
MENEZES COSTA
"Com conhecimento se constrói cidadania!"
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- Aparições Marianas e a luta contra o comunismo
Nesta edição iremos abordar sobre as aparições de Nossa Senhora no mundo e no Brasil e relacionar suas mensagens ao alerta contra o avanço do comunismo. Nossa Senhora é uma figura muito importante na religião católica, sendo considerada a mãe de Jesus Cristo e uma intercessora poderosa perante Deus. As aparições marianas são eventos sobrenaturais que ocorrem com certa raridade e têm como objetivo transmitir uma mensagem divina de amor, paz e conversão aos fiéis, e não necessariamente tratar de questões políticas ou ideológicas. No entanto, a Igreja Católica no Brasil, em consonância com o Magistério da Igreja, tem se posicionado de maneira clara e firme contra as ideologias que negam a dignidade humana, a liberdade religiosa e os valores cristãos. Em diversas ocasiões, alguns líderes da Igreja no país alertaram sobre os perigos do comunismo, do socialismo e do marxismo, que já causaram inúmeros males em diversas partes do mundo. Apesar de algumas controversas, oficialmente essa é a posição da Igreja Católica. É importante ressaltar que a Igreja Católica no Brasil e em todo o mundo prega os ensinamentos de Jesus Cristo, que valoriza a dignidade de cada pessoa humana, independentemente de sua condição social, política ou ideológica. Por isso, é fundamental que os fiéis estejam sempre atentos às orientações da Igreja e se esforcem para construir uma sociedade mais justa, fraterna, solidária e com respeito. Oficialmente, existem relatos de aparições de Maria Santíssima em diversas partes do mundo em que Ela alerta sobre os perigos da ideologia comunista e das suas consequências para a humanidade. As aparições marianas mais famosas ocorreram em Fátima, Portugal. Mas existem outras aparições marianas em todo o mundo. Em 1917, três crianças portuguesas (Lúcia, Francisco e Jacinta) afirmaram ter visto a Virgem Maria em uma série de aparições conhecidas como “Nossa Senhora de Fátima”. Durante seis meses, Nossa Senhora apareceu pedindo orações e penitência para a conversão dos pecadores e a paz no mundo. Em uma das aparições, Ela revelou aos crianças o chamado “segredo de Fátima”, que incluía uma visão do inferno e um alerta sobre a propagação do comunismo, os perigos que ele representava para o mundo e a necessidade de consagração da Rússia ao Seu Imaculado Coração. Além disto, suplicava pela conversão dos comunistas. A mensagem de Nossa Senhora de Fátima foi amplamente divulgada e é lembrada por muitos católicos até hoje. “Os erros da Rússia contaminarão o mundo” Em Akita, Japão (1973), Maria alertou à irmã Agne que os fiéis rezassem o rosário pela conversão dos pecadores e pela paz no mundo. As mensagens da Virgem de Akita falava sobre divisões na Igreja e sofrimento, alguns atrelam que era uma mensagem alertando sobre o comunismo que iria se infiltrar na Igreja. Em abril de 1984, o bisco diocesano de Niigata, John Shojiro, aprovou as aparições e em junho de 1988, o então cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, respaldou a decisão. No Brasil, existem vários relatos de aparições marianas que são associados a mensagens de paz, amor, esperança, penitência e conversão, como a de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, padroeira do país. No entanto, não há registros de que Nossa Senhora Aparecida tenha se manifestado especificamente sobre o comunismo ou qualquer outra ideologia política. No entanto, existem outras aparições que foram associadas à condenação do comunismo, um sistema político e social que foi muito debatido no país durante o século XX. É importante salientar que a Igreja Católica é cautelosa ao reconhecer aparições de Nossa Senhora e que nem todas as aparições mencionadas pelos fiéis são oficialmente reconhecidas pela Igreja como autênticas ou como mensagens específicas de condenação ao comunismo. Antes da declaração oficial, a Igreja busca identificar a veracidade das aparições e mensagens através de debates e análises de órgãos competentes (incluindo estudiosos ateus). Dito isso, as aparições de Nossa Senhora no Brasil em que se afirma serem mensagens de condenação ao comunismo são: Campinas, São Paulo (meados de 1930) - A aparição de Nossa Senhora a Irmã Amélia ficou conhecida como Nossa Senhora das Lágrimas. É uma aparição reconhecida pela Igreja Católica. A mensagem da Virgem Maria mostrava preocupação em relação ao comunismo que avançava no Brasil, pedindo orações e conversão. Dois presentes dados a freira foram a medalha milagrosa e a Coroa das Dores de Maria (um rosário). Em 1935, estourou a Intentona Comunista. Pesqueira, Pernambuco (1936) – A aparição de Nossa Senhora das Graças em Pernambuco à duas meninas Maria da Luz (posteriormente Irmã Adélia) e a Maria da Conceição trazia a mensagem: “Minhas filhas, virão tempos calamitosos para o Brasil! Dizei a todo o povo que se aproximam três grandes castigos, se não for feita muita penitência e oração.” Em outra aparição, relatou que o comunismo iria tomar conta de do Brasil, menos no interior, e que jorraria muito sangue. Era uma nova súplica por conversão e combate ao comunismo. Atualmente, a Igreja Católica reconhece essa aparição mariana. Essas aparições marianas refletem as preocupações de Nossa Senhora diante da disseminação do comunismo e suas consequências. Além das aparições marianas mencionadas anteriormente, cabe reforçar que a Igreja Católica, por meio de seus ensinamentos e documentos oficiais, tem se posicionado contrária ao comunismo e outras formas de totalitarismo, por entender que essas ideologias ferem a dignidade humana e a liberdade religiosa. Dois exemplos são: A Encíclica “Divini Redemptoris”, publicada pelo Papa Pio XI em 1937, condena o comunismo como uma ideologia que negava a liberdade religiosa, promovia a desunião através da luta de classes, negava a existência de Deus e da alma humana, e que buscava destruir a família e a propriedade privada. O Papa afirmou que o comunismo era “intrinsecamente perverso” e pediu aos católicos que se opusessem a ele em todas as suas formas. A Encíclica foi um marco importante na história da Igreja Católica e influenciou a forma como muitos católicos em todo o mundo viram o comunismo. Posteriormente, a Encíclica “Centesimus Annus”, publicada pelo Papa João Paulo II em 1991, reafirma a condenação ao comunismo e ao socialismo, destacando que essas ideologias não respeitam a liberdade e a dignidade humana. O comunismo é visto como uma ameaça à liberdade religiosa e aos valores cristãos, e muitos católicos foram encorajados a se opor a ele em todas as suas formas. As mensagens de Nossa Senhora foram uma forma de chamar a atenção para essa questão e de pedir a todos que se mantivessem fiéis à sua fé. Atualmente, as aparições de Nossa Senhora são lembradas por muitos católicos. Elas são consideradas um lembrete da importância de se manter firme na fé e de se opor a sistemas que possam ameaçar os valores cristãos. Além disso, essas aparições também são uma forma de lembrar que a Igreja Católica tem um papel importante na orientação espiritual e moral de seus fiéis. Em resumo, a oposição ao comunismo por líderes religiosos e figuras divinas não é uma novidade. A Igreja Católica, em particular, tem uma longa história de oposição ao comunismo, e essa oposição pode ser vista em ao longo dos séculos. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. II N.º 29 - ISSN 2764-3867
- A solução para qualquer crise é: Um bom e rico fundo de ações!
