em 1822, porque de fato não eram integrados àquele sentimento de identidade nacional anteriormente citado e não representavam ainda um pensamento único e estruturante. Nossas revoltas ocorreram paralelamente e sendo subsidiárias de eventos externos que as influenciaram. Os ideais iluministas, que apesar do controle exercido pela coroa portuguesa, vinham chegando ao Brasil trazidos pelos brasileiros que voltavam dos estudos na Universidade de Coimbra, despertavam algum senso de liberdade. A própria Independência das colônias britânicas na América do Norte em 1776, seguida da Revolução Francesa em 1789, demonstravam que o absolutismo monárquico estava sendo afrontado na prática e não mais de modo restrito ao campo das ideias. Não podemos esquecer que a Revolução Haitiana de 1804, a argentina em 1810, do Paraguai em 1811, do Chile em 1818, México e Peru em 1821, mostravam de modo inquestionável que o fenômeno das independências se tornava generalizado e que o Brasil não passaria ao largo de tantos eventos sem colher em seu próprio solo os frutos das sementes de liberdade. Nenhum destes eventos isoladamente pode explicar a Independência do Brasil, mas vistos com o necessário distanciamento, afirmam positivamente a inserção do Brasil em um cenário regional de independências. A Ascensão do Brasil à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves em dezesseis de dezembro de 1815, promovida por D. João VI, anos após a chegada da estrutura administrativa do império português ao Brasil, está diretamente relacionada à ascensão de Napoleão Bonaparte ao poder na França em 1804 e a posterior ameaça de invasão a Portugal. Do ponto de vista administrativo, não faria sentido manter instalada a sede do reino de Portugal em uma colônia, daí a solução de elevar o status administrativo do Brasil a reino unido. A questão a ser destacada é que esta elevação não passaria sem deixar seu legado. A instalação de tribunais, nomeação de juízes, todo um conjunto de elementos formais da burocracia estatal, incluindo funcionários, cargos e outros acessórios passariam a fazer parte da sociedade brasileira. Em 1820 a Revolução Liberal do Porto escancara alguns pontos importantes para a história de Portugal, mas que interferiram diretamente na história do Brasil. Desde 1815 com a prisão de Napoleão, findo o governo dos Cem Dias, ficava clara que a causa da permanência de D. João VI no Brasil, em companhia de importante parte da administração do império estava encerrada. Do ponto de vista dos remanescentes portugueses, o retorno do rei era mais que justo, era prioritário. Tal retorno vinha sendo adiado, entre outras razões de estratégia política de D. João, também porque o rei havia desenvolvido muito apreço pelo Brasil e por sua permanência aqui. Somente com o início da Revolução de 1820 é que ficou evidente que não retornar representaria a real possibilidade da perda definitiva do Reino de Portugal. Assim, em vinte e seis de abril de 1821, D. João VI chega à Lisboa, deixando D. Pedro de Alcântara como príncipe regente do Reino do Brasil. O retorno do rei a Portugal não era a única petição dos revoltosos. A elaboração e efetiva aceitação de uma Constituição liberal, também estavam previstas e foram formalizadas em setembro de 1822. Para além da alteração do status de governo, passando de uma monarquia absolutista para uma monarquia constitucional liberal, era também pretensão das cortes portuguesas que o reino do Brasil deixasse de existir e que suas províncias se reportassem diretamente ao governo de Portugal. Se recordarmos de toda a estrutura criada e já citada para o funcionamento do Brasil enquanto Reino Unido a Portugal, compreenderemos o impacto desta medida na vida social e política do Brasil. A permanência do príncipe D. Pedro no Brasil, reforçada e entendida como uma afronta direta às cortes e seus ideais, no episódio do ‘Dia do Fico’, colocava o Brasil no centro das atenções metropolitanas. Urgiria recrudescer e impor