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  • Academia é cultura?

    A falsa sensação de que a escola deve ensinar tudo, é um enorme problema. Há alguns dias estava conversando sobre como a educação é falha no Brasil com outras pessoas que estudaram comigo, a maioria terminou o ensino médio ano passado, e percebi que era um pensamento quase unânime de que a escola deveria dar aula de literatura mais profunda, psicologia, alguns até defendem uma aula de teologia mais aberta, dando a base de diversas religiões, na intenção de informar um católico, como que é a umbanda, e vice-versa. Não acho ruim a informação em si, mas sim a forma que seria dada, ensinamentos culturais, tais como literatura, filosofia, teologia, deve vir do seio familiar, pois é algo que molda o caráter, uma vez que seja uniformemente passado numa sala onde há um professor para cinquenta alunos, há uma tendência natural do estudante ficar alheio, não é um assunto como o básico de economia, que são cálculos, análises, um conhecimento acadêmico, assim como matemática. Uma vez que se torne senso comum a escola ensinar tudo, é onde Gramsci atinge o seu ponto, uma criança chega na escola com no máximo 6 anos, muitas tem contato até mais nova, com os pais dando total controle de passar valores, o que era para ser o papel familiar, enquanto a escola fosse meramente acadêmica, cria indivíduos extremamente limitados ao que fora repassado na escola. O professor em posição de intelectual, tendo tal termo aos moldes do que Olavo de Carvalho caracterizava como intelectual, torna aquelas crianças como uma massa igualitária. Até se formos pensar na biologia, devido ser que reproduz apenas entre si tende a evoluir lentamente, enquanto outros que mesclam entre aqueles da mesma espécie evolui com demasiada rapidez. Similarmente tenderá a ocorrer numa sociedade em que todos pensam iguais, o conflito de ideias é o que dá a evolução humana, ao retirar isso, o pensamento diferenciado de cada um, conceito de cada família, somado a escolas diferentes, com professores que saibam seu papel, passando conhecimento acadêmico, têm-se uma sociedade próspera. Todavia, ocorre o oposto, fazendo-se ainda mais importante essa diferenciação, pois há muitos professores mal intencionados, com o jogo ao favor deles, até porque não é uma rebelião de alguns, e sim um movimento que se faz ativo há anos. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N.º 18 edição de Agosto de 2022 – ISSN 2764-3867

  • The cat in the hat - Uma releitura sob a lente Red Pill

    Aviso: este artigo contém spoiler , mas em quantidades pedagógicas. Como uma história infantil pode esconder, sob rimas e traços simples, lições profundas sobre moral, ordem e a ameaças sutis. Publicado em 1957, The Cat in the Hat , de Dr. Seuss, é um dos livros infantis mais emblemáticos da literatura americana do século XX. A narrativa se desenvolve quando duas crianças — Sally e seu irmão Conrad — são deixados sozinhos em casa num dia chuvoso. O tédio e o silêncio da disciplina são quebrados com a chegada de um visitante inusitado: um Gato falante, de cartola listrada, que promete diversão. A partir do livro infantil de 1957 foi feita uma adaptação para TV em 1971 e posteriormente um filme em 2003. Está previsto para 2026 o lançamento de mais uma versão em filme, produzido pela Warner Bros. Mas nosso objetivo é entender a história original sob as lentes "red pill" e buscar o signo entre significados e significantes. Pois vamos aos elementos centrais do livro. O Gato surge sem convite e, em nome do entretenimento, desorganiza o lar. Ele traz consigo duas criaturas vestidas de vermelho — Thing 1  e Thing 2  — que causam verdadeiro caos. A única voz sensata é a do peixe, que os alerta o tempo todo: "Isso não está certo". Antes que a mãe retorne, o Gato limpa toda a bagunça, restaurando a aparência de ordem. Uma fábula sobre infância? Certamente. Mas também — como tantas outras obras literárias — um espelho das tensões ideológicas de seu tempo e do nosso. Theodor Seuss Geisel, mais conhecido como Dr. Seuss, foi um escritor e cartunista americano cujas obras infantis encantaram gerações. Atuou como ilustrador político durante a Segunda Guerra Mundial, posicionando-se contra o nazismo, o fascismo e, mais tarde, contra o autoritarismo comunista. Obras como The Lorax e Yertle the Turtle contêm mensagens sociais e políticas codificadas sob a forma de alegorias infantis. Ainda que The Cat in the Hat  tenha sido criado como uma resposta pedagógica para estimular a alfabetização infantil, é impossível ignorar as camadas simbólicas que suas páginas sugerem — especialmente quando observadas sob uma lente conservadora, crítica ao avanço das ideologias disfarçadas de cultura. Assim como A Revolução dos Bichos (George Orwell), 1984 ou Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley), The Cat in the Hat  pode ser lido como uma metáfora sobre o conflito entre valores tradicionais e ideologias subversivas. Não estamos diante de uma análise forçada, mas de um recurso interpretativo consagrado: usar personagens e símbolos para retratar modelos de sociedade, crítica política e crises morais. Vamos aos paralelos. A casa onde as crianças vivem representa o espaço do capitalismo ordenado, onde a disciplina, a propriedade privada e os valores familiares sustentam a estrutura. Mesmo sem a presença da mãe — símbolo da autoridade — as crianças mantêm-se obedientes. Existe uma noção clara de certo e errado, de regras e limites. Trata-se de uma alegoria da sociedade conservadora, que preserva a liberdade dentro de um marco moral e ético. O Gato, com seu sorriso largo e comportamento brincalhão, entra sem permissão e toma o controle do ambiente. Sua proposta de “diversão” parece inofensiva, mas é instrumento de desestruturação. Ele representa, sob esse ponto de vista, o marxismo cultural: uma ideologia que, inspirada por pensadores como Antonio Gramsci, busca influenciar a sociedade não pela força, mas pela cultura, relativizando valores tradicionais através do entretenimento e da educação. Ele reconfigura o mundo em nome da novidade, relativiza a autoridade, desafia as normas — e tudo isso com aparência carismática e colorida. Suas ações, como equilibrar objetos e liberar Thing 1  e Thing 2 , desrespeitam a ordem da casa, seduzindo as crianças com a promessa de liberdade sem limites. As “ coisas ” que o Gato libera são criaturas sem identidade própria, vestidas de vermelho e numeradas. São símbolos que sugerem a coletivização: não são indivíduos, são engrenagens numeradas do caos, obedecendo apenas ao comando da figura ideológica superior (o Gato). Suas roupas vermelhas não são acaso: remetem ao comunismo, à revolução e à ruptura da identidade pessoal em favor de um projeto ideológico. São o eco das massas manipuladas, desprovidas de consciência, que servem à causa maior sem perceberem as consequências. O próprio gato, ostentando sua cartola listrada, poderia estar fazendo referência à conhecida imagem do "Tio Sam"? Coincidência? Popularizada a partir da Primeira Guerra Mundial, a imagem do homem de cartola chamando os jovens americanos à defesa da liberdade é emblemática da defesa de valores muito caros aos Estados Unidos. É estratégia comum em movimentos revolucionários, a apropriação de elementos históricos e culturais ressignificando-os, e não poderia ser deixada fora de The Cat in the Hat . O animal ardiloso sob a imagem simbólica do Tio Sam, uma combinação estratégica. O peixe é a única voz moral da narrativa. Pequeno, frágil e impotente, insiste em alertar: "Isso está errado." Sua presença é uma clara alegoria ao papel da tradição cristã na sociedade ocidental. Desde os primeiros séculos, o peixe (ΙΧΘΥΣ) foi símbolo secreto dos cristãos perseguidos. Neste conto moderno, continua sendo a voz que não se cala, mesmo quando ignorada — o farol moral que aponta para a verdade, mesmo em meio ao caos. Suas repetidas advertências, como “Vocês não deveriam estar fazendo isso!”, tentam preservar a ordem da casa contra a influência desestabilizadora do Gato. É o cristianismo como estrutura espiritual e ética que sustenta a ordem, e que é frequentemente ridicularizado ou ignorado pelas ideologias que pregam o hedonismo ou o igualitarismo forçado. Ao final, o Gato retorna e limpa toda a bagunça, restaurando a casa como se nada tivesse acontecido. Essa ação pode ser lida como uma metáfora da manipulação ideológica revisionista: causar o problema, apagar os rastros e posar como o salvador da situação. Ao restaurar a ordem, o Gato não apenas apaga o caos, mas se coloca como o novo protagonista, assumindo o controle da narrativa e eclipsando a autoridade tradicional da mãe e do peixe. Essa subversão do protagonismo reflete como ideologias podem usar crises para se legitimar, apresentando-se como indispensáveis à ordem que elas mesmas desafiaram. Essa é uma estratégia conhecida dos movimentos revolucionários: usar o caos como pretexto para impor uma nova ordem, alegando que resolveram um problema que eles próprios criaram. Ao contrário do discurso que rotula o conservadorismo como retrógrado, esta leitura revela sua natureza real: preservar o que é bom, funcional e moralmente sustentável. O capitalismo, ainda que imperfeito, gerou e gera prosperidade, liberdade e inovação — justamente porque se assentou sobre valores morais herdados do cristianismo e da tradição ocidental. O marxismo cultural, por outro lado, infiltra-se pela cultura, relativiza os valores e destrói as bases — oferecendo em troca promessas utópicas que nunca se cumprem. É fundamental esclarecer que Dr. Seuss não declarou ter escrito The Cat in the Hat  com intenções políticas conscientes. A obra foi concebida como instrumento de alfabetização lúdica. No entanto, a leitura simbólica de narrativas é um recurso legítimo e amplamente utilizado nos estudos literários, culturais e ideológicos. Assim como Orwell, Huxley e tantos outros autores foram reinterpretados ao longo das décadas, Dr. Seuss também pode ser lido sob a luz das grandes disputas morais e culturais do nosso tempo. E ao fazê-lo, revelamos como até mesmo um livro para crianças pode se tornar um espelho da alma de uma civilização em luta por sua identidade. 2026 está logo ali. Quando finalmente o filme estrear nas telas dos cinemas brasileiros, compre sua pipoca e divirta-se em família. Só não podemos garantir que seus olhos verão o filme da mesma forma que outras centenas de milhares de espectadores. Boa "diversão"! Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. IV N.º 56 edição de Julho de 2025 – ISSN 2764-3867