Por Edson Araujo Primeiro, quero deixar claro que como sempre, não tenho outro objetivo neste artigo, se não, oferecer uma reflexão ao nosso querido leitor. Momentos de crise são comuns e próprios da vida Humana, além de serem sempre baseadas em conflitos as crises têm o tamanho que damos a elas. A semente da crise é sempre o conflito. Mas, o que fazer se os conflitos, assim como as crises, são elementos naturais da vida? Vamos desmistificar os conceitos aqui, tanto de “conflito” como de “crise”. Conflito: Trata-se de um movimento qualquer que não seja seguido de uma resolução (Lembrando que, movimento é qualquer agitação sem objetivo). Ou seja, o que transforma um movimento em ação é o objetivo. Um exemplo de conflito natural é quando inspiramos e não expiramos; se você inspira e não expira você morre e o contrário também e verdade. A crise começa quando você não sabe resolver o conflito e quanto menos qualidade das ações na solução do conflito, maior será a crise. Um autoexame é extremamente necessário para estes momentos que pelo simples fato de não conhecer o básico sobre o conflito, a crise pode ser fatal. Imaginem ainda no exemplo do ciclo da respiração, alguém decide resolver o conflito com um tapa nas costas ou com uma massagem cardíaca? O final será a morte!! Num momento em que a solução seria natural e fácil, basta saber que ação tomar no momento e mais, saber que quem resolve o conflito é sempre aquele que está diretamente envolvido. Mas, o que o “FUNDO DE AÇÕES” tem a ver com o tema? Se pensarmos com a mente dos economistas, pensaremos logo em ações do mercado financeiro ou algo do tipo; mas se pensarmos de maneira ampla, veremos que: “FUNDO”, é uma reserva. “AÇÕES”, são no caso, atitudes. Acho que começa a ficar claro que tipo de ações quero propor neste artigo e que tipo de fundo eu quero que reservem. Mas, onde conseguir formar um bom fundo de ações para os momentos de crise? Há várias maneiras de conseguirmos promover um fundo de ações, uma delas é estudar sobre a natureza humana. Somos humanos e temos que saber que ferramentas usar para termos ações próprias de um ser humano; isso fazemos estudando filosofia, psicologia, entre outros temas… Outra forma é através do autoexame de consciência. Quando temos a humildade de reconhecer nossos pontos fracos e também os fortes, saberemos como e quando usá-los nos momentos de crise. Podemos também nos dedicar a boa música, arte, leitura, sobre tudo dos clássicos. Uma dica: Boas ações são sempre baseadas nas virtudes humanas. Se sou honesto, terei boas ações. Se sou gentil, Cortez, corajoso, ético, disciplinado, se tenho boa vontade, eficiência, eficácia, amor; enfim, se baseio minha vida em valores que remonte o homem que Deus propôs quando nos idealizou, estarei seguro de que meu “Fundo de Ações” é rico e suficiente para administrar os conflitos e evitar as crises, mas caso ela venha, terei base suficiente para dar à ela, uma solução adequada. Podemos começar hoje mesmo montar nosso fundo de ações para que no momento da crise ou se já estamos nela, termos a segurança de que com boas ações terei lucro e serei rico em todos os aspectos da vida. Sugiro que comecemos com a leitura deste artigo, entre outros desta e outas revistas, com conteúdo de alto nível, e assim possamos nutrir nossas mentes com temas elevados. Assim podemos qualificar nossos pensamentos, sentimentos e ações. Conflitos e crises são inexoráveis e imprescindíveis, por isso você não pode evitá-los, pois são fenômenos da natureza. Quanto as ações, sim, estas temos que tê-las com a maior qualidade possível e isto está em nossas mãos, quando nos dedicamos à cultura elevada. Que Deus abençoe nossa jornada! Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. I N.º 01
- A música na oração e a poesia na teologia
Quem canta reza duas vezes, diz um ditado popular. O Rei David salmodiava e louvava Javé tocando harpa e declamando verdadeiros poemas, ora de angústia, ora de alegria, ora de clamor, ora de agradecimento. Quero mostrar a você uma música que reúne melodia adequada para meditar e orar e uma composição cuja letra apresenta traços bíblicos teológicos, com uma elegância e sutileza sem tamanho, pois fala de Jesus Cristo, sem citar seu nome, fala de ressurreição, sem dizê-lo expressamente, relembra os lugares de oração de Jesus, sem perder a poesia. Fala até do juízo final. Estou falando da música O Homem, de Erasmo Carlos e Roberto Carlos. Estariam eles salmodiando para Deus? Reza a canção: Um certo dia um homem esteve aqui/Tinha o olhar mais belo que já existiu/Tinha no cantar uma oração/E no falar a mais linda Canção que já se ouviu/Sua voz falava só de amor/Todo gesto seu era de amor/E paz, Ele trazia no coração Nessas primeiras estrofes eles fazem catequese a partir da visão que um poeta e cancioneiro tem das passagens dos Evangelhos. Nessas estrofes, com sutileza e poesia falam de uma qualidade maravilhosa de Jesus: a compaixão, que consiste em olhar o outro como a si mesmo, colocando-se no lugar do outro para sentir como deve sentir o outro. Isso eles dizem numa frase: “Tinha o olhar mais belo que já existiu”. Era o olhar da compaixão e misericórdia. O “belo” aqui não se refere apenas à estética, mas também à ética; é um “belo” no sentido de expressar compromisso e revelar em atitudes a Verdade, o rosto do Pai. Vejam como um poeta alcança e transmite uma mensagem bíblica e teológica sem citar um único versículo das Escrituras. Em seguida, fazem um trocadilho poético invejável: “Tinha no cantar uma oração E no falar a mais linda canção”. A liberdade poética permite isso e mais ainda, imaginar que Jesus cantava, e que seu canto era oração. Talvez, de fato, Jesus cantasse os Salmos, que eram verdadeiramente orações. Mas, em seguida, transformam a fala, os discursos de Jesus na“mais linda canção que já se ouviu”. A canção, quando boa, atrai, concentra, permite fazermos associações de tempo, lugar e pessoas, em futuras recordações, chegando, às vezes, a ficar na nossa memória o dia inteiro. Assim descrevem esses poetas, os ditos e as falas de Jesus de Nazaré: a fala de Jesus era a mais linda canção que já se ouviu. Conseguem expressar na simplicidade, mas com profundeza teológica, aquilo que Jesus exigiu dos discípulos e que condenava nos fariseus: exigia coerência entre o falar e o agire condenava a hipocrisia. E dizem isso assim: “Sua voz falava só de amor/ Todo gesto seu era de amor /E paz, Ele trazia no coração”. Jesus falava de amor e amava as pessoas do jeito falava do amor: “Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos (...) Pois, se amardes [apenas] aos que vos amam, que recompensa tereis? não fazem os publicanos também o mesmo?”(Mt 5,44-46). E o evangelista João confirma esse amor incondicional de Jesus: “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.” (Jo 13,1) e foi no fim que pregado na cruz injustamente, Ele rezou: "Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo” (Lc 23,34). De fato, como canta Roberto Carlos, “todo gesto seu era de amor”. Mas termina a estrofe: E paz, Ele trazia no coração”. A Paz que Jesus anunciou dizendo “Eu vos dou a paz; a minha paz vos dou. Não a dou como o mundo a dá” (Jo 14,27 ou em Mt 11,29): “Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas”. Essa mansidão própria de quem traz a paz no coração, Erasmo e Roberto perceberam e cantaram em seus versos. Ele pelos campos caminhou Subiu as montanhas e falou do amor maior Fez a luz brilhar na escuridão O sol nascer em cada coração que compreendeu. Campos e montanhas. Jesus caminhou pelos campos, pelo deserto, pelas montanhas. Por isso seus seguidores eram chamados de “os do Caminho” (At, 9,2) e só mais tarde em Antioquia foram chamados de cristãos (AT 11,16). Nos campos, como em Lc 6,1 e principalmente nas Montanhas (Mt 4,8; Mt 5; Mt 17) dentre tantos exemplos, Jesus costumava ir e levar seus discípulos para momentos de oração e pregação. A última tentação aconteceu numa montanha; as bem-aventuranças foram pronunciadas numa montanha; numa montanha foram multiplicados os pães, e, no fim do Evangelho, quando os discípulos encontram o Ressuscitado e são enviados para o mundo inteiro, encontram-se na montanha, Monte Tabor. Tudo isso foi percebido pelos autores desta canção. “Fez a luz brilhar na escuridão, O sol nascer em cada coração que compreendeu.” É assim o final dessa estrofe. Isto é uma leitura de Jo 4,5: “Nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens.O logos se fez carne, era vida, vida plena e eterna. Só Ele era a verdadeira luz que poderia nos retirar das trevas do pecado e do erro. O sol é o Cristo, que nasce dentro de cada um, que aquece nossa alma e ilumina nossos passos. Uma frase numa música sendo capaz de fazer catequese cristã. Diz a estrofe que esse Homem fez o sol nascer em cada coração que compreendeu. Compreendeu o quê? Responde a estrofe seguinte: “Que além da vida que se tem Existe uma outra vida além e assim O renascer, morrer não é o fim”. Poetas falando sobre a vida depois da morte, falando da ressurreição. “Morrer não é o fim”, diz a letra da música. “Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá”; “Não fiquem admirados com isto, pois está chegando a hora em que todos os que estiverem nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão; os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão para ser condenados”. São palavras