O deep state do deep state
Sociedades secretas existem desde que o mundo é mundo, e grupos de extermínio altamente sofisticados, surgidos quase que paralelamente a elas, também. Eles são o lado mais obscuro do sistema.
O cinema tem tratado esses grupos de uma forma bem crua e até certo ponto poética, como convém à arte, dando a eles uma roupagem, às vezes espiritual, como em “Assassin's Creed” (2016), onde uma sociedade ancestral de assassinos se vê às voltas com – outra sociedade secreta – os Templários por conta de um imbróglio envolvendo a maçã que estava no Jardim do Éden. Podemos ver também a presença desse submundo quase que onipresente em “Vidas em Jogo” (1997), um dos filmes mais subestimados do sempre excelente David Fincher, e também no irregular “O Pacto” (2012), do bom, mas irregular Roger Donaldson. São bons exemplos de confrarias que agem nas sombras determinando sua própria justiça e descumprindo todas as regras possíveis. Talvez um dos exemplos mais crus desse sistema seja “O Procurado” (2008), uma pérola ainda desconhecida do grande público, com Morgan Freeman, James McAvoy e Angelina Jolie. Enredo padrão: uma sociedade antiquíssima de assassinos sempre agindo além das linhas para impor algum tipo de “justiça” ao mundo.
Nada, porém, consegue ser mais didático nesse ponto, do que a tetralogia “John Wick”, a maior já feita no cinema. A série que começa em 2014 com “De Volta ao Jogo” e termina em 2023 com o absurdo “Baba Yaga”, apresenta ao mundo uma sociedade secreta de assassinos que, segundo a minissérie “Continental” (2023), que conta eventos antes da franquia original, remonta a um período “anterior ao Império Romano”. Em resumo, a “Alta Cúpula” é mais antiga do que Cristo.
Com os filmes vamos entendendo que a “Alta Cúpula” é uma organização formada por grupos e famílias que trabalham para ela em troca de certos privilégios. É uma milícia de mercenários com alcance global, regras rígidas, hierarquia bem definida e legislação própria. Em suma, a “Alta Cúpula” é o sistema dentro do sistema, o deep state dentro do deep state, que não responde para ninguém. Ela junta a mística das sociedades secretas, a tradição das genealogias e o pragmatismo dos assassinos de aluguel. Ao se virar contra ela, John Wick nos apresenta a um mundo completamente aparelhado pelo sistema, como já avisava as Escrituras: “O mundo inteiro jaz no maligno” (I João 5:19), com olhos e ouvidos em todos os lugares, completamente conectado e interdependente. O mundo da “Alta Cúpula” é o mesmo mundo governado pela “Matrix”, só que na vida real. Seus assassinos alistados são como o agente Smith, estão em toda parte, de modo que você cruza com eles a todo instante, mas não sabe de quem se tratam, até que eles tentem te destruir. Se a Matrix tem seu “analista”, a Alta Cúpula tem seu “ancião” (ou superintendente). No final, ambas falam da mesma coisa e mandam o mesmo recado.
Tanto a Alta Cúpula como a Matrix esbarram em você o tempo inteiro. Eles estão nas megacorporações que controlam suas finanças, nas multinacionais que você ajuda a manter com suas compras, na grande mídia que está da sua TV ao seu smartphone. Quando você resmunga algo perto do seu aparelho celular, e logo em seguida ele te oferece um produto referente ao que você resmungou, é a Matrix dizendo: “Olá, estamos aqui!”. Quando gente famosa some ou morre de forma inexplicada/inesperada, como JFK, Gandhi ou Martin Luther King, é a Alta Cúpula. Esse é o primeiro recado: ninguém está seguro. Mesmo quem acha que tudo não passa de mais uma teoria da conspiração, não está livre de se deparar com mais essa “teoria”. É só entrar no caminho do sistema. Não precisa ser muito inteligente para entender que, embora esses eventos não estejam especificamente ou diretamente ligados, eles ocorrem em padrões semelhantes as mostrados nos filmes. Assim como não sabemos quem controla a Matrix ou a Alta Cúpula, uma informação deixada no limbo de forma proposital, porque no final das contas tudo e todos os envolvidos servem ao mesmo patrão, Satanás, a ideia é deixar tudo no campo da imaginação, para reforçar ainda mais a ideia de paranoia, enquanto eles seguem agindo.
O segundo recado é mais sombrio. John Wick e Neo morrem ao final. Ainda que “Matrix” o ressuscite no quarto episódio, para pagar aquele mico colossal, a verdade é que quem tem um pouco de experiência com filmes sabe que a coisa foi pensada para acabar no terceiro, assim como Wick acaba no quarto episódio. Trazer Neo de volta para agradar à narrativa woke/feminista foi um fiasco. Não por acaso custo cerca de 200 milhões de dólares e não rendeu nem perto de disso. Fracasso retumbante e merecido. O cinema, assim como na história, no mundo real, mostra que os “bugs” e “outsiders” podem fazer o estrago que quiserem, mas ao final serão sumariamente eliminados por um mundo que eles – desgraçadamente – ajudaram a criar. Ampliando os horizontes cinematográficos, foi assim com Spartacus e o General Maximus. Todos traídos pelo deep state de sua época.
Isso ocorre porque a humanidade ainda não se deu conta (ou se perdeu dela) de que o pano de fundo para tudo isso é mais espiritual do que se pensa. Yeshua, o único ‘outsider’ que encarou o sistema e venceu, expôs isso, ao mostrar a influência satânica por trás do deep state de sua época, composto por Judas, fariseus e romanos. O primeiro ficou possesso, aos segundos ele chamou de filhos do Diabo (João 8:44) e os outros dispensam apresentação. Quando em João 16:33 ele, Yeshua, diz: “Eu venci o mundo!”, entre outras coisas está querendo dizer: “Eu venci o sistema!”, mas também “Vocês também podem vencer, mas tem que vir comigo!”.
É o conceito de fé exposto pelo personagem Morpheu, vivido por Laurence Fishburne, e devidamente desconstruído (propositalmente) no quarto episódio, em que fazem o favor de tornar essa fé e o sacrifício de Neo completamente inúteis, e até prejudiciais. Porque a fé em Yeshua, o único venceu o mundo, o sistema e o deep state, e voltou para nos provar que é possível, é a arma mais poderosa que temos para lidar com o que nos cerca, ou, como diz a Escritura, “anda ao nosso derredor” (I pedro 5:8).
Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. III N.º 48 – ISSN 2764-3867
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