top of page

Resultados de busca

274 resultados encontrados com uma busca vazia

  • A inversão da realidade

    A inversão da realidade como ferramenta progressista. Uma análise teológica O conceito de “Lei Natural”, aquele raio de luz que rasga as eras conectando-as intelectualmente entre si, ainda que de uma forma ao mesmo tempo sobrenatural e transcendente, caminha sobre os trilhos daquilo que serve de alicerce para a realidade. Ao dizer que “Por mais maciço e imenso que seja este mundo, sua existência depende, em qualquer momento, apenas de um fio único e delgadíssimo: a consciência em que aparece”, Schopenhauer mira na raiz metafísica de toda a realidade como algo limitado aos sentidos conscientes do homem. “Cogito, ergo sum”, disse Descartes, não o “logo existo” tradicional, mas o correto: “logo sou”. Nos fundos caminhos que se cruzam em lugar algum, porque entendem, ao modo de Protágoras, que “O homem é a medida de todas as coisas”. Não é de estranhar que mais dia menos dia, a manipulação das fontes de formação e informação de uma turba que de fato crê nesses conceitos, se encontrasse em um vácuo existencial onde sua própria vida perde a razão de ser diante de uma realidade que elas teimam em desconstruir como forma de se adequarem ao status quo de referência produzido por aqueles que puxam as cordinhas. A “Lei Natural”, termo fartamente utilizado por C S Lewis para designar o poderoso “inconsciente coletivo” da humanidade, o que Chesterton chamou de “ditadura dos mortos”, o que os orientais chamam de “tao”, anda em completo desacordo com aquilo que – obviamente – desafia a ordem natural das coisas. Observe que as nomenclaturas não são aleatórias. Em posição antagônica com a “Ordem Natural das Coisas” sempre há uma “Nova Ordem Mundial”, e elas seguem travando uma batalha desde o Éden pelo controle da espécie humana e de seus recursos. Já dizia Pascal, “A natureza pôs as suas verdades cada uma em si mesma”. Ou seja, de uma forma perigosamente simplificada podemos inferir que a “Lei Natural” é a primeira representação da verdade para a humanidade. E por que é assim? Simples: porque aqui chegamos. A “Lei Natural” foi estabelecida pelo Criador. E o seu primeiro juízo de valor determinou os limites que subsidiariam os demais juízos de valor (e de direito) que viriam a ser feitos pela humanidade. Ele disse: “E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas” (Gênesis 1:4). Dessa primeira assertiva temos a primeira verdade e a também a primeira premissa da “Lei”. É o que Krishina chama no Gitã de “Verdade Espiritual”. Sua fonte primária: O Senhor Deus de Israel. Já no Éden, os elementos da “Ordem Natural das Coisas” começam a ser estabelecidos, e a sua primeira manifestação do ponto de vista civilizacional atendeu pelo nome de “Família”. A família como embrião da humanidade, nos moldes instituídos por Iavé Adonai, é a primeira “Lei Natural”, é o ponto de partida para a “Ordem Natural das Coisas”. O ataque à família é o ataque à verdade. E o ataque à verdade é o ataque à “Lei Natural”, que por sua vez é o ataque à própria civilização. Por isso C S Lewis afirma que a “Lei Natural” é “a única fonte possível de todos os juízos de valor”, porque ela, em si, é a representação de uma única realidade possível. Ao rejeitarmos um único valor, ele conclui, os demais serão rejeitados da mesma forma. Então o que tínhamos no Éden, a priori? Dois elementos, um espiritual e um material. O primeiro se concentrava no relacionamento de Adão – e em seguida Eva – com Deus, esse o primeiro relacionamento que o homem teve desde que foi criado. E o segundo falava do relacionamento de Adão com a sua esposa. Na “Ordem Natural das Coisas” temos esses dois relacionamentos como base de uma sociedade que se pretende subsistir em si mesma. Fé e família são, portanto, as bases essenciais daquilo que quer seguir adiante, daquilo que quer se conservar. Foi o que Deus planejou para o mundo, e que preservou em toda a sua Lei (agora a escrita, e não a natural) que entregou diretamente aos Hebreus e posteriormente a toda a humanidade até se revelar na pessoa de seu Filho Unigênito e completá-la. O que o progressismo quer é criar um reflexo invertido de tudo isso em um espelho quebrado que está nas mãos de Satanás, e vender essa imagem deturpada da criação como sendo o melhor dos mundos, usando, para isso, as ervas daninhas plantadas na mente da humanidade por fábulas antropocêntricas desenvolvidas por homens desde a queda, sempre nos mesmos moldes do diálogo entre Eva e a serpente, divaga-se, interroga-se, brinca-se com sofismas e falácias, e ao final convence-se, num estelionato antropológico e intelectual que vem se arrastando há milênios, afastando os homens da verdade, da “Lei Natural”, da “Ordem Natural das Coisas”, e sempre lançando-os, de tempos em tempos, em turbilhões insanos de revoluções selvagens urdidas na obscuridade das sombras, onde as mentiras são maquiadas e adornadas para parecerem verdades, benefícios e vantagens para os que nelas acreditarem. O progressismo precisa, a todo instante, criar mundos virtuais, caricaturas da verdade, para que possa lançar suas sementes de destruição e caos. Sem mentira não há progressismo e vice-versa. A única forma de combater a desconstrução de uma sociedade sadia é evitar que os que estão no poder ou detém os meios de comunicação manipulem a verdade/realidade ao seu bel prazer, e isso deve ser feito sempre sob duas bandeiras, as originais: fé e família. A Verdade diz que “O que justifica o ímpio e o que condena o justo são abomináveis ao Senhor, tanto um como o outro” (Provérbios 17:15). Para que o progressismo possa existir, é necessário que essa afirmação de Salomão seja aniquilada, ou seja, que a verdade seja aniquilada ou, pelo menos, invertida. Por que isso acontece? Porque em um mundo progressista todas as leis instituídas pelo Criador desde o Éden devem ser subvertidas em prol de valores que inevitavelmente contrariam qualquer esfera de valor que se queira aceitar como legítima, seja ela a Palavra de Deus, a “Lei Natural”, a “Verdade Espiritual”, o “Tao” ou “A Ordem Natural das Coisas”. O que o progressismo busca é uma espécie de autodestruição social, o rompimento com todos os parâmetros divinos, o que levaria a humanidade, caso ele – o progressismo – vencesse, à completa extinção. É quase impossível não admitir um componente sobrenatural nisso tudo, aquele, constante do primeiro juízo de valor do Criador. Ou será que quando lemos que Ele viu a luz como boa e as separou das trevas, não percebemos que Ele está falando de coisas ainda mais profundas? Parece óbvio. O Criador do universo é a real expressão daquilo que Ele quer de nós. Quando em Malaquias 3:6 Ele diz: “Eu, o Senhor, não mudo”, Ele está querendo dizer “Não tentem me mudar” ou “Não tentem mudar as minhas Palavras”, porque será pior para vocês. E então Ele nos mostra a “Ordem Natural das Coisas”: a própria criação. Lagartas não se tornam borboletas antes de passar pelo casulo. É isso, ou nunca veríamos borboletas. Os progressistas querem destruir a família, mas não conseguem explicar como seria possível um mundo em cinquenta anos caso não existissem mais famílias, as feministas tomassem conta da sociedade e não parissem mais e os homens deixassem de se comportar como homens. O que diabos restaria? Logo, vemos que por trás do progressismo existe uma influência maligna induzindo a sociedade – tal qual Eva – a desafiar a “Ordem Natural das Coisas”, e com isso comprometer a própria existência. Fé e família. As maiores pedras no sapato salto alto daqueles que não suportam a realidade como forma de vida. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N.º 09 – Edição de Abril de 2022 - ISSN 2764-3867

  • O que esperar do próximo ano?

    Nada! É muito comum que as pessoas em um período de final do ano, perguntem umas às outras: O que esperar do próximo ano? A pergunta revela exatamente o comportamento que terão no próximo ciclo de oportunidades, exatamente, oportunidades! Por quê sim, cada ciclo é na verdade a chegada de uma nova oportunidade, e saber disso faz toda a diferença em relação a mentalidade que teremos no que muitos chamam “apenas mais um ano”. Uma ideia principal nesse texto é despertar uma consciência de autogestão, o que com certeza fará com que o novo período seja de atitude e não de espera. Um exemplo disso foi o surgimento desta revista em que com muita honra escrevo. Ante a um comportamento passivo em que muitos apenas reclamavam da falta de um espaço onde um conteúdo de cunho conservador fosse encontrado. Nosso editor-chefe e sua equipe, decidiram então abrir este espaço, que diga-se de passagem tem sido uma pequena, mas importante fagulha para incendiar os corações dos que conosco, compartilham dos valores conservadores. Entendemos que quando encontramos uma deficiência, carência ou debilidade, seja em pessoas ou instituições, é hora de termos uma atitude em direção a resolução do problema. Então, o ideal não é que esperemos algo do próximo ano, e sim, que tenhamos o protagonismo necessário, e que se não for em nossa sociedade, seja ao menos em nossas próprias vidas. Na missão de sermos portadores de valores que dão vida a uma sociedade mais justa e fraterna,sejamos como o sol, que ainda que em dias nublados, com chuva ou até uma tempestade, ele está lá, acima das circunstâncias esperando uma oportunidade para se manifestar. Com certeza ele não forçará a barra para que a tempestade se disperse, mas aguardará calmamente o momento de oferecer todo o seu conteúdo que, embora as pessoas estejam focadas na tempestade, têm nele tudo o que é fundamental para que a vida siga em seu rumo. Outra ideia principal no texto é que, se esperamos algo, teremos que receber o que vier; quanto a isso não temos controle, portanto seremos como vítimas de uma força maior que nos dará, o que vier… Enquanto poderíamos fazer com que todo esse poder agisse em nosso favor. Por exemplo: A oportunidade é uma força muito poderosa, mas que se não for devidamente observada poderá nos arruinar (se por exemplo, deixarmos passar uma oportunidade da cura de uma doença). Neste sentido, um novo ano é um ano cheio de oportunidades. Em vias de conclusão, quero apresentar a terceira e última ideia: Venha o que vier, poderosa e naturalmente, se soubermos nos posicionar colheremos os frutos que se não forem colhidos podem até virar o motivo de um acidente, e tudo porque ao invés de termos uma atitude positiva ante ao que a natureza nos deu, ficamos esperando que o fruto viesse a nossa mão, como quando cai ao chão. Vai aqui neste texto um pouco de mitologia: As grandes tradições do passado sempre comemoravam o ano novo por entenderem a chance de grandes oportunidades que viriam e entendiam que como na ação de uma lei imutável, a natureza durante a primavera daria a eles, as flores, vindo após as flores, os frutos que seriam no verão, ou seja, eles sabiam que colheriam no verão, no próximo ano, no próximo ciclo, tudo que plantaram durante a primavera; portanto saibamos que conscientes ou não, colheremos no verão os frutos das flores que nos deu a natureza, durante a primavera. Sendo assim, com esta lição, fica a mensagem de que para o próximo ano tenhamos a consciência de termos atitudes mais positivas, mais inteligentes, mais bem colocadas diante das grandes oportunidades que nos virão, sabendo que hoje estamos colhendo aquilo que outrora plantamos. Portanto, se queremos um futuro melhor, que comecemos agora a construção desse futuro. Por isso no título desse texto coloco que é melhor não esperar nada do próximo ano e sim que oferecemos ao próximo ano as nossas atitudes, os nossos sacrifícios, os nossos esforços para que este ano se torne diante das nossas ações, diante do nosso trabalho, diante do nosso foco, diante da nossa inteligência um ano melhor, pois se não fizermos alguém fará e colheremos os frutos que outros plantaram sem sabermos sequer o caráter e a intenção desses outros. Convido a todos então, que pensemos que, reflitamos sobre quais ações iremos empregar no próximo ano para que não recebamos o que vier, mas sim, o resultado, o fruto! Como uma reação das nossas ações para que tenhamos um ano, com o que comemorar de fato. Lembremos que o que quer que tenha acontecido durante este ano de 2024, foi fruto de ações muitas empregadas e outras desprezadas, mas foram frutos de ações!! Se não estamos satisfeitos, substituamos então as ações das quais não nos favorece, por ações que favoreceram não só a nós próprios mas, também a toda a sociedade. Um feliz novo ciclo de oportunidades a todos nós! Isso em todos os aspectos das nossas vidas, nos campos, político, social, familiar, profissional, enfim, empreguemos nossas melhores ações, fazendo delas uma mensagem clara e concreta ao nosso criador, e acredite: Ele nos ouvirá! Deixo para reflexão um texto da bíblia sagrada. "Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar e orar, buscar a minha face e se afastar dos seus maus caminhos, dos céus o ouvirei, perdoarei o seu pecado e curarei a sua terra" (II Crônicas 7:14) Que Deus abençoe nossa jornada!!! Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. IV N.º 49 – Edição de Dezembro de 2024 - ISSN 2764-3867

  • Existe mesmo Papai Noel?