de Jesus narradas no evangelho segundo são João. Morrer pode ser o começo de uma vida eterna na sombra do amor de Deus, na presença da Trindade, de Nossa Senhora e de todos os santos que estão em comunhão entre si e conosco. Ou o começo de uma morte eterna, para aqueles que ressuscitarão para o julgamento final, e poderão ficar eternamente afastados do amor de Deus, no inferno. A frase da estrofe da música, morrer não é o fim, é um alerta de esperança na ressurreição, mas também de admoestação para o perigo do inferno, como a própria música explicará em linguagem poética mais adiante. Tudo que aqui Ele deixou/ Não passou e vai sempre existir/ Flores nos lugares que pisou/ E o caminho certo pra seguir. As duas primeiras frases podem ser lidas biblicamente da seguinte maneira: “Os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão” (Mt 24,35) . Ou nas palavras do profeta Isaías:“Assim será a Palavra que sair da minha boca, não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei”(Isaías 55,11). A vida encarnada é passageira. Tudo passará e terminará. Somente as Palavras, os ensinamentos e promessas de Jesus serão eternas. Por isso, “Tudo que aqui Ele deixou/Não passou e vai sempre existir/, diz a música com sabedoria. Mas um outro elemento teológico é apresentado na música: o dever de gratidão e de honrar a Deus Trinitário. É nosso dever darmos graças para nossa salvação, em todo tempo e lugar, afirma o Prefácio das Orações Eucarísticas, na liturgia da santa Missa. Isso é reconhecido pelos cancioneiros quando afirmam: “Flores nos lugares que pisou, eo caminho certo pra seguir”. Os lugares por onde Jesus passou se tornaram lugares santos, de tal modo que as primeiras liturgias e ritos da Igreja levaram esse fato em consideração e respeito, como consta da Liturgia de São Tiago: “Oferecemos-te ó Senhor, por teus santos lugares, que glorificaste com aparições divinas de teu Cristo e pela vinda do teu Espírito Santo, especialmente a santa e gloriosa Sião, mãe de todas as Igrejas” (Sião, na linguagem cristã originária, referia-se sempre à Igreja local de Jerusalém). Daí um aspecto teológico, litúrgico e eclesial presente numa frase da música de Erasmo e Roberto Carlos, o dever de louvar e agradecer, simbolizado na frase “flores nos lugares que pisou”. Depois eles cantam: ‘Eu sei que Ele um dia vai voltar E nos mesmos campos procurar o que plantou; E colher o que de bom nasceu, Chorar pela semente que morreu sem florescer”. Nessa estrofe encontramos uma riqueza teológica. Erasmo e Roberto Carlos declaram acreditar na parusia, na segunda e gloriosa vinda de Jesus. Eles começam a música afirmando que “Um certo dia um homem esteve aqui”. E nas estrofes finais eles cantam: “Eu sei que Ele um dia vai voltar e nos mesmos campos procurar o que plantou”. Estão reconhecendo a segunda vinda de Jesus e mais, ainda, afirmando que haverá um juízo, um julgamento final (procurar o que plantou!). De forma poética ele nos faz lembrar a parábola do Juízo Final em Mt 25,31-46: “Todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! Pois eu estava com fome e me destes de comer, eu estava com sede e me destes de beber, eu era estrangeiro e me recebestes em casa; eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar’”. Vejam que maravilha, numa estrofe de poucas palavras eles recordam 15 versículos do evangelho de Jesus e afirmam a convicção e crença no retorno de Jesus (sempre sem citar qualquer nome): “Eu sei que Ele um dia vai voltar”. E quando voltar, diz a música, “e nos mesmos campos procurar o que plantou”. Vai procurar os “frutos que plantou”, e como na parábola do joio e do trigo – Mt 13,24-30 – e na parábola do Juízo Final, vai “colher os bons frutos” e queimar os frutos ruins, separar as ovelhas dos cabritos, num juízo feito a partir da avaliação de nossas obras de fé, pois quem tem fé tem obras para mostrar. Quem não tem obras para apresentar, vai para a esquerda de Deus Pai, ao lado dos “cabritos”, ao caminho do inferno. As sementes que não frutificaram (Mc 4-1-20) serão arrancadas, com muita dor, pois Jesus não tem nenhum prazer em ver um pecador condenado, não arrependido. Por isso, com razão na letra da música, se afirma que ele vai “Chorar pela semente que morreu sem florescer”, porque a vontade de Jesus é a mesma do Pai: que todos sejamos santos, como ele O é. O projeto de Deus é a salvação para todos, e cada vez que perde um de seus filhos, o céu inteiro chora. Por derradeiro, dizem os autores dessa maravilhosa canção: Mas ainda há tempo de plantar Fazer dentro de si a flor do bem crescer Pra Lhe entregar quando Ele aqui chegar Enquanto há vida, a chance de arrependimento e de mudança (metanoia) de comportamento. É sempre tempo de conversão. A conversão nos leva ao caminho da misericórdia e do perdão. Do contrário, sairemos do poder da graça e nos submeteremos ao julgamento de justiça. Ainda dá tempo de plantar a semente do bem, canta a melodia. Podemos mudar interiormente, fazendo crescer no nosso coração “a flor do bem”, e contribuir para o Reino de Deus ainda na terra (do agora para o ainda não escatológico). Ainda dá tempo de seguir o caminho das flores, seguindo os passos de Jesus:“Flores nos lugares que pisou, e o caminho certo pra seguir”. Não entenda que o caminho será um caminho exclusivo de flores. Espinhos, pedras e cruz teremos pelo caminho. O “caminho das flores” significa os ensinamentos de Jesus Cristo que devemos seguir. Flores como metáfora das Palavras deixadas por Cristo. Por isso, caminho certo a seguir. Reflita isso nessa Quaresma. Ainda dá tempo de plantar a flor do bem! Que Deus tenha acolhido Erasmo e abençoe a vida de Roberto, para uns, ridicularizado, e para outros, eterno Rei da música brasileira. Ouça a música Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. II N.º 28
- As cigarras, Esopo e a Democracia
O rei dos lídios, Creso, aumentava progressivamente sua força opressora sobre o povo de Samos, pretendia escravizá-los, para aumentar sua própria fortuna, através da usurpação dos frutos do trabalho deles. Esopo, escravo recém-liberto em razão de um de seus brilhantes prodígios, era respeitadíssimo pela população, conhecido pelo seu bom senso e pelo exercício da parrésia, cumprimento do direito/dever de dizer a verdade em favor do bem de todos. Um dia, o arauto anunciou, aos habitantes da cidade, que deveriam pagar pesados impostos ao rei, e se não o fizessem sentiriam o peso das armas. O povo já estava prestes a aceitar o jugo, quando Esopo disse: a sorte apresenta dois caminhos ao homem: o da liberdade, sofrido no início e prazeroso depois; e o da escravidão, fácil no início mas humilhante e insuportável depois. A população imediatamente se recusou ao recolhimento do imposto e Esopo foi à presença do rei, apontado como responsável pela reação popular. Ao vê-lo, tão franzino e tão simplesmente trajado, Creso disse: mas é esta a criatura que faz com que todos se oponham à minha vontade? Esopo pediu permissão para falar e contou-lhe que um agricultor estava apanhando gafanhotos, para matá-los, quando entre eles viu, em suas mãos, uma cigarra. Já estava pronto para esmagá-la, junto com os outros insetos, quando ela falou: que te fiz? Não como teu trigo, não te faço dano algum e só tenho a voz da qual me sirvo da forma mais autêntica possível. Ó grande rei, acrescentou Esopo, assemelho-me a esta cigarra, de meu só possuo a voz e dela não me servi para ofendê-lo, apenas para garantir a liberdade do povo! O rei o mandou seguir em liberdade e deixou em paz o povo de Samos. Ao que se entende, ao defender o direito de falar a verdade do que lhe parece justo, Esopo reclamou o próprio direito de existir tal como é, direito de expressar a sua própria essência em favor do bem de todos. Seu comportamento reflete o sentido real do termo parrésia: dizer a sua verdade para edificação do bem-estar público e agir de acordo com ela. É o direito/dever do indivíduo ser autêntico, simples tal como a verdade. Surpreendentemente, nada intimida mais do que a verdade. As constituições estabelecem competências, criam instituições e cargos públicos para fazerem o papel da cigarra, serem parresiastas, dizerem a verdade em favor do bem de todos, e agirem lealmente aos fins para os quais foram instituídas. Entidades públicas são instrumentos democráticos destinados a refrear o abuso do poder, perpetrado por interesses de burla do sistema normativo, os quais pretendem submeter a Administração ao serviço de interesses particulares, em prejuízo do bem de todos. Estes favorecimentos atropelam o sistema normativo e corrompem o funcionamento das instituições com voluntarismos. O favorecimento individual concretiza abusos e desvios de finalidade do poder e destrói a sustentabilidade do Estado porque institucionaliza a injustiça. Sem justiça não há paz, sem paz a sociedade não floresce. Sem retribuições justas, ao mérito e ao demérito, a democracia tende a tornar-se progressivamente mais ineficiente e perde o suporte de sua existência. Para haver Democracia, as instituições e os agentes públicos precisam ser autênticos, verdadeiramente aplicar o sistema normativo para aprimoramento do bem comum. O enfraquecimento da parrésia, direito/dever de dizer a verdade e de agir legalmente de acordo com ela, fragiliza a Democracia, esta perde vitalidade, porque corrompe-se a atividade política. Nesta situação, o poder político, em