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O amor que transforma

O amor que transforma

Nos últimos artigos, abordamos o tempo do Carnaval, a Quaresma e encerramos com a Páscoa, o ápice da vida cristã, onde se revela o maior mistério da fé: a crença de que Jesus foi imolado para restaurar a humanidade, demonstrando o maior ato de amor registrado na história.

O amor de Jesus Cristo, manifestado em seu sacrifício na cruz, é a expressão mais sublime da misericórdia divina. Esse ato de entrega total transcende qualquer compreensão humana e revela a profundidade do amor de Deus pela humanidade. Jesus, o Filho de Deus, aceitou voluntariamente a morte para salvar o ser humano do pecado, mesmo que muitos não tenham pedido ou compreendido essa salvação.

O sacrifício de Jesus na cruz é o ápice da história da salvação. Ele não apenas sofreu fisicamente, mas carregou o peso dos pecados de toda a humanidade. Esse amor é sublime porque é completamente altruísta e incondicional. Jesus não buscou nada em troca; sua morte foi um ato de obediência ao Pai e de amor pela humanidade. Como afirma a encíclica “Deus Caritas Est”, o amor de Deus é uma força transformadora que nos chama a viver em comunhão com Ele e com os outros.

Jesus Cristo foi o maior mensageiro do amor, e esse amor é lembrado até os dias de hoje. No entanto, é essencial compreender que o amor, por si só, não é suficiente para seguir a Jesus Cristo. A fé cristã exige uma vivência concreta, baseada na encarnação de Cristo e na prática dos mandamentos divinos. Esse alerta foi enfatizado em diversas reflexões do Papa Francisco, disponíveis no site do Vaticano.

O Papa Francisco destaca que o amor cristão não pode ser reduzido a um sentimento abstrato ou filosófico. Ele deve ser vivido de forma concreta, com obras de misericórdia e ações que refletem a encarnação de Cristo. O amor que não reconhece que Jesus veio em carne é um amor falho e distante da verdadeira essência cristã. Seguir a Cristo implica acreditar na sua encarnação e viver de acordo com seus ensinamentos, que incluem amar ao próximo de maneira prática e genuína.

Na exortação apostólica “Amoris Laetitia” (“A Alegria do Amor”), Francisco descreve o amor como uma realidade concreta, vivida no dia a dia, especialmente no contexto familiar. Ele enfatiza que o amor cristão não é apenas um sentimento, mas uma decisão de buscar o bem do outro, mesmo em meio às dificuldades. Ele também alerta contra a tentação de reduzir o amor a um conceito abstrato ou idealizado, destacando que o verdadeiro amor se manifesta em ações concretas de misericórdia e cuidado.

Santo Agostinho, um dos maiores teólogos da Igreja, descreveu o amor como a força que move todas as coisas em direção a Deus. Em suas “Confissões”, ele reflete sobre sua busca pelo amor verdadeiro, reconhecendo que apenas em Deus encontrou a plenitude do amor. Para Agostinho, “Ama e faze o que queres” significa que, quando o amor é genuíno e enraizado em Deus, ele guia todas as ações para o bem. Ele também advertiu contra os amores desordenados, que afastam a alma de sua verdadeira finalidade: a comunhão com Deus.

Além disso, o Papa Bento XVI, na encíclica “Deus Caritas Est”, reforça que o amor cristão não é apenas um mandamento, mas uma resposta ao amor divino que nos foi dado. Esse amor deve ser comunicado aos outros por meio de ações concretas e comprometidas. A fé cristã não se baseia apenas em ideias ou sentimentos, mas em um encontro transformador com Cristo, que dá um novo horizonte à vida.

O amor cristão, como ensinado por Jesus e aprofundado nessa encíclica, é um chamado à ação concreta e à transformação pessoal. Ele exige discernimento para que nossas ações sejam verdadeiramente guiadas pelo amor divino e não por interpretações distorcidas ou egoístas do que significa amar.

O amor é uma força universal que conecta as pessoas e dá sentido à vida. Na tradição cristã, ele é dividido em três tipos principais:

  1. “Eros”: Amor de desejo, frequentemente associado à atração física e romântica. Na visão cristã, o “eros” precisa ser purificado e disciplinado para não se tornar egoísta.

  2. “Philia”: Amor de amizade, baseado em respeito mútuo e companheirismo.

  3. “Ágape”: Amor altruísta e incondicional, que busca o bem do outro sem esperar nada em troca. Este é o amor que mais reflete o amor de Deus.