    A pergunta ecoa por gerações, carregada de curiosidade e um toque de magia. Papai Noel, aquele bondoso velhinho de barba branca e traje vermelho, realmente existe? Talvez a resposta não seja tão simples quanto parece. A figura de Papai Noel tem suas raízes na história de São Nicolau, um bispo cristão que viveu no século IV na região da atual Turquia. São Nicolau era conhecido por sua generosidade e bondade, ajudando os pobres e necessitados. Uma das histórias mais famosas sobre ele conta que ele presenteou secretamente três irmãs com dotes para que elas pudessem se casar, jogando sacos de ouro pelas janelas abertas. Essa reputação de generosidade fez de São Nicolau um santo muito venerado, especialmente na Europa. Com o tempo, suas histórias e lendas foram combinadas com tradições locais, transformando-se na figura alegre e mágica que conhecemos hoje como Papai Noel. A imagem de Papai Noel foi se transformando ao longo dos séculos. Nos séculos XVII e XVIII, os imigrantes holandeses trouxeram para a América do Norte a tradição de "Sinterklaas", uma celebração de São Nicolau que eventualmente se fundiu com outras tradições europeias. No século XIX, a imagem moderna de Papai Noel começou a se consolidar com a ajuda de escritores e artistas. Clement Clarke Moore, com seu poema "A Visit from St. Nicholas" (também conhecido como "The Night Before Christmas"), descreveu Papai Noel como um homem alegre e rechonchudo que viajava em um trenó puxado por renas. As ilustrações de Thomas Nast no final do século XIX também desempenharam um papel importante, solidificando a imagem do velhinho de barba branca e roupa vermelha. Na década de 1930, a campanha publicitária da Coca-Cola, com ilustrações de Haddon Sundblom, ajudou a popularizar ainda mais a imagem de Papai Noel como o conhecemos hoje. Essas campanhas mostravam um Papai Noel caloroso e amigável, vestindo o característico traje vermelho, que se tornou icônico. Acreditar ou não em Papai Noel é uma decisão pessoal, um reflexo do que cada um carrega em seu coração. Crianças o veem com olhos brilhantes, acreditando em sua chegada pelas chaminés ou pelas janelas abertas. Adultos, por outro lado, podem vê-lo como uma metáfora para o espírito de dar e compartilhar. Em cada presente deixado debaixo da árvore, em cada gesto de bondade, ele vive. Papai Noel existe na medida em que permitimos que a magia do Natal floresça dentro de nós. Todos nós podemos ser um pouquinho Papai Noel na vida dos nossos irmãos. O espírito de Papai Noel está em cada gesto de generosidade, em cada ato de bondade e em cada oportunidade que criamos para ajudar os outros a prosperar. Ser um Papai Noel não se resume a dar presentes, mas a oferecer suporte e criar oportunidades para que as pessoas possam alcançar uma vida melhor. Ensinar, apoiar e proporcionar meios para que alguém saia da pobreza é uma verdadeira forma de ajuda. Uma ajuda é bem-vinda para se ter um impulso, mas viver da ajuda não leva ninguém a progredir. A verdadeira ajuda é aquela que empodera, que oferece condições para que cada pessoa possa se levantar e caminhar com suas próprias forças. É sobre dar oportunidades e inspirar a busca por um futuro melhor. Mas o Natal não é sobre Papai Noel. No coração dessa celebração, está o nascimento de Jesus Cristo. Para os lares cristãos, o Natal é um momento de reflexão, gratidão e celebração pela vinda do Salvador. É uma época de união familiar, de lembrarmos do amor incondicional e do sacrifício que Jesus representa. A beleza do Natal reside em sua capacidade de unir diferentes crenças e tradições, celebrando a paz, o amor e a esperança. Cristo deve nascer sempre em nossas vidas. Ele foi tão importante que contamos nossos anos com base no seu nascimento e vida. O espírito cristão nos convida a sermos luz e esperança para os outros, exatamente como Jesus nos ensinou. Então, quando se questiona a existência de Papai Noel, talvez a verdadeira resposta esteja na magia que sentimos ao compartilhar amor e bondade. É um convite para acreditar no impossível, para permitir que o espírito do Natal toque nossos corações e nos lembre do verdadeiro motivo dessa época especial: Jesus. Um excelente Natal e um ótimo 2025! Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. IV N.º 49 – Edição de Dezembro de 2024 - ISSN 2764-3867

  • A maratona eleitoral brasileira

    Os combates ideológicos nas redes sociais, o novo campo de batalhas da contemporaneidade, tem mostrado muito claramente as falhas de estratégia do que entendemos como “movimento conservador”. Vivemos possivelmente uma guerra de guerrilhas, onde o adversário lança-bombas incendiárias todos os dias, obrigando os bravos soldados a atuarem como bombeiros. A consequência disso é que os avanços são menos consistentes do que poderíamos esperar. Mesmo diante das acachapantes motociatas, dos números expressivos de seguidores dos influencers de direita, da empolgação provocada pelas falas de Jair Bolsonaro no “cercadinho”, em geral assistimos cada “incêndio” ser debelado e suspiramos aliviados a cada narrativa e notícia falsa derrubada. Temos sido reativos, assim como nossos representantes nas casas legislativas, que precisam empregar material humano de seus gabinetes e muito tempo útil em defesas, que apesar de resultarem na vitória da verdade, os obrigam a adiar a apresentação de novas propostas e articular eficientemente uma base parlamentar mais compacta e proativa. Os números de 2018 ainda rondam algumas mentes: Bolsonaro teve 39% dos votos dos eleitores habilitados, Haddad teve 32%, brancos, nulos e abstenções totalizaram 29%. Ainda que existam suspeitas quanto aos números de votos recebidos de parte a parte, o que poderia ter dado a Bolsonaro a vitória ainda em primeiro turno, os não votantes são visíveis demais para serem ignorados. Aproximadamente 62 milhões de eleitores disseram não aos dois lados ou, estavam tão desiludidos que sequer deixaram seus lares para votar. 62 milhões é um número tão expressivo que qualquer pensamento de “já ganhou” seria considerado algo como suicídio eleitoral. É sobre a perda de tempo envolvida nas defesas em redes sociais (algumas apaixonadas), que nos paralisam a marcha na direção dos 62 milhões de indecisos que queremos refletir. Mas afinal, onde queremos chegar? Não dizemos que defender o justo e o certo sejam atitudes erradas, mas o desperdício de tempo com o eleitorado de esquerda, este sim pode ser inútil, pois aparentemente não mudaram nem mudarão de lado, mesmo em face da verdade. São visões de mundo diametralmente opostas, que produzem natimortos eleitorais. O professor Olavo de Carvalho já alertava, se referindo à questão dos debates e foi preciso quando disse: “ Essa situação do debate é definida sobretudo pela pessoa do adversário, quer dizer, o que que ele está procurando no debate, qual é o objetivo dele e como você deve tratá-lo. Aristóteles já recomendava, quer dizer, foi o sujeito que melhor equacionou as regras da confrontação de provas. Ele dizia que não se deve discutir jamais com quem não conhece ou quem não respeita as regras da prova. Então isto fica como um preceito universal”. Em relação aos indecisos ou desiludidos, estes sim, devem nos interessar, mas não com memes ou ‘contra-memes’, mas com educação, informação e estratégia. Assim, voltemos ao início do século V a.C. para conhecer algo sobre uma guerra em particular e seu paradigma. As estratégias de batalha campal, de modo geral consistiam no enfrentamento homem a homem de modo quase caótico. A vitória e a glória em um campo de batalha eram possíveis ao exército com maior número de soldados, assim, a frieza dos números importava muito quando era necessário decidir entre lutar ou aceitar uma desonrosa rendição. Por outro lado, o valor individual de alguns soldados também era importante. Bravura, força física e uma boa espada ou lança poderiam fazer a balança do destino pender favoravelmente para o lado de um exército menor. O paradigma das guerras mudou definitivamente no final daquele século e influenciou a mente de muitos generais a partir de então. As Guerras Médicas puseram em confronto dois adversários com características expansionistas: Grécia e o império Persa ou Medo-Persa (este último na região onde hoje se localiza o Irã). O controle da Jônia, região pertencente à Turquia atualmente, e em especial da cidade de Mileto, dariam aos vitoriosos o controle de importantes rotas comerciais terrestres e abriria portas para o controle do comércio via Mar Egeu, Estreito de Bósforo e finalmente o Mar Negro. Mais que uma questão de expansionismo militar, era antes de tudo uma luta pela subsistência dos povos da Grécia e Pérsia. O poderoso reino Persa do rei Dario I, sob o comando do general Mardônio, avançou em direção a Jônia, tendo recuperado Trácia e Macedônia onde diversas rebeliões punham em risco o controle estratégico daquelas regiões. Em 490 a.C. uma segunda campanha, pelo mar Egeu já sob o comando de Dátis e Artafernes, o império persa seguiu a retomada de controle e visava atacar Atenas. A defesa a este ataque impediu, ainda que temporariamente, a vitória persa sobre Atenas. Na famosa Batalha de Maratona o exército grego comandado pelo general Milciades, conseguiu vencer os persas que se encontravam em ampla vantagem. Segundo alguns historiadores as forças gregas contariam com 10 a 15 mil homens enquanto os persas somavam mais de 20 mil homens quando desembarcaram na Baía de Maratona. Algumas fontes chegam a indicar os persas com forças que chegariam a 50 mil homens. A desproporção entre as forças gregas e persas deixava óbvio que, em um combate corpo a corpo, homem a homem, os persas venceriam com facilidade. Entretanto uma nova estratégia foi utilizada e mudou completamente o cenário: a infantaria com formação em falanges. Com organização compacta, cercada e protegida por escudos intercalados por longas lanças, os soldados persas não conseguiam usar sua cavalaria, não tinham chance de se aproximar em função das longas lanças, suas espadas curtas eram inviáveis e assim, foram forçados a recuar até a praia onde desembarcaram. Os persas foram vencidos, mas de uma maneira completamente inesperada. A organização compacta, treinada, disciplinada e persistente era a novidade. Vencida a batalha, Milcíades envia Fidípides de volta a Atenas para comunicar a vitória. Aproximadamente 42 quilômetros de distância, em uma corrida heroica e ao mesmo tempo dramática. Segundo consta, Fidípides cumpre sua missão informando: “alegrai-vos atenienses, nós vencemos!” e desaba morto pelo esforço. Verdade, mito romantizado? Não sabemos. O fato é que o suposto esforço de Fidípides inspirou uma das provas olímpicas mais difíceis, a maratona. Neste ponto as histórias se articulam. Entre os eleitores convictos de Bolsonaro e os 62 milhões de indecisos, existe uma turba enfurecida de militantes que como dissemos, utiliza da estratégia de guerrilha com fake news, distorções, memes e vídeos depreciativos que tiram o foco e a atenção do “movimento conservador”. Como podemos chamar “movimento” algo que ainda se assemelha aos combates corpo a corpo da antiguidade, dispersos e caóticos? Somos atacados individualmente a cada notícia e memes recebidos, tantas vezes perdemos o equilíbrio emocional, desperdiçamos energias respondendo, buscando convencer quem não quer ser convencido. Outras tantas vezes escorregamos em notícias plantadas entre nós que, por mais absurdas que possam parecer, soam como música aos nossos ouvidos. Compartilhamos e em seguida somos rotulados de veiculadores de notícias falsas por agências de checagem de fatos (agências impossíveis de serem checadas). Enquanto tudo isso acontece, o tempo passa, as eleições se aproximam e ainda comemoramos os mais de 57 milhões de votos recebidos. Queira Deus que as palavras ora dirigidas ao eleitorado bolsonarista sejam apenas excesso de zelo. Todavia, nunca é demais estimular a criação de grupos sérios de estudos das atividades de deputados e senadores, elencar suas propostas, seus votos e associações. Os postulantes a novas cadeiras na “casa do povo”, devem também ser alvo de nossa atenção, para evitar os erros e enganos cometidos em 2018. Tão importante quanto reeleger Bolsonaro é formar uma maioria sólida e encouraçada no Congresso, que nos livre da necessidade de governar apoiados pelo chamado ‘centrão’, políticos mercenários que via de regra apoiam a si mesmos enquanto cedem apoio àqueles que ocupam o poder. Falanges formadas nas câmaras em nível Federal, nos estados e municípios, além do Senado e no Supremo, somadas a uma base de eleitores informada, consciente e participativa, darão os instrumentos que Bolsonaro não tem atualmente para governar dentro das quatro linhas da Constituição, conforme ele sempre defende. As eleições legislativas são o fundamento para um governo conservador bem-sucedido. Para vencer verdadeiramente a nossa maratona, nossa infantaria precisa ganhar corpo e formar falanges compactas. A educação, pautada nos princípios e valores clássicos é o nosso escudo, nosso exemplo cotidiano daquilo que defendemos é a nossa lança mais longa, a verdade fere mais que mil flechas inimigas. Ainda que a morte seja o louro da vitória daqueles que correm para anunciar a vitória de um povo, a liberdade é o nosso prêmio final mais desejado. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N.º 09 – Edição de Abril de 2022 - ISSN 2764-3867