ao Brasil as decisões partidas de Lisboa, onde D. João VI já se encontrava como rei de direito, mas não completamente de fato. Em 1822 o Brasil se encontrava dividido quanto ao alinhamento às duas causas que se apresentavam: a aquiescência às ordenações vindas de Lisboa ou a ruptura completa em relação a Portugal. Os setores vinculados ao funcionalismo administrativo, aos tribunais locais e setores econômicos que vinham se beneficiando (e ao país) com a liberdade do comércio conseguida com o fim do ‘exclusivo colonial’, apoiavam a permanência de D. Pedro e a possível ruptura. Por outro lado, parte dos militares, algumas lideranças políticas regionais visando antes se opor à ascendência de José Bonifácio sobre D. Pedro, que alcançar objetivos maiores ao país, alinhavam-se à Portugal. Mesmo entre os apoiadores da ruptura não existia um consenso com relação à forma de governo, havendo os que defendessem a ruptura em direção direta a uma República, outros defendendo a instauração de um reino independente sob a liderança de D. Pedro e, dentre estes últimos havia os partidários de um poder mais centralizado e outros que defendiam a elaboração de uma Constituição própria para o Brasil, além de mais autonomia para as províncias. Em meio às contendas quanto à forma administrativa, setores das províncias de Minas Gerais e São Paulo ameaçavam rebelarem-se contra a autoridade do Príncipe Regente. Nesse sentido, D. Pedro viajou àquelas províncias para retomar a ordem necessária à solução dos problemas que o país enfrentava. Em meio à viagem pacificadora à província de São Paulo, D. Pedro possivelmente percebeu a necessidade premente de garantir a segurança das fortalezas próximas aos portos mais importantes do Brasil (Santos era o segundo mais importante, precedido pelo porto do Rio de Janeiro). Daí, seguindo em direção a Santos no dia cinco de setembro, inspecionou as fortalezas locais, dando ordens para garantir o abastecimento dos paióis e a prontidão da guarda. No dia sete, ainda a caminho de retorno a São Paulo, D. Pedro recebe as famosas cartas enviadas pela Imperatriz Leopoldina e José Bonifácio, dando conta das últimas informações sobre as atas de assembleias das cortes. Por serem relatos das atas, ainda não representavam ordens vindas de Portugal, mas certamente antecipavam a iminente dissolução do Reino do Brasil e a imposição do retorno imediato do Príncipe a Portugal. Em meio a todas as questões internas e externas que exerciam pressão sobre o Príncipe Regente, conhecedor de todos os processos que se desenvolveram nas antigas colônias espanholas a seu tempo, sabendo por José Bonifácio da iminência de uma revolução que ocorreria à revelia de sua vontade caso se submetesse à cortes, D. Pedro possivelmente se viu em um ‘ponto sem retorno’. A Independência do Brasil ocorreria e quanto a isso não haveria remédio. Vejamos as palavras de José Bonifácio em sua carta: “(...) A revolução já está preparada para o dia de sua partida. Se parte, temos a revolução do Brasil contra Portugal, e Portugal, atualmente, não tem recursos para subjugar um levante, que é preparado ocultamente, para não dizer quase visivelmente. Se fica, tem, Vossa Alteza, contra si, o povo de Portugal, a vingança das Cortes, que direi?! Até a deserdação, que dizem já estar combinada. Ministro fiel que arrisquei tudo por minha Pátria e pelo meu Príncipe, servo obedientíssimo do Senhor Dom João VI, que as Cortes têm na mais detestável coação, eu, como Ministro, aconselho a Vossa Alteza que fique e faça do Brasil um reino feliz, separado de Portugal, que é hoje escravo das Cortes despóticas. (...) Fique, é o que todos pedem ao Magnânimo Príncipe, que é Vossa Alteza, para orgulho e felicidade do Brasil. E, se não ficar, correrão rios de sangue, nesta grande e nobre terra, tão querida do seu Real Pai, que já não governa em Portugal, pela opressão das Cortes; nesta terra que tanto estima Vossa Alteza e a quem tanto Vossa Alteza estima.” A pacificação