todas as instâncias, perde a justa causa de sua existência: aprimorar o bem de todos. Isto ocorre por causa, sobretudo, do apequenamento dos valores constitucionais de justiça e verdade. A consequência direta disto é o descrédito popular dos agentes públicos, do Estado e o retorno aos abusos que tanto espezinharam o povo de Samos. Ocorre que a parrésia se fortalece com a prática. O silêncio e a omissão alimentam os voluntarismos político/administrativos e os desvios de finalidade do poder, escravizam o povo. Por isso, a maior traição à Democracia é o silêncio de quem tem o dever de fala, é a omissão de quem tem o dever de ação, é a postura favorável de quem é pago pelo Estado para fazer oposição. A ruptura do silêncio com a expressão da verdade é instrumento de desarticulação da corrupção. Quanto maior e mais longo o silêncio, maior o custo individual da parrésia, entretanto, sem ela não existe força normativa capaz de fazer, da Democracia formal, uma realidade material. Para que haja Democracia real, todos precisamos seguir a recomendação que foi feita Creso, o rei da antiguidade, precisamos distinguir os gafanhotos das cigarras e as cigarras precisam cantar forte, em uníssono. Esopo viveu na idade antiga, no Sec. VII a. C., no tempo em que a falta de percepção da identidade essencial do homem, feito a semelhança de Deus, impunha, a muitos, a condição de escravos. Hoje, se diz que vivemos nas Democracias, que somos cidadãos e somos livres, mas paira no ar a estranha sensação de que Esopo continua sendo tão necessário quanto foi para o povo de Samos. Ocorre que, atualmente, talvez, Esopo, sozinho, não conseguisse levantar o jugo que fere de morte a dignidade do povo. É que a ordem de Creso era de morte aos gafanhotos mas, no reino de hoje, a ordem é morte às cigarras. Deus nos ajude! Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. I N.º 08
- A lentilha e a picanha
E o preço de vender a alma “Tinha Jacó feito um cozinhado, quando, esmorecido, veio do campo Esaú. E lhe disse: Peço-te que me deixes comer um pouco desse cozinhado vermelho, pois estou esmorecido. Daí a chamar-se Edom. Disse Jacó: VENDE-ME PRIMEIRO O TEU DIREITO DE PRIMOGENITURA. Ele respondeu: Estou a ponto de morrer; DE QUE ME APROVEITARÁ O DIREITO DE PRIMOGENITURA? Então disse Jacó: Jura-me primeiro. ELE JUROU E VENDEU O SEU DIREITO DE PRIMOGENITURA A JACÓ. Deu, pois, Jacó a Esaú pão e o cozinhado de lentilhas; ele comeu e bebeu, levantou-se e saiu. Assim, desprezou Esaú o seu direito de primogenitura.” (Gênesis 25.29-34) Os pais hebreus tinham por costume abençoar o filho mais velho antes de falecer. Esta bênção era a maior herança que o primogênito poderia receber, inclusive muito mais importante do que dinheiro ou bens que recebesse como herança. A bênção patriarcal era o que norteava a vida daquele filho por toda sua vida, e ele deveria transmiti-la para seu descendente. Esaú não estava pensando no amanhã, mas em apenas saciar sua fome naquele momento. Quantos não agem assim nos dias de hoje? Vivemos em um mundo onde cada vez mais o imediatismo se faz presente; o clássico “Os Dez Mandamentos”, de 1956, seria execrado nos dias de hoje simplesmente por ter mais de três horas de duração. Afinal, se um vídeo dura mais de 1 minuto é considerado “filme” por esta geração tik toker, e áudios dessa proporção são considerados podcasts. Contudo, como aquele velho e conhecido refrão, “O apressado come cru”. Há quem leia a história de Esaú e pense “Meu Deus, que tolo! Como ele trocou algo bom por comida?? Ele não ia sentir fome de novo depois?? A benção era eterna!!”. Pois bem, estes mesmos são aqueles que trocam o certo pelo duvidoso, e que nas eleições, trocaram a certeza de crescimento econômico por “picanha”. Paulo Guedes, exímio especialista em Economia, conseguiu colocar o Brasil nos trilhos novamente. Infelizmente, ainda havia muito o que fazer, pois a máquina pública brasileira é enorme; fora o fato de que enfrentamos pandemia e guerra. Porém, mesmo com todas as adversidades, o país se saiu melhor que muitos que conhecemos ser de primeiro mundo. Isso porque Guedes é a experiência encarnada, alguém que sabe do que fala e entende das consequências de uma economia concentrada no Estado. Contudo, de maneira geral, o brasileiro é um ser imediatista; e a falta de instrução política adequada fez com que o povo pensasse que Jair Bolsonaro não fez nada esses quatro anos de mandato. Então, Lula (o encantador de serpentes, como diz Ciro Gomes) seduz este povo com um discurso: “Se eu for eleito, você vai voltar a comer picanha e tomar sua cervejinha!” Mas oras, nesses quatro anos o brasileiro trabalhador não comeu? Como carioca, sei que em quase todo jogo do Flamengo o churrasquinho e a bebida estão presentes (e olha que sou tricolor!). É só aparecer um feriado para que, no dia anterior, os supermercados estejam lotados de homens (que quase nunca tem paciência de enfrentar filas para fazer compras com suas esposas) empurrando carrinhos lotados de lotes de cerveja e carne para, no dia seguinte, reunirem amigos e família para comer. Contudo, o discurso imediatista, fácil e que satisfaz a alma agrada aos ouvidos. De onde virá o dinheiro para a tal picanha? Não sei, mas sei que vai ter; de onde virá o recurso para aumentar o salário mínimo? Não sei, mas sei que vai ter aumento; quem vai pagar a conta de aumento de ministérios para trinta e três? Não sei, mas tem que ter o tal Ministério da Igualdade Racial, dos Povos Indígenas, da Cultura. E assim seguem pensando apenas no agora, e nunca nas consequências desses atos. Quem “fez o L” na esperança de comer picanha, lamento, mas ela ficará só na imaginação: é porque a tal picanha era uma METÁFORA (figura de linguagem que produz sentidos figurados por meio de comparações): “Já pensou ter que explicar para um marmanjo de quase 30 anos que ‘picanha e cerveja’ é uma metáfora? Que não é sobre beber e comer churrasco, é sobre o pobre voltar a comer bem, ter poder de compra e lazer. É sobre o próximo parar de comprar osso ou procurar comida no lixo” Mas, agora já era: a alma já foi vendida; e tal qual Esaú, o povo brasileiro perdeu a bênção de continuar com uma gestão equilibrada, sensata, que não prometia tudo, mas que cumpria tudo o que prometia. E esse discurso de inchaço da máquina pública já está cobrando (e com juros) o seu preço: A bolsa de São Paulo fechou em queda e o dólar subiu nesta quinta-feira (10), após declarações de Lula, que alimentaram temores sobre o aumento sem controle dos gastos públicos. Mas, cadê Armínio Fraga? Onde está Elena Landau? E Meirelles? Eles não fizeram o L? Por que eles não estão felizes com isso? Ah, eles foram os que venderam sua alma por um prato de lentilha... ops! Por um espetinho de picanha! O Ibovespa, principal índice da Bolsa de São Paulo, fechou em queda de 3,61%, em uma sessão que chegou a operar em baixa de mais de 4%. Enquanto isso, o dólar comercial chegou a R$ 5,39, em alta de 4,10%, a maior desde março de 2020, segundo o jornal Valor Econômico. Contudo, no momento em que o mercado está gritando por socorro, eis que Lula solta esta pérola: “Nunca vi um mercado tão sensível como o nosso. É engraçado que esse mercado não ficou nervoso com quatro anos do [governo] Bolsonaro” Será que esta instabilidade não se deve ao fato de que sem um firme fundamento econômico qualquer país se torna um risco para investidores? Ah, mas não ia ter picanha? E a cerveja? Ah, então está tudo certo, né? A vida de Esaú foi conturbada até o fim, e seus descendentes (os edomitas) tornaram-se, mais à frente, inimigos do povo de Israel, ou seja, dos filhos de Jacó. E tudo começou com um prato de lentilhas, aparentemente saboroso, mas que custou um preço alto demais. Infelizmente, mais de sessenta milhões de brasileiros fizeram o mesmo ao elegerem quem lhes prometeu algo que nunca se cumprirá. Esaú, ao menos, pôde comer. A picanha de quem fez o L, porém, ficará apenas na imaginação. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. I N.º 23
- Marylin