  • Editores da realidade

    “Censura é proibida constitucionalmente, eticamente, moralmente, e eu diria até espiritualmente. Mas também não se pode permitir que estejamos numa ágora em que haja 213 milhões de pequenos tiranos soberanos” Carmem Lúcia, Ministra do Supremo Tribunal Federal Um dos brinquedos mais populares na década de oitenta eram os exércitos de pequenos soldados, cowboys e índios apaches, aqueles pequenos guerreiros, quase sempre monocromáticos, travavam incontáveis batalhas em nome de seus senhores recém-saídos das fraldas. Aquelas guerras eram encenações cujo único propósito era entreter garotos que criavam histórias em suas jovens mentes, portanto, o seu desfecho atenderia o roteiro imaginado por seus donos. Curiosamente, vencedores e derrotados, tendo cumprido seus respectivos papéis, voltavam aos seus alojamentos para um merecido repouso, momento em que a rivalidade não mais importava, pois, nas caixas de brinquedos, não passavam de peças de plástico. Sendo o convívio social algo intrínseco à natureza humano, ao crescer deixamos de nos observamos como o centro do universo, reconhecendo a existência de outras pessoas com independente, não se desintegrando quando fora de nossas vistas. Seja com irmão ou amigos, as brincadeiras em conjunto obrigam-nos a transigir, de forma que, aquelas batalhas de brinquedos deixarão de seguir uma vontade única para terem resultado definido pelo acordo daqueles que controlam os guerreiros. Nem sempre que os soldados são retirados da caixa um desfecho premeditado, como um roteiro, acontecerá, pois, diante da participação de outra mente, surgirá a intervenção dela nos desdobramentos do conflito e aqueles que despertaram condenados à derrota, poderão se sagrar vencedores. Não raros os casos em que irmãos e amigos brigam para conduzirem as histórias conforme suas vontades, mas o tempo os fará entender que, juntos, poderão criar tramas muito mais ricas e memoráveis. Aprender que há vontades tão soberanas quanto as nossas é fundamental para que possamos coexistir e evoluir, não fosse pela intervenção de grandes pensadores, heróis, vilões e todos aqueles que de alguma forma colaboraram para legar algo, a humanidade não teria história. Mas há aqueles que, sendo donos dos brinquedos, preferirão os recolher às suas caixas a permitir que outrem dê novos rumos àquilo que planejara. Conhecido entre seus amigos como “o dono da bola”, tal curiosa figura, não aceitando a derrota, recolherá a bola condenando a diversão a um final precoce, haja vista que, em sua visão egoísta, a única vontade que importa é a sua. Não aprendendo que seu sangue não tem mais valor e o universo não foi criado como um aquário exclusivo de um peixe raro, o dono da bola se recusa a saborear a frustração e busca impor aos outros o resultado que deseja, mas, ao menos, ele é o dono da bola. Na mentalidade da elite revolucionária, que se considera iluminada, que se considera mais digna e capaz que todos os outros, mesmo que a bola pertença ao grupo, o líder dar-se-á o direito de interromper o jogo e tomar tal objeto para si, impedindo que o desfecho seja qualquer outro que não aquele que sua mente egoísta desejava. Faltando-lhe o pudor para reconhecer que rema contra a vontade de todos, algumas vezes contra a própria realidade, o revolucionário tentará assumir o timão do universo, julgando-se um deus entre homens e, voltando a sua primeira infância, tornar-se-á o senhor dos pequenos bonecos em sua brincadeira nefasta. Talvez algumas pessoas não tenham tido a oportunidade de dividir seus brinquedos ou praticarem esportes coletivos, seja por impopularidade, isolamento natural ou, ainda mais triste, por terem sido encastelados por ascendentes tão arrogantes que não admitiam que os seus tivessem quaisquer contatos além dos muros que os protegiam da plebe que usavam fingindo proteger. Não por acaso, a regra entre os revolucionários é que suas lideranças sejam intelectuais criados em meio ao luxo que simulam empatia em relação aos menos afortunados, ao passo que os desprezam. Não há como negar que os senhores da revolução gritam por igualdade do topo de suas ricas varandas, mas se recusam a se aproximar dos pobres que alegam defender como se leprosos fossem. Exigindo tratamento especial, de furar filas em aeroportos à área exclusiva em shows patrocinados pelo poder público, tais figuras se anojam do povo comum, mas os querem para lhes servirem, com a única condição de que jurem vassalagem a qualquer preço. Ao exigir submissão total, através do totalitarismo, os líderes revolucionários desejam que homens de verdade tornem-se aqueles brinquedos que são sacados de suas caixas apenas quando o interesse de seus senhores assim pretender, entretanto, o quê se pede é que o indivíduo abra mão de seu livre arbítrio, algo que nem mesmo Deus tirou dos seres humanos, permitindo-nos errar, aprender, espiar nossos erros e buscarmos a redenção. Não seria louco imaginar que alguém que luta para subtrair o libre arbítrio de outros seres humanos, seja nada além de um servo daquele que outrora desejou o lugar do próprio Deus, mas isso fica para outra ocasião. É bem provável que Maximillien Robespierre, Joseph Stalin, Adolf Hitler, Mao Tsé-Tung, Benito Mussolini, Fidel Castro, Hugo Chaves, Nicolás Maduro e outros tantos líderes abjetos não tenho aprendido a dividir seus brinquedos quando crianças e, por tal motivo, nunca superaram a fase da infância em que se consideravam o centro do universo e o motivo da existência de tudo, o que explicaria, sem justificar, seus feitos. Incapazes de superar a ideia de controlar cada passo de seus brinquedos, os ditadores acabam lutando contra a natureza humana, tendo em mente que, diferente dos soldados de plástico, cada homem tem seus desejos e suas motivações. Destruir a natureza humana tornou-se a missão central dos nefastos senhores da revolução, criando estratagemas dos mais variados para subjugar a vontade inextinguível da alma humana por liberdade, haja vista que, se, como mencionado, Deus, em sua onisciência, não subtraiu a liberdade de consciência do homem, não seria um intelectual, cego por sua arrogância ou a serviço de uma força nefasta, que o faria. Poderíamos alegar, em favor daqueles que buscam controlar a consciência humana, que a liberdade tem limites, mas há uma grande diferença entre limites impostos à convicção e consequências da ação, sendo necessário um parêntese para tratar do tema. Ao impedir que se discutam temas ou se levantem hipóteses acerca de algo, o único resultado buscado é a hegemonia da elite, seja pelo fato de que, aos membros da revolução não se impede defender as mais transloucadas e doentias teses, ou, porque não se pode dar a chancela da verdade a um espectro, sob pena de não existirem vozes dissonantes. Por outro prisma, há de se enfrentar que, sem a liberdade de expressão, não há como discorrer sobre algo em sentido contrário à elite dominante, de maneira que, mesmo as falhas serão encobertas pelo silêncio. Como exemplo hipotético, é possível sugerir que um grupo de cidadão durante o regime nazista argumentasse em favor dos judeus e contra os campos de concentração, podendo convencer o povo daquele país que as medidas impostas pelo governo eram erradas, levando, ao menos, a questão ao debate. Obviamente, no cenário real, em que o Partido Nazista controlava o quê podia ser dito, ou seja, impunha a censura, tal grupo insurgente acabaria criminalizado e levado pelos trens aos campos de concentração. Desagradar os senhores, em um regime totalitário, sempre foi considerado o crime mais grave, justamente, porque a liberdade para apontar falhas e desmandos do regime tende a desestabilizá-lo, por isso, bradar contra os ocupantes de posições de poder é, constantemente, uma ação rotulada de antidemocrática, não por atentar contra a democracia em si, mas contra aqueles que se julgam os donos da bola no jogo do poder, subtraindo, em seu favor, o conceito de democracia para o transmutar e dar falso verniz a sua ditadura. Controlar a informação, além de espalhar a miséria, é uma arma usada para que os indivíduos sejam convencidos que a versão da elite revolucionária é a verdade e quando tal versão se torna tão inverossímil a ponto de não convencer as massas, resta deturpar termos, calar quem aponta para as falhas e, por fim, usar da violência para coagir a todos para que sigam, sem questionar, as ordens de seus senhores. Por isso, editar a realidade é a verdadeira utopia, posto que, é a busca infrutífera pelo horizonte que não seduz os idiotas úteis, mas a própria elite revolucionária. O idiota útil, a massa de manobra que aposta na revolução coletivista para viver em um paraíso em vida, sendo que o plano material é, em sua essência, a fase de provação para a alma humana, em que vivemos em pecado para superá-lo e redimir nossa alma, fazendo com que a ideia de construir um paraíso de ímpios é uma utopia em si, por isso, o idiota útil busca chegar à linha do horizonte, guiado pela elite intelectual revolucionária, ignorando que, a cada passo dado na direção de tal linha, mais ela se afasta. Em síntese, os servos das ideologias revolucionárias agem como se fossem marinheiros que, seguindo as ordens de seu capitão, acreditam que chegarão à linha do horizonte, enquanto o seu líder os mantém subjugados prometendo que, um dia, chagarão ao destino. Quanto mais buscam igualdade, mas ela é destruída, quanto mais buscam justiça, mais injusto seus métodos se provam, quanto mais lutam contra a miséria, mais a espalham, e, por fim, quanto mais afrontam as tradições, mais se autodegradam. Por outro lado, a elite revolucionária não está sendo iludida por seus senhores, mas por sua própria soberba, uma vez que acredita ser capaz de dobrar a realidade e controlar a natureza humana, fazendo daqueles que estão sob seu poder criaturas reduzidas a brinquedos em uma caixa, o quê não incomoda os idiotas úteis que aceitam suas migalhas em troca de uma promessa mentirosa ou de uma pequena concessão de luxo, mas esbarra naqueles que buscam preservar sua existência e consciência. Durante o experimento totalitário, apelidado como pandemia, na última virada de década, todos aqueles que ousaram expor quaisquer contradições nas narrativas adotadas pela Torre de Marfim foram tradados como negacionistas, termo cunhado para rotulá-los como pessoas contrárias à ciência, em que pese a regra nos campos científicos seja o enfrentamento de teses contrárias e a agenda transgênero seja flagrantemente contrária a ciência, logo, negacionista. Mesmo derrubadas algumas das teorias que embasaram as medidas autoritárias naquele período, a elite revolucionária luta para não reconhecer seus erros e abusos ou, simplesmente, se nega a tratar do tema. A censura é o meio reconhecido para a imposição do autoritarismo, razão pela qual, torna-se elemento vital em regimes de tal natureza. Não há como manter um sistema autoritário sem o controle da opinião, da consciência, bem como, é impossível aplicar a censura sem que o regime se torne desmedidamente autoritário, logo, pode-se dizer que um não existe sem o outro. Evidentemente, ninguém espera que um agente da censura, portanto autoritário, assumir-se-á sem cerimônias e sem uma máscara diante de todos. Não até que seu poder e soberba sejam tamanhos que sequer precise preservar sua imagem. Negando sua natureza autoritária, a elite revolucionária colocar-se-á como bastião da democracia, justificando suas ações antidemocráticas, e incriminará qualquer um que considere um obstáculo em seu caminho, ainda que o crime seja discordar ou cogitar algo. Para tanto, atribuirá suas qualidades àqueles que pretende destruir ou calar, impondo-lhes rótulos como negacionistas, fascistas, golpistas, antidemocráticos e, por mais que pareça loucura, tiranos, ou melhor, pequenos tiranos, uma vez que não estão em posição de poder para exercer a tirania com a elite que os acusa. A censura não é um remédio, mas um veneno para a democracia, de maneira que jamais deveria ser tolerada, mesmo em casos excepcionalíssimos, logo, não se poderia admitir a censura apenas para garantir o bem andamento do processo eleitoral, pois a democracia seria assassinada naquele momento e sucedida por um regime que considera a censura um instrumento válido. A medida injustificável foi considerada por muitos como meio de salvar a democracia da democracia, ou seja, uma quimioterapia que tinha como finalidade matar o paciente e salvar o câncer, o quê torna-se inegável quando aqueles que deveriam ser os soberanos segundo a Carta Magna são escanteados da vida política em nome da defesa de um Brasil sem brasileiros, uma vez que, não passam de pequenos tiranos. Pensando que a soberania é da elite e não do povo, podemos concluir que o mais de um bilhão de pequenos tiranos da China devem ser controlados pelo regime tão admirado pelos defensores da democracia, haja vista que seria deveras perigoso que tivessem a liberdade para questionar o democrático, ao menos em nome, regime que encante à Juristocracia brasileira, assim como, a tiranete que ousou criticar o regime venezuelano talvez mereça a condenação a dez anos de prisão. Há quem aplicam penas até maiores, chegando à prisão por quatorze anos. Por fim, assim como Daniel entre os leões, devemos perseverar, pois não há mal que nunca se acabe, sendo assim, nós, os duzentos e treze milhões de pequenos tiranos, poderemos ver o raiar da liberdade no horizonte do Brasil. Hino da Independência do Brasil D. Pedro I e Evaristo de Veiga “Já podeis da Pátria filhos, Ver contente a mãe gentil; Já raiou a liberdade No horizonte do Brasil Já raiou a liberdade, Já raiou a liberdade, No horizonte do Brasil. Brava gente brasileira! Longe vá temor servil Ou ficar a Pátria livre Ou morrer pelo Brasil; Ou ficar a Pátria livre, Ou morrer pelo Brasil. Os grilhões que nos forjava Da perfídia astuto ardil… Houve mão mais poderosa… Zombou deles o Brasil; Houve mão mais poderosa Houve mão mais poderosa Zombou deles o Brasil. Brava gente brasileira! Longe vá temor servil Ou ficar a Pátria livre Ou morrer pelo Brasil; Ou ficar a Pátria livre, Ou morrer pelo Brasil. Não temeis ímpias falanges Que apresentam face hostil; Vossos peitos, vossos braços São muralhas do Brasil; Vossos peitos, vossos braços Vossos peitos, vossos braços São muralhas do Brasil. Brava gente brasileira! Longe vá temor servil Ou ficar a Pátria livre Ou morrer pelo Brasil; Ou ficar a Pátria livre, Ou morrer pelo Brasil. Parabéns, ó! brasileiros! Já, com garbo varonil, Do universo entre as nações Resplandece a do Brasil Do universo entre as nações Do universo entre as nações Resplandece a do Brasil. Brava gente brasileira! Longe vá… temor servil Ou ficar a Pátria livre Ou morrer pelo Brasil; Ou ficar a Pátria livre, Ou morrer pelo Brasil”. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. IV N.º 55 edição de Junho de 2025 – ISSN 2764-3867