  • Medicina e Pandemia

    Medicina e Pandemia na Constituição x Suplício de Prometeu Quando a noite produzia seu mais denso negrume, ouvia-se o estalido da imensa vara dourada de Hélio açoitar o ar, o estalido acordava seis vigorosíssimos cavalos cor de caramelo com crinas e caudas douradas. Hélio os atrelava a uma carruagem monumental, tomava as rédeas e novo estalido se ouvia, os cavalos partiam puxando a Carruagem do Sol, pelo mais alto do céu, para atravessar a Terra rumo ao poente. Assim amanheciam os dias, na Grécia, para revelar a beleza do mundo. No Olimpo era festa, os Deuses, autossuficientes, produziam sua própria vitalidade, deleitavam-se com ambrosia e néctar por puro prazer, não precisavam deles para existir. No mundo dos homens, as manhãs revelavam sofrimento e humilhação, eles tinham que extrair energia da natureza para viver, possuíam uma subvitalidade, deveriam alimentar-se constantemente para manter a vida, não eram autossustentáveis, precisavam comer. Ocorre que os humanos eram mais frágeis que os outros animais, precisavam cozer os alimentos para evitar doenças, mas Zeus havia retirado o fogo da terra. De início, o fogo vivia na copa dos Freixos, onde os homens o alcançavam facilmente, Zeus o havia escondido na Carruagem do Sol, tornando-o inatingível para os homens que nunca foram capazes de voar. A falta do fogo adoecia os humanos, seus corpos definhavam até a morte por causa do frio e dos males que a ingestão de grãos e carnes cruas lhes causava. Viviam abatidos, humilhados incapazes de desenvolver sua mais bela habilidade: aprender por associação de ideias para criar bem-estar. Prometeu, compadecido com tanto sofrimento causado pelas doenças humanas, e sendo ele descendente dos Titãs, tinha poderes extra-humanos. Colheu um galho de funcho, que é verde por fora mas seco por dentro, subiu disfarçadamente ao céu, aonde passava o Carro do Sol, colheu uma fagulhai, a escondeu dentro do galho de funcho e a entregou aos homens. À noite, Zeus viu todas as moradas humanas iluminadas, subjugado o frio, fogueiras acessas, a cozer alimentos e a transformar em cinzas todas as doenças que maltratavam o ser humano. Era a chegada da prosperidade. Enfureceu-se com o acinte de Prometeu que, movido pelo amor, havia contrariado suas ordens, aplicou-lhe tormentosa penalidade: viver acorrentado a uma pedra onde um abutre lhe devorava o fígado diariamente, pois o órgão se regenerava logo após a devora. Suplício interminável. Tal qual Prometeu, a medicina se move pelo amor ao ser humano, busca livrá-los, do sofrimento provocado pelas doenças. Este amor também levou o poder constituinte originário a inserir, na Constituição brasileira, o direito/dever de promoção da saúde. Para garantir que o socorro da medicina esteja ao alcance dos cidadãos, a Constituição conferiu, à saúde, o grau de relevância pública, na forma do artigo 197. Ademais, estruturou um minucioso sistema de planejamento e de ações, a ela relativas, que se completa com a legislação infraconstitucional assecuratória de liberdade de exercício da medicina. Segundo a Constituição, os serviços e ações de saúde são desempenhados em sistema de unidade e de forma hierarquizada, como estabelece seu artigo 198, porque interessam, de modo uniforme, a todo o território nacional. Em cumprimento do princípio de unidade dos serviços instituiu-se o Sistema Único de Saúde, para cumprimento do princípio de unidade, relativamente às ações, estabeleceu-se sua coordenação pelo Ministério da Saúde, obedecidas as normas constitucionais de fixação de competência político/administrativas e o regramento único das carreiras profissionais, nomeadamente a dos médicos. A concretização do princípio de unidade da saúde, quanto ao regramento do exercício da medicina, se concretizou através da instituição do Conselho Federal de Medicina e da edição do Código de Ética médica. O Conselho Federal de Medicina (CFM) tem estrutura hierarquizada ao qual se subordinam os Conselhos Regionais de Medicina (CRM). É dizer: os Conselhos Regionais executam as deliberações do Conselho Federal, a discricionariedade deliberativa de que dispõem se circunscreve a decisões dentro dos parâmetros estabelecidos pelo CFM e pelo Código de Ética Médica. O mesmo se aplica a qualquer outra entidade representativa de médicos ou especialidades da medicina, que estão proibidas de posicionamentos coletivos contrários às decisões hierarquicamente superiores do Conselho Federal de Medicina. No caso de calamidades públicas, como é o caso da atual pandemia de Corona Vírus, toda esta estrutura normativa se vincula à expressa determinação constitucional de competência única da União para planejar e promover a defesa, do interesse público de saúde, bem como realizar a mobilização nacional para sua superação. É o que dizem os incisos XVIII e XXVIII, art. 21 da Constituição da República. Encurtando as razões: Conselho Federal de Medicina desenvolve competência da União para normatizações e orientações em medicina, e o faz de forma exclusiva, única e hierarquizada, as ações de qualquer outra entidade representativa de médicos estão subordinadas as suas diretrizes. A atual pandemia de Corona Vírus materializa situação de excepcionalidade, em face do desconhecimento técnico do vírus e da enormidade de vítimas que ele faz. Neste contexto, o CFM editou o Parecer nº 4/2020, que propõe, aos médicos, considerar o uso da cloroquina e hidroxicloroquina, para o tratamento da COVID 19 em pacientes com sintomas leves, no início do quadro clínico. O parecer concretiza de modo específico a competência da União para o trato de calamidades e o princípio constitucional de unidade das ações de saúde, ademais, se impõe a todos os Conselhos Regionais de Medicina e entidades médicas, pois estas lhes são subordinadas hierarquicamente. Qualquer ação de entidades médicas que desatendam à orientação do Conselho Federal de Medicina, além de passíveis das penalidades disciplinares internas, caracterizam usurpação de competência deste colegiado, portanto, se assim procederem seus representantes agem com abuso de autoridade. Violam a lei institutiva do CFM. Estas ações abusivas desacatam, também, o princípio de legalidade administrativa, inserto no artigo 37, da Constituição da República, o que coloca as respectivas autoridades vulneráveis a ações de improbidade administrativa que, a depender das circunstâncias, pode revelar, inclusive, desvio de finalidade das atribuições dos cargos e funções. A contradita do parecer CFM nº 4/2020, por entidade médica de âmbito local ou regional, pode ainda, a depender das circunstâncias, caracterizar constrangimento ilegal ao livre exercício da medicina em afronta ao Código de Ética Médica. Em face da imposição de barreira inconstitucional, ofensiva à divisão de competências da federação, bem como aos princípios de unidade e hierarquia das ações de saúde. Tais barreiras são, simultaneamente, ilegais por desacato ao dever de subordinação às deliberações do CFM, normativamente estabelecida. Ademais, a instituição de barreiras ao livre exercício da medicina por autoridades constitucionalmente incompetentes e normativamente carentes de atribuição para tanto, constitui assédio eticamente inadmissível. Este assédio obstrui os valores de liberdade e solidariedade sociais, insertos no artigo 3º da Constituição de 1988, sobre os quais se ergue o sistema normativo constitucional da República Federativa do Brasil, portanto, além de reprimendas disciplinares internas, sujeita-se a responsabilizações judiciais. Os que juraram empenhar suas vidas na salvação das vidas alheias, por amor ao ser humano, não merecem ser punidos com o mesmo suplício imposto a Prometeu. Espero que os que se empenham em fazer valer as liberdades constitucionais, inclusive a liberdade da medicina, igualmente por amor ao ser humano, também não sejam merecedores deste infame tormento. Nomeadamente porque Hércules, que libertou Prometeu da tortura injusta, adormeceu profundamente desde a antiguidade e não pode nos valer agora. Tomara que o princípio de supremacia da Constituição da República Democrática do Brasil seja capaz de fazer as suas vezes, pelo bem do direito de liberdade e do princípio constitucional de justiça que são a base da prosperidade. Sem respeito ao princípio fundamental de supremacia constitucional, não existe democracia. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N.º 09 – Edição de Abril de 2022 - ISSN 2764-3867

  • A folha e Siegfried

    O mitológico herói nórdico Sigurd, conhecido como Siegfried, após matar a besta Fafnir, cuja existência nada mais era que a condenação pela ganância que o levou a cometer parricídio e apoderar-se do ouro de seu pai, o rei anão Hreidmar. Após destruir a criatura, Siegfried banhou-se em seu sangue tornando-se imortal, entretanto, uma pequena folha cobria seu ombro, evitando que o sangue do dragão Fafnir tocasse aquela parte de seu corpo. Da mesma forma que Aquiles teve não teve seu calcanhar banhado pelas águas do Rio Peleu, tornando seu ponto fraco, o herói nórdico ficou desprotegido na região coberta pela folha. Após casar-se com a princesa Crimilda, uma vez que fora enfeitiçado, cumpre a sobre-humana missão de resgatar a valquíria Brunilda de um círculo de fogo, para que a mesma se casasse com o irmão de sua esposa, Guntário. Na ocasião, Siegfried assumira a forma de Guntário para que a valquíria acreditasse ser ele o homem digno de a desposar. Em data posterior, quando Brunilda e Crimilda discutem a respeito de um anel de valor inestimável, a esposa do herói afirma que seu marido era o homem mais poderoso e a farsa promovida para permitir o matrimônio da valquíria é, por ele, descoberta. Siegfried, liberta-se do feitiço da mãe de sua esposa e relembra seu amor por Brunilda, mas esta não aceita ter sido enganada e pede que seu cunhado mate o herói. Sabendo do ponto fraco, o irmão de Guntário e Crimilda, aproveita-se do momento que que Siegfried pescava para atingi-lo mortalmente com uma lança no ponto que fora coberto pela pequena folha quando o herói se banhara no sangue de Fafnir. Não atentar para a fragilidade é um erro que pode ser cometido por qualquer um, especialmente quando o indivíduo considera-se inatingível, haja vista que será acometido pela soberba, como acontecera com tantos outros. Assim como Aquiles, Siegfried tinha um ponto fraco e, uma vez exposto, foi sua ruína. Tal qual todos os homens, não há como ignorar nossa pequenez perante o universo, sendo certo que, sem a vontade de Deus, qualquer herói tombará e nenhum mal será derrotado. Siegfried expõe a natureza frágil daquele que se vê surpreendido e, principalmente, que ignora seu ponto fraco. Em sua lição, o mito nos remete ao dilema de vigiar aquilo que nos é caro, como a liberdade e a fé, não podendo-o ser humano se descuidar por um piscar de olhos, tendo em vista que, o inimigo da liberdade sempre estará a espreita e a crença em uma existência maior é igualmente escravizadora e libertadora, tornando o homem servo de um só senhor, não restará espaço para servir os tiranos. Ainda que o homem se julgue protegido ou intocável, estará limitado à natureza de seu ser, não viverá e não dobrará o universo à sua vontade. Do maior dos heróis ao pior dos tiranos, sempre haverá a folha para lembrar que há limites, seja ela qual for. A tirania dar-se pela força, ainda que busquem o convencimento, em um determinado momento a fraqueza de um déspota será exposta, sendo necessário recorrer ao poder coercitivo, calando e ameaçando quem ouse falar a verdade, como no recente episódio em que afirmam ser descontextualizadas as frases de uma autoridade que, ao ser perguntado sobre as próximas eleições e a possível derrota da esquerda nas urnas, sendo a indagação formulada por uma política que integra um partido que hasteia a bandeira do socialismo, na qual fala-se em medo da reeleição do atual Presidente da República, o magistrado da mais alta corte responde. “Nós somos muito poderosos, nós somos a democracia. Nós é que somos os poderes do bem e ajudamos a empurrar a história na direção certa. O mal existe, é preciso enfrentá-lo, mas o mal não pode mais do que o bem. Porque, se pudesse, nada valeria a pena. Eu acredito nos valores que nos unem e que eles vão prevalecer”. Infelizmente o que deveria ser a mais alta casa da Justiça do país, como de costume, confunde sua missão com a de deuses olimpianos e, embargada pelo néctar da ambrosia progressista, deixou de aproveitar a oportunidade de calar-se ou mesmo censurar as infelizes declarações de seu membro, preferindo fazer ameaças  àqueles que a divulgam como se estivessem propagando desinformação. Basta assistir o vídeo e poder-se-á ver a parte que a folha cobriu, a total desmoralização de uma corte que governa apenas pela força. A mitologia em torno da morte do quase imortal Siegfried nos ensina a admitir nossa frágil existência e observar que toda a prudência pode ser pouco, contudo, também nos ilumina com a esperança de vencer até mesmo aquilo que se apresenta como indestrutível, uma vez que, aquele que se considera inatingível é, em algum ponto, vulnerável como todos. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N.º 09 – Edição de Abril de 2022 - ISSN 2764-3867