das desordens em Minas Gerais e São Paulo, a recepção de um abaixo assinado contendo mais de oito mil assinaturas (volume extraordinário de adesões voluntárias para a época), os conselhos de Bonifácio e da Imperatriz, a condição de D. João VI em Portugal, a possibilidade de uma revolução interna que poderia conduzir o Brasil ao esfacelamento de seu território, todas as questões ora apresentadas não deixaram a D. Pedro outro caminho que não fosse agir. “O momento não comporta mais delongas ou condescendências” dizia Bonifácio no início de sua carta, e de fato nada mais restaria a fazer senão lançar fora o adorno de fita azul e branca, representativa de Portugal que seguia preso a seu chapéu e bradar aos membros de sua guarda e acompanhantes: “Pelo meu sangue, pela minha honra, pelo meu Deus, juro promover a liberdade do Brasil. Independência ou Morte!”. Estava feita, ainda que de maneira simbólica, mas profundamente representativa, a Independência do Brasil. Refutando as teses que defendem que o processo de Independência do Brasil foi passivo e pacífico, entre 1822 e 1825 ocorreram distúrbios, revoltas e enforcamentos. Bahia, Piauí, Pernambuco, Maranhão e Grão-Pará foram palcos de enfrentamento entre as forças revoltosas locais e as tropas leais a D. Pedro. A independência não se resumiu a um acordo em família e ao pagamento de uma indenização a Portugal. Lutas ocorreram, sangue brasileiro foi derramado e o legado das lutas não pode ser esquecido, mas antes de tudo exaltado. “Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda” é parte de uma poesia de Cecília Meireles. Liberdade não é um lugar de descanso, liberdade é um exercício ao longo do próprio caminho rumo ao futuro. Nosso sonho de liberdade tem sido alimentado e construído há séculos, foi buscado e defendido por muitos brasileiros antes que nós sequer viéssemos a existir. A liberdade que D. Pedro jurou defender, liberdade que uma vez conquistada, tantas vezes foi ameaçada e defendida. Liberdade, palavra tão abrangente que carrega em si múltiplas possibilidades: de pensamento, de expressão, de fé, de ir e vir, enfim, palavra tão atual e mais uma vez ameaçada. “Cadê a nossa liberdade? Eu prefiro morrer do que perder minha liberdade” disse o Presidente Bolsonaro se referindo à imposição de um suposto passaporte vacinal. Nosso Presidente em sua fala já entendera que vida sem liberdade não é vida, é simulacro de morte. Onde está a liberdade sonhada por José Bonifácio e defendida por D. Pedro? O que faremos nós, herdeiros de um legado tão nobre diante de tantas e insanas ameaças às nossas liberdades? O ano de 2022 se apresenta como ‘um ponto sem retorno’, ou defendemos as nossas liberdades ou o fracasso, a corrupção, a dilapidação do erário nacional em nome de uma utopia despótica e castradora será nossa realidade. A liberdade já foi conquistada, mas deve ser continuamente protegida para não ser perdida. A nós não resta outro caminho que não seja agir, pelas vias democráticas, com senso de identidade nacional, com amor e patriotismo, mas agir. Findas todas as possibilidades, não havendo horizonte além da escravidão e da opressão, ainda assim nos restará por divisa “ou ficar a Pátria livre ou morrer pelo Brasil!”. Vivas o Brasil! Salve Sete de Setembro! Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. II N. 18 – ISSN 2764-3867
- Morro do Castelo
Vista do Morro do Castelo, tomada do Palácio de festas, de Augusto Malta - 1922. Em 1904, durante a gestão do prefeito Pereira Passos (1836 – 1913), para a abertura da Avenida Central, a ladeira do Seminário e parte do Morro do Castelo foram destruídas, mas foi entre 1920 e 1922, na administração do engenheiro e prefeito Carlos Sampaio (1861 – 1930), que o morro, considerado um símbolo degradado do passado colonial português, foi demolido, por deliberação do decreto de 17 de agosto de 1920 (Jornal do Brasil, 18 de agosto de 1920, quinta coluna).Ao assumir a prefeitura do Distrito Federal, em 1920, Carlos