  • Avalanche Vermelha

    Segundo relatos da própria organização, o Foro de São Paulo se reúne desde junho de 1990, para traçar as diretrizes da esquerda latino-americana, entretanto, é importante lembrar que, tal grupo mantivera-se no anonimato, por vezes negando sua existência, até consolidar-se em diversas posições de poder. A estratégia dos membros da organização foi a narrativa que sua existência resultava do fruto da imaginação de teóricos da conspiração, algo que grande parte das pessoas com objetivos espúrios faz para promover sua ascensão ao poder. Para compreender como o Foro de São Paulo conseguiu avançar tanto e construir uma estrutura tão densa que permite, ainda que exposto, buscar o controle sobre uma gama tão vasta de indivíduos, não podemos analisar suas ações após sua criação, mas o que propiciou um terreno fértil para seu nascimento, sua ascensão e sua manutenção no poder. A organização não surgiu do nada, tampouco, chegou ao acaso ao patamar que hoje se encontra. Indispensável fazer uma breve análise histórica da América Latina que no auge das grandes navegações foi descoberta pelo velho mundo. Aquele momento mudaria a história da humanidade de forma significativa, pois, a esperança trazida pela descoberta do novo mundo fez com que os europeus se lançassem ao Oceano Atlântico com todas as forças. Em um primeiro momento, contornar o continente africano já era um avanço imensurável, uma vez que, permitia um novo trajeto marítimo à Ásia e um novo contato com os povos da África. Entretanto, o mais impressionante seria a descoberta de um novo mundo, a terra além do gigantesco titã, até então intransponível, Oceano. Não é preciso ser um historiador para perceber que a crença de uma imediata submissão dos povos nativos do novo mundo aos europeu é uma farsa, haja vista o grande esforço necessário para cruzar o Atlântico à época. Ao chegar em qualquer ponto do continente americano, os membros da expedição estariam desgastados ante tamanha façanha, não parece lógico que indivíduos fatigados, em menor número e desconhecendo o terreno, pudessem sobrepujar tão facilmente os nativos, que estavam em condições opostas. A diplomacia seria a opção mais sensata. A colonização espanhola e a colonização portuguesa tiveram grandes semelhanças, contudo, é nítido que os portugueses, que mantinham relações mais próximas com os africanos, praticaram mais o comércio, posteriormente tráfico, de escravos, desenvolvendo os engenhos enquanto os espanhóis priorizavam o extrativismo. Há, no entanto, um momento que o Brasil vai se diferenciar das colônias espanholas na América Latina, lembrando que, os demais colonizadores tiveram menor influência na região, por isso o foco nos países ibéricos. Com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, o Rio de Janeiro acaba se tornando a capital de um reino europeu, desenvolvendo-a, não só na infraestrutura, mas no que concerne às relações diplomáticas. O Brasil passou a ter alicerces que o permitiriam uma independência confortável, evitando uma ruptura, de maneira que, poderia surgir uma nação sem uma revolução traumática. Os movimentos independentistas na América Hispânica não contavam com o mesmo aparato, portanto, era necessário cortar os cordões umbilicais entre colônias e a metrópole, o que poderia gerar uma guerra de independência, como experimentada pelos Estados Unidos da América, e ainda, batalhas entre os próprios libertadores, considerando que, cada grupo poderia ter sua visão de nação. Simón Bolivar e José San Martín lutaram pela independência dos países sul-americanos, entretanto, após sua vitória, tais países se fragmentaram sem, contudo, moldar uma estrutura forte e capaz de desenvolver-se em se comparando aos europeu e os EUA, a nação norte-americana tinha uma construção bem pensada por seu fundadores. Em tal momento histórico, o destino nebulosos da América Hispânica parecia já ter sido traçado, mas o tempo deu aos povos daqueles países algumas chances de dar uma guinada na direção certa, infelizmente, parece que a maioria não foi aproveitada. Bem diferente do traumático surgimento das demais nações latino-americanas a independência do Brasil teve toda uma base sólida, engenhosamente pensada por José Bonifácio e protagonizada por Dom Pedro I, permitiu à nossa, recém-emancipada, nação um início de caminhada menos árduo. Ocorreu sim uma guerra de independência, mas nada comparável ao que se dera em outras terras, como os EUA e até mesmo países sul-americanos, por óbvio a Espanha teve que lidar com toda uma onda independentista que tornar-se-ia impossível segurar com o tempo, mas o Brasil tinha o sucessor da monarquia portuguesa como artificie central da independência, sendo um obstáculo diplomático para Portugal promover uma guerra acirrada contra o Brasil. O Império do Brasil começara prospero e mesmo tendo suas crises, como toda nação tem, apresentava-se como uma grande promessa. A ascensão de Dom Pedro II ao trono aumentavam, ainda mais, as expectativas em relação o futuro, pois, era preparado para a missão e não tinha a reputação de seu pai, logo, era perceptível na figura do Imperador um líder carismático, sério e diplomático. A Guerra do Paraguai foi vencida à custa de muito sangue brasileiro e, apesar de o sucesso militar, o desgaste do Império se via em um Exército que se sentia menosprezado após o embate, sendo importante lembrar que os voluntários da pátria também esperavam reconhecimento. Mas era a abolição que daria o maior golpe no Império do Brasil, que, rompendo com o sistema escravagista, deixou os senhores de escravos insatisfeitos com o senhor do trono, fazendo com que, o cenário político se voltasse contra a Monarquia. A Proclamação da República, está sim nos moldes revolucionários, foi um choque para o estável Império, sendo conduzida por um oficial que se sabia ter apreço pela figura do Imperador, o Marechal Deodoro da Fonseca, teve o efeito de lançar o Brasil em uma nova experiência. A República não fez com que o Brasil se subdividisse em vários países, talvez a identidade nacional já tinha se consolidado, mas também não dela que surge a destruição capaz de preparar o terreno para o que temos nos dias atuais. A ascensão de Getúlio Vargas ao poder mudaria completamente a história do Brasil, experimentamos o gosto do caudilhismo , um veneno sutil que escraviza pela simpatia e dependência. A América Latina precisa ser entendida pela ótica deste sistema, uma vez que, o caudilho tona-se uma figura danosa, ao fazer com que os indivíduos assumam-no como um pai protetor e aceitam seus arroubos autoritários, posto que, seria um preço à ser pago pelos afagos paternos. Não por acaso, aqueles que abrem mão de sua liberdade por segurança acabam tendo como maior algoz, justamente, a autoridade que confiaram poder para suprimir suas liberdades em nome de proteção. Ao dar mais meios para um líder “fazer o bem”, eufemismo para impor suas vontades sobre outrem, confere-se ao mesmo o poder de esmagar  aos que considera como obstáculo de suas vontades, nada melhor para um tirano que ter o “legítimo direito de caçar os que considera inconvenientes”. O restante da América Latina já tinha caudilhos constituídos, mas é Getúlio Vargas quem consolida a ideia de um ser paterno no Brasil, tanto que foi chamado por seus apoiadores de “pai dos pobres”, o que levou o povo brasileiro a crença de quer é necessário uma figura como salvador da nação. Não decorre apenas da ingenuidade, haja vista que, ao aclamar alguém como salvador, transfere-se ao mesmo toda a responsabilidade de conduzir o destino de um povo, renunciado às liberdades ao passo que se furtam das responsabilidades. Claro que um grande líder inspira seu povo, o próprio Dom Pedro II é um exemplo disso, bem como alguns dos presidentes que os EUA tiveram em sua trajetória, mas tal inspiração deve ser uma forma de levantar a moral e fazer com que cada um se sinta como parte da nação, deferente do caudilho, que vende a falsa promessa de um ser capaz de expulsar todos os males, uma criatura divina que pode garantir o melhor desde que todos jurem-no servidão. O caudilhismo funda-se na dependência entre o povo e o detentor do poder, que se julga um ser superior e portanto incontestável, cego pelo poder, torna-se arrogante, logo, sujeito à sedução do autoritarismo. É no período Getúlio Vargas que o povo brasileiro acaba criando o imaginário confortável de que um salvador da pátria deve ter total autoridade e, por isso, é ele o responsável por toda sorte de acontecimentos, glorificando-o a cada vitória e culpando-o a cada infortúnio. Os indivíduos delegam ao caudilho poderes e responsabilidades, entretanto, a história tem provado que usará os primeiros para sequer enfrentar a cobrança. A Argentina acaba por experimentar o mesmo, uma vez que, o ápice do caudilhismo ocorre quando Perón chega ao poder. Assim como Vargas, o líder argentino tem grande inclinação totalitária e, por mais que se venda como um protetor, o que todo tirano faz, acaba sendo autoritário, alimentando o poder estatal do país vizinho e alimentando a dependência do cidadão em relação ao Estado. Com o fim da Segunda Grande Guerra e a consequente queda do fascismo, o bloco socialista, encabeçado pela União Soviética passa a ter maior participação na América Latina, não é um início, haja vista que, já existiam movimentos ligados ao Kremlin anteriormente, Olga Benário Prestes era uma agente sob ordens da Internacional Socialista, o que deixa evidente a ligação de seu então esposo Prestes com o governo de Moscou. Há uma clara ação orquestrada para tornar o Brasil um satélite da URSS. Os avanços das forças socialistas no pós-guerra ocorrem no campo político, mas seguem também para a cultura, envolvendo artistas e lideranças estudantis. No momento em que parecia ter o movimento socialista, seguindo os anseios da União Soviética, assumido o poder, o clamor popular fez com que o Congresso Nacional evocasse as Forças Armadas para assumirem o controle da nação, aquilo que tentam chamar de Golpe Militar de 1964, era, na verdade, uma reação do povo às intenções dos comunistas. Os mais revolucionários mais radicais acabam assumindo uma postura belicista, o que também não era inédito, contudo, agravaram os ataques por não vislumbrarem uma forma de curvar os militares. Naturalmente a guerrilha fracassou, posto que, diverso do que ocorrera em Cuba, o governo militar brasileiro conseguiu suprimir a intenta dos guerrilheiros. A solução dos socialistas passou a ser a tomada do poder pela hegemonia cultural, aqueles líderes estudantis poderiam ocupar espaços e estavam dispostos a fazê-lo. Havia direcionamento entre os revolucionários, que agiam sob ordens externas, um planejamento que ressoava e como repetidoras de uma Torre de Marfim , faziam conforme as ordens que recebiam. Os revolucionários criaram uma base de sustentação acadêmica e tinham meios para sustentar suas ações, entretanto, a queda do Muro de Berlim derrubou sua fonte central de sustentação, fazendo com que os socialistas latino-americanos tivessem que buscar outras formas de se estabilizar no pode. A corrupção, sem dúvida, é uma delas. Com a queda da União Soviética, aparentemente os seus servos nas Américas ficaram acéfalos, entretanto, a forma como os socialistas permearam o mundo ocidental, valendo-se da falsa premissa social-democrata, que nada mais é que a tomada do poder pela via democrática, dissimulando sua real natureza. A social-democracia, que busca chagar ao poder sem denunciar sua visão socialista, acaba sendo um veneno imperceptível, como pequenas doses de arsênico, matando a nação sem que perceba. A guerra cultural tem como objetivo quebrar uma sociedade de tal forma que os indivíduos clamarão por quaisquer que sejam as saídas, levando o cidadão a crer que qualquer coisa é melhor em se comparado ao estado atual em que vive. A importância de plantar o caos está, justamente, em fazer com que o povo suplique por qualquer migalha e seja grato por aquilo que o detentor do poder permite que tenha acesso. Ainda na existência da URSS, os revolucionários já percebiam que a classe trabalhadora no mundo ocidental não era tão desprovida de bens e conseguia, apenas com o resultado de seu labor, obter aquilo que lhe era proveitoso. O cidadão do mundo livre aprendeu que não podia ter tudo e que a realidade era sim dura, mas que tinha como ter o essencial e talvez um pouco de conforto, alguns foram além e conquistaram suas aspirações, pois, eram livres o suficiente para isso. Por outro lado, debaixo da cortina de ferro, o povo vivia sonhando com tudo, acreditando em tal falsa promessa, até que percebera que nunca teria nada. A miséria natural do socialismo, que enfraquece cada vez mais o indivíduo e o submete ao poder de corruptos e tiranos, acaba sendo revelada quando o cidadão percebe que a mão do Estado socialista o está aprisionando, mantendo agora não o cidadão que acreditava na igualdade, mas o escravo que deve servir a loucura de um grupo de déspotas que fingem buscar um mundo perfeito, notoriamente mentirosos. Não podendo mais manter sua farsa revolucionária  em relação aos trabalhadores, passam a buscar apoio nas classes marginalizadas, criando, para tanto, teorias que sustentem a corrupção moral do homem, assim, todos seriam capazes de negociar seus valores, uma vez que não são valores reais. Assim, deturpando a educação  e controlando as fontes de informações , tornou-se possível dissuadir o povo a abandonar seus valores mais caros e se entregar aos anseios revolucionários, seja pela corrupção material ou pela degradação moral. O lumpemproletariado era o caminho. Dissuadir os marginalizados era algo fácil, posto que, desprovidos de cultura eram suscetíveis aos discursos dos sofistas, bem como, ávidos pelo caminho mais fácil, corrompiam-se facilmente. Era preciso conectar os líderes revolucionários com o submundo, pessoas que poderiam usar para criar o caos. O culto ao banditismo já encontrava repouso no imaginário latino-americano, Lampião, por exemplo, era um criminoso violento porém admirado, os barões da contravenção no Rio de Janeiro eram adorados em seus redutos e tinham status de autoridade em alguns redutos. Havia um terreno propício para plantar a guerrilha socialista no coração dos marginais, bastava ver quem era a classe mais baixa entre os criminosos. Surge então a possibilidade de encampar o narcotráfico às ideias revolucionárias, criando organizações jamais vistas e que herdaram dos guerrilheiros socialistas toda cultura necessária para criar códigos de conduta, aliciamento, atuação e uma espécie de justificativa moral em suas ações ainda que barbaras. O narcossocialismo era a junção perfeita para o enriquecimento, a propagação do caos e a destruição da moral, mas era necessário tirar também a fé do povo, haja vista que, sustentados na figura da salvação divina, por saber que existe algo maior que nos criou com um propósito, o homem manter-se-á de pé, pela força da fé. Passaram, os revolucionários, a atacar o cristianismo , por compreenderem que é a base da fé ocidental, promovendo uma implosão das igrejas e, quando possível, ataques diretos. Usam as chamadas minorias para criar um rebanho de seguidores que são constantemente bombardeados pelo discurso de nós contra eles ao passo que são guiados por cafetões que servem a quem lhes propiciam vantagens no jogo do poder. Surge então o Foro de São Paulo, que planeja de forma orquestrada a ascensão de seus artífices aos poder, chegando ao seu ápice no início do século, quando líderes da esquerda assumiram o controle de quase todos os países sul-americanos. Mas o avanço de tais forças também expôs a sua existência e tudo ficou claro para o povo em geral. A exposição do Foro de São Paulo deixou evidente que o grande pensador contemporâneo Olavo de Carvalho não era um louco tentando propagar uma teoria da conspiração, mas alguém que estava sendo empurrado para o ostracismo da mídia por denunciar um mal que se avizinhava e poucos, como ele, tiveram a capacidade de identificar. Tal exposição levou a queda das forças revolucionárias do poder, mas como muitos dos seus já haviam ocupado espaços estratégicos e outros tantos se corrompido, os tentáculos revolucionários já tinham feito metástase. Como não perderam tudo, a luta para voltar ao poder é algo natural, porém, apresar de faltar muito pouco para o Foro de São Paulo recuperar o controle absoluto da América Latina, sendo o Brasil a questão central para tal retomada, pois, poucos são os países que atualmente não estão sob controle da esquerda, os demais serão facilmente sufocados se o maior país da América Latina se curvar ditames dos déspotas. Para que seja possível recuperar o restante dos países, é essencial que o Brasil se mantenha respirando. Indubitavelmente, devido ao fracasso da última tentativa, caso o Brasil venha a sucumbir perante as intenções revolucionárias, as medidas de controle serão mais enérgicas. Tanto que não há pudor em anunciar controle de mídia, ainda que aplaudido pela imprensa, entre outras medidas que podem gerar perda de liberdades. As ações bestiais que são engendradas por aqueles que abraçam as pautas revolucionárias, em especial, de magistrados que colocam sua causa acima da justiça, são prenúncios do mal que emerge das sombras. De qualquer forma, caso voltem ao poder, é provável que criem uma condição insuportável, forçando o povo a reagir, sendo certo que o caos pode ser uma forma de assumir o poder, mas também de causar um efeito reativo, Diante de uma situação extrema, ao contrário do que pensam os revolucionários, não há como prever a reação de um povo. O maior risco, e única chance real de um sucesso da revolução, é não haver mais volta , de maneira que, tenha a metástase avançado ao ponto de não ser mais possível curar a doença chamada socialismo. Tal hipótese pode gerar décadas de morticínio e escravidão, bem como, deixar graves sequelas. Não que acredite que Cuba ou Coreia do Norte não possam ter salvação, mas honestamente, nada nos faz crer que ainda neste século há alguma chance. A ascensão de líderes revolucionários ao poder é deveras preocupante, portanto, deveríamos olhar para o sofrimento de nossos vizinhos e compreender que a única forma de ajudá-los é não nos tornando iguais a eles. Se as intenções do Foro de São Paulo não fossem as piores possíveis, não teria omitido sua existência por tanto tempo. Sempre haverá esperança, ainda que o muro pareça intransponível a nossa existência é sobrepor obstáculos, é acreditar ainda que tudo pareça perdido. “ A esquerda é como um navio pirata em sua turnê mundial de destruição” Luiz Augusto Módulo Advogado, autor e PhD em Direito Internacional pela USP Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N.º 17 edição de Agosto de 2022 – ISSN 2764-3867