  • Do manicômio ao poder

    “Esse meu mestre, por mil sinais, foi visto como um lunático, e também eu não fiquei para trás, pois sou mais pateta que ele, já que o sigo e o sirvo, se é verdadeiro o refrão que diz: ‘diga-me com quem anda e te direi quem és’ e o outro de ‘não com quem nasce, mas com quem passa’.” Sancho Pança (Dom Quixote de La Mancha – Miguel Cervantes). No clássico Dom Quixote de La Mancha, um corajoso cavaleiro já em idade avançada para a época, enfrentava monstros gigantes com a ajuda de seu fiel escudeiro Sancho Pança enquanto busca salvar sua amada em uma aventura memorável, não fosse pelo autor, Miguel de Cervantes, ter redigido uma sátira que gira me torno da loucura do protagonista, de maneira que, o Fidalgo, tomado por sua desconexão da realidade imaginara, não somente a donzela em perigo, mas os gigantes que acreditava lutar, que, em verdade eram moinhos de vento. Mesmo, por vezes, alertado por Sancho da realidade que os rodeava, o nobre cavaleiro espanhol insistia em combater ovelhas e se aventurar por seu mundo imaginário, seguindo em busca de um amor inexistente, portanto, utópico e renunciando a realidade, uma vez que, não era o herói das lendas de cavaleiros que tanto admirava. Ao menos a loucura de Dom Quixote não causaria maiores danos a terceiros, pois, sendo um cavaleiro sem tropas, não era capaz de curvar o mundo à sua imaginação, somente Sancho Pança e o cavalo eram constrangidos a suportar os devaneios do protagonista do genial conto. Em um exercício de imaginação, poder-se-ia o leitor supor que, caso Dom Quixote fosse o Rei da Espanha, as consequências de sua loucura sobre a sociedade seriam significantemente mais gravas. Fora das páginas de ficção, a história da humanidade aponta diversos casos de indivíduos ou grupos desconexos da realidade, seja por uma visão deturpada de mundo ou por assimilarem narrativas daqueles que buscam afastá-los da verdade, escravizando-os em uma espécie de bolha de realidade alternativa, entretanto, é preciso dizer que a loucura per si, pode, ainda que no mundo real, acarretar grandes consequências à sociedade, excetuando os casos em que os acometidos assumam papel de protagonismo, ou grande relevância, no campo do poder. Um louco investido de poder pode ser um grande mal e suas ações poderão criar prejuízos, por vezes irreparáveis àqueles que buscam manter a sanidade, a liberdade ou, em alguns casos, apenas viverem suas vidas em paz. Não podemos descartar que, em se tratando da loucura atribuída aos poderosos, é preciso observar a intenção daquele que a denúncia e, se há evidências de que tal acusação é factual, posto que, a difamação também pode ser um instrumento daquele que busca impor sua vontade sobre os outros, ainda que esta seja resultante de sua negação da realidade. A título de ilustração, sugere-se uma análise acerca das críticas feitas líderes, apresentando três hipóteses distintas. Em um primeiro momento citaremos Lenin, Stalin, Hitler e outros líderes totalitários do início do século passado, déspotas que mereceram as acusações que sobre eles recaíram, sendo certo que seus planos, movidos pela fome insaciável de poder, apresentavam-se como formas miraculosas de salvação, uma busca mais utópica que a de Dom Quixote por sua amada imaginária, que somente servia para os manterem no topo. Seja pelo esoterismo doentio e a busca por uma raça superior, apresentada pelo Nacional-socialismo a um povo que clamava por mudanças, após a derrota na I Grande Guerra, aceitando assim que os revolucionários envolto no misticismo ocupassem o poder na Alemanha, bem como, as falsas promessas de que uma revolução traria melhores condições de vidas a operários e camponeses foram a desculpa para que um partido composto por líderes inspirados nas mentiras propostas por Marx, assumissem o poder naquilo que se transformou na União Soviética. Lembrando que, tais narrativas não eram tão compradas pela grande parte da população, apenas pelos setores determinantes, mas isso é um assunto para outro momento. Os líderes revolucionários que mancharam o mundo com o sangue de inocentes, são merecedores das mais severas críticas e suas ações devem servir de exemplo negativo para todas as futuras gerações, de maneira que, o socialismo, o nazismo e o fascismo devem ser tratados como chagas que acometeram a humanidade, uma delas ainda muito presente, e, portanto, incessantemente combatidos. Aquelas figuras bestiais que, junto de seus asseclas, levaram milhões de vidas a termo em campos de concentração, ainda que chamados de Gulag ou campo de reeducação, merecem que seus nomes sejam constantemente citados como aquilo que foram e são, canalhas famintos pelo poder e tiranos abjetos. Em um segundo momento, temos que observar os casos em que as difamações resultam da mente doentia dos que se declaram críticos, ou ainda pior, omitem tal condição, para atribuir, falsamente aos líderes que não são de seu agrado ou atendem sua intenta doentia pelo poder, adjetivos que não encontram quaisquer fundamentos na realidade. Casos como do recém-reeleito Presidente dos Estados Unidos da América, Donald J. Trump, e quaisquer outros líderes rotulados como de extrema-direita, sobre os quais recaem acusações como perseguição de minorias, totalitarismo e, por mais patético que pareça, uma suposta a adesão ao fascismo e nazismo, ainda que preguem e atuem no sentido de reduzir o poder estatal sobre os indivíduos e a liberdade de expressão. A grande mídia, em nome de sua própria sobrevivência, aderiu à luta contra a liberdade de expressão , algo que coloca em risco a centralização da informação, ameaçando regimes totalitários, governos que pretendem se impor através de mentiras e as narrativas propostas pela própria imprensa que, não em raros casos, negocia seu poder de difusão em troca de favores e riquezas junto aos tiranos que precisam de seu assessoramento. Por tal razão, ataques daqueles que deveriam informar, tentam transformar em tiranos aqueles que não se submetem ao plano maior, que emana da Torre de Marfim , sendo, portanto, os líderes daquilo que a mídia convencionou chamar de extrema-direita, atacados de forma despudorada pela imprensa e a classe artística que está sob sua batuta. Nota-se que a grande mídia, ao menos nos Estados Unidos da América, assume uma postura partidária, deixando claro que tem predileção por um espectro ou partido político e que não se furta em influenciar os cidadãos no que tange à tomada de decisão. Se por um lado, a posição declarada de um meio de imprensa pode nos ser estranha, por outro, podemos ver o que ocorre no campo político brasileiro, no qual a mídia, salvo raras exceções, finge isenção quando, em poucos minutos se declara de forma gritante em favor de um lado específico. O atual proprietário do Washington Post , em uma carta na qual busca justificar a não declaração pública de seu jornal em favor de um lado na corrida eleitoral americana, argumentando que, ao fazê-lo, a imprensa põe-se em descredito perante o destinatário da notícia, uma vez que, alerta-o para a postura parcial do meio de comunicação, de tal forma, que seria recomendado aos canais de imprensa que se abstenham de anunciar apoio a determinado candidato ou partido. Se por um lado o bilionário tem razão, no que diz respeito ao descredito de uma fonte abertamente partidária, por outro prisma, pode-se concluir que tal cisão de mundo pretende privilegiar a sórdida e dissimulada falsa isenção à verdade, fazendo do veículo ainda mais questionável. No caso da imprensa brasileira, que, sem sua maioria, tenta omitir sua parcialidade ao não declarar sua posição política ou partidária, quando em verdade, suas ações deixam evidente sua adesão a um espectro política, praticando assim a artimanha sugerida pelo proprietário do jornal americano, fica claro que, o compromisso de tais corporações com a verdade está longe de ser uma prioridade. A sugestão abjeta do bilionário americano é, em verdade, uma decorrência de sua falta de valores, um sinal evidente de ausência moral, que pretende esconder nas sombras a sua verdadeira intenção, entretanto, no cenário brasileiro a prática é quase uma regra, expondo a falta de caráter que corroera como ferrugem os editoriais dos jornais. Muito mais dignos são aqueles que se declaram como partidários de um espectro político, restando evidente que, embora apodrecido pelo relativismo moral , um pasquim declaradamente socialista ainda é menos sórdido que os que fingem imparcialidade. Igualmente seria o Judiciário, se, por qualquer motivo, aderisse a uma corrente político-partidária ou lutasse para vencer qualquer personagem no campo ideológico, pois, evidentemente, não é o papel de um Poder que, por não ser composto por líderes eleitos, conserva sua legitimidade no fiel cumprimento das leis e a manutenção de uma distância mais que segura da disputa política. Natural que, nenhum torcedor ou atleta aceitaria de bom grado que o árbitro “vestisse a camisa” do time adversário. Por fim, é importante mencionar aqueles líderes que não podemos atestar se foram difamados ou merecedores de seus rótulos como loucos, haja vista o tempo decorrido e possíveis distorções históricas acerca de seus feitos. Citamos aqui figuras como Nero, Calígula ou Ivan o Terrível, que podem ter sido figuras desprezíveis como Stalin e Hitler ou alvos de ataques de opositores mentirosos com Donald Trump, podendo ser os relatos verdadeiros, mentirosos ou mesmo redigidos de forma não literal. A narrativa de que o Imperador Nero tocava sua lira enquanto parte Roma ardia em chamas pode ser um relato histórico preciso, deixando claro que o governante era nada além de um louco desligado de suas atribuições e pouco se importava com seu povo, bem como, pode ser mera obra da criatividade de seus opositores que, aproveitando-se do incêndio, culpavam o senhor do Império para desacreditá-lo diante do povo. Nota-se que incêndios podem ser uma responsabilidade daquele que governa ou consequência de fatores incontroláveis, segundo aqueles que contam a história, como é o caso dos últimos incêndios em terras brasileiras, antes um caos que a imprensa e grande parte da classe artística atribuíram ao governante, mas que, atualmente, deixou de ser um grande problema, que pode ser culpa de fatores externos ou as cinzas são varridas para baixo do tapete. O relato de Nero e sua lira também pode ser uma forma não literal de relatar o descaso do Imperador em relação àqueles que o incêndio afetara, dando um ar lúdico à postura reprovável daquele que tinha o dever de agir quando enquanto a desgraça se abatia sobre seu povo, ou mesmo, que não concorrera para minimizar os estragos. De certa forma, como um governante municipal que restringia festejos, aglomerações e outras atividades no âmbito da cidade, mas que curtia uma acalorada final de campeonato ou uma roda de samba evidenciando total descaso com aqueles que, diante de suas ações, se viam prejudicados. O grande problema em ter um louco no poder é que a sua negação da realidade pode causar danos irreparáveis, tanto a indivíduos quanto à sociedade como um todo, pois, no afã de colocar em prática seus desígnios transloucados, considerará que qualquer obstáculo, ainda que seja a realidade, deve ser superado . Por isso, as hordas revolucionárias são, cada vez mais, bestializadas por seus senhores, a ponto de clamarem pelo sangue de qualquer um que não se curve à loucura por ele promovida. A constante busca pela criminalização do pensar diferente e dizer aquilo que os revolucionários não aceitam é um traço que evidencia o quão desconexo da realidade tais figuras se tornaram, posto que, pedem que as vozes sejam caladas por não replicam seus gritos tribais delirantes e que até pensamentos sejam reprimidos, mesmo que sejam aqueles que se calçam na verdade. Não importa se a realidade os confronta, como relativistas, os revolucionários preferem morder aquilo que não podem controlar, transparecendo sua real natureza. Não é novidade que as pautas identitárias mais radicais, conhecidas como pautas “woke”, termo que significa acordado ou desperto, sendo uma nomenclatura “autoconferida” peloa grupos progressistas que lutam abertamente contra a natureza e a verdade, alegando que são capazes de enxergar aquilo que os demais, que devem considerar como adormecidos, não podem devido à limitação moral que supostamente possuem. Na verdade, o que impede os demais de compartilharem a visão “woke” é a impossibilidade de ver nos moinhos de vento os monstros gigantes que somente os loucos podem perceber. Como se as pessoas presas à realidade fossem a personificação de Sancho Pança e, se vissem forçadas, a concordar com Dom Quixote acerca de suas visões, mesmo não sendo possível que ingressem no mundo fantasioso criado pelos autointitulados progressistas, que, usando a força, em regra estatal, compelem o restante da sociedade a engolir sua esquizofrenia como algo que não pode ser resistido , uma vez que, gozam da proteção de autoridades que alimentam a onda de loucura para poderem, fingindo atender os anseios dos alucinados, avançar seu controle sobre os indivíduos. Pessoas que suplicam o uso de uma linguagem que nem mesmo elas são capazes de utilizar , como o caso de um político brasileiro que não admite ser tratado conforme seu sexo natural, mas que, em ato falho disse que, se ganhasse uma determinada eleição seria ocupante de um cargo o qual apresentou na forma adequada ao seu sexo de nascimento, se contradizendo, por mais de uma vez, no que diz respeito a sua alegada transmutação. Os loucos passaram a integrar turbas que são capazes de ecoar seus devaneios graças a ambição de outro que são bem mais perigosos, haja vista que, se os que buscam, inutilmente, lutar com a realidade, acabam tomados pelo narcisismo, exigindo que suas vontades sejam atendidas como crianças mimadas que esperneiam para que um adulto retire um brinquedo de outra criança, inicialmente por desejarem o brinquedo, mas, em um segundo momento, apenas para demostrar superioridade em relação àquele que teve seu bem retirado. Não por acaso, todo revolucionário é movido pela inveja, desejando que o Estado revolucionário retire de outrem aquilo que cobiça e, em um momento posterior, apenas que o poder estatal dobre as pessoas diante de sua presença, pois, o narcisismo é uma macula que está gravada na essência de tais figuras. Basta observar como a busca pela fama, ainda que negativa, tornou-se um combustível indispensável pelos seguidores da revolução, muitos dos quais, precisam se colocar em posições de detentores ou representantes de um nicho, ainda que inventado, para ter poder de barganha junto aos poderosos. Tudo aquilo que contradiz a loucura dos narcisistas é considerado por eles como uma reação a seus delírios, logo, uma ação de ódio que visa destruir aquilo que lhe é caro, o que, de certa forma, é uma verdade, posto que, ao trazer à lume a verdade põe-se em risco a existência do mundo imaginário em eu o revolucionário narcisista se sente confortável, afinal, trata-se de um universo cunhado na esquizofrenia de seus pares, todos lutando para prevalecer diante da realidade. A agenda “woke” alimenta tudo aquilo que puder afastar o indivíduo da verdade, pois um louco narcisista é incapaz de sobreviver em uma sociedade que o chama constantemente à realidade, tentando fugir daquilo que o incomoda, que é sua real natureza e de tudo aquilo que o cerca. Um homem que se recusa a aceitar sua natureza e, não satisfeito em lutar contra ela, busca impor aos demais membros de uma sociedade, encontrando abrigo em um tipo pior de louco, aquele que, apesar de não comungar de suas ilusões, as alimentará tão somente para que receba mais poderes para suprimir a vontade dos que ainda estão vendo e buscando a verdade, na qual, a autoridade que afaga os narcisistas esquizofrênicos é um monstro psicopata. Em síntese, quando se pune os que dizem a verdade na defesa de ideologias deslocadas da realidade, o que se busca não é proteger a sensível figura insatisfeita com sua existência, mas impedir que lhe exponham o mundo real, o que poderia resultar na liberdade em relação àqueles que realmente escravizam sua consciência. Dom Quixote, apesar de louco, valorizava a liberdade, uma vez que, seu mundo de faz de conta não era imposto sequer a Sancho, pois, o escudeiro ainda podia manter a sua consciência, entretanto, os loucos atuais, que não sugerimos sejam internados, mas que sejam impedidos de exercerem o domínio sobre os que vivem na realidade, buscando impor, pela força, que outros se curvem aos seus anseios irreais, algo que é impossível. Não obstante, os loucos que, de fato, representam perigo são os que ocupam posições de poder e insistem em alimentar os devaneios para aumentarem o alcance de seus tentáculos pútridos. A revolução é um movimento que engana os narcisistas esquizofrênicos para que sigam autoridades psicopatas. Na vida real, o final daqueles que acham que encontram abrigo nos braços de tiranos é acabar sendo devorado pelos monstros que alimentaram. “A liberdade, Sancho, é um dos mais preciosos dons que os homens receberam dos céus. Com ela não podem igualar-se os tesouros que a terra encerra nem que o mar cobre; pela liberdade, assim como pela honra, se pode e deve aventurar a vida, e, pelo contrário, o cativeiro é o maior mal que pôde vir aos homens”. Dom Quixote (Dom Quixote de La Mancha – Miguel Cervantes). Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. III N.º 48 – Edição de Novembro de 2024 - ISSN 2764-3867

