Luz na praça
- Juliette Oliveira
- 23 de jul.
- 3 min de leitura
Sal na política

Ser cristão não é apenas uma identidade professada entre quatro paredes ou reservada ao domingo. O chamado de Cristo é integral — ele transforma não só o íntimo do coração, mas também a forma como nos relacionamos com o mundo à nossa volta. Ser cristão fora da igreja é viver com coerência, integridade e compaixão em todos os espaços: no trabalho, na família, na sociedade e também na política.
A verdade é que o ser humano civil é indivisível do ser humano religioso. Fé e razão não são polos opostos, mas dimensões complementares do nosso ser. Nossa fé molda nossas escolhas, princípios e ações. Fingir que podemos separá-la da vida pública é negar a própria essência daquilo que cremos. Ninguém abandona sua identidade ao votar ou participar da vida em sociedade.
Por isso, não é incoerente que a fé cristã inspire decisões políticas ou sociais. Pelo contrário: o amor ao próximo, a busca pela justiça e o cuidado com os vulneráveis são princípios que, quando vividos com autenticidade, contribuem para uma sociedade mais justa e humana. Essas diretrizes devem sim influenciar as nossas decisões públicas, inclusive na hora de votar e de se posicionar.
A fé cristã ensina que devemos ser sal da terra e luz do mundo. Mas como cumprir esse chamado se nos calamos diante da dor, da injustiça e da degradação moral que corrompe nossa sociedade? Está mais do que na hora de os cristãos assumirem com coragem seu papel — não com imposições, mas com presença firme, com voz, com ações.
Quando deixamos de participar, outros moldam o mundo por nós — muitas vezes em direções contrárias ao que acreditamos. Vivemos tempos em que muitos transformam ideologias em fantasias, ignorando a realidade concreta que nos cerca. E, enquanto isso, vidas reais estão sendo destruídas. Bebês indefesos, que deveriam ser protegidos, são mortos todos os dias.
Essa realidade expõe a doença moral de uma sociedade que perdeu a sensibilidade pela vida. A cultura do descarte, como chamou o Papa Francisco, banaliza a existência humana e relativiza valores fundamentais. A indiferença se tornou um escudo para não enfrentar o que é desconfortável.
Dizer a verdade, hoje, exige coragem. Muitos cristãos preferem o silêncio por medo de serem julgados ou rotulados. Mas a luz que Deus colocou em nós não foi feita para ser escondida. Ser cristão na sociedade não é impor dogmas, mas viver com firmeza e amor os valores que professamos. É assumir quem somos sem medo ou vergonha.
A política, quando orientada por princípios éticos e humanos, pode ser um espaço poderoso de transformação. O cristão que se engaja nesse campo com humildade e serviço pode contribuir para políticas públicas que promovam o bem comum, respeitem a dignidade humana e protejam os mais fracos.
Ser cristão fora da igreja é, portanto, estender o altar até as calçadas do cotidiano. É transformar convicção em ação, oração em postura, doutrina em presença. Nossa fé não é estática: ela pulsa, se move, transforma. E o mundo precisa ver isso.
Estamos diante de uma sociedade adoecida — afetada por relativismos, polarizações vazias e uma crescente perda de propósito. Mais do que nunca, é urgente que cristãos se posicionem com verdade, graça e ousadia. O Evangelho é atual, vivo, e tem respostas para os desafios de hoje.
Isso não significa sermos perfeitos, mas sim disponíveis. Deus não chama os capacitados, capacita os que se dispõem. Cada cristão, onde quer que esteja, pode ser instrumento de paz, justiça e reconciliação. Seja num cargo público ou numa conversa de esquina, podemos testemunhar a verdade com amor.
Este é um chamado: cristão, não se esconda. Sua fé não é um detalhe da sua vida — é seu alicerce. O mundo não precisa de vozes neutras, mas de vozes firmes, guiadas pela luz de Cristo. Honre sua identidade com coragem.
Não se cale diante da mentira, da destruição da vida, da inversão de valores. Levante-se pela verdade, lute pela vida, defenda os inocentes. Como disse Jesus: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”. Que sejamos esses.
Por fim, lembre-se: a fé que não se traduz em ação é incompleta. Que possamos ser cristãos de segunda a segunda, da igreja à praça, do lar ao parlamento. Com convicção, com ternura, com integridade. O mundo precisa ver Cristo em nós — não apenas no que dizemos, mas em como vivemos.
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Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. IV N.º 55 edição de Junho de 2025 – ISSN 2764-3867
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