  • Luz na praça

    Sal na política Ser cristão não é apenas uma identidade professada entre quatro paredes ou reservada ao domingo. O chamado de Cristo é integral — ele transforma não só o íntimo do coração, mas também a forma como nos relacionamos com o mundo à nossa volta. Ser cristão fora da igreja é viver com coerência, integridade e compaixão em todos os espaços: no trabalho, na família, na sociedade e também na política. A verdade é que o ser humano civil é indivisível do ser humano religioso. Fé e razão não são polos opostos, mas dimensões complementares do nosso ser. Nossa fé molda nossas escolhas, princípios e ações. Fingir que podemos separá-la da vida pública é negar a própria essência daquilo que cremos. Ninguém abandona sua identidade ao votar ou participar da vida em sociedade. Por isso, não é incoerente que a fé cristã inspire decisões políticas ou sociais. Pelo contrário: o amor ao próximo, a busca pela justiça e o cuidado com os vulneráveis são princípios que, quando vividos com autenticidade, contribuem para uma sociedade mais justa e humana. Essas diretrizes devem sim influenciar as nossas decisões públicas, inclusive na hora de votar e de se posicionar. A fé cristã ensina que devemos ser sal da terra e luz do mundo. Mas como cumprir esse chamado se nos calamos diante da dor, da injustiça e da degradação moral que corrompe nossa sociedade? Está mais do que na hora de os cristãos assumirem com coragem seu papel — não com imposições, mas com presença firme, com voz, com ações. Quando deixamos de participar, outros moldam o mundo por nós — muitas vezes em direções contrárias ao que acreditamos. Vivemos tempos em que muitos transformam ideologias em fantasias, ignorando a realidade concreta que nos cerca. E, enquanto isso, vidas reais estão sendo destruídas. Bebês indefesos, que deveriam ser protegidos, são mortos todos os dias. Essa realidade expõe a doença moral de uma sociedade que perdeu a sensibilidade pela vida. A cultura do descarte, como chamou o Papa Francisco, banaliza a existência humana e relativiza valores fundamentais. A indiferença se tornou um escudo para não enfrentar o que é desconfortável. Dizer a verdade, hoje, exige coragem. Muitos cristãos preferem o silêncio por medo de serem julgados ou rotulados. Mas a luz que Deus colocou em nós não foi feita para ser escondida. Ser cristão na sociedade não é impor dogmas, mas viver com firmeza e amor os valores que professamos. É assumir quem somos sem medo ou vergonha. A política, quando orientada por princípios éticos e humanos, pode ser um espaço poderoso de transformação. O cristão que se engaja nesse campo com humildade e serviço pode contribuir para políticas públicas que promovam o bem comum, respeitem a dignidade humana e protejam os mais fracos. Ser cristão fora da igreja é, portanto, estender o altar até as calçadas do cotidiano. É transformar convicção em ação, oração em postura, doutrina em presença. Nossa fé não é estática: ela pulsa, se move, transforma. E o mundo precisa ver isso. Estamos diante de uma sociedade adoecida — afetada por relativismos, polarizações vazias e uma crescente perda de propósito. Mais do que nunca, é urgente que cristãos se posicionem com verdade, graça e ousadia. O Evangelho é atual, vivo, e tem respostas para os desafios de hoje. Isso não significa sermos perfeitos, mas sim disponíveis. Deus não chama os capacitados, capacita os que se dispõem. Cada cristão, onde quer que esteja, pode ser instrumento de paz, justiça e reconciliação. Seja num cargo público ou numa conversa de esquina, podemos testemunhar a verdade com amor. Este é um chamado: cristão, não se esconda. Sua fé não é um detalhe da sua vida — é seu alicerce. O mundo não precisa de vozes neutras, mas de vozes firmes, guiadas pela luz de Cristo. Honre sua identidade com coragem. Não se cale diante da mentira, da destruição da vida, da inversão de valores. Levante-se pela verdade, lute pela vida, defenda os inocentes. Como disse Jesus: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”. Que sejamos esses. Por fim, lembre-se: a fé que não se traduz em ação é incompleta. Que possamos ser cristãos de segunda a segunda, da igreja à praça, do lar ao parlamento. Com convicção, com ternura, com integridade. O mundo precisa ver Cristo em nós — não apenas no que dizemos, mas em como vivemos. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. IV N.º 55 edição de Junho de 2025 – ISSN 2764-3867