Sampaio deu continuidade à reforma iniciada por Pereira Passos, alguns anos antes, e, sob a égide da modernidade, assinou o decreto que deliberou o arrasamento do morro. A cidade preparava-se para a Exposição Internacional do Centenário da Independência, em 1922, e no espaço antes ocupado pelo Morro do Castelo ficariam instalados os pavilhões e os palácios da exposição, representando a busca pelo ideal moderno em contraposição ao que era considerado o atraso. Desde meados do século XIX, o Rio de Janeiro enfrentava vários problemas urbanos, como a precariedade de habitações, problemas de abastecimento de água e saneamento, além das epidemias que assolavam a população. A reforma urbana do então prefeito Pereira Passos (1902-1906), nomeado pelo presidente Rodrigues Alves (1902-1906), pretendia modernizar e embelezar a capital, modificando a imagem que se tinha do país no exterior. Imbuída de uma visão higienista, a reforma ampliaria as ruas para uma maior circulação dos ventos e poria fim às habitações populares, consideradas insalubres, como medidas de saneamento e de prevenção de doenças, dentre outras medidas. A remodelação urbana era inspirada na reforma realizada pelo barão Georges-Eugène Haussmann, em Paris, no século XIX, com a construção de largas avenidas, e mudaria completamente a fisionomia da cidade. Um dos símbolos da reforma foi a inauguração da avenida Central (atual Rio Branco), em 1905. Um ano antes, ocorria a primeira demolição de parte do Morro do Castelo, passando a ter como limites os fundos da Biblioteca Nacional e a Escola de Belas Artes. Um dado curioso, na ocasião das obras de abertura da avenida Central, foi a descoberta de uma galeria, pela qual se chegaria a túneis subterrâneos, onde os jesuítas teriam escondido suas riquezas, ao serem expulsos por Marques de Pombal, em 1759, ajudando a alimentar uma crença, que existia há séculos, no imaginário dos habitantes da cidade. Por conta desses rumores, inclusive, causava certo temor à população a possibilidade de demolição do morro, minando a esperança de encontrar algumas dessas riquezas. Os cerca de 4 mil moradores do Morro do Castelo eram trabalhadores e pobres e seriam instalados em inicialmente em barracos na Praça da Bandeira. Máquinas e empréstimos no valor de US$ 12 milhões foram contratados para o arrasamento do morro. Outras obras significativas de Sampaio foram o saneamento e aterro da área em torno da Lagoa Rodrigo de Freitas, a atual avenida Epitácio Pessoa; e a construção da avenida Maracanã. Representando o passado colonial do Rio de Janeiro, o Morro do Castelo faz parte da história de fundação da cidade. Foi onde se estabeleceram seus primeiros habitantes e governadores. Era onde estava a sede de sua primeira catedral, São Sebastião e a sepultura de Estácio de Sá. Havia muitas controvérsias sobre o desmonte do Morro do Castelo, alguns se valiam dos argumentos da falta de higiene e do atraso que representava, e que devia acabar porque desfigurava a cidade carioca. Para outros, significava a destruição da própria memória da cidade. Um dos críticos de seu desmonte foi o escritor Lima Barreto, que escreveu um artigo, na revista Careta, de 28 de agosto de 1920, intitulado Megalomania, no qual chamava atenção para o descaso com a precariedade das habitações da população mais pobre, considerando que, por consequência, deixaria milhões de desabrigados. Havia ainda aqueles que questionavam o contrato firmado com a empresa para a execução do desmonte, que atendia a interesses particulares. A ânsia pela modernidade calou as vozes dissonantes e o morro foi por água abaixo literalmente, destruído por um sistema moderno, à época: os jatos d’água, restando apenas os registros de fotógrafos que testemunharam o arrasamento do morro, sobretudo Augusto Malta, fotógrafo oficial da prefeitura da cidade entre 1903 e 1936, que, por meio de suas lentes, capturou as mudanças do espaço urbano da capital, no início do século XX.