  • Liberdade e desenvolvimento

    A chave para o progresso econômico e social no Brasil A liberdade, amplamente discutida por filósofos e economistas, é um pilar essencial para que os indivíduos se tornem protagonistas de suas vidas. John Stuart Mill, em sua obra Sobre a Liberdade , argumenta que a autonomia é vital para o desenvolvimento pessoal e coletivo. Já Adam Smith, em A Riqueza das Nações , apresenta o conceito de “mão invisível do mercado”, afirmando que a liberdade individual permite que os recursos sejam alocados de maneira mais eficiente, promovendo prosperidade. No Brasil, o conceito de liberdade parece estar em conflito com os debates sobre políticas econômicas e trabalhistas, como a redução da jornada de trabalho. Apesar das intenções de proteger a saúde mental do trabalhador, é necessário considerar o impacto que tais medidas têm sobre a produtividade e o crescimento econômico. O Debate Sobre a Redução da Jornada de Trabalho A discussão sobre a escala 6x1, consolidada na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) de 1943 durante o governo de Getúlio Vargas, ressurge como uma tentativa de modernizar as relações trabalhistas. Embora esse regime tenha sido um marco histórico ao estabelecer direitos fundamentais aos trabalhadores, ele reflete um contexto que mudou pouco em relação às necessidades de um mercado globalizado e altamente competitivo. Propostas para reduzir a jornada de trabalho buscam melhorar a qualidade de vida e proporcionar mais tempo para estudos e atividades pessoais. Contudo, em um país onde a produtividade é extremamente baixa — são necessários quatro brasileiros para produzir o que um trabalhador norte-americano faz sozinho —, trabalhar menos pode piorar os problemas estruturais da economia, sem resolver as questões fundamentais. Entraves ao Progresso Econômico O Brasil enfrenta barreiras significativas para o progresso econômico. Fatores como instabilidade fiscal, alta do dólar, juros elevados e um sistema tributário complexo dificultam o desenvolvimento sustentável. Pequenas e médias empresas, que geram cerca de 70% dos empregos formais e contribuem com mais de 27% do PIB, segundo o Sebrae, são particularmente prejudicadas. Apesar de serem cruciais para a economia, enfrentam dificuldades de acesso a crédito, altos encargos tributários e competição desigual com grandes corporações que recebem incentivos fiscais. O empregador brasileiro paga, em média, 70% a mais sobre o salário devido a encargos trabalhistas, como FGTS, INSS e outros benefícios obrigatórios. Isso significa que, para um salário de R$ 1.000,00, o custo real para a empresa é de aproximadamente R$ 1.800,00. Esse fardo financeiro desestimula contratações e inovações, impactando negativamente o crescimento econômico. Impacto no Trabalhador Além de onerar o empregador, o sistema tributário também prejudica o trabalhador. Parte considerável de seu salário é descontada diretamente em folha para FGTS, INSS, contribuição sindical e Imposto de Renda. Como resultado, o trabalhador tem menos dinheiro disponível, com um poder de compra reduzido pela inflação. Esse ciclo vicioso impede tanto empresas quanto trabalhadores de prosperarem, enquanto o governo continua se beneficiando de arrecadações crescentes, sem cortar despesas ou modernizar sua estrutura. Liberdade como Solução A verdadeira solução para os desafios econômicos e sociais do Brasil está na ampliação da liberdade econômica. Permitir que empregadores e trabalhadores negociem diretamente condições de trabalho e remuneração tornaria o mercado mais dinâmico e eficiente. Empresas poderiam ajustar suas contratações conforme as necessidades reais, enquanto os trabalhadores teriam mais autonomia para gerenciar seu tempo e renda. Adam Smith argumenta que mercados livres, guiados pela “mão invisível”, tendem a alcançar equilíbrio e prosperidade. Esse princípio é especialmente relevante para o Brasil, onde a interferência excessiva do governo em regulações trabalhistas e tributárias sufoca a produtividade. O debate sobre a redução da jornada de trabalho é apenas um reflexo de problemas mais profundos no sistema econômico brasileiro. A produtividade baixa, o excesso de regulamentações e a alta carga tributária impedem o país de alcançar seu verdadeiro potencial. O foco deveria ser na promoção da liberdade, permitindo que indivíduos e empresas tomem decisões que favoreçam a eficiência e o crescimento. A liberdade, acompanhada de reformas estruturais que simplifiquem tributos e modernizem as leis trabalhistas, pode transformar o Brasil em uma nação mais competitiva e próspera. A solução não está em trabalhar menos, mas em trabalhar de forma mais eficiente, com menos interferência governamental e mais autonomia para os protagonistas da economia: os trabalhadores e o s empresários. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. III N.º 48 – Edição de Novembro de 2024 - ISSN 2764-3867

  • Primeira-dama

    A pós o fim dos impérios, a sociedade passou a conviver com uma figura denominada primeira-dama. Esposa do presidente eleito, ela é, ou deveria ser, um símbolo representativo não apenas do país que ocupa, mas também dos valores que deseja transmitir. Listo aqui alguns pontos que vejo como cruciais em uma primeira-dama: Comunicativa, mas Diplomática : Uma primeira-dama deve ser capaz de se comunicar de maneira eficaz, mas com cautela. Mensagens para o público devem ser ponderadas, evitando debates acalorados que possam gerar divisões ainda maiores na sociedade. Focada em Ações Sociais : O foco deve estar em causas sociais relevantes, buscando apoio e promovendo iniciativas que tenham impacto real na vida das pessoas. Esse compromisso com o bem-estar coletivo fortalece a imagem da primeira-dama e, consequentemente, do governo. Modelo de Comportamento : Como figura pública, a primeira-dama deve servir de exemplo. É importante que suas ações e declarações inspirem respeito e admiração, promovendo valores como tolerância, solidariedade e inclusão. Acessível, mas com Respeito à Tradição : Embora a proximidade com o povo seja crucial, é fundamental que a primeira-dama respeite as tradições e protocolos que cercam a posição, assegurando uma imagem que combine modernidade e respeito ao papel que ocupa. Comprometida com a Inclusão : A primeira-dama deve estar atenta às questões sociais que afetam diferentes grupos, buscando sempre uma abordagem inclusiva que amplie o alcance das suas ações e alcance os mais necessitados. Podemos relembrar dos trabalhos que algumas ex-primeiras-damas do Brasil executaram. Rosane Collor Foi a primeira-dama do país durante a presidência de seu ex-marido, Fernando Collor , o 32.º presidente do Brasil , que governou de 15 de março de 1990 a 29 de dezembro de 1992. Antes de assumir o papel de primeira-dama do país, foi a primeira-dama de Alagoas, exercendo a função de 15 de março de 1987 a 14 de maio de 1989, durante o mandato de Collor como governador do estado. Rosane assumiu o papel de primeira-dama do Brasil, tornando-se a presidente da Legião Brasileira de Assistência (LBA) em 20 de Março do mesmo ano. Em sua gestão, ela passou a percorrer o país para avaliar de perto as desigualdades sociais e elaborar políticas de assistência voltadas para populações de baixa renda, focando especialmente em áreas vulneráveis onde a LBA poderia atuar diretamente. Seu objetivo era reduzir as disparidades sociais por meio do acesso facilitado a serviços básicos e auxílio emergencial. Ruth Cardoso Foi uma antropóloga e professora universitária brasileira , esposa de Fernando Henrique Cardoso , 34.º presidente do Brasil , e a primeira-dama do país de 1 de janeiro de 1995 a 1 de janeiro de 2003. Se engajou em políticas sociais como o Programa Comunidade Solidária e, posteriormente, o Comunitas . Na sua posição, impôs gradativamente a modernização do assistencialismo no país. Exerceu cargos de destaque como o de coordenadora do conselho assessor do Banco Interamericano de Desenvolvimento sobre Mulher e Desenvolvimento . Foi membro da junta diretiva da United Nations Foundation da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Comissão da Organização Internacional do Trabalho sobre as Dimensões Sociais da Globalização e da Comissão sobre a Globalização. O Programa Comunidade Solidária , implantado em 1995 pelo governo para o combate da extrema pobreza, funcionava nos âmbitos governamental e sociedade civil, e veio em substituição aos extintos órgãos da Legião Brasileira de Assistência (LBA) e Conselho Nacional de Segurança Alimentar. Além de antropóloga, dona Ruth era escritora; escreveu várias obras sobre imigração, sendo uma específica sobre a imigração japonesa. Penso que o leitor, assim como eu, discorda de várias ações oriundas dos respectivos maridos das duas personalidades citadas acima; contudo, é importante destacar que ambas cumpriram (cada uma a seu modo) o papel de auxiliares de seus esposos, enquanto no cargo de presidente da República. As exceções ficam por conta das duas esposas de Lula (por que será?). Quando se ouve o nome de Marisa Letícia , é impossível não lembrar de um “ato importantíssimo” para a democracia nacional: quando houve um panelaço em protesto contra o Partido dos Trabalhadores, a primeira-dama fez um singelo comentário por telefone com seu filho Fabio Luiz, o Lulinha : “Enfiem as panelas no c…” . Que elegância britânica, não? Com o Todo-Poderoso como minha Santa testemunha, procurei feitos sociais e beneficentes de dona Marisa e não encontrei nada que pudesse trazer à baila; eu pensei com meus botões: “Não importa que ela seja de esquerda e tenha sido esposa do Nove-Dedos, alguma coisa boa essa mulher deve ter feito, não é possível” . Mas perdão, caro leitor, não há nada. O único “grande feito” dela foi ter costurado a primeira bandeira do PT, em 1980. Um outro “grandiosíssimo feito” para o país foi realocar para sua casa a sede do sindicato dos metalúrgicos enquanto Lula esteve preso; e que interessante: Lula, em condições de presidiário, parece conseguir um feito extraordinário de atrair mais mulheres do que o ex-vocalista do Skid Row, Sebastian Bach , no auge da sua beleza nos anos 80. E assim como dona Marisa cuidava dos “negócios” do marido enquanto presidiário, assim fazia a nova esposa de Lula, Rosângela, quando Lula esteve preso na sede da Polícia Federal, em Curitiba, Paraná. Inclusive, foi assim que os “pombinhos” começaram a namorar. Embora seja conhecida como socióloga, dona Janja nunca exerceu a profissão, tendo trabalhado em estatais e em cargos por indicação. Ela é filiada ao PT desde 1983 e conhece Lula desde os anos 90 (hum, nesse mato tem coelho). E dona Marisa ainda estava com seu cadáver quente quando Janja resolveu fazer visitas a Lula. O resto da história já conhecemos. Mas, talvez a pergunta que o leitor esteja fazendo seja “ E quais os feitos de Janja como primeira-dama?” . Bom, logo no dia da posse descobrimos que dona Janja tem talento para organizar eventos – embora não possua bom gosto para fazer o mailing dos artistas. O chamado “Festival do Futuro” reuniu quarenta e duas atrações confirmadas para a festa, que se apresentaram nos palcos batizados Elza Soares e Gal Costa , cantoras que faleceram em 2022. As duas ex-primeiras-damas citadas neste artigo visavam o bem-estar social dos mais vulneráveis; mas dona Janja pensa apenas em sua panelinha ideológica. Feminista declarada, ela dispõe de um gabinete para fomentar os movimentos e ideologias que visam estabelecer a “ igualdade de gênero” . Outra “pauta importantíssima” para Janja é “combater a desinformação” ; no dia 8 de Fevereiro de 2023, no Palácio do Planalto, ela recebeu influenciadores digitais que fizeram campanha para Lula durante o segundo turno da corrida presidencial. Ela chegou a anunciar que iria assumir a coordenação da Rede de Inclusão e Combate à Desigualdade da Organização dos Estados Ibero-americano no Brasil; o convite foi aceito durante viagem da comitiva presidencial à Espanha. Contudo, esta viagem foi realizada em 2023 e até o presente momento em que escrevo este artigo não há uma única ação concreta nesta questão - nem sabemos sequer se ela assumiu este cargo. Há uma outra característica que, penso eu, Lula preza ao escolher uma esposa: a falta de decoro. Dona Marisa, com toda sua elegância britânica, pediu gentilmente que “enfiassem as panelas no c...” ; e dona Janja, com toda a sua etiqueta aprendida em Cambridge, emitiu um sonoro “F… you, Musk” em plena abertura do G20, evento que reúne líderes das principais economias do mundo. Imagino o orgulho que Marisa deve ter sentido onde quer que esteja; muito provavelmente pensou “Essa é das minhas!” Não critico a postura de Janja apenas por ela ser de esquerda; nunca vimos, por exemplo, a esposa de Joe Biden ou de Bill Clinton cometendo desatinos e quase provocando rasuras diplomáticas. Talvez o problema seja o marido. Afinal, Marisa e Janja dariam uma boa dupla sertaneja, com um álbum intitulado “As cachaças de Lula” . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. III N.º 48 – Edição de Novembro de 2024 - ISSN 2764-3867