Assisti ao filme Blonde, estrelado por Ana de Armas, que vive Marilyn Monroe. Apesar de ser deprimente, sob diversos aspectos, como foi a própria vida da modelo e atriz, a película me fez refletir sobre muitos dos temas que ali são abordados. Filha de uma corista do cinema com pai desconhecido, a menina foi criada em um orfanato, após a mãe ter sido internada em um sanatório, diagnosticada com esquizofrenia. Foi casada com Joe Di Maggio e Arthur Miller, amante do Presidente J. F. Kennedy, viveu um romance com Charles Chaplin Jr… enfim, uma vida cheia de emoções. Com uma trajetória recheada de ausências e carências afetivas (passou a vida em busca de um pai), Norma Jean (seu nome de batismo) não gostava de ser confundida com a personagem que criou. Entretanto, não conseguiu desenvolver uma personalidade e uma identidade própria, que permitissem que fugisse do estereótipo da loira gostosa, tampouco que se mantivesse distante de relações abusivas. O despreparo de Marilyn fez com que o sucesso meteórico causasse-lhe muito mal, e a estrela passou a vida toda considerando-se uma fraude, não merecedora da fama, da atenção e dos elogios que recebia. Queria ser Norma Jean. Mas, quem era, afinal, essa moça? Marilyn não tinha resposta para tal pergunta. O filme é péssimo, sob diversos aspectos. Mostra cenas de aborto, que nunca confirmados na vida real, diálogos com voz infantil, caricaturas da imprensa, divagações de Marilyn... Aliás, é de extremo mau gosto e repleto de vulgaridades, tentando criar uma aura angelical e frágil para a personagem, que teria sido explorada, usada e abusada pelos homens, o que não é, em absoluto, a verdade dos fatos. Esta é apenas mais uma dessas releituras de obras feministas (o filme é baseado no tendencioso livro de Joyce Carol Oates), que faz questão de apresentar Marilyn como uma vítima do machismo e dos homens, de modo geral. Marilyn esteve longe disso. Afinal, fez o que quis, escolheu seus papéis, posou nua logo no início de sua carreira, desfrutou de sua liberdade sexual e valeu-se de sua autonomia financeira. Evidentemente, foi julgada, pelos padrões morais da época, como era de se esperar. O fato de ter se tornado dependente de álcool e medicamentos, também ajudou a manchar a imagem da atriz, que frequentemente foi vista em público drogada e bêbada. O que salta aos olhos, e que já me chamava a atenção na biografia da atriz, é a imagem de ingenuidade que o filme busca passar. A própria Marilyn alimentou tal imagem. Chamava seus parceiros afetivos de Daddy, possuía uma voz doce e baixa, não contrariava quem quer que fosse. Acusada de ter se valido de seus dotes físicos para subir na carreira, soube capitalizar sua imagem e a fama, e ganhou bastante dinheiro. Teve condutas de caráter duvidoso, e após tornar-se dependente de drogas, passou a descontrolar-se em público e nos estúdios. Sobretudo, a mensagem que este filme de quinta categoria me deixou, foi a de que, quando a bonança, o sucesso, o poder e o dinheiro chegam em nossas vidas, precisamos estar prontos. Tudo que pode ser bom, pode, se mal utilizado, ser nossa ruína. Toda moeda tem duas faces. Como disse em meu artigo do fim do ano, White Lotus, fama e fortuna, poder e sucesso, deveriam vir não para quem os persegue implacavelmente, mas para os que farão bom uso destas ferramentas. Porque, no final das contas, deveriam ser isso: tão somente ferramentas, para a evolução pessoal, o impacto positivo na sociedade e o suporte financeiro de quem amamos. Todas as vezes em que essas conquistas são utilizadas para vaidade pessoal, para o alcance de status e a submissão dos outros às nossas vontades, o que se vê é um rastro de destruição e dor. O filme sobre a vida de Marylin é um retrato disso. Uma vida desperdiçada, que poderia ter sido utilizada para coisas nobres e para deixar um legado. E que legado seria esse? Não seria, a toda evidência, o de sex simbol, que ficou colado na imagem da atriz. Descolar-se do personagem, construir uma trajetória baseada em valores sólidos, ter a noção da necessidade de se ter um propósito de vida, e das imperfeições que precisamos superar, a cada dia, não é uma missão fácil. Esta exige renúncias pessoais, evolução da personalidade, autodomínio, para a evitação dos vícios e excessos, o controle do temperamento, o foco em um bem maior… Mas, somente o amadurecimento da personalidade pode trazer-nos as conquistas e as recompensas de que merecemos desfrutar, como seres humanos. A vida madura é solitária. É mais contida. É mais densa e profunda. Mas é mais repleta daqueles bens e riquezas, que nos deixam mais próximos de Deus. Marilyn queria ser aceita e amada. Em troca disso, usou a fama e o dinheiro, teve muitos romances, prostituiu sua personalidade, em busca deste reconhecimento. Pagou um preço alto, tirando a própria vida. Uma vida que poderia ter sido vivida de modo completamente diverso, caso houvesse sentido, propósito e senso de pertencimento, que só há para aqueles que aqui estão, com a clareza de sua missão. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. II N.º 27
- A Era da Loucura: Pão e Circo
Durante anos de construção, o cristianismo passou por muitas fases. Costumo dizer que a Igreja Católica é um abrigo de muitas crenças: franciscanos, carmelitas, carismáticos e muitas outras. Vivi o suficiente para dizer que a Igreja se reinventou para conquistar, mesmo pregando que não deve mudar mas o mundo que precisa abraçar a cruz… Na prática, não é assim que funciona, a Igreja escolheu agregar pluralismo do que perder mais “uma alma”. Contudo, se por um lado seu “modus operandi” aparenta uma filosofia altruísta, por outro, pode nos trazer consequências avassaladora se não acontecer respeitando seus pilares de fé: Sagrada Escritura, Tradição e Magistério. O senso comum nos ensina que ao procurarmos agradar a todos, não agradamos a ninguém. “ O falso se dá bem com todo mundo, o verdadeiro não” (Freeman, M). Vale reforçar que, católico ou não, todo cristão é chamado a ser o sal no mundo. Nós somos convidados a dar o verdadeiro gosto a vida, e esse tempero é o próprio Cristo. Evidentemente, não devemos como bons cristãos deixar de acolher mas precisamos entender que o Evangelho é para aquele que deseja o seguir. A busca por Deus não é algo fácil, precisa de abdicação e coragem, como o apóstolo Paulo nos exorta: "mantenham-se firmes, cingindo-se com o cinto da verdade, vestindo a couraça da justiça. (Ef 6, 14). Entretanto, quando não conhecemos a verdade, temos a tendência de criticá-la. Como diria Maurício Lobato “quem mal lê, mal ouve, mal fala e mal vê”. Toda história é a versão de quem conta e algumas vezes distante daquilo que aconteceu. Ou ainda, contada de modo a atender certos interesses. Certamente quando nos rodeamos de amigos ou nem tão amigos com visões distintas, ampliamos nosso campo de visão e passamos a compreender diferentes pontos de vista. Contudo, se não colocarmos nossa razão à luz da sabedoria divina estaremos apenas diante da vã filosofia dos homens. Isso porque a verdade de um, pode não ser a verdade do outro. E mesmo refutando as ideias concebidas pelo senhor Leonardo Boff, preciso concordar que “todo ponto de vista é a vista de um ponto”. Aliás, neste quesito a Palavra de Deus nos mostra que relativizar a verdade é uma heresia, pois a verdade divina é única. Mas essa conversa ficará para um próximo artigo. Como sal do mundo, além de darmos sabor a vida também somos chamados a preservá-la. Então, não podemos nos fechar em nosso “mundinho”, ou pior, optar pela autossabotagem. Isso porque colocaríamos nossa sociedade em degradação. Sintetizando, não temos a escolha de sermos preguiçosos e não buscar pela verdade. Deste modo, somos constantemente chamados a adquirir conhecimento, criar discernimento e ter sabedoria mas essa missão é árdua. Necessita de dedicação e comprometimento. Se formos negligentes, omissos ou desistentes ficaremos a mercê daqueles que detém a informação porque optamos por deixar outro alguém pensar e definir por nós em que podemos ousar acreditar. Infelizmente, parece que perdemos completamente a capacidade de defender nossos argumentos, é mais fácil “cancelar”, “bloquear”, “deixar de seguir”… Nos tornamos uma sociedade das interações superficiais. Que acredita em tudo que se diz, que é fácil de ser enganada, manipulada... Não podemos nos permitir ser meras marionetes do sistema. Uma frase atribuída a Shakespeare diz que “sempre é tempo da peste, quando são os loucos que guiam os cegos”. E parece que justamente estamos vivendo a “Era da Loucura: Pão e Circo”. Alguns meses atrás, me deparei com um site que se define como uma plataforma que busca combater a desinformação. Entretanto, um pouco diferente dos serviços que costumamos nos deparar, esse site específico é um caçador de informações nas redes sociais públicas. Funciona do seguinte modo, salva as informações coletadas em sua base de dados e fornece esse serviço para agentes públicos ou até mesmo empresas privadas. Uma espécie de vigilantes de mensagens e compartilhamentos de informações “públicas” com a missão de salvar a internet das chamadas “fake news”. Serviços desse tipo crescem constante mente porque as pessoas não querem perder tempo para pensar ou pesquisar. Então, fica bem mais fácil alguém “já se dar a esse trabalho, né?” Obviamente, não. Não existe almoço grátis e ninguém faz isso porque é bonzinho. Escolher ser “isentão” em um sociedade tão louca pode ser muito conveniente e trazer até alguma paz. Mas se fazemos isso em nossa vida pessoal, será que não estamos permitindo nossa fé também ficar morna? Lembrando que no livro de Apocalipse somos advertidos “seja quente ou seja frio. Não seja morno, senão te vomito” (Ap 3, 16). Não estou dizendo para ninguém subir ao monte e sair gritando aos quatro cantos do Universo a ponto de perder a cabeça na guilhotina (não é uso de linguagem) mas que façamos nossa reflexão espiritual para entendermos nosso papel no mundo. Será que nesse momento, Deus precisa de um Pedro recolhido e escondido ou de um Pedro preso, perseguido, torturado e crucificado de ponta cabeça? Repito como mencionado no artigo anterior , precisamos de cautela. Mas é necessário identificar quem queremos ser e o que desejamos alcançar nesse e no outro mundo. Portanto, “enquanto a verdade estiver amordaçada, a mentira sequestrará o mundo” (autoria desconhecida), pois “nenhuma quantidade de evidência irá persuadir um idiota” (Mark Twain, escritor EUA). Afinal, “geralmente é inútil tentar apresentar os fatos e análises para pessoas que desfrutam de um senso de superioridade moral em razão da sua ignorância” (Sowell, T). Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. II N.º 27
- Por que acontecem tantos males no mundo?