  • Pedro de Alcântara

    A impetuosidade liberalizante Alcançarmos o último elemento da tríade estruturante do processo que conduziu à independência do Brasil, o evento que marcou a ruptura política entre Brasil e Portugal. Não poderíamos fazê-lo sem conhecer a personalidade de D. Pedro I do Brasil. Fecharemos os textos introdutórios e biográficos com aquele que se tornou o ícone da Independência, obtendo por óbvio maior visibilidade no desenrolar dos fatos históricos. Era o início da manhã do dia doze de outubro de 1798, o outono mal começara no hemisfério norte, e no palácio de Queluz em Lisboa, nascia o quarto filho do príncipe regente D. João VI e de Carlota Joaquina: Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim. A priori não caberia ao menino Pedro o trono de Portugal, mas sim a seu irmão, Dom Francisco Antônio, mas, o destino se impondo aos fatos, proporcionou a mudança nos rumos da história de Portugal. Com o falecimento do primeiro varão em 1801, os Braganças dirigiram suas expectativas a Pedro que viria se tornar D. Pedro IV, 28º rei de Portugal. Com a morte de Francisco Antônio, Pedro recebe o título de Príncipe da Beira e entra na linha sucessória ao trono português como figura imediata. A preparação formal do jovem Pedro foi iniciada já aos cinco anos de idade, quando José Monteiro da Rocha é nomeado seu tutor. O astrônomo, matemático e reitor da Universidade de Coimbra iniciou a formação do menino Pedro, que foi continuada posteriormente por jesuítas e seus tutores. De modo geral e apesar dos contratempos que se sucederam, sua formação permitiu a boa leitura e escrita do português, do latim e do francês, além da compreensão do inglês e do alemão. Dentro do que na atualidade entenderíamos como grade acadêmica, foi conduzido pela matemática, história, geografia, avançando pelas artes políticas e música. Não sendo adequado comparar seu grau de preparo formal com o de sua futura esposa Dona Leopoldina de Áustria, tendo ambos recebido as noções adequadas à época, para o jovem Pedro as circunstâncias familiares e de sua própria vida não permitiram a mesma amplitude de formação de sua esposa. No contexto familiar a historiografia registrou a clara disfuncionalidade do casamento de seus pais. D. João e Carlota Joaquina tinham personalidades diferentes em nível abismal. Se D. João era introspectivo, reflexivo e contemporizador; Carlota se mostrava altiva, intransigente e ambiciosa. Tais diferenças produziram tamanhas divergências, que levaram o casal a residir em palácios diferentes e se encontrarem apenas em eventos oficiais. Também conhecidos eram os casos extraconjugais de Dona Carlota, o que causava ainda mais escândalo entre ambos, ao mesmo tempo em que D. João mantinha com seus filhos uma relação amorosa, porém sem expansivas manifestações de carinho. Todo esse conjunto de fatores não passaria sem deixar marcas na personalidade de D. Pedro e que, quando somadas às quebras de continuidade que o destino lhe apresentou, ao fim permitirão ao leitor um entendimento mais amplo dos elementos condutores da história brasileira no início do século XIX, intrinsecamente ligada à figura de nosso primeiro Imperador. Em 1807, já sob as ameaças de Napoleão Bonaparte, do Bloqueio Continental, da iminente invasão de Portugal, Pedro é transferido junto à sua família e boa parte da corte portuguesa, vindo se instalar no Rio de Janeiro. A mudança de país também não passaria incólume na trajetória de nosso futuro imperador. A distância da metrópole e as adaptações da cultura portuguesa à realidade colonial, somadas às necessidades de miscigenação para efetivação da ocupação do imenso território brasileiro, produziram um tipo original de cultura, como se dos trópicos houvesse brotado uma cultura portuguesa mais flexível e livre. O menino Pedro, dividido entre os deveres oficiais de herdeiro do trono e os irresistíveis chamamentos das ruas do Rio de Janeiro, tantas vezes foi repreendido por seus tutores por fugir às aulas, buscando o convívio e as brincadeiras com os pequenos como ele, porém filhos de escravizados. O preparo formal, as instabilidades familiares, a convivência próxima com o povo e a realidade das ruas, possivelmente forjaram na personalidade de Pedro um tipo diferente e mesclado de líder político. Podemos oferecer ao leitor dois exemplos que demonstram os aspectos conflitantes presentes na figura de D. Pedro. Quando do evento conhecido com o Dia do Fico, diante da felicidade da população com a permanência do Príncipe Regente no Brasil, os circunstantes mencionaram a ideia de desatrelar os cavalos da carruagem que o conduzia e puxarem eles mesmos pelas ruas, em resposta disse D. Pedro: “ Ofende-me ver os meus semelhantes dando ao homem tributos apropriados à divindade. Eu sei que o meu sangue é da mesma cor que o dos negros” . Poucos anos depois, em 1824, durante a Confederação do Equador, revolta liberal que ocorreu em Pernambuco, com reflexos na Paraíba e no Ceará, o imperador profundamente contrariado esbravejou questionando “o que estavam a exigir os insultos de Pernambuco? Certamente um castigo, e um castigo tal que se sirva de exemplo para o futuro”. São visíveis dois lados de um ente repleto de conflitos e idiossincrasias como qualquer ser humano. O liberalismo desenvolvido por suas vivências e leituras, e o absolutismo herdado de sua herança cultural familiar, deixavam antever os altos e baixos de sua liderança frente aos desafios encontrados no Brasil. Seu casamento em 1817 com Leopoldina de Áustria foi, como adiantamos no artigo anterior, uma aliança arranjada entre as duas casas reais (Bragança e Habsburgo). A presença de Leopoldina e seu amantíssimo coração, além de seu preparo para as questões de Estado, trouxe o equilíbrio e a constância que D. Pedro possivelmente carecia. Entretanto a personalidade livre e passional de D. Pedro, demonstrada pelos registros de seus casos amorosos que escandalizavam a sociedade da época, não por serem incomuns aos homens daquele período, mas pela aparente despreocupação em ocultar tais infames deslizes, tornavam sua atuação ainda mais dramática. Os sofrimentos morais dirigidos à imperatriz, a influência de sua mais famosa e longeva amante, Domitila de Castro Canto e Melo, a Marquesa de Santos, assim como as influências subjacentes dos amigos e parentes da Marquesa, praticamente levaram à ruína a imagem e a autoridade de D. Pedro enquanto Imperador. Por outro lado, a dignidade com que Dona Leopoldina se manteve, se elevando acima das questões pessoais e dando provas de sua posição como figura de Estado, levaram D. Pedro à profundas reflexões e correções de rumo em seu futuro. Após a morte de Dona Leopoldina em 1826, o imperador buscou agregar aqueles valores que testemunhara e que possivelmente não valorizara, o que causou ganhos maiores à sua personalidade e ao povo português, que a qualquer possibilidade de reconstrução de sua imagem perante a população brasileira e sua elite política. Em suas segundas núpcias com Amélia de Leuchtenberg, uma princesa alemã dentre as mais preparadas para as exigências de uma figura de Estado, após muitas propostas recusadas e negociações de difícil concretização, em razão da fama que já corria entre as cortes europeias em relação à moralidade do Imperador brasileiro, finalmente o consórcio foi formalizado em 1829. O Imperador recebia como esposa a mulher que recebeu como seus os cinco filhos de D. Pedro com Dona Leopoldina. Possivelmente o mais tocante relato da amorosidade de Dona Amélia para com seus enteados, seja demonstrado em trecho de sua carta de despedida, dirigida ao menino Pedro II com apenas cinco anos de idade. Dona Amélia partia na companhia de Dom Pedro I rumo a Portugal e assim se expressou: “És o espetáculo mais tocante que a terra pode oferecer! Quanta grandeza e quanta fraqueza a humanidade encerra, representadas por ti, criança idolatrada: uma coroa, um trono e um berço! A púrpura ainda não serve senão para estofo, e tu, que comandas exércitos e reges um Império, ainda careces de todos os desvelos e carinhos de mãe. (...) Dorme, criança querida, enquanto nós, teu pai e tua mãe de adoção, partimos para o exílio, sem esperança de nunca mais te vermos... senão em sonhos. Adeus, órfão-imperador, vítima de tua grandeza antes que a saibas conhecer. Toma este beijo, e este... e este último. Adeus para sempre, adeus!”. A presença de José Bonifácio, um dos grandes intelectuais da história do Brasil e de Portugal, e sua influência liberal ao lado do Príncipe Regente e posterior Imperador, completaram o conjunto de fatores e valores que moldaram a personagem maior da Independência de nosso país. Não queremos dizer que D. Pedro fosse um homem conduzido por ideias alheias, mas que o cadinho de ideias e influências que recebeu, associadas à sua essência inata, proporcionaram o equilíbrio que levaram ao desenrolar dos fatos da maneira como ficaram registrados em nossa história. Nos momentos mais decisivos Bonifácio esteve direta ou indiretamente presente. Momentos como a exigência das cortes quanto ao retorno de D. Pedro a Portugal; as viagens pacificadoras pelas províncias, especialmente São Paulo e Minas Gerais; a formação de seu Ministério, as cartas enviadas por Bonifácio ao Príncipe com aconselhamentos. Inegável que D. Pedro pôde contar com valiosos auxiliares e coadjuvantes. Entrementes, nem mesmo o valor de Bonifácio pôde fazer frente ao coração apaixonado de D. Pedro. O relacionamento com Domitila de Castro acabava por desvirtuar os ideais ou ao menos causar ruídos indesejáveis à atuação de D. Pedro como Príncipe Regente ou Imperador. Assim, a incompatibilidade de ideais afastou temporariamente a Bonifácio e D. Pedro. Ambos só haveriam de se aproximarem novamente no evento da abdicação e partida do Imperador para Portugal, nos eventos de recuperação da estabilidade política de Portugal e das batalhas que transformaram nosso D. Pedro I do Brasil em D. Pedro IV de Portugal. Outro caractere que gostaríamos de destacar neste artigo, são os ideais de D. Pedro I quanto a questão da abolição da escravidão, algo que segundo biógrafos se repetiu em seu filho Pedro II, e em sua neta Isabel. Ideais que aparentemente foram tolhidos pelas forças econômicas e aristocráticas da época. A questão da libertação poderia ter sido resolvida muito mais cedo do que foi, se a sugestão de José Bonifácio tivesse sido incluída na Constituição de 1824, conforme destaque do texto do pesquisador Raul de Andrada e Silva. “(...) Cumpria prover a assimilação social dos negros forros, tanto quanto a sua libertação. Daí a medida consubstancial no art. X do projeto, segundo o qual a todos os pretos forros que não tivessem ofício ou modo outro de ganhar a vida atribuiria o Estado uma pequena sesmaria para o cultivo e recursos para a exploração da mesma, devendo tudo ser pago a prazo.” O artigo do projeto não foi incluído na Constituição, mas se manteve vivo e presente em D. Pedro. Em 1834, quando já estava envolvido nas lutas de que culminaram com a expulsão de seu irmão D. Miguel e na entrada em vigor da Carta Constitucional portuguesa, D. Pedro escreve uma carta aberta ao povo brasileiro onde diz que a "Escravidão é um mal, e um ataque contra os direitos e dignidade da espécie humana, porém suas consequências são menos prejudiciais para aqueles que sofrem no cativeiro do que para a Nação cujas leis permitem a escravidão. Ela é um câncer que devora a moralidade". Ainda no ano de 1834, em 24 de setembro, D. Pedro IV de Portugal perde a luta para a tuberculose e morre aos 35 anos e sua filha Maria da Glória (Maria II de Portugal) assume o trono português. Não nos pareceria honesto limitar a personalidade ou atos de D. Pedro I a rótulos tais como ‘liberal’ ou ‘absolutista’. De igual modo associar sua conduta ante o matrimônio como exclusivamente libertina ou desregrada limitaria extremamente a persona do homem Pedro de Alcântara. Inegável que muitas de suas ações se adequavam às circunstâncias, equilibrando-se entre ceder e reprimir, se ajustar às ordenanças do cargo e romper as comportas de sua impetuosidade. D. Pedro foi o instrumento vigoroso do rompimento dos laços políticos entre Brasil e Portugal, mas cremos que ao longo do caminho, os eventuais erros tenham sido debitados às suas decisões em se deixar conduzir por uma de suas características formadoras, em detrimento de qualquer outra. Ainda assim, D. Pedro de Alcântara nos deixou como legado a liberdade, que se alguns detratores defendem ser um dos primeiros limitantes da autodeterminação do povo brasileiro, visto ser oferecido por graça, nós outros entendemos como o instrumento divino para a consecução de um país multiétnico, culturalmente rico e acolhedor, que alcançou a liberdade sem a necessidade de um morticínio fratricida. Finalizamos dizendo que D. Pedro I é culpado de ser o primeiro exemplo em nosso país de um governante que circulando entre o povo, mostrando a seu povo uma identificação mútua. Culpado de ter conquistado a liderança e o respeito pelo mérito de estar presente, de se mostrar tal como é, de defender à custa da perda do poder os ideais de liberdade. Culpado de ser humano a ponto de errar, mas pronto a corrigir seus atos e palavras em prol de um ideal maior. Finalmente culpado de espontaneamente deixar o país que aprendera a amar, quando não mais percebia em seu povo o respeito e admiração de outrora. Antevendo o futuro, hipoteticamente não pareceria absurdo se naqueles tempos D. Pedro I houvesse pensado preferir perder o poder pela escolha de seu povo, que perder seu povo por escolher o poder. Tal é a essência dos grandes e verdadeiros estadistas, são homens ou mulheres com esta essência que devemos escolher livremente por nossos líderes. E que assim seja... Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N.º 17 edição de Agosto de 2022 – ISSN 2764-3867

  • “Todo o poder emana do povo”

    O artigo primeiro, parágrafo único de nossa constituição, nos traz esse belo jogo de palavras. E por que eu escrevo com este tom reflexivo? Simples, está na hora de compreendermos algumas considerações… Se o poder emana do povo, o que o povo realmente pode? O que daria este poder ao povo? Podemos considerar que conhecimento é poder? Em fim, são muitas as considerações, porém, quero propor uma pequena reflexão neste texto. Segundo a tradução cristã baseada na Bíblia Sagrada, Jesus, disse: “Meu povo sofre por não ter conhecimento” A partir desta afirmação podemos compreender que conhecimento é poder, pois um povo que sofre é por que tem pouco ou nenhum poder. Poder pressupõe que se pode algo, e se, emana, é por que tem origem no objeto. (povo) Onde quero chegar? O poder é uma ferramenta que pode ser usada para o bem, ou para o mal; por tanto se a fonte está contaminada o que emana dela certamente também está. Nesse caso, analisando a condição do nosso povo sendo ele a fonte do poder, que é uma ferramenta, como está sendo usada esta ferramenta? E se esta ferramenta for usada por outra pessoa que saiba exatamente como usá-la e não tenha um bom caráter? Nossa carta política afirma que este poder ou esta ferramenta será usada por algum representante, mas e se esse representante também não souber usá-la? (Visto que muitos males são causadas não por pessoas más, mas por pessoas ignorantes) E mais, que poder tem um povo que não conhece sua história? Que poder tem um povo que tradicionalmente coloca a solução dos seu problemas nas mãos de terceiros. Que adianta ter um "Sansão" ao nosso lado se ele está com o "cabelo cortado"? Assim, ter poder concedido sem que se tenha sabedoria para usá-lo, é o mesmo que ter uma arma e não saber como usá-la para defender-se e com risco de ainda colocá-la nas mãos do inimigo para seu uso nosso favor; faz sentido? Nós vangloriando de ter uma teoria de que o poder emana de nós, mas se temos o poder por que vivemos como se não o tivéssemos? Veja, se vamos entregar o poder nas mãos de alguém, que seja esse alguém, uma pessoa capaz de usá-lo de maneira correta. Nestas linhas quero iluminar o princípio do uso do nosso poder, e assim estarmos a altura do mundo que queremos. É hora de termos a consciência de que nós temos o que o mundo precisa e não ele o que precisamos. E como criamos essa consciência? Boa leitura, boa cultura, bons pensamentos e uma boa dose de patriotismo, esse é um bom começo. Temos em nossa revista um espaço para dicas de boa cultura e é no caso, o início de um processo para qualificarmos nossas escolhas. Como tudo na vida, a escolha é uma lei que uma vez ignorada ou desobedecido traz consequências muito negativas. Uma forma de sabe e se nossas escolhas são boas, é avaliarmos nossas vidas, vendo em que estado se encontra e assim vale para todos os aspectos de nossa vida. Sendo assim, a única forma de aumentarmos o nível de qualidade de nossas relações, famílias, amizades até mesmo nosso país, é qualificamos a nós mesmos; como diz o velho adágio: “se você muda, tudo a sua volta muda” Para tanto proponho um bom desafio: que a partir de hoje, tenhamos bons critérios para escolha em nossas leituras e tudo o mais que nos propusermos fazer e assim teremos cada vez mais cidadãos em condições de fazer boas escolhas. Sejamos, pois o mundo que queremos. Que Deus abençoe nossa jornada! Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N.º 17 edição de Agosto de 2022 – ISSN 2764-3867