  • Todo dia é um novo 7 x 1

    Ou o Varguismo não dá folga Um dos assuntos que mais vêm movimentando as redes sociais brasileiras recentemente é o fim da escala 6 x 1, onde o trabalhador tem um dia de descanso após seis dias consecutivos de trabalho. A proposta, de autoria da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), prevê inicialmente a substituição dessa escala por outra que, supostamente, trará mais qualidade de vida aos trabalhadores. Segundo a própria autora, a ideia seria apresentar uma proposta bastante ambiciosa para, após muitos debates, definir um projeto mais adequado à realidade. A princípio, a escala proposta é a 4 x 3, que visa ampliar o período de descanso e recuperação, esperando-se um aumento significativo de produtividade, dignidade e qualidade de vida para o trabalhador. A questão que tem gerado muitas discussões é a viabilidade do projeto, diante da relação custo-benefício. Muitos alegam que a demanda por serviços aos fins de semana impõe a necessidade de manutenção do comércio e até mesmo de setores da indústria em funcionamento aos sábados, domingos e feriados. Assim, para garantir a continuidade da oferta, seriam necessárias contratações de mão de obra (o que seria muito bom) ou horas extras. Em qualquer dos casos, poderia haver elevação dos custos de oferta, que seriam, possivelmente, repassados aos usuários ou consumidores, podendo gerar inflação e/ou desemprego. De fato, segundo estudo elaborado  pelo International Institute for Management Development (IMD), em parceria com o Núcleo de Inovação e Tecnologias Digitais da Fundação Dom Cabral (FDC), o Brasil ocupa a posição 62 dentre 67 países analisados. Contudo, ainda de acordo com o estudo, os fatores que puxam para baixo a classificação brasileira são: ineficiência do estado e das empresas, intervencionismo estatal, alta carga tributária, elevada burocracia, índices educacionais ruins, baixo domínio de outros idiomas, e a lista prossegue. Não é possível interpretar e agir sobre problemas fundamentais que afetam a maior parte da população com decisões rápidas ou emocionais. Usando um aforismo que já se tornou " meme " nas redes sociais: " problemas difíceis não são fáceis ". Não pretendemos dar um veredito sobre este tema, nem tampouco agir publicitariamente afirmando, como temos visto em diversos canais de mídia, " o que não te disseram sobre o fim da escala 6x1 ", ou ainda " tudo o que você precisa saber sobre o fim da escala 6x1 ". Ainda que este texto seja opinativo, nosso objetivo é agregar mais informações para que você, leitor, decida o que pensar sobre este tema. Ainda não se passaram 10 anos desde a aprovação da Lei Complementar 150/2015, que regulamentou a Emenda Constitucional nº 72, agregando novos direitos às empregadas domésticas. Naquela época, da mesma forma, pretendeu-se agregar cidadania e qualidade de vida às trabalhadoras domésticas, regulando sua participação no mercado de trabalho. Entretanto, segundo informado pela Agência Brasil em 02/04/2023: " Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que, em dez anos, o número de empregadas domésticas diminuiu. Neste período, houve crescimento da atuação de diaristas. Atualmente, três em cada quatro trabalhadoras domésticas no Brasil ". Entendemos que, após a regulamentação, os empregadores buscaram os serviços de diaristas, limitando a dois dias por semana para evitar os custos agregados pela formalização. Na mesma publicação, a Agência Brasil também informa que a crise da pandemia agravou o problema: "A classe média foi o segmento que mais perdeu renda durante a pandemia, afetando as contratações de domésticas mensalistas. Além disso, com a adoção do home office, muitos assumiram parte das tarefas domésticas antes desempenhadas pelas trabalhadoras domésticas". Assim, as empregadas domésticas se tornaram reféns e soterradas sob o concreto da legislação trabalhista. Para falar de legislação trabalhista, precisaremos iniciar com Getúlio Dornelles Vargas, nosso 14º e 17º presidente. É muito comum ouvirmos dizer que foi graças à benemerência de Vargas que o trabalhador pôde ser protegido das agruras do mercado de trabalho. Bem, as coisas não são exatamente assim. O governo de Getúlio Vargas, ao sancionar a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em 1º de maio de 1943 em pleno estádio de São Januário no Rio de Janeiro, não pode ser considerado o criador das leis de proteção ao trabalhador no Brasil, como muitas vezes é retratado. A CLT foi, na verdade, uma consolidação das normas trabalhistas que já existiam antes de sua sanção, reunindo-as em um único texto legal. Ainda que algumas novas regras tenham sido criadas àquela época, consolidar e criar são conceitos diametralmente opostos, e é fundamental entender essa distinção ao analisar a evolução do direito trabalhista brasileiro. O Decreto nº 1.313  de 1891 iniciou a regulamentação do trabalho de crianças e adolescentes exclusivamente na Capital Federal (RJ), assinado pelo chefe do governo provisório, Deodoro da Fonseca. Esse decreto foi uma das primeiras normativas no Brasil que estabeleceu restrições ao trabalho infantil, proibindo o emprego de crianças menores de 12 anos em fábricas. A primeira grande lei voltada para os direitos dos trabalhadores foi a Lei nº 3.724/1919 , que estabeleceu as bases para a proteção do trabalhador em caso de acidente de trabalho. Foi a primeira legislação brasileira a regular as obrigações decorrentes de acidentes de trabalho, estabelecendo o seguro obrigatório contra acidentes do trabalho em algumas atividades. O Decreto nº 16.300  de 1923, assinado por Arthur Bernardes, regulamentava o Departamento Nacional de Saúde Pública, o trabalho nas fábricas e oficinas, incluindo medidas para proteger mulheres e crianças, estabelecendo limitações para jornadas e condições de trabalho. O Decreto nº 4.982 , de 24 de dezembro de 1925, foi o primeiro a estabelecer o direito a férias remuneradas para os trabalhadores do setor privado no Brasil. O decreto estabelecia que os empregados e operários de estabelecimentos comerciais, industriais, bancários e de instituições de caridade e beneficência deveriam receber 15 dias de férias anualmente, sem prejuízo do seu salário. As férias podiam ser concedidas de uma só vez ou parceladas. Em 1943, o governo Vargas, por meio do Decreto-Lei nº 5.452, consolidou essas leis dispersas em um único código, tornando o direito trabalhista mais claro e acessível. Portanto, tratava-se essencialmente de um aprimoramento. Embora a CLT tenha sido responsável por algumas inovações, como o estabelecimento de um terço de férias ou a criação da Justiça do Trabalho, como vimos, muitas dessas inovações estavam dentro de um contexto maior de aperfeiçoamento das leis já existentes. A eleição direta e com voto secreto que escolheu os deputados constituintes, os quais elaboraram a nova Carta Constitucional de 1934, incluiu em seu texto diversos artigos que contemplavam aqueles decretos e leis de proteção ao trabalhador. Vargas, naquele momento, sancionou o que os constituintes democraticamente escolhidos redigiram e aprovaram. Esse entendimento é fundamental para esclarecer que, ao contrário do que muitas vezes é sugerido, as leis de proteção ao trabalhador no Brasil não surgiram apenas com Getúlio Vargas, mas sim com um processo gradual e progressivo de regulamentação trabalhista que já estava em curso nas décadas anteriores, muito antes de 1943. Não se pode negar que, para aquele tempo, a legislação trabalhista foi fundamental para estabelecer os moldes e resguardar a dignidade, formatando o trabalho em caracteres cidadãos e protegendo a saúde e a vida dos trabalhadores. Mas vivemos novos tempos. Novos trabalhos, modalidades e formatos surgiram ao longo do tempo, tornando explícito o dinamismo das novas relações de trabalho. Conforme vimos, as legislações, a cada ano mais ampliadas, têm reforçado os baixos índices de produtividade e competitividade. O estudo citado reflete este problema quando destaca a " ineficiência do estado e das empresas, intervencionismo estatal, alta carga tributária, elevada burocracia, índices educacionais ruins, baixo domínio de outros idiomas " (...). Se tomarmos por base a realidade e a história, e não apenas as boas intenções, relembraremos o exemplo das empregadas domésticas citadas anteriormente. Constataremos que, em um dos países menos burocráticos nas questões trabalhistas, os Estados Unidos, atraem-se ano após ano massas de trabalhadores brasileiros, muitos deles ilegais, buscando na quase total ausência de regulamentações uma oportunidade de ganhos financeiros reais. O Brasil, como fornecedor de commodities, tem sido bem-sucedido, mas quando entra na disputa por mercados internacionais de produtos industrializados, se vê ancorado pela sua legislação. Nossos custos são maiores. Se observamos o setor terciário da economia, que abrange o comércio e a prestação de serviços, percebemos que a geração de vagas está sujeita às limitações de demanda de consumo, e esta se vincula aos custos da produção industrial. Temos um círculo vicioso que vai estagnando nosso ambiente econômico e de trabalho. Finalmente, é fundamental refletir sobre as propostas regulamentadoras, para além dos benefícios imediatos, do raciocínio simplista e da satisfação dos desejos mais imediatos. O assunto é sério, envolve nosso presente, mas principalmente nosso futuro. Se não atentarmos para a escala 6 x 1 agora, teremos em breve mais um 7 x 1. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. III N.º 48 – Edição de Novembro de 2024 - ISSN 2764-3867