O amor materno, quando vivido verdadeiramente, é uma das formas mais puras e incondicionais de amor humano. Ele reflete o “ágape”, o amor altruísta que busca o bem do outro sem esperar nada em troca. A mãe ama seu filho desde o ventre, nutrindo, protegendo e guiando-o ao longo da vida. Esse amor é cuidadoso, sacrificial e constante, um reflexo do amor divino.

Embora chamemos Deus de Pai, Ele também ama como uma mãe. Seu amor é terno e compassivo, como o de uma mãe que jamais abandona seu filho, oferecendo acolhimento e proteção sem reservas. Em Isaías 49, 15, Deus nos lembra: “Pode uma mãe esquecer-se do seu filho? Ainda que ela se esqueça, eu jamais me esquecerei de ti.” Essa passagem reforça que, enquanto o amor humano pode ter falhas, o amor de Deus é perfeito e eterno. Ele corrige, guia, sustenta e conforta, assim como uma mãe amorosa que sempre busca o melhor para seus filhos.

Maio é um mês especial, quando celebramos o Dia das Mães, uma ocasião que nos lembra da profundidade e da beleza do amor materno. O amor de uma mãe verdadeira é um reflexo do amor divino: ele é incondicional, protetor e sacrificial. Uma mãe que ama genuinamente cuida, orienta e se doa sem esperar nada em troca, buscando sempre o bem de seus filhos. Esse amor nos dá um vislumbre do amor de Deus, que é ainda maior e mais perfeito.

Jesus nos ensinou sobre essa realidade ao dizer: “Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhes pedirem?”. Essa passagem nos mostra que, se até nós, com nossas imperfeições, buscamos dar o melhor aos nossos filhos, Deus, que é perfeito e infinitamente bom, nos concede dádivas ainda maiores.

Assim como uma mãe jamais daria algo prejudicial ao seu filho quando ele pede alimento, Deus também cuida de nós com amor e providência. Seu amor transcende qualquer compreensão humana, e Ele nos sustenta com tudo o que precisamos para viver em comunhão com Ele. O amor materno, em sua forma mais pura, nos ajuda a compreender um pouco da ternura e do cuidado divino, lembrando-nos de que, independentemente das circunstâncias, Deus nunca nos abandona.

A ideia de amor varia amplamente entre indivíduos. O que para alguns pode ser considerado amor, para outros pode ser algo nocivo ou destrutivo. Por exemplo, um amor possessivo ou controlador pode ser percebido como cuidado por quem o pratica, mas como opressão por quem o recebe. Por isso, é perigoso reduzir os mandamentos de Jesus a simplesmente “amar”, sem considerar o que esse amor implica em termos de responsabilidade, respeito e justiça.

Mas como sabemos o modo de amar? Para isso temos algumas direções. Jesus Cristo nos deu duas direções quando resumiu os mandamentos em dois princípios fundamentais: “amor a Deus” e “amor ao próximo”. Em Mateus 22, 36-40, Ele disse:

1. “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento.”

2. “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.”

Além disso, Jesus reafirmou vários dos Dez Mandamentos ao longo de seu ministério. Ele também enfatizou a importância do amor e da misericórdia como base para a vida cristã.

Portanto, é perigoso acreditar que o amor, sem a prática dos mandamentos e sem a fé na encarnação de Cristo, basta para seguir a Jesus. O verdadeiro amor cristão é aquele que se manifesta em ações concretas, que refletem a presença de Deus em nossas vidas e nos aproximam do próximo. Somente assim podemos viver plenamente a mensagem de Cristo e evitar os enganos de um amor abstrato e desconectado da realidade.

O amor de Deus é imenso, perfeito e incondicional, mas para vivê-lo plenamente, é necessário primeiro aprender a amar a si mesmo. Somente quem compreende seu próprio valor diante do Criador consegue refletir esse amor de maneira genuína.

Muitas vezes, buscamos o amor de Deus e do próximo sem antes olharmos para nós mesmos com misericórdia. Aceitar-se, respeitar-se e cuidar de si não são atos de egoísmo, mas sim passos essenciais para viver o amor verdadeiro que Cristo nos ensina.

Se Jesus nos mandou amar o próximo como a nós mesmos, como podemos cumprir esse mandamento sem antes entendermos o que significa amar a própria vida? Quem não se vê como digno do amor de Deus dificilmente conseguirá amar o outro com a plenitude que Cristo nos pede.

Que tal dar esse primeiro passo? Enxergue-se com os olhos de Deus, ame a si mesmo com gratidão e permita que esse amor transborde para transformar suas relações e sua fé. Quando aprendemos a nos amar com sinceridade, começamos a viver o verdadeiro amor cristão, aquele que se manifesta em gestos concretos e nos aproxima ainda mais do Senhor.


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Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. IV N.º 54 edição de Maio de 2025 – ISSN 2764-3867


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