Certa vez minha mãe me confidenciou algo que não entendia: “Por que ainda existem tantas pessoas passando fome no mundo? Por que ainda existem guerras, pessoas morrendo? Não existe a ONU, Unesco, Unicef, todas essas instituições? Então por que tudo permanece como está?” À época eu não tinha o conhecimento que possuo hoje, então não tive uma resposta para dar. Porém, a mesma dúvida de minha mãe era a minha, e de certo, é a de muitas pessoas. A Organização das Nações Unidas foi criada em 1945, em substituição à Liga das Nações, logo após a Segunda Guerra Mundial. É formada por subdivisões que tratam de assuntos mais específicos, como Unesco (Educação e Cultura), OMS (Saúde) e a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura). Com pastas variadas para tratar de assuntos tão importantes, não seria lógico que os problemas fossem amenizados ao invés de piorarem? O que a maioria não sabe é que a ONU não foi criada para resolver problemas: ela é o problema. E nas linhas a seguir tratarei de explicar as razões. Para começar, desde os primórdios da criação da organização, os secretários-gerais são ligados à ala progressista. O escritor David Allen Rivera, em sua obra “Final warning” explica: “Trygve Lie, o primeiro secretário-geral oficial da ONU, foi membro elevado do Partido Trabalhista Social Democrático da Noruega, uma espécie de ramificação da Terceira Comunista Internacional. Dag Hammarmskjold, o segundo secretário-geral, foi um socialista sueco, que abertamente defendia políticos comunistas, e U Thant, o terceiro secretário-geral-, era marxista.” Este último, U Thant, defendia uma nova ordem mundial para a “sobrevivência da humanidade”: “Os federalistas mundiais têm diante de nós a visão de uma humanidade unificada vivendo em paz sob uma ordem mundial justa. O coração de seu programa – um mundo sob a lei - é realista e alcançável.” (citado por Tom Hudgens na obra “Let’s abolish war”) “Pela primeira vez na história da humanidade, nos encontramos presos em uma crise mundial crescente que engloba tanto os países desenvolvidos quanto os países em via de desenvolvimento (...)Torna-se evidente que se as tendências atuais se prolongarem, a vida na Terra poderá estar ameaçada.” Uma das “tendências” a que Thant se refere é a “superpopulação”. Desde os primeiros relatórios e conferências acerca do meio ambiente (chancelados pela ONU), o objetivo era explanar ao mundo que a “superpopulação” seria uma das principais causas do desequilíbrio ambiental. E para diminuir o índice populacional, a elite mundial não tem vergonha alguma de dizer que é necessário matar para atingir tal “equilíbrio”. “Nenhum objetivo é mais crucial do que este (redução populacional) para remediar a crise ambiental (...)” (Relatório “Limite ao crescimento”, produzido pelo Clube de Roma) Eis o que Jacques Yves Cousteau, cineasta, oceanógrafo e inventor, disse em uma entrevista para a revista mensal da Unesco, “Unesco Courrier”, em novembro de 1991: “Todo mundo está convencido disto: o crescimento da população não pode continuar assim, anarquicamente, de um modo canceroso (...) é terrível dizer. Mas é preciso que a população mundial se estabilize, e para isso será necessário eliminar 350.000 homens por dia.” O escritor Pascal Bernardin, em sua magnífica obra “O Império ecológico”, tenta responder àquela pergunta do início do artigo: “O mito da superpopulação facilita, então, os caminhos tomados pelos demônios dos quais a humanidade não tem aprendido a se defender: aborto, eugenia e eutanásia” E nesta lista, incluo a fome. Em 2008, o professor do Departamento de Ciência Política da Universidade do Havaí, George Kent, publicou um artigo interessante no site oficial da ONU, intitulado “Os benefícios da fome mundial”. Eis como o dito professor inicia sua dissertação: “Às vezes falamos da fome no mundo como se fosse um flagelo que todos queremos ver abolido, encarando-a como comparável à peste ou à sida. Mas essa visão ingênua nos impede de entender o que causa e sustenta a fome. A fome tem um grande valor positivo para muitas pessoas. Na verdade, é fundamental para o funcionamento da economia mundial. As pessoas famintas são as mais produtivas, especialmente onde há necessidade de trabalho manual.” E por que este artigo é interessante? Porque ele, assim como a citação de Pascal Bernardin, responde ao questionamento que abre este artigo: não há interesse por parte da ONU e de seus tentáculos em acabar, ou ao menos, amenizar problemas tão graves. Por conta da ambição de uma elite globalista por controle social e populacional, há interesse em manter (e piorar!) situações que ocorrem no mundo. O artigo em questão foi apagado recentemente, pois foi descoberto e difundido em mídias conservadoras. Porém, a organização alegou que o mesmo era um texto “satírico”, uma piada, e que foi apagado por ter sido levado à sério demais. Bom, tratando-se da ONU e de seus afiliados, não é surpresa. Afinal, a única coisa que levam a sério são seus planos de dominação. Pascal demonstra que o homem, a criação prima de Deus, foi rebaixado a um ser coadjuvante sem importância, sem personalidade, sem alma: “Não é mais o homem, criado à imagem de Deus, que se deve defender, mas a Terra, Gaia, a Natureza, as árvores e os animais. Tanto isso é verdade que o homem, abandonado à sua natureza ferida, torna-se facilmente um joguete de forças infernais.” Hoje posso responder à pergunta feita por minha mãe: a fome e outros males permanecem em plena atividade porque eles contribuem para um plano diabólico de dominação que visa destruir o ser humano e beneficiar a elite globalista, que se coloca como dona do mundo e única sociedade que tem direito de viver plenamente. O que chamam de teoria da conspiração acontece debaixo dos nossos narizes. Só não vê quem se recusa a enxergar. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. I N.º 15
- A Verdade e a Mentira
Gosto muito da parábola sobre a verdade e a mentira. Ela é bem emblemática, e em tempos sombrios como os que estamos vivendo, nos mostra que é preciso perder a ingenuidade. A estória é mais ou menos assim: A Verdade se encontrou com a mentira, por acaso. A Mentira disse: que lindo dia, não é? A Verdade, desconfiada, foi olhar, e o céu realmente estava azul, os passarinhos cantavam, era um dia bonito. A Mentira estava certa. A Mentira prosseguiu: está bem quente hoje, poderíamos nos banhar no rio. A Verdade teve que concordar que fazia calor, e achou que não havia nada demais entrar no rio com a Mentira. Afinal, ela não parecia tão ruim assim, e estava falando coisas coerentes e corretas. Mal entraram no rio, a Mentira saiu da água e vestiu-se com as roupas da Verdade, fugindo. A Verdade recusou-se a vestir as roupas da Mentira, e saiu desnuda, pelas ruas. Não via por que se envergonhar, havia sido enganada, explicaria sua situação. As pessoas, entretanto escandalizaram-se com a Verdade nua e crua à sua frente, preferindo acreditar na Mentira, vestida de Verdade. E a verdade se escondeu, morta de vergonha e ultrajada, desacreditada e espezinhada que havia sido, e nunca mais apareceu. A Mentira é ardilosa, sedutora, fácil de engolir. Ela desce macia, goela abaixo, e apenas após ser mastigada e digerida, inicia seu processo de destruição. A Verdade, não. Ela é dura, inconveniente, incômoda. Gera mal estar e indisposição, logo que se apresenta. A Mentira, quando chega, precisa do discurso da Verdade. Precisa convencer, encantar e dominar as atenções das pessoas, atingindo em cheio todos os desavisados. E a Verdade? Bem, ela só é convidada a ingressar em círculos bem restritos, onde as pessoas estão preparadas para sua chegada. Porque ela chega de modo abrupto, não sabe seduzir, não é maliciosa, não escolhe as palavras, posto que não aprendeu a enganar. A humanidade, desde os primórdios, sente-se mais confortável em companhia da Mentira, já que a Verdade a retira de sua zona de conforto, é a visita que incomoda desde a chegada e não tem hora para ir embora. A Verdade, coitada, bem que tentou argumentar. Estava sendo ultrajada, vilipendiada e covardemente escorraçada. Fora preterida por um conjunto de mentiras pífias e injustificáveis. Mas, infelizmente, ninguém prestou atenção no que estava dizendo, inebriados que estavam pelas sedutoras e eloquentes palavras da Mentira, que foi alegremente celebrada, e saiu toda elegante (pois as roupas da Verdade lhe caíram muito bem), para jantar fora com os Congressistas, e celebrar sua vitória acachapante. “Realidade é aquilo que existe fora e independentemente de nós e que minuto a minuto nos impõe algo que não desejaríamos saber, algo que preferiríamos que não existisse”. Olavo de Carvalho. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. II N.º 26 e também em Tribuna Diária
