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  • Por que há tantas famílias desestruturadas?

    Faz algum tempo que estou estudando um livro chamado “A conspiração contra a vida humana” , de autoria de José Alfredo Elía Marcos . Diferente de outras obras, não estou correndo contra o tempo para terminá-la, pelo contrário; em doses homeopáticas, estou aprendendo a origem da eugenia e da contracepção. Eu já tinha conhecimento de que a revolução sexual foi uma das responsáveis pela degradação da sociedade, mas havia uma lacuna em minha mente: como se deu esse processo? Como explicar o reflexo disso nos dias atuais? Muito provavelmente você se perguntou – assim como eu – por que os papéis dentro da família foram trocados, ao ponto de, nem homens nem mulheres, saberem ao certo qual sua função. E foi aqui que esta obra abriu os meus olhos. Já ouviu falar em Kingsley Davis ? É possível. Davis foi um sociólogo e demógrafo americano, membro da American Eugenics Society , cunhou os termos “explosão populacional” e “crescimento zero” . Foi ele que, digamos, “redefiniu” o conceito de família. Em Julho de 1937, Davis publicou “Reproductive institutions and the pressure for population” , onde escreveu: “O Estado deve eliminar todo tipo de ajuda às famílias, a fim de alcançar um sistema em que o papel do pai é assumido pelo Estado e a função da mãe é realizada por mulheres profissionais, cujos serviços são pagos diretamente pelo Estado.” Essa ideia de gerico não partiu da cabeça de Davis originalmente; na Rússia comunista isso já estava sendo trabalhado desde o início da revolução e propagado por Alexandra Kollontai na obra “O Comunismo e a Família” . Vejamos: “Porém, é precisamente esta facilidade para obter o divórcio, fonte de tantas esperanças para as mulheres que são desgraçadas em seu matrimônio, o que assusta outras mulheres, particularmente aquelas que consideram o marido como o ”provedor” da família, como o único sustento da vida, a essas mulheres que não compreendem que devem acostumar-se a buscar e a encontrar esse sustento em outro lugar, não na pessoa do homem, mas sim na pessoa da sociedade, do estado.” “Na Sociedade Comunista de amanhã, esses trabalhos (domésticos) serão realizados por uma categoria especial de mulheres trabalhadoras dedicadas unicamente a essas ocupações.” Fazer com que marido e mulher estejam deveras ocupados faz com que o vínculo familiar seja quebrado; logo, a família torna-se obsoleta e sem propósito. Um outro ponto que enfraquece as famílias são as “intimidades não convencionais”, defendido por Davis; ao mesmo tempo em que marido e mulher são afastados por seus “compromissos inadiáveis” , eles têm “direito” a experimentar aventuras íntimas, como o chamado “amor livre” . No processo de transformação da intimidade, filhos são considerados “empecilhos” , portanto, devem ser evitados. Além do mais, filhos criam vínculos, laços eternos; é muito comum ouvirmos “Existe ex-marido, ex-esposa, mas nunca ex-filho” . E Davis fez questão de propor a quebra destes laços. E é aqui que surgem duas figuras que hoje são muito conhecidas: a mãe solteira e o pai ausente. Com o advento da revolução sexual e normalização de métodos contraceptivos, muitas mulheres se viram “livres” das “amarras da maternidade” , e resolveram se entregar a todo e qualquer tipo de prazer. Contudo, nenhum método é 100% à prova de falhas, não sendo a gravidez de todo descartada. Obviamente que, quando abordo este assunto, me refiro àquelas que foram seduzidas pelo canto da sereia chamado “empoderamento feminino” . Tenho ciência de que há muitas mães solteiras que se tornaram assim por força das circunstâncias (violência doméstica, viuvez e outros) e que não devem ser incluídas neste bojo que trato no presente artigo. Quando a gravidez surge de uma dessas “intimidades não convencionais” , via de regra, vemos o homem abandonando a situação e a mulher sozinha. Teria Davis descoberto o ovo de Colombo? “Se os homens fossem liberados da responsabilidade por seus filhos e se sua identificação com eles fosse rejeitada (...) parece bem provável que, sem ajuda diária de um homem, muito poucas mulheres gostariam de ter e criar dois ou mais filhos” Mas como fazê-lo quando os filhos já existem? Simples! Para Davis, o “sistema de escola” é o melhor; no Brasil, a obrigatoriedade para matricular os filhos na escola é de quatro anos de idade. Mas, quanto mais cedo enviar, melhor para a quebra dos laços. Hoje, inclusive, a demanda para a criação de novas creches é absurda, e já há quem esteja propondo creches noturnas! Vejam bem, quando falamos contra o feminismo, defendemos a família tradicional, valores cristãos e coisas deste jaez, é justamente porque estamos vendo diante dos nossos olhos as consequências do tal “empoderamento” , “meu corpo, minhas regras” e afins. No meu caso, não faço isso para ser a “intelectual” , estou anos-luz de ser uma. Faço isso porque