  • Aljubarrota e a dinastia de Avis brasileira

    Em 14 de agosto de 1385, os campos de Aljubarrota, em Portugal, tornaram-se palco de um dos confrontos mais emblemáticos da história ibérica. O exército português, liderado por D. João I e pelo Condestável Nuno Álvares Pereira, enfrentou forças castelhanas muito superiores em número, mas não em estratégia ou determinação. O que estava em jogo não era apenas uma coroa, mas a própria independência nacional. A crise teve início com a morte de D. Fernando I, rei de Portugal, sem herdeiros homens. Sua única filha, D. Beatriz, era casada com o rei de Castela, o que levantava temores sobre a absorção de Portugal por uma potência estrangeira. Diante desse risco, setores da nobreza, do clero e do povo uniram-se em torno do Mestre de Avis, irmão bastardo do falecido rei, que assumiu a causa da independência nacional. Com apoio popular e a liderança militar de Nuno Álvares Pereira, travou-se a batalha decisiva. A vitória portuguesa não foi fruto do acaso. O terreno foi escolhido com inteligência. As táticas, inspiradas em métodos ingleses, incluíram trincheiras e defesas improvisadas que anularam a superioridade numérica inimiga. Em poucas horas, Portugal assegurou sua autonomia política e inaugurou a dinastia de Avis. Foi uma vitória da astúcia sobre a força bruta, da legitimidade popular sobre pretensões formais. A poeira dos campos de Aljubarrota ainda não havia baixado naquele 14 de agosto quando Portugal descobriu que havia feito mais do que vencer uma batalha – inventara um futuro. A vitória improvável de D. João I contra as forças castelhanas não foi obra do acaso, mas de uma conjugação rara: estratégia militar brilhante, liderança carismática e, sobretudo, um profundo instinto de sobrevivência nacional. Enquanto Nuno Álvares Pereira comandava as operações no campo, nas cortes e nas vilas portuguesas consolidava-se a compreensão de que algumas causas transcendem indivíduos – tornam-se questões de existência coletiva. Séculos depois, sob o céu de Brasília, outra batalha pela legitimidade do poder se desenrola, desta vez nos autos processuais e nas redes sociais. A decisão do TSE que tornou Jair Bolsonaro inelegível em 2023 ecoa, em seus próprios termos, o dilema essencial de Aljubarrota: quem tem o direito de governar, e com que autoridade? Se em 1385 a ameaça vinha de um reino vizinho que buscava anexação, hoje parte significativa da sociedade brasileira enxerga no Judiciário uma força que, ainda que domesticamente, opera como poder externo ao jogo político tradicional – moldando resultados que deveriam ser decididos nas urnas. A analogia, naturalmente, não é perfeita. Castela representava uma potência externa, enquanto o Judiciário brasileiro é instituição constitucional. Porém, como observou o historiador José Mattoso em "A Identidade Nacional", aquele sentimento de invasão de soberania que mobilizou os portugueses em Aljubarrota não dependia de fronteiras geográficas, mas da percepção de que forças alheias ao corpo político nacional determinariam seu destino. Essa mesma lógica emocional parece operar hoje em segmentos que veem nas decisões judiciais sobre casos eleitorais uma interferência indevida no espaço democrático. O campo conservador brasileiro vive hoje um impasse sucessório que lembra, em certa medida, os dilemas da nobreza portuguesa após Aljubarrota: a vitória política foi conquistada em 2018, mas falta-lhe um herdeiro claro para conduzir o próximo capítulo, agora que seu maior ícone está desarmado no campo de batalha e não pode lutar. Tarcísio de Freitas emerge como figura técnica com credenciais administrativas, mas seu perfil tecnocrático – ainda que eficaz no governo de São Paulo – não parece despertar o fervor ideológico necessário para mobilizar o núcleo duro da direita conservadora. Michelle Bolsonaro, por outro lado, carrega o sobrenome e o capital simbólico da família, mas sua trajetória até agora sugere mais uma "guardiã da chama" do que uma líder pronta para assumir o centro do palco político. Eduardo Bolsonaro, embora combativo e fiel ao legado paterno, enfrenta resistências que vão além das disputas partidárias – sua imagem permanece controversa até mesmo entre setores que compartilham de suas ideias. Aqui reside a diferença fundamental entre Aljubarrota e Brasília. Portugal saiu da batalha com uma liderança clara e um projeto nacional – as navegações que logo transformariam um pequeno reino em império global. O Brasil contemporâneo, após sua crise sucessória, ainda não encontrou nem o líder, nem o projeto que possa agregar além do círculo de fiéis. A direita oscila entre o personalismo e a falta de alternativas; a esquerda, entre o teatro encenado da defesa das instituições e a tentação de usá-las como armas contra os adversários. Talvez a verdadeira lição de Aljubarrota seja justamente esta: que crises de sucessão só se resolvem quando há, por trás das disputas pessoais, uma ideia maior de país capaz de justificar os sacrifícios. A ideia que mobilizou a nova casa monárquica portuguesa em 1385, passava pelo fortalecimento econômico e pela segurança militar. O Tratado de Windsor, assinado em 9 de maio de 1386, fez parte daquela estratégia e selou um acordo de paz e aliança entre Portugal e Inglaterra, formalizado durante o reinado de D. João I e Ricardo II, respetivamente. Este tratado estabeleceu uma aliança duradoura entre os dois reinos, com cláusulas militares, políticas e comerciais, considerado a mais antiga aliança diplomática em vigor. O Tratado de Windsor não foi apenas uma aliança econômico-militar – foi a semente de um novo posicionamento geopolítico. O Brasil, em seu labirinto institucional, ainda procura sua bússola equivalente, alternando-se entre 'players' com espectros ideológicos diametralmente opostos, tais como os Estados Unidos e a China. No fim, a história nunca se repete, mas suas melodias soam estranhamente familiares. O que Aljubarrota nos ensina é que nações podem emergir fortalecidas de suas crises existenciais – desde que encontrem, no meio da batalha, não apenas inimigos para combater, mas futuros para construir. O Brasil do século XXI, entre processos judiciais e polarização, ainda procura seu momento fundador. Quando – e como – ele virá é uma pergunta que nem os melhores estrategistas de 1385 saberiam responder. Mas a lição portuguesa permanece: sem projeto, não há vitória que dure; sem legitimidade, não há poder que se sustente. O resto, como talvez dissesse Nuno Álvares Pereira enquanto cavalgava pelos campos após a batalha, é com a história. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. IV N.º 55 edição de Junho de 2025 – ISSN 2764-3867

  • Leopoldina

    Um Coração de mulher Conforme iniciamos a análise do processo de rompimento político entre o Brasil e Portugal, conhecemos uma das figuras que se tornou pedra angular dos eventos de 1822: José Bonifácio. Nesta oportunidade conheceremos um pouco sobre outra personalidade que teve participação fundamental nos contornos do nosso conturbado processo de independência. Leopoldine Caroline Josepha von Habsburg-Lothringen, arquiduquesa da Áustria (Leopoldina Carolina Josefa de Habsburgo-Lorena). A análise dos processos históricos não é funcional quando é levada a cabo com pontos de vista afastados do contexto original, sob conceitos e ideologias posteriores aos fatos em análise ou, partindo de uma ideia matriz que utilize os eventos históricos como instrumentos retóricos. Tal ação não passa de desonestidade intelectual, inversão das relações de causa e efeito ou perversão da verdade histórica. Atualmente, muitas são as possibilidades de entendimento sobre a vida e o legado da Imperatriz Leopoldina, alguns apresentados sob o viés da opressão do patriarcado contra a mulher, outros exibindo os interesses de uma elite branca exploradora das riquezas de um povo ou também apresentando-a com a matriarca da Independência e “mãe” dos brasileiros de seu tempo. Para além de qualquer análise subjetiva está a história e os fatos que a compõe, com toda a sua complexidade e possibilidades de entendimento. Quisera Deus que fosse possível apresentar a vida e obra de nossa primeira Imperatriz de maneira pronta e definitiva, como que registrada em mármore. Diante da impossibilidade, vamos aos fatos. Leopoldina nasceu na cidade de Viena em 22 de janeiro de 1797. Filha do Imperador Francisco I da Áustria, recebeu uma educação primorosa como era comum à tradição dos Habsburgo, iniciada com seu avô Leopoldo II, que incluía fluência nas línguas alemã, italiana, francesa, inglesa, grega e latim, além de conhecimento nas ciências naturais, em especial a mineralogia e botânica, também literatura e música. Posteriormente, e por motivo de seu casamento, agregou a língua portuguesa a seu conjunto de conhecimentos. Sua formação visava preparar uma figura de Estado e não apenas uma mera reprodutora e geradora de herdeiros. Leopoldina, suas irmãs e irmãos foram educados em uma família católica estruturada e preparada para a condução de Estado, o que repercutiria nas decisões que tomou enquanto princesa consorte do Brasil. Em 1807 Leopoldina sofreu uma ruptura traumática com o falecimento de sua mãe Maria Tereza de Áustria. Todavia, em segundas núpcias seu pai se casou com Maria Luiza de Áustria que viria a se tornar a figura mais importante em sua formação intelectual. Não tendo filhos, Maria Luiza dedicou seu sólido intelecto à formação da prole de seu marido. O período em que nasceu Leopoldina foi de muita tensão política e social. A Revolução Francesa estava próxima de seu fim, mas traria à luz do palco da história a figura de Napoleão Bonaparte. A carnificina revolucionária e o expansionismo napoleônico causavam calafrios nas antigas dinastias europeias. Para as monarquias europeias era necessário conciliar o reinado sobre o povo e para o povo, do contrário a possibilidade da perda da coroa sob o exemplo dos revolucionários franceses seria um risco permanente. Outro instrumento de sobrevivência das dinastias se dava pelos casamentos arranjados. Deixando um pouco de lado a visão romântica contemporânea sobre os casamentos, devemos entender aquela instituição como de fato se encaixava no contexto social e político daqueles tempos. Era um instrumento de sobrevivência, de manutenção das linhagens, de garantia da paz entre as nações ou apenas de inclusão da mulher no tecido social. O amor poderia ser o complemento feliz de uma união de pessoas, ou poderia ser construído por meio da convivência, mas não era ainda um pré-requisito para uma união. Reforçando a ideia já apresentada, a inversão das relações de causa e efeito e a sobreposição dos contextos culturais trazem distorções na compreensão dos fatos. O casamento arranjado de Leopoldina e de Pedro de Alcântara (Pedro I do Brasil e Pedro IV de Portugal) uniu as casas de Habsburgo e de Bragança, atendendo aos interesses comerciais e políticos das duas casas reais. Assim, por procuração, em treze de maio de 1817 aconteceu em Viena o casamento. O evento foi confirmado no Brasil por uma benção nupcial dada em seis de novembro daquele ano, quando de fato os noivos se viram pela primeira vez. A vida da recém-casada princesa não seria preenchida por futilidades ou formalidades protocolares, foi necessário que a princesa consorte se pusesse acima das dificuldades de relacionamento, das diferenças culturais, de suas próprias expectativas quanto ao casamento, para permitir que todo o preparo recebido na Áustria pudesse dar frutos, que serviriam mais ao Brasil do que à sua própria realização pessoal. Não trataremos neste momento das questões relativas à postura conjugal do príncipe e imperador Pedro I, deixando para o próximo artigo esta análise. É fato que a história registrou as infidelidades de Pedro, mas a postura de soberana dignidade de Leopoldina, muitíssimo mais que de submissão conjugal, tinha aspectos de consciência de seu papel político para manter tanto quanto possível a estabilidade do Brasil. Sua criação previa uma postura que seguisse estritamente os protocolos de sua posição político-social. Maior que suas decepções pessoais, estava o estado de onde ela viera e aquele que a recebeu pelo matrimônio. É característica das grandes personalidades da história a aceitação das maiores provas em função de ideais superiores. De seus nove anos de casamento com Pedro de Alcântara, Leopoldina gerou a Maria, Miguel, João Carlos, Januária, Paula, Francisca e Pedro (Pedro II). Miguel faleceu no parto e João Carlos com apenas 11 meses. Uma possível crise sucessória criada pela ausência de um herdeiro do sexo masculino foi dissolvida pelo nascimento e sobrevivência de Pedro II. As manifestações políticas no Brasil desde o retorno de D. João VI em 1821 a Portugal, os embates de ideias com relação ao status do Brasil, que iam desde o retorno à condição de mera colônia, passando pela implantação de um regime republicano e chegando a um regime monárquico sob a autoridade do Príncipe Regente, todo esse conjunto de possibilidades preocupava Dona Leopoldina e remetia frequentemente ao movimento revolucionário francês. Em carta dirigida a seu pai, Leopoldina expunha seus receios: “São Cristovão, nove de junho de 1821. Caríssimo papai, aqui está uma verdadeira miséria. Todos os dias novas cenas de revolta. Os brasileiros são cabeças boas e tranquilas. As tropas portuguesas estão animadas pelo pior espírito e meu esposo infelizmente ama os novos princípios e não dá exemplo de firmeza como seria preciso, pois atemorizar é o único meio de pôr termo à rebelião. Receio que tome consciência tarde demais, com seu próprio prejuízo e só posso ver o futuro negro. Deus sabe o que ainda acontecerá conosco. (...) Aqui é o inferno na Terra e em todos os sentidos piora dia a dia, depois das medidas adotadas”. Os “novos princípios” a que Leopoldina se referia eram os mesmos que alimentaram a Revolução Francesa. No momento em que escreve a seu pai, os ideais monárquicos absolutos se sobrepunham ao liberalismo e Leopoldina esperava de D. Pedro uma postura de aceitação às determinações de Portugal. Naquele momento, do ponto de vista da princesa, apoiar qualquer movimento separatista no Brasil soaria como adotar os ideais revolucionários franceses e contrariar o contrato de casamento firmado entre duas nações: a sua de nascimento e a adotiva por consórcio. Em pouco tempo o posicionamento de Leopoldina se converteu e, em oito de janeiro de 1822 ela se dirige a seu secretário: “(...) Excelente Schäffer, receiam-se aqui muitos distúrbios para o dia de amanhã. Terá ouvido alguma coisa? O Príncipe está decidido, mas não tanto quanto eu desejaria. Os ministros vão ser substituídos por filhos do país que sejam capazes. O governo será administrado de um modo análogo ao dos Estados Unidos da América do Norte. Muito me tem custado alcançar isto tudo. Só desejaria insuflar uma decisão mais firme”. Não se poderá saber o que teria acontecido na noite do dia oito de janeiro nos aposentos do Palácio de São Cristóvão, mas no dia seguinte a este contato entre Leopoldina e seu secretário, ocorre o muito conhecido pronunciamento do “fico”. Em dois de setembro de 1822, Leopoldina na condição regente interina, presidiu reunião do Conselho de Ministros. A situação do país era insustentável em razão das manifestações e distúrbios no Rio de Janeiro e, mesmo que influenciada pelas ideias de seus ministros (Bonifácio em especial), Leopoldina redige a carta que deu caráter decisivo ao processo de independência: “Pedro, o Brasil está como um vulcão. Até no paço há revolucionários. Até oficiais das tropas são revolucionários. As Cortes Portuguesas ordenam vossa partida imediata, ameaçam-vos e humilham-vos. O Conselho de Estado aconselha-vos para ficar. Meu coração de mulher e de esposa prevê desgraças, se partirmos agora para Lisboa. (...) O Brasil será em vossas mãos um grande país. O Brasil vos quer para seu monarca. Com o vosso apoio ou sem o vosso apoio ele fará a sua separação. O pomo está maduro, colhei-o já, senão apodrece. (...) Pedro, o momento é o mais importante de vossa vida. Já dissestes aqui o que ireis fazer em São Paulo. Fazei, pois. Tereis o apoio do Brasil inteiro e, contra a vontade do povo brasileiro, os soldados portugueses que aqui estão nada podem fazer”. Sete de setembro, mesmo em face das ameaças internas e externas, mas contando com o amor de seu povo, com a presença amorosa e dedicada de uma mulher que, com dignidade exerceu seu papel na história do Brasil, este país rumou para a liberdade. Leopoldina, arquiduquesa, princesa consorte, imperatriz do Brasil, todos os títulos nobiliárquicos que apenas adornaram uma personalidade forjada para liderar, preparada para servir à nação, disposta à resignação diante das contrariedades. Tantas renúncias e lutas acabaram por cobrar seu preço no espírito sensível da imperatriz. Possivelmente em razão de uma septicemia pós-parto, dos poucos recursos de medicina da época, mas, agravada em grande parte pela depressão que se manifestava diante das crises matrimoniais e da necessidade de manter a fortaleza diante das agruras do trono, no dia onze de dezembro de 1826 a imperatriz faleceu. O Brasil perdia naquele dia uma grande mulher, uma grande brasileira ainda que adotiva. Exemplo de dignidade e consciência de seu dever à frente de um Estado que nascia. Que o Bom Deus ressalte e preserve em nossas melhores lideranças contemporâneas sua majestática dignidade, nobreza de sentimentos e seu coração revestido de patriotismo. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N.º 16 edição de Julho de 2022 – ISSN 2764-3867

