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A Verdade e a Mentira


Gosto muito da parábola sobre a verdade e a mentira. Ela é bem emblemática, e em tempos sombrios como os que estamos vivendo, nos mostra que é preciso perder a ingenuidade. A estória é mais ou menos assim:

A Verdade se encontrou com a mentira, por acaso. A Mentira disse: que lindo dia, não é? A Verdade, desconfiada, foi olhar, e o céu realmente estava azul, os passarinhos cantavam, era um dia bonito. A Mentira estava certa.

A Mentira prosseguiu: está bem quente hoje, poderíamos nos banhar no rio. A Verdade teve que concordar que fazia calor, e achou que não havia nada demais entrar no rio com a Mentira. Afinal, ela não parecia tão ruim assim, e estava falando coisas coerentes e corretas.

Mal entraram no rio, a Mentira saiu da água e vestiu-se com as roupas da Verdade, fugindo. A Verdade recusou-se a vestir as roupas da Mentira, e saiu desnuda, pelas ruas. Não via por que se envergonhar, havia sido enganada, explicaria sua situação.

As pessoas, entretanto escandalizaram-se com a Verdade nua e crua à sua frente, preferindo acreditar na Mentira, vestida de Verdade. E a verdade se escondeu, morta de vergonha e ultrajada, desacreditada e espezinhada que havia sido, e nunca mais apareceu.

A Mentira é ardilosa, sedutora, fácil de engolir. Ela desce macia, goela abaixo, e apenas após ser mastigada e digerida, inicia seu processo de destruição. A Verdade, não. Ela é dura, inconveniente, incômoda. Gera mal estar e indisposição, logo que se apresenta.

A Mentira, quando chega, precisa do discurso da Verdade. Precisa convencer, encantar e dominar as atenções das pessoas, atingindo em cheio todos os desavisados. E a Verdade? Bem, ela só é convidada a ingressar em círculos bem restritos, onde as pessoas estão preparadas para sua chegada. Porque ela chega de modo abrupto, não sabe seduzir, não é maliciosa, não escolhe as palavras, posto que não aprendeu a enganar.

A humanidade, desde os primórdios, sente-se mais confortável em companhia da Mentira, já que a Verdade a retira de sua zona de conforto, é a visita que incomoda desde a chegada e não tem hora para ir embora. A Verdade, coitada, bem que tentou argumentar. Estava sendo ultrajada, vilipendiada e covardemente escorraçada. Fora preterida por um conjunto de mentiras pífias e injustificáveis.

Mas, infelizmente, ninguém prestou atenção no que estava dizendo, inebriados que estavam pelas sedutoras e eloquentes palavras da Mentira, que foi alegremente celebrada, e saiu toda elegante (pois as roupas da Verdade lhe caíram muito bem), para jantar fora com os Congressistas, e celebrar sua vitória acachapante.

“Realidade é aquilo que existe fora e independentemente de nós e que minuto a minuto nos impõe algo que não desejaríamos saber, algo que preferiríamos que não existisse”. Olavo de Carvalho.

Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. II N.º 26 e também em Tribuna Diária

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