- Para tudo há uma ocasião
O cristianismo chegou ao Brasil como missão de evangelização da Igreja Católica. Apenas sob a ótica religiosa, podemos afirmar que evangelizar é um ato de fraternidade. Se eu desejo a salvação da minha alma, é normal também desejar o mesmo ao meu irmão. “E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Pelo contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa.” (MT 5,15). Deste modo, os jesuítas foram os primeiros catequistas e professores de Pindorama (como os indígenas chamavam o território brasileiro). Os padres jesuítas aprenderam a língua nativa, desbravaram o território de mata fechada, identificaram as tribos e fizeram muitas vezes o primeiro contato do homem branco com o povo nativo. A verdade é que ao longo da história, esse modo de evangelização não nos traz nenhuma novidade. A Igreja Católica desde seus primórdios sempre catequizou usando artifícios, hoje considerados pouco ortodoxos, mas antigamente algo muito comum quando dois povos com tradições diferentes se encontravam: criando um pluralismo religioso ou uma cultura se sobrepondo sobre a outra. Lembrando que a religião antes de ser vista como um evento sobrenatural, sob o ponto de vista material é uma manifestação cultural de um povo. Sabendo disso, não é difícil entender que o catolicismo de hoje não é o mesmo de 600 anos atrás. A Igreja Católica, berço do cristianismo, precisou lidar com a reforma protestante. Época em que perdeu adeptos e a expansão marítima era um modo de disseminar também a fé católica para outras regiões do globo terrestre. Aos poucos a Igreja se modificou, o cristianismo começou a ser entendido com novos aspectos e ser religioso mudou de estereótipos. Podemos dizer que o cristão se modernizou e se abriu a um novo mundo de possibilidades. Mas fica a pergunta: até aonde mudamos nossa essência? Aprendemos a acolher melhor o diferente ou mudamos o cristianismo para não desagradar certos grupos? Como cristãos defendemos a vida ou preferimos nos omitir para não ferir o outro com nossa crença? Como cristãos acreditamos no arrependimento e na remissão dos pecados ou nos rebaixamos a julgar o outro? Como cristãos nos fechamos apenas a criticar nossos “inimigos” ou oramos por eles e para que Deus nos dê sabedoria no falar? Como cristãos falamos com amor e sabedoria ou queremos apenas atacar a visão do outro? Realmente, vivemos tempos sombrios e, sinceramente, acreditávamos que tais tempos não aconteceriam com a brevidade que estão ocorrendo. Não é fácil agir com cautela em um momento que nossa vontade é gritar. Existe uma música que exprime bem esse momento, chamada “O Profeta” que tem como refrão, assim: “Tenho que gritar, tenho que arriscar Ai de mim se não o faço! Como escapar de Ti, como calar Se Tua voz arde em meu peito? Tenho que andar, tenho que lutar Ai de mim se não o faço! Como escapar de Ti, como calar Se Tua voz arde em meu peito?” Como cristãos, devemos levar a verdade ao mundo, é a nossa missão. Mas sigamos o exemplo de Jesus que diante do sacrifício da Cruz se recolheu para oração pessoal, preparou a alma durante 40 dias e noites no deserto. E no momento em que precisou seguir seu chamado já havia preparado o próprio espírito. Então, após compreender a importância da cautela e perante a precipitação de Pedro usou estas palavras: “Embainha a tua espada! Acaso não haverei de beber o cálice que o Pai me deu?” (Jo 18, 11). Enfim, assim como Jesus viveu seu deserto antes de ir para o sacrifício, somos também chamados a preparar o espírito através de momentos de reflexão, de silêncio, de oração pessoal e resguardo. A luta será árdua, não podemos desanimar nem perder as esperanças. “Para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu” (Ecl 3,1). Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. II N.º 26
- Governação, Publicidade e Canibalismo
Conta um mito pré-histórico que um ser divino, em forma humana, se deixou imolar pelos membros de sua tribo porque seu corpo guardava todas as sementes de plantas comestíveis, fonte de alimentação humana, e sua morte as faria brotar em especial raízes e árvores frutíferas. Depois deste sacrifício divino/humano, todos os membros da tribo deveriam comer sua carne, para garantir que estes brotos se disseminassem pelo mundo e passassem às gerações seguintes como garantia de abundância de alimento para preservação da vida. Foi o primeiro homicídio autorizado pela mitologia e é o fundamento do canibalismo que se seguiu: o homem come a carne humana para executar a tarefa divina de garantia de expansão do reino vegetal no mundo, para assegurar a perpetuação da existência humana. O horror que o canibalismo causa aos olhos das civilizações modernas levou a utilização desta palavra também em sentido figurado para traduzir, com o mesmo impacto aterrorizante da ação física, as ações políticas de governação que subjugam e maltratam o homem ao longo da História. O uso, neste sentido, foi belissimamente registrado pelo Padre Antônio Vieira: homens, o que me desedifica de vós é que vós vos comeis uns aos outros e como não fora tão grande este mal as circunstâncias ainda o agravam pois se fossem os pequenos que comessem os grandes bastaria um único grande para mil pequenos, porém como são os grandes que comem os pequenos não bastam mil pequenos para um único grande. O padre não falava de grandeza espiritual falava em grandeza no sentido de violência do exercício do poder, que na maioria das vezes são grandezas opostas e inversamente proporcionais. Talvez, se ao longo dos séculos os espiritualmente grandes tivessem exercido o poder de governação, penso que, provavelmente, a humanidade estivesse em situação de maior harmonia e igualde de condições existenciais. O Jesuíta insurgia-se contra o sofrimento humano causado pelo exercício arbitrário e egoísta do poder político que infligia penosa sobrevivência à população enfraquecida pela falta de recursos intelectuais e econômicos para reagir, sobretudo porque o sigilo era a norma de funcionamento do Estado. A advertência feita por este religioso, direcionou o sistema normativo posterior tanto que, para fortalecer a vinculação do uso dos poderes dos cargos públicos à concretização dos objetivos de Estado estabelecidos pelo artigo 3º da Constituição Federal, a saber construção de uma sociedade livre justa e solidária, promoção do desenvolvimento nacional e erradicação da pobreza, dentre outros, a Carta Constitucional instituiu o dever de publicidade como princípio transcendente a todas as ações estatais. É instrumento disponibilizado, aos cidadãos, para possibilitar sua análise sobre a eficiência do funcionamento dos governos e instituições e da devida proatividade entre as pessoas políticas da federação, União, Estados-Membros e municípios, no cumprimento do dever de concretização dos objetivos estatais acima referidos. Esta é uma das razões pelas quais, na redação do artigo 37 da Constituição da República Federativa do Brasil, os princípios da Publicidade e da Eficiência administrativa são associados e possuem a mesma força impositiva. O dever de publicidade dos atos das autoridades públicas, foi uma das bandeiras do liberalismo, fundamentou o movimento constitucionalista no Século XIX, em Portugal e no Brasil. Ocorre que os agentes públicos não se desincumbem do dever de publicidade, dos atos de ofício, com a simples publicação destes no Diário Oficial, esta ação serve mais ao controle institucional do funcionamento do Estado. Para que a publicidade habilite o povo ao exercício do direito de cidadania relativamente ao controle da atividade pública, que é o que se espera das repúblicas democráticas, é necessário que o Estado use a publicidade com o fim informativo de utilidade pública, que inclui o dever de prestação de contas, à população, sobre o uso do investimento que esta realiza, através do recolhimento de tributos. Maiormente porque o objetivo de recolhimento de tributos é angariar os recursos necessários para que os agentes públicos concretizem os objetivos de Estado estabelecidos pela Constituição da República, no mencionado artigo 3º. A publicidade como veículo de prestação de contas à população se faz através de mensagens continuadas de âmbito panorâmico sobre atividades efetivadas pelas autoridades públicas, de modo