  • A chegada do inverno

    A vida de um modo geral é gerida por lei, entre elas a lei dos ciclos; temos por exemplo, ciclos menores com dia e noite, médios como, os semanais e maiores como, as estações do ano. Os ciclos abarcam toda a estrutura da vida e está presente na ciência, religião, arte, política, história, entre outras chaves. Seguindo o ciclo natural entramos no inverno e como uma lei natural, deve ser respeitada. Com a chegada do inverno, gostamos ou não, há que adaptar-se ao momento, pois o que se pode fazer para eliminar o inverno? Nada! Pois a lei se impõe. Lembro que há leis em todos os aspectos da vida, assim como na política, com seus ciclos de guerra e paz, abundância e escassez econômica, por exemplo. No dia a dia, vejo pessoas que de maneira insana tentam evitar as leis, mas claro, sem sucesso. Então, fica a pergunta: Como comportar-se ante uma situação da qual não temos como mudar? Nestes momentos o ideal é usar a inteligência para manter-se o mais protegido possível dos efeitos negativos que em todos os casos se fazem presente. Se a situação é muito arriscada, a melhor atitude é a prudência, pois enfrentar o que não se pode mudar pode ser fatal. Mesmo aqueles que gostam do verão e não são nada afeitos ao inverno sabem que o melhor a fazer é compreender o momento e adaptar-se para que ao fim do ciclo, esteja bem para aproveitar o próximo momento. Sim, tudo é cíclico e vai passar; talvez para que não se conforma ao momento do inverno, pode parecer que dure uma eternidade, mas aquele que com inteligência sabe que nada pode fazer para mudar, porém muito para amenizar os efeitos, conseguirá passar com dignidade pelo momento que para ele, com certeza, é doloroso, falar pouco, manter-se vigilante aos altos e baixos da estação, observar cada pessoa para que não fique exposto a frieza do momento; e isso não significa que precise deixar de gostar do verão, mas que apesar disso, sabe adaptar-se ao momento e aguardar o fim de um ciclo. O inverno é um momento que embora doloroso para muitos, é também um ótimo momento para reflexão e para planejarmos a chegada de uma estação mais favorável. Se soubermos passar por qualquer situação de forma digna e inteligente, poderemos oferecer no futuro, tudo o que temos guardado para que seja aproveitado no momento oportuno, nesse caso, paciência, equilíbrio e maturidade são fundamentais para saber que estamos sim, num momento de inverno, mas que no futuro o verão com sua máxima expressão no aguarda, com sua luz, calor, brilho, liberdade e tudo mais que aqueles que amam o verão sentem falta e por tanto lamentam. Usemos os instrumentos que nos são próprios para este momento de frieza, pouca luz, acinzentado que parece querer nos manter presos a todos o custo, por conta da sua característica sombria. Contudo, fica aqui uma mensagem para os que já a tempos sofrem com esse inverno, assim como tudo na vida, este momento irá passar e agir com inteligência para manter-se protegido é fundamental para que ao seu fim, possamos desfrutar do tão sonhado verão. Que Deus abençoe nossa jornada!!! Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. IV N.º 55 edição de Junho de 2025 – ISSN 2764-3867

  • A propedêutica da nossa sociedade

    Na medicina, chama-se propedêutica, a parte que trata dos diagnósticos. De alguma forma existe uma propedêutica sociopolítica que pode ser usada em nosso momento histórico para de alguma forma entendermos a mentalidade e por fim o comportamento da sociedade brasileira hoje. Trabalhando os sintomas, percebemos qual o estado do “organismo,” no qual estamos inseridos. Temos sintomas preocupantes como, autoritarismo, censura, perda de direitos, descredibilidade das instituições de um modo geral – cada uma em seu percentual – Entre outros sintomas negativos. Fica claro que o organismo está doente e há que tratá-lo, antes que embora grave, a doença, não seja fatal. Durante várias décadas, várias formas de tratamento foram aplicadas, mas sempre na tentativa de amenizar os sintomas, ainda que se percebesse o agravamento claro das doenças, entre elas a corrupção e a ignorância. Como todo o organismo conectado a natureza, em algum momento há que reagir, e estando seu sistema imunológico forte o bastante, despertará as células certas e em quantidade suficiente para recuperar-se e se assim for, nada, sem dúvida será capaz de parar esta reação até que o organismo esteja totalmente recuperado. Trazendo esta analogia para nosso momento, vemos que nossa nação se encontra com uma doença grave e várias metástases por todo seu corpo, mas não o suficiente para ser fatal. Temos ainda neste grande organismo chamado Brasil, um grande número de células dispostas a entrarem em campo para dentro deste sistema de doenças, ativarem o principal fator de defesa imunológica: as virtudes!! A primeira delas, o patriotismo, já convocou todas as células disponíveis para ainda a tempo, promoverem saúde moral e espiritual, estas que sem dúvidas são o antídotos para qualquer veneno que fora inoculado. O sistema imunológico da nação está pronto, e cada vez mais forte para combater o câncer que outrora acometera este sagrado corpo chamado, Brasil. Algumas células, ainda adormecidas já se puseram a despertar para uma doença que por mais que ofereça algumas vantagens, no final como qualquer câncer, matará todo o corpo, inclusive as células que por qualquer motivo que seja, deixaram de combater a doença. Valores morais, cristianismo, conservadorismo e toda a forma de elevada maneira de viver, agem como nutrientes para que toda essa empreitada tenha sucesso, e terá. A batalha esta apenas começando, como todo câncer, ele fará o que precisar para se manter vivo, mas a nossa eficiente evolução já nos aportou toda a inteligência necessária para, de trincheira em trincheira, irmos avançando, tomando terreno até que estejamos seguros da saúde de nosso amado organismo chamado, Brasil. Que assim seja. Que deus abençoe nossa jornada!!! Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N.º 16 edição de Julho de 2022 – ISSN 2764-3867