  • Quando Governos Democráticos Mentem

    Antes que o leitor, baseado somente no título do presente artigo, tire precipitadas conclusões, este articulista já responde: não, não trataremos no presente artigo de nada que envolva questões político/partidárias/eleitoreiras no contexto nacional. Pelo cargo exercido pelo articulista, impedido está de imiscuir-se nesta seara. A Lei nacional não impede, no entanto, intromissões do articulista em assuntos internacionais, mormente daqueles muito em destaque no atual contexto momentâneo: a invasão da Ucrânia. Porém, antes mesmo de iniciarmos as discussões que intencionamos, mister explicar as razões que levaram o subscritor deste a tal assunto. É cediço que a grande mídia, há tempos, não mais preocupa-se em divulgar a verdade. Seja por interesses comerciais ou mesmo ideológicos, a mídia atualmente preocupa-se mais com narrativas, escândalos, futilidades direcionadas e notícias tendenciosas do que, propriamente, com a séria divulgação de fatos. A posição de Juca Chaves mostra-se totalmente atual quando, tempos atrás, disse que “a imprensa é muito séria, se pagar eles publicam até a verdade”. Porém, como em todas as atividades humanas onde há uma grande gama de participantes, a imprensa ainda detém instituições e profissionais sérios que, a despeito de não seguirem o que podemos qualificar como politicamente correto (que, muitas vezes, de correto não tem nada), cumprem com o papel de informar e divulgar a verdade. No atual contexto, o que se reverbera na grade mídia é o absurdo da invasão da Ucrânia pela Federação Russa. Demonstra-se, de forma muito incisiva, as inúmeras e tristes mortes de civis, a destruição de imóveis e infraestrutura, a crise de refugiados, dentre outras abomináveis situações causadas por qualquer guerra, que tem na população a sua maior vítima. Divulga-se que a principal justificativa para a invasão seriam as intenções da Ucrânia de passar a fazer parte da OTAN, a aliança militar de vários países ocidentais, e defende-se a autonomia de qualquer país para tal. Nesse conturbado ambiente de informações, temos, no entanto, que buscar alguma concretude, salientando que, muitas vezes, não há lado certo em uma guerra. Que fique bem claro: não defendemos as atitudes da Federação Russa e muito menos os argumentos de seu Presidente, até pelo contexto histórico da Rússia. Para quem desconhece, a Rússia é uma nação que, após a revolução de 1917, não somente passou a ter a desinformação como política de Estado, quanto também fez com que referido tipo de política atingisse níveis absurdos. Durante a guerra fria, houveram períodos em que a União Soviética tivera mais agentes ativos de desinformação do que militares em suas forças armadas. Portanto, tudo o que vem da Rússia deve ser visto com grande desconfiança, principalmente se considerarmos que as premissas totalitárias do comunismo que alega-se não mais existente em referida nação ainda encontram-se plenamente em vigor. Assim concluímos pois a forma como a Federação é gerida está longe de autorizar que seja ela qualificada como uma democracia plena, seja pela perseguição à desafetos políticos, membros da própria imprensa bem como de grupos “indesejados” pelo núcleo do Estado, e ainda pela inexistência de razoável liberdade partidária de oposição ao estamento atual. Soma-se a tudo isso a mantença indistinta, mesmo após o findar da União Soviética e, por conseguinte, da Guerra Fria, da consideração do ocidente como um inimigo. Quanto ao seu Presidente, deixaremos que sua qualificação opinativa fique sob a responsabilidade do leitor, para que não pessoalizemos a discussão. Por tais nuances, o mote da presente discussão não serão as alegações do Estado Russo. O título do artigo remete-nos a um outro Estado: os Estados Unidos da América. Ainda que o incauto enxergue, muitas vezes contaminado por inclinações ideológicas, os Estados Unidos como sendo sinônimo de imperialismo (apesar de nunca ter, efetivamente, agido como uma potência colonialista, assim como eram o Império Britânico, a França e, em menor grau, a Holanda e a Bélgica) e guerras, não podemos olvidar que tal nação é, em nosso mundo contemporâneo, a que mais concretamente espelha o conceito de liberdade (que muitos confundem com libertinagem). É claro que, assim como todas as outras nações do mundo, detém eles sérios problemas sociais, o que não impede de reconhecermos os ganhos advindos com a liberdade, seja de pensamento e opinião, ou mesmo a liberdade econômica e empresarial. Dentre as revoluções da segunda metade do milênio passado, fora somente a revolução americana, com a posterior independência das treze colônias, a emissão da declaração de independência e a promulgação de uma Constituição, que realmente espelhara no mundo ocidental uma revolução realmente libertadora e que primara, com considerável preocupação, pela efetivação de instrumentos garantidores dessa liberdade. Qualquer pessoa minimamente esclarecida tem conhecimento dos frutos gerados por essa liberdade, alguns amargos mas, em sua grande maioria, doces e saborosos. A liberdade, enquanto conceito, não é uma carta branca para o indivíduo fazer o que bem entender. Com liberdades, advém responsabilidades. É justamente o correto balanço entre liberdades enquanto direitos, e responsabilidades enquanto obrigações, que induz ao desenvolvimento de qualquer sociedade. O por tratar de responsabilidades, temos que uma responsabilidade de grande monta é a do chefe de uma nação democrática, escolhido pelo voto popular. Referido mandatário recebe do povo, o verdadeiro detentor do poder em qualquer país livre, uma especial autorização para agir em seu nome. Justamente pela natureza de tal representação, cabe ao mandatário agir com a maior transparência possível, deixando bem claro ao povo as razões de seus atos. Surge então uma importante indagação, que ilustra o título do presente artigo: o que ocorre, então, quando governos democráticos mentem? A mentira é tão antiga quanto o ser humano, e detém, além de várias formas de se externar, diferentes graus e consequências. Mas, o que dizer de uma mentira deliberada, com interesses escusos, e que pode causar sérias consequências para toda a humanidade, para não dizer a sua possível extinção? E se tal mentira tiver como percussor àquele quem mais deveria espelhar os ideais de transparência? Para responder a essas perguntas, temos que retornar ao motivo que ensejou a sua discussão. Como é de conhecimento público, a Federação Russa invadiu o território da Ucrânia na data de 24 de Fevereiro de 2022, iniciando um conflito armado de severas proporções. Midiaticamente, a razão de tal invasão seria a intenção Russa de evitar a entrada da Ucrânia na OTAN, e ainda a discussão acerca de territórios separatistas, além da questão da Crimeia. No início do conflito, no entanto, algumas notícias nos levavam a induzir que a invasão poderia ter tido o seu estopim com a constatação de que os Estados Unidos estariam mantendo laboratórios de armas biológicas em território ucraniano. O porta-voz do Ministério da Defesa da Rússia, Igor Konashenkov, chegou a dizer em 13 de Março que “Durante a condução da operação militar especial, foram encontradas evidências de que o regime de Kiev se apressou para eliminar vestígios do programa biológico militar financiado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos na Ucrânia”. A grande mídia, extremamente preocupada com notícias falsas (contém sarcasmo, para que fique bem claro) logo tratou de refutar referidas “teorias da conspiração”. As fontes que refutaram tais informações, conforme divulgado pela rede de notícias “USA TODAY”, seriam membros não identificados do Governo Ucraniano, bem como funcionários do Departamento de Estado Americano, os quais, podemos concluir, não têm muita credibilidade quando o assunto é negar algo que os possa implicar. Apesar do recorrente afastamento dessa “teoria conspiratória”, ainda assim diversos outros atores entraram em cena. Até a União Europeia negou a existência de tais laboratórios, tratando tal teoria como pura desinformação Russa aumentada pela China. Porém, algumas questões chamaram a atenção desse articulista. A primeira delas, a qual buscamos verificar diretamente, fora uma mensagem divulgada no ano de 2020 na página oficial da embaixada dos Estados Unidos na Ucrânia, mencionando o auxílio americano, através do Programa de Redução de Ameaças Biológicas do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, no “programa de redução de ameaças biológicas na Ucrânia”. Menciona a notícia que: “ O Programa de Redução de Ameaças Biológicas do Departamento de Defesa dos EUA colabora com países parceiros para combater a ameaça de surtos (deliberados, acidentais ou naturais) das doenças infecciosas mais perigosas do mundo. O programa cumpre sua missão de redução de bio-ameaças através do desenvolvimento de uma cultura de gestão de bio-risco; parcerias internacionais de pesquisa; e capacidade de parceiro para medidas aprimoradas de bio-segurança, bio-salvaguarda e biovigilância. As prioridades do Programa de Redução de Ameaças Biológicas na Ucrânia são consolidar e proteger patógenos e toxinas cuja segurança gere preocupação, e continuar a garantir que a Ucrânia possa detectar e relatar surtos causados por patógenos perigosos antes que representem ameaças à segurança ou à estabilidade”. Como podemos ver, o Programa de Redução de Ameaças Biológicas (Biological Threat Reduction Program – BTRP, no original) é um programa do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, e não um programa científico qualquer. Segue a notícia aduzindo que, ainda em 2020, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos atualizou laboratórios e construiu outros na Ucrânia: “ A BTRP atualizou muitos laboratórios para o Ministério da Saúde e o Serviço Estadual de Segurança Alimentar e Defesa do Consumidor da Ucrânia, atingindo o Nível 2 de Biossegurança. Em 2019, a BTRP construiu dois laboratórios para este último, um em Kiev e outro em Odesa”. A primeira pergunta que nos vem à mente: se é um programa científico que visa reduzir riscos de patógenos potencialmente causadores de danos à população, qual a razão de tal programa ser patrocinado (conduzido, na verdade) pelo Departamento de Defesa? Voltando um pouco no tempo, fora possível encontrar uma postagem do próprio Departamento de Defesa em seu sítio eletrônico institucional, em 2010, que mencionava que: “ o senador norte-americano Dick Lugar aplaudiu a abertura do Laboratório Central Interino de Referência em Odessa, Ucrânia, esta semana, anunciando que será fundamental na pesquisa de patógenos perigosos usados por bioterroristas. O laboratório de biossegurança nível 3 será usado para estudar antraz, tularemia, febre Q, bem como outros patógenos perigosos”. Mas as questões não param por aí. O início da ofensiva russa ocorrera com intenso bombardeio de algumas áreas em todo o país, sendo possível notar que alguns dos ataques deram-se em locais sem qualquer interesse aparentemente estratégico, sem que também tenha atingido qualquer infraestrutura civil. Naquele momento, o próprio ofensor alegou que visava estruturas militares, principalmente aeródromos. Tempos antes, o Ministério das Relações Exteriores da China publicou que os Estados Unidos teriam 336 laboratórios sob seu controle, distribuídos em 30 países. Somente na Ucrânia haveriam 26 de tais laboratórios. Coincidentemente, os bombardeios iniciais ocorreram justamente nos locais onde supostamente existiriam laboratórios patrocinados (ou conduzidos) pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos: A fotografia mostra os primeiros locais bombardeados pela Rússia quando do início da invasão a Ucrânia. É claro que tal coincidência entra as alegações Chinesas e os atos Russos podem, claramente, tratar-se de estratagema de desinformação, razão pela qual não poderíamos considerá-la como fidedigna. Porém, no último dia 10 de Março, tornara-se pública uma recomendação da Organização Mundial da Saúde dirigida ao Governo Ucraniano, onde este era instado a destruir patógenos de alta ameaça alojados nos laboratórios de saúde pública do país. A recomendação visava evitar “qualquer derramamento potencial” de patógenos que poderiam espalhar doenças entre a população. Ao ser questionada sobre referida recomendação, a OMS não dera detalhes sobre quais tipos de patógenos estariam alojados nos laboratórios ucranianos. O fato mais sério de toda essa celeuma, no entanto, dera-se em razão do testemunho prestado por uma alta funcionária do Governo Americano perante o Comitê de Relações Exteriores do Senado no dia 08 de Março de 2022. O nome de tal funcionária é Victoria Jane Nuland, que atualmente exerce a função de subsecretária de Estado do governo Americano, responsável pela Ucrânia. Para o público brasileiro, que não conhece bem os integrantes da estrutura do Governo dos Estados Unidos (este articulista nunca antes ouvira dela falar), temos que explicar quem é a pessoa carinhosamente conhecida por Toria Nuland. Toria Nuland é uma diplomata norte-americana, casada com o influente escritor e conselheiro eventual de política externa de governos americanos Robert Kagan. Kagan foi, juntamente com Bill Kristol e Jeffrey Goldberg, o responsável por divulgar publicamente a mentira de que o regime iraquiano detinha relação com o ataque de 11 de Setembro, convencendo a opinião pública americana de que a invasão do Iraque era uma necessidade. Kagan é membro do Conselho das Relações Exteriores. Para quem não conhece ou não sabe o que faz o Conselho de Relações Exteriores, mais conhecido pela sua sigla no original em inglês, CFR (Council on Foreign Relations), temos uma má notícia: o Google não te ajudará! Se pesquisarmos notícias sobre o CRE em português, a principal referir-se-á ao fato de que George Clooney passou a integrá-lo. Quem quiser saber um pouco mais, sugerimos a leitura dos livros “Política, Ideologia e Conspirações”, escrito em 1971 por Gary Allen e Larry Abraham, ou então o mais recente “Os Donos do Mundo”, de Cristina Martin Jimenez. Voltemos à esposa de Kagan: Nuland atua na alta administração do Governo americano há anos. Foi assessora de segurança nacional adjunta do ex-vice-presidente Dick Cheney, bem como embaixadora na OTAN durante o governo Bush. Na atualidade, enquanto responsável pela política externa em relação à Ucrânia, resta claro que tem conhecimento específico do que ocorre lá. Aliás, é de bom alvitre mencionar, Nuland atuou incisivamente nos atos que culminaram com a revolta ucraniana que ficou conhecida como “Euromaidan”. As manifestações em questão, que iniciaram-se em 2013, deixaram um saldo de mais de 100 mortos, e culminaram no ano seguinte com a deposição do então presidente Viktor Yanukovych, outrora apoiado pelo Kremlin. No mês seguinte à deposição de Yanukovych, a Rússia anexou a península da Crimeia. Na citada audiência no senado, ao ser diretamente questionada pelo Senador Marco Rubio se a Ucrânia tinha armas biológicas, a resposta fora tanto inesperada quanto surpreendente. Mister transcrevê-la: “ A Ucrânia tem instalações de pesquisa biológica que, de fato, agora estamos bastante preocupados que as tropas russas, as forças russas, possam estar tentando obter o controle. Portanto, estamos trabalhando com os ucranianos em como eles podem impedir que qualquer um desses materiais de pesquisa caia nas mãos das forças russas, caso se aproximem” Ora, para um entendedor médio, a confirmação de que a Ucrânia tem “instalações de pesquisa biológica” cujo material teme-se poder cair em poder Russo é, definitivamente, contrário ao discurso de que não há laboratórios de armas biológicas na Ucrânia. Para quem assistiu o vídeo, vemos claramente o desconforto da subsecretária ao responder tal questão, desconforto esse que não coaduna, minimamente, com o fato de alguém com seu currículo falar em público ou mesmo em uma audiência no Senado. Infelizmente, e num comportamento que parecia quase que planejado, o senador inquiridor mudou de assunto, chegando ao ponto de perguntar se, eventualmente, ocorresse um acidente onde fossem espalhados patógenos externamente, se isso seria culpa da Rússia, tendo Nuland prontamente respondido que sim. Pois bem: a Ucrânia é um dos países mais carentes da Europa, razão pela qual dificilmente poderíamos acreditar que ali encontravam-se sendo desenvolvidas pesquisas biomédicas e/ou farmacêuticas de ponta. E o pior de tudo é saber que referidas instalações não são patrocinadas por indústrias farmacêuticas, mas por nada mais nada menos do que o Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Ligando todos esses pontos, vemos que alguma concretude há nessas notícias. A recomendação da Organização Mundial de Saúde ao Governo Ucraniano supostamente decorrera da total inabilidade do Governo Americano, já fartamente demonstrada na retirada das tropas do Afeganistão, em proteger os patógenos que encontravam-se em referidos laboratórios, mesmo diante da iminência da invasão russa. O fato do Departamento de Defesa dos Estados Unidos patrocinar e incentivar a instalação dos laboratórios já demostra qual seria a sua finalidade. A confissão da subsecretária de Estado de que a Ucrânia, de fato, tem instalações de pesquisas biológicas cujos materiais de pesquisa teme-se caírem em poder russo, aliado ao fato que de referidas instalações são vinculadas ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos, nos dá uma pequena dimensão do problema. Mas, o pior de tudo, é o Governo democrático, mesmo diante de tudo isso, continuar negando o inegável. O porta-voz do Pentágono, John Kirby, no dia 14 de Março, falou claramente, sobre a questão das armas biológicas na Ucrânia, narrando que: “ as acusações russas são absurdas, elas são risíveis e, nas palavras do meu avô católico irlandês, muita besteira. Não há nada disso. É a clássica propaganda russa e eu não, se fosse você, eu não perderia meu tempo”. O canal FoxNews, ao perguntar formalmente ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos sobre tais instalações, recebera como resposta: “ O Departamento de Defesa dos EUA não possui ou opera laboratórios biológicos na Ucrânia. A subsecretária Nuland estava se referindo aos laboratórios Ucranianos de diagnóstico e biodefesa durante o seu depoimento, que não são instalações de armas biológicas. Essas instituições combatem as ameaças biológicas em todo o país.” Tucker Carlson, apresentador da FoxNews, em um dos seus programas, fez uma feliz comparação. Ele sustentou que podemos citar que o estoque de armas nucleares dos Estados Unidos são somente para defesa, pois não são projetadas para matar ninguém especificamente e/ou preventivamente. Elas são projetadas para impedir que outras pessoas os matem, mas ainda assim são armas nucleares. Da mesma, se podemos considerar eventuais “pesquisa de patógenos perigosos usados por bioterroristas” como estudos biológicos defensivos, é fácil concluir que não perdem eles a capacidade de utilização como armas ofensivas. A forma de utilização (defensiva ou ofensiva) não transmuta a qualidade de nenhuma arma. E, se realmente o propósito fosse somente uma ingênua pesquisa defensiva, qual a razão da grande preocupação de que tais pesquisas sejam encontradas pelas forças armadas russas? Ora, ao constatarmos que o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, por mais que não “possua” ou “opere” laboratórios biológicos na Ucrânia, atua incisivamente em seu patrocínio na condição de parceiro, resta evidente a sua participação no que lá é ou possa ser produzido. Ao tentar o Governo Americano sustentar que tais laboratórios não intencionam produzir armas biológicas, mas simples pesquisas de patógenos que podem ser utilizados por bioterroristas, vislumbra-se uma clara incongruência em tal discurso. Ora, por suposições muito mais vagas os Estados Unidos envolveram-se em vários eventos de maiores proporções. Podemos, só de forma exemplificativa, citar o incidente no golfo de Tonkin, cujas investigações posteriores concluíram nunca ter de fato ocorrido, mas que serviu de pretexto para o Congresso dos Estados Unidos aprovar a entrada do país na guerra do Vietnã. Temos ainda a suspeita, posteriormente confirmada como fato inexistente, da existência de armas de destruição em massa no Iraque. E, por falar em suposições, não nos esqueçamos do caso dos e-mails extraídos do computador do filho do presidente Joe Biden, demonstrando uma suposta influência do presidente nas relações comerciais de seu filho com a empresa de gás ucraniana Burisma. Estranhamente, tal caso não fora devidamente apurado e, ao revés, fora utilizado como arma política contra Donald Trump por supostamente ter pedido ao Presidente da Ucrânia que reabrisse a investigação. Concitamos o leitor: use sua inteligência e ligue os pontos! Não sabemos quais serão as consequências da guerra, e até onde pode ela chegar. No entanto, o fato por si só já dividiu o mundo como não se via – abertamente – desde o fim da União Soviética. Por mais que não defendamos nenhuma guerra, cujas consequências e sofrimentos primários são atribuídos mais diretamente àqueles que menos tem participação em sua eclosão, temos que entender as reais razões que levaram a sua existência. O que não podemos, de maneira alguma, é elegermos um lado como certo, baseado exclusivamente no que a grande mídia divulga. E é justamente por não podermos acreditar cegamente na mídia, que esperamos que, no mínimo, um governo eleito democraticamente não minta. Da afirmação do título finalizamos com uma pergunta: o que fazer quando governos democráticos mentem? Rogamos que referia pergunta possa ser respondida por quem ainda tenha possibilidade de evitar as suas consequências, e não por historiadores do futuro (se é que existirão). Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N.º 08 – Edição de março de 2022 - ISSN 2764-3867