claro, alcançável, para que qualquer cidadão possa ter uma visão sistêmica do funcionamento dos Poderes e instituições públicas. A divulgação de atos isolados desconectados do contexto em que se concretizam, na maioria das vezes estampando a imagem pessoal do agente publico, distorce a informação sobre a realidade concreta, não permite o conhecimento verdadeiro sobre o contexto e frustra a possibilidade de avaliação sobre a eficiência do funcionamento dos poderes públicos. Esse tipo de propaganda, em verdade dirige a opinião pública e pode, inclusive, servir como propaganda pessoal do agente político, o que não é permitido pelo sistema normativo nacional. A técnica de divulgação de fatos isolados mais oculta do que revela a realidade a que se refere, muitas vezes induz a população a pensar que os agentes públicos atuam com eficiência quando a verdade é exatamente o inverso. Divulgação de fatos isolados, descontextualizados das circunstâncias que o envolvem subverte o dever constitucional de publicidade e o direito do povo à informação. Numa sociedade em que a qualidade da educação é irregular, a maioria do povo não tem acesso ao mínimo necessário para desenvolvimento de visão sistêmica. É o caso de Alagoas, o dever de publicidade estatal exige requisitos específicos, a mensagem publicitária deve transmitir informação real do conjunto de circunstâncias envolventes do objeto da publicidade, de forma honesta, estrutural e circunstancial das ações públicas. A publicidade não pode servir para encobrir resultados negativos, desviar a atenção do cidadão sobre algum elemento negativo a ela relacionado. Somente desta maneira o maior número possível de cidadãos estará apto e livre para formação de sua própria opinião. Apenas este comportamento público assegura o exercício do direito à cidadania, é a única maneira da publicidade funcionar como prestação de contas à população, em retribuição ao dever de recolhimento dos tributos. Enfim, a publicidade é instrumento constitucional assegurado às instituições e ao povo para frenagem do canibalismo no sentido a que se refere o Padre Antônio Vieira, já que o canibalismo no sentido mitológico, de disseminação e brotação de sementes de vegetais para assegurar alimentos suficientes a todos os humanos, revelou-se absolutamente inadequado como atesta a realidade atual do mundo. É de se esperar que o aperfeiçoamento da publicidade, para atrela-la à efetiva mostra do nível de eficiência das ações desenvolvidas pelos agentes públicos para concretização dos objetivos estatais, sirva de fato ao crescimento da democracia brasileira. Democracia somente se concretiza quando o exercício da cidadania conduz aos postos de comado do Estado seres humanos grandes espiritualmente, inteiramente movidos pela consciência humanitária, praticantes da verdade e da lealdade como condição de relacionamento humano. Esperancemos, o processo democrático está em curso.
- Quinta da Boa Vista
Nos séculos XVI e XVII, a área onde atualmente se localiza a Quinta, integrava uma fazenda dos Jesuítas nos arredores da cidade do Rio de Janeiro. Com a expulsão da Ordem em 1759, a propriedade foi desmembrada, tendo passado à posse de particulares. Quando da chegada da Família Real ao Brasil em 1808, a Quinta pertencia ao comerciante português Elias Antônio Lopes, que havia feito erguer, por volta de 1803, um casarão sobre uma colina, da qual se tinha uma boa vista da baía de Guanabara – o que deu origem ao atual nome da Quinta. Residência Real Dada a carência de espaços residenciais no Rio de Janeiro e diante da chegada da Família Real em 1808, Elias doou a sua propriedade ao Príncipe regente D. João, que decidiu transformá-la em Residência Real. À época, a área da Quinta ainda estava cercada por manguezais e a comunicação por terra com a cidade era difícil. Mais tarde, os trechos alagadiços foram aterrados e os caminhos por terras aprimoradas. Estação de Trem da Quinta da Boa Vista – Final do Séc. XIX Para acomodar a Família Real, o casarão da Quinta, mesmo sendo vasto e confortável, necessitou ser adaptado. A reforma mais importante iniciou-se à época das núpcias do Príncipe D. Pedro com Maria Leopoldina de Áustria (1816), estendendo-se até 1821. Foi encarregado do projeto o arquiteto inglês, John Johnston, que, além da reforma do paço, fez instalar um portão monumental em sua entrada, presente de casamento do general Hugh Percy, 2.° Duque de Northumberland. O portão, inspirado no pórtico de Robert Adams para a "Sion House", residência daquele nobre na Inglaterra, é moldado em uma espécie de terracota, denominada "Coade stone", fabricada pela empresa inglesa Coade & Sealy. Tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, esse portão encontra-se atualmente destacado, como entrada principal, no Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, nas dependências da Quinta. Residência Imperial Com a Independência do Brasil, D. Pedro I encarregou das obras do agora Paço Imperial o arquiteto português Manuel da Costa (1822-1826), posteriormente substituído pelo francês Pedro José Pezerát (1826-1831), creditado como autor do projeto em estilo neoclássico do edifício. O Paço, que tinha apenas um torreão no lado Norte da fachada principal, ganhou outro simétrico, no lado Sul, e um terceiro pavimento começou a ser erguido sobre os dois já existentes. As obras foram continuadas a partir de 1847 pelo brasileiro Manuel Araújo de Porto-Alegre, que harmonizou as fachadas do edifício, seguido pelo alemão Theodore Marx (1857 e 1868). Entre 1857 e 1861 o pintor italiano Mario Bragaldi decorou vários dos aposentos interiores. Após o casamento em 1817, D. Pedro e a Imperatriz, D. Leopoldina, passaram a residir no Paço. Ali nasceram a futura Rainha de Portugal, D. Maria II (4 de abril de 1819), e o futuro Imperador do Brasil, D. Pedro II (2 de dezembro de 1825). Também ali veio a falecer, em 1826, a Imperatriz, de parto. Próximo à Quinta, em um casarão presenteado por D. Pedro I, vivia Domitília de Castro e Canto Melo, Marquesa de Santos, favorita do Imperador, com quem teve vários filhos. Na Quinta cresceu, foi educado e viveu D. Pedro II. Entre as reformas que este Imperador empreendeu na propriedade conta-se o embelezamento dos jardins, por volta de 1869, com projeto do paisagista francês Auguste François Marie Glaziou. No Paço nasceu, em 29 de julho de 1846, a Princesa Isabel, filha de D. Pedro II e D. Teresa Cristina. A República Velha Com o advento da República, a Quinta sediou os trabalhos da Assembléia Nacional responsável pela Constituição Brasileira de 1891. Em 1892, o diretor do Museu Nacional do Brasil, Ladislau Neto, conseguiu que a instituição fosse transferida do Campo de Santana para o Palácio. À época, os jardins conheceram um longo período de abandono mas, em 1909, o presidente Nilo Peçanha mandou restaurá-los e cercá-los, conservando as características que lhe foram dadas por Glaziou. Por outro lado, o palácio foi desprovido de suas características internas originais, destruídas ou vendidas após a Proclamação da República. República O Imperador ainda era uma figura muito popular no momento em que foi deposto, em 1889. Desta forma, os republicanos procuraram apagar os símbolos do Império. Um destes símbolos, o Paço de São Cristóvão, a residência oficial dos imperadores, tornou-se um local ocioso e que ainda representava o poder imperial. Então, em 1892, o Museu Nacional, com todo o seu acervo e seus pesquisadores, foi transferido da Casa dos Pássaros para o Paço de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, onde se encontra até os dias de hoje. Em 1946 o Museu passou a ser administrado pela Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro. Os pesquisadores e suas salas e laboratórios ocupam boa parte do Paço e alguns prédios erguidos no Horto Botânico, na Quinta da Boa Vista. No Horto ainda encontra-se uma das maiores bibliotecas científicas do Rio de Janeiro. Atualmente, o Museu Nacional oferece cursos de pós-graduação ligados à Universidade nas seguintes áreas: Antropologia Social, Botânica, Geologia e Paleontologia, e Zoologia. O Paço abriga a exposição de um dos maiores acervos das Américas de animais empalhados, minerais, coleções de insetos, utensílios indígenas, múmias egípcias e sul-americanas, meteoritos, fósseis e achados arqueológicos. O parque possui uma área de 155 mil metros quadrados, ajardinada em 1869, segundo projeto do paisagista francês Auguste Glaziou a mando de D. Pedro II. A Quinta abriga ainda o Jardim Zoológico do Rio de Janeiro.