  • A tradição Judaico-cristã

    Uma ofensa “ Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos Judeus ” (João 4:22, ACF). Em sua última revelação, nosso Senhor Jesus Cristo mostra a João, o apóstolo amado ( João 13:23; 21:20 ), exilado na Ilha de Patmos ( Apocalipse 1:9 ), tudo aquilo que ia acontecer nos últimos dias, e que ficou registrado no último livro das Sagradas Escrituras, o Apocalipse. Dá-se o nome de “escatologia” ao ramo da teologia que se ocupa do estudo das “últimas coisas”, e que tem como principal – mas não única – fonte exatamente este livro, que estudado em conjunto com outras passagens proféticas, em especial nos livros de Daniel, Ezequiel, Zacarias e nos Evangelhos, nos fornece informações importantes sobre o destino da humanidade. Mas tudo isso só faz sentido ao que crê. E que crê nas Escrituras como sendo aquilo que elas dizem ser: a Palavra de Deus, revelada, perfeita e incontestável. Tudo isso, a priori , soa de certa forma como uma obviedade aos ouvidos cristãos, mas na verdade tudo isso está sendo posto em dúvida, não pelos ateus, não pelos agnósticos, não pelos budistas e nem pelos muçulmanos. Aquilo que deveria se apresentar como algo naturalmente aceito pelos cristãos, na verdade está sendo colocado em cheque pela própria cristandade. Antes, porém, de discorrermos acerca de profecias ancestrais, é necessário, preliminarmente, por alguns “pingos nos is”. O que também só fará sentido se você for cristão. Em primeiro lugar, quando a cristandade se refere a Deus, a que Deus está se referindo? De quem se trata? Como ela chegou ao seu conhecimento? As informações que julga ter dele foram retiradas de que fonte? Esses questionamentos revelam uma realidade absolutamente contraditória em termos de fé cristã. Tão contraditória que chega a beirar a insanidade. O que queremos dizer é que ninguém, em parte alguma do mundo, faria ideia da existência de Deus e de seu plano redentor se as Escrituras não tivessem chegado até nós. Ou seja, o livro que muitos cristãos contestam e questionam, a partir de uma teologia crítica falida, é a única fonte confiável que lhes informar que um dia Deus enviou seu Filho ao mundo para morrer em nosso lugar. Quando alguém diz “Acredito em Deus, mas não na Bíblia” talvez não faça ideia do absurdo que acabou de dizer. É uma simples questão de lógica. Pois bem. Quando nos debruçamos sobre as Sagradas Escrituras, nossa percepção cristã nos ensina que Yeshua, o Unigênito do Pai ( João 3:16 ), é o personagem central das Escrituras, desde o primeiro livro, onde é apresentado como o “ descendente da mulher ” ( Gênesis 3:15 ), passando por todos os demais livros ate chegar ao último, onde ele conduz todas as ações pessoalmente. E é a partir deste personagem principal, de sua ótica, que devemos entender o plano de Deus, e não através dos nossos próprios olhos, conclusões ou opiniões, e nem da de filósofos gregos ou pensadores escolásticos. Quem define o padrão exegético das Escrituras é o filho de Deus, como todas as suas cristofanias. Um padrão que se torna ainda mais radical se entendermos os mistérios contidos em João 1:1 , “ No princípio era o Verbo (Logos/Palavra), e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus ”. Mais adiante quando, no mesmo contexto, o apóstolo diz que “O Verbo se fez carne” ( João 1:14 ), ele reconhece que Jesus e a sua Palavra são uma coisa só, e esta coisa é a manifestação visível de Deus ( Colosensses 1:15 ). Poucos teólogos conseguiram captar esse mistério como Agostinho, que diz “Mas pôde ocorrer que a Escritura, sem dar a perceber, tenha passado de pessoa para pessoa e ao narrar que o Pai disse: Faça-se a luz e as demais coisas que afirma terem sido feitas pelo Verbo, esteja indicando que o Filho é quem falou ao primeiro homem, embora não dê explicações claras, mas o insinue aos capazes de entender” (Agostinho. A Trindade. Paulus. 2014). Mas quem é esse Jesus, que ao mesmo tempo é o Verbo e o filho de um carpinteiro da Galileia? Esse Jesus é, sobretudo, um judeu. Um homem que nasceu como judeu e em nenhum momento de sua vida terrena renegou os princípios de fé que aprendeu de seus pais. E seu Pai celestial, que o enviou a terra para morrer no lugar dos eleitos, não é outro senão o Deus de Israel, porque se assim não for, tudo aquilo que foi registrado nas páginas do Novo Testamento perdem, consequentemente a sua legitimidade. Ou seja, o Deus que os cristãos afirmam adorar ou, ainda, as Escrituras em que eles afirmam crer, e mais, a tradição que eles juram defender, é de origem judaico-cristã. Porque ou ela é judaico-cristã, ou não é nada. E é aqui, nesse ponto crítico, que queremos alertar a cristandade. Desde a morte de Cristo, pelas mãos dos fariseus em conluio com o Império Romano, representado na ocasião por Pilatos, que forças ocultas vêm se apoderando da narrativa para causar uma ruptura espiritual que, se concretizada, lançará o mundo nos capítulos finais do Apocalipse. E aqui me refiro a uma ruptura que nunca, em momento algum, foi a aspiração da doutrina cristã pautada das Escrituras, em especial nos Evangelhos e nas Cartas de Paulo; a ruptura entre Israel e a Igreja de Yeshua. Essas forças se empenham, geração após geração para desconstruir o conceito de uma tradição “judaico-cristã”, usando falácias historicamente desonestas, como, por exemplo, jogar todos os que professam a fé cristã contra os judeus, acusando-os de terem matado o Messias. Essa construção gerou, aos poucos, os alicerces de todo o antissemitismo que existe no mundo, que acabou se sofisticando cada vez mais, criando novos espantalhos, contaminando a Reforma Protestante e, por tabela, o pensamento cristão europeu dos séculos seguintes, que desembocou no holocausto, até chegarmos na duas últimas estocadas oriundas desse engano milenar: a deturpação do termo “sionismo” e o divulgação de uma obra apócrifa chamada “Os Protocolos dos Sábios de Sião”. No primeiro caso, transformaram uma luta legítima de um povo que tudo o que queria é retornar ao seu lar e reconstruir sua pátria, em uma teoria da conspiração estapafúrdia, onde, de uma hora para outra, um povo que foi desterrado seguidamente, século após século, nação após nação, sendo espoliado de seus bens a cada desterro, estaria se preparando para dominar o mundo. Uma ideia ao mesmo tempo tão patética quanto satânica, capaz de encontrar abrigo somente em mentes tão patéticas e satânicas quanto, como, por exemplo, de um Adolf Hitler. Escreve o maníaco: “ Surgiu entre eles um grande movimento de vasta repercussão em Viena que muito concorreu para um juízo seguro sobre o caráter racial dos judeus. Esse movimento foi o sionismo ” (Adolf Hitler. Mein Kampf. Best Seller. Sem informação de data). Todas as vezes que vejo um militante antissemita arrotando “sionismo”, sem fazer ideia do que se trata o tema, as imagens de campos de concentração me vêm à mente. É a ignorância que gera a barbárie. E as nossas universidades estão cheias desses malucos. “Os Protocolos dos Sábios de Sião” foram feitos e publicados por encomenda. Até hoje não há um consenso sobre a sua origem. O pouco que sabe é que sua primeira publicação “oficial” se deu em 1903, na Rússia (é claro, afinal, foram eles quem os encomendaram, os reis da desinformação), mais especificamente em um jornal de São Petersburgo, o “ Znamia ” (bandeira), de propriedade de Pavel Krushevan, um notório antissemita. Um material claramente encomendado com a marca soviética: reuniões que nunca ocorreram e atas que nunca existiram. Os nazistas amaram o material (e ainda há quem defenda que eram de direita) produzido pelos socialistas russos. Aqui, como no caso do sionismo, a mesma balela infame: os judeus estão conspirando para dominar o mundo. Foi só a Alemanha entrar em crise e, como num passe de mágica, Hitler encontrou seu “bode expiatório”, uma expressão ironicamente retirada da Torá. Há quem pense, de forma ingênua, que todo esse sentimento antissemita seja exclusividade da Eurásia do século XIX para cá. A história mostra que o mundo persegue os hebreus desde que Deus chamou Abraão para iniciar sua jornada que desembocaria em Jesus. É curioso constatar que as pessoas que acreditam em lixos narrativos como o “sionismo” enviesado dos globalistas e nas sandices dos “Protocolos”, se assumam “cristãos” e não percebam o componente espiritual latente que envolve esse embate. Elas não percebem que ser antissemita é também ser anticristão, e que se afastar da tradição judaico-cristã é se afastar do próprio Cristo. E são essas conclusões que o sistema tem tentado destruir usando todo o seu arsenal dialético, porque ele sabe que o cristianismo desprovido de suas raízes e alicerces, é um cristianismo caricato. “A salvação vem dos judeus” Quando Yeshua diz essa frase ( João 4:22 ), ele está resumindo todo o arcabouço do plano divino que, por sua vez, é delineado por Paulo em sua Epístola aos Romanos. E em Efésios 2:14 , o apóstolo ratifica que ele “De dois povos fez um”. Ou seja, o projeto verdadeiramente cristão nunca foi separar Israel da Igreja, faz fazer de ambos uma coisa só. Essa é a determinação que há nas Escrituras. Mas algo deu errado no meio do caminho. Forças poderosas, aquelas que operam desde a queda, e que quem é cristão sabe que existem, cuidaram em fazer com que a coisa toda seguisse por caminhos completamente enviesados, disseminando falácias no meio da cristandade, especialmente a partir do século IV, de modo que os judeus, como um povo, e não somente a elite religiosa da época, levasse sobre si toda a culpa pela morte do Messias. Um discurso de contornos malignos, antibíblico e, por conseguinte, anticristão, afinal, também eram judeus os pais de Yeshua, seus irmãos, seus discípulos, mais de cem pessoas que estavam congregando no cenáculo e depois as milhares que se converteram no dia de Pentecoste. O interessante é que nem mesmo um dos segmentos mais odiosos que se valeram dessa falácia, o nazismo, transferiu sua culpa para uma nação inteira. Você não vê as pessoas dizendo “Os alemães fizeram o holocausto!”, mas sim “Os nazistas fizeram o holocausto!”. Ou seja, quando é cômodo, isenta-se uma nação, quando não, generaliza-se. Nos últimos séculos, algo ainda mais sinistro vem surgindo no underground da cristandade, um tipo de “antissemitismo compartilhado”, gerado por uma pseudoteologia que atende pelo nome de “teologia da substituição”, compartilhada por vários segmentos cristãos, de romanos a reformados, passando até por círculos (neo)pentecostais. Segundo essa teologia, a igreja cristã teria substituído Israel no coração e nos planos de Deus, deixando a nação escolhida em segundo plano e, em muitos casos, alijada das promessas e dos pactos dos últimos dias, tornando o Antigo Testamento uma coisa quase obsoleta. E a partir daí começou um ataque à tradição “judaico-cristã” como nunca se viu, e de forma surpreendente, como já falamos, não vindo de fora dos círculos cristãos, mas de dentro. De um lado, diagnosticam que essa expressão não passa de um anacronismo e, portanto, inadequado, que a tradição “judaico-cristã” não faz mais sentido. Acoplam a ela a falácia batida e requentada de que o “Israel Bíblico” não existe mais. O que é constrangedor, é que quem usa esse argumento sabe que ele não é verdade, mas precisa manter a narrativa. E do outro lado, uma acusação ainda mais pesada, e que a cada dia ganha mais espaço e corpo nas cercanias cristãs paroquianas, que hostiliza Israel de forma cada vez mais ostensiva, usando os mesmos argumentos que levaram ao holocausto, só que dessa vez direcionados com uma suposta roupagem teológica. Eles falam que o judaísmo é o veneno sionista que infectou o cristianismo e, como tal, deve ser combatido. Ou a tradição é judaico-cristã, ou não é nada O fato é que, seja do ponto de vista histórico, ou do teológico, é impossível separar judaísmo de cristianismo, ao mesmo tempo em que é impossível haver uma separação entre o Jesus judeu e o Jesus cristão. E isso é tão óbvio que pode ser exposto sem muita dificuldade, mesmo para progressistas e globalistas travestidos de cristãos. Em primeiro lugar, a origem e identificação do Messias. Cristo é o “filho de Davi”. Ou ele tem essa linhagem ou não pode ser o Messias. Todos os aspectos relacionados à sua divindade precisam ser legitimados pelo Antigo Testamento. Desde a tribo à qual pertenceria ( Gênesis 49:10 ) e o nascimento virginal ( Isaías 7:14 ) em Belém da Judeia ( Miquéias 5:2 ), além de muitos outros aspectos proféticos referentes ao seu ministério. Ou seja, não há Messias sem que antes haja um Antigo Testamento judeu para o legitimar. Isso não existe. Isso é mais contraditório do que afirmar que a terra é plana. Em segundo lugar, a sua mensagem. Todas as vezes em que Yeshua se referiu aos seus mandamentos, ele estava se referindo ao Antigo Testamento judeu. Inclusive, em seu primeiro embate com Satanás, no deserto ( Mateus 4 e Lucas 4 ), tudo o que ele fez foi lançar mão da fórmula “está escrito”, enquanto fazia referência a três passagens da Torá. Em nenhum momento ele dá a entender que o Antigo Testamento caducou ou perdeu sua importância, muito pelo contrário, ele constantemente reafirmava muitos ensinamentos contidos na Torá, pregando aos judeus em suas sinagogas. Os Evangelhos, bem como as Cartas, estão impregnados de textos da Antiga Aliança. Como assim a expressão “judaico-cristã” aponta para anacronismo ou sionismo deturpado? O que as pessoas estão consumindo para chegarem a conclusões trôpegas como essas? Em terceiro lugar, a escatologia. É impossível entender qualquer coisa de cunho profético sem lançar mão de textos do Antigo Testamento. O próprio Cristo em seus discursos escatológicos fazia menção a eles ( Mateus 24:15 ). O livro de Apocalipse é uma continuação das visões de Daniel, Zacarias, Ezequiel e Isaías. Ou a escatologia é judaico-cristã ou é simplesmente não existe, não se encontra, não faz sentido. Até pouco tempo atrás era consenso que o Ocidente havia sido erguido sobre os alicerces da tradição judaico-cristã, mas aí o antissemitismo velado, travestido de teologia, começou a se ramificar pelo submundo da cristandade, e o que era somente uma sugestão hoje é admitido de forma clara e para que todos vejam. Os “cristãos” estão renegando a ideia de uma tradição “judaico-cristã” porque, segundo eles, ela remete a um plano sionista para submeter a igreja de Cristo, ao mesmo tempo em que arreganham os dentes para os piores inimigos de Israel (e da humanidade), oferecendo-lhes guarita, em um movimento chamado “Crislã”, que até ontem era só mais uma teoria da conspiração, mas que hoje já é uma realidade com péssimas perspectivas. A “tradição judaico-cristã” é uma ofensa para o mundo pós-moderno. Ela é o último resquício da revelação divina completa que ainda temos como bússola para as nossas almas. É algo reconhecido por mentes brilhantes, como Leibniz, que discorre sobre ela no prefácio de “Teodiceia”. Ou como Roger Scruton, que a cita textualmente em seus livros (Roger Scruton. Como ser um Conservador. Record. 2019.). E ainda o magistral Jordan Peterson, que faz uso da expressão em profusão no espetacular “Mapas do Significado”. E poderíamos incluir C S Lewis, Leo Strauss, Weber… seriam esses homens conspiradores sionistas pagos pelos Rothschild? Fariam eles parte de um plano sombrio para controlar a humanidade a partir de um pedaço de terra menor do que o Estado do Sergipe, sem petróleo, grandes reservas de água, metais preciosos ou gás natural, coberto boa parte por um deserto? Façam-me o favor. Ou o que nós chamamos de tradição é judaico-cristã, ou não é nada. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. IV N.º 55 edição de de 2025 – ISSN 2764-3867

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