  • O deep state do deep state

    Sociedades secretas existem desde que o mundo é mundo, e grupos de extermínio altamente sofisticados, surgidos quase que paralelamente a elas, também. Eles são o lado mais obscuro do sistema. O cinema tem tratado esses grupos de uma forma bem crua e até certo ponto poética, como convém à arte, dando a eles uma roupagem, às vezes espiritual, como em “Assassin's Creed ” (2016), onde uma sociedade ancestral de assassinos se vê às voltas com – outra sociedade secreta – os Templários por conta de um imbróglio envolvendo a maçã que estava no Jardim do Éden. Podemos ver também a presença desse submundo quase que onipresente em “Vidas em Jogo” (1997), um dos filmes mais subestimados do sempre excelente David Fincher, e também no irregular “O Pacto” (2012), do bom, mas irregular Roger Donaldson. São bons exemplos de confrarias que agem nas sombras determinando sua própria justiça e descumprindo todas as regras possíveis. Talvez um dos exemplos mais crus desse sistema seja “O Procurado” (2008), uma pérola ainda desconhecida do grande público, com Morgan Freeman, James McAvoy e Angelina Jolie. Enredo padrão: uma sociedade antiquíssima de assassinos sempre agindo além das linhas para impor algum tipo de “justiça” ao mundo. Nada, porém, consegue ser mais didático nesse ponto, do que a tetralogia “John Wick”, a maior já feita no cinema. A série que começa em 2014 com “De Volta ao Jogo” e termina em 2023 com o absurdo “Baba Yaga”, apresenta ao mundo uma sociedade secreta de assassinos que, segundo a minissérie “Continental” (2023), que conta eventos antes da franquia original, remonta a um período “anterior ao Império Romano”. Em resumo, a “Alta Cúpula” é mais antiga do que Cristo. Com os filmes vamos entendendo que a “Alta Cúpula” é uma organização formada por grupos e famílias que trabalham para ela em troca de certos privilégios. É uma milícia de mercenários com alcance global, regras rígidas, hierarquia bem definida e legislação própria. Em suma, a “Alta Cúpula” é o sistema dentro do sistema, o deep state dentro do deep state, que não responde para ninguém. Ela junta a mística das sociedades secretas, a tradição das genealogias e o pragmatismo dos assassinos de aluguel. Ao se virar contra ela, John Wick nos apresenta a um mundo completamente aparelhado pelo sistema, como já avisava as Escrituras: “ O mundo inteiro jaz no maligno ” ( I João 5:19 ), com olhos e ouvidos em todos os lugares, completamente conectado e interdependente. O mundo da “Alta Cúpula” é o mesmo mundo governado pela “Matrix”, só que na vida real. Seus assassinos alistados são como o agente Smith, estão em toda parte, de modo que você cruza com eles a todo instante, mas não sabe de quem se tratam, até que eles tentem te destruir. Se a Matrix tem seu “analista”, a Alta Cúpula tem seu “ancião” (ou superintendente). No final, ambas falam da mesma coisa e mandam o mesmo recado. Tanto a Alta Cúpula como a Matrix esbarram em você o tempo inteiro. Eles estão nas megacorporações que controlam suas finanças, nas multinacionais que você ajuda a manter com suas compras, na grande mídia que está da sua TV ao seu smartphone. Quando você resmunga algo perto do seu aparelho celular, e logo em seguida ele te oferece um produto referente ao que você resmungou, é a Matrix dizendo: “Olá, estamos aqui!”. Quando gente famosa some ou morre de forma inexplicada/inesperada, como JFK, Gandhi ou Martin Luther King, é a Alta Cúpula. Esse é o primeiro recado: ninguém está seguro. Mesmo quem acha que tudo não passa de mais uma teoria da conspiração, não está livre de se deparar com mais essa “teoria”. É só entrar no caminho do sistema. Não precisa ser muito inteligente para entender que, embora esses eventos não estejam especificamente ou diretamente ligados, eles ocorrem em padrões semelhantes as mostrados nos filmes. Assim como não sabemos quem controla a Matrix ou a Alta Cúpula, uma informação deixada no limbo de forma proposital, porque no final das contas tudo e todos os envolvidos servem ao mesmo patrão, Satanás, a ideia é deixar tudo no campo da imaginação, para reforçar ainda mais a ideia de paranoia, enquanto eles seguem agindo. O segundo recado é mais sombrio. John Wick e Neo morrem ao final. Ainda que “Matrix” o ressuscite no quarto episódio, para pagar aquele mico colossal, a verdade é que quem tem um pouco de experiência com filmes sabe que a coisa foi pensada para acabar no terceiro, assim como Wick acaba no quarto episódio. Trazer Neo de volta para agradar à narrativa woke/feminista foi um fiasco. Não por acaso custo cerca de 200 milhões de dólares e não rendeu nem perto de disso. Fracasso retumbante e merecido. O cinema, assim como na história, no mundo real, mostra que os “bugs” e “outsiders” podem fazer o estrago que quiserem, mas ao final serão sumariamente eliminados por um mundo que eles – desgraçadamente – ajudaram a criar. Ampliando os horizontes cinematográficos, foi assim com Spartacus e o General Maximus. Todos traídos pelo deep state de sua época. Isso ocorre porque a humanidade ainda não se deu conta (ou se perdeu dela) de que o pano de fundo para tudo isso é mais espiritual do que se pensa. Yeshua, o único ‘outsider’ que encarou o sistema e venceu, expôs isso, ao mostrar a influência satânica por trás do deep state de sua época, composto por Judas, fariseus e romanos. O primeiro ficou possesso, aos segundos ele chamou de filhos do Diabo ( João 8:44 ) e os outros dispensam apresentação. Quando em João 16:33 ele, Yeshua, diz: “ Eu venci o mundo! ”, entre outras coisas está querendo dizer: “Eu venci o sistema!”, mas também “Vocês também podem vencer, mas tem que vir comigo!”. É o conceito de fé exposto pelo personagem Morpheu, vivido por Laurence Fishburne, e devidamente desconstruído (propositalmente) no quarto episódio, em que fazem o favor de tornar essa fé e o sacrifício de Neo completamente inúteis, e até prejudiciais. Porque a fé em Yeshua, o único venceu o mundo, o sistema e o deep state, e voltou para nos provar que é possível, é a arma mais poderosa que temos para lidar com o que nos cerca, ou, como diz a Escritura, “anda ao nosso derredor” ( I pedro 5:8 ). Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. III N.º 48 – ISSN 2764-3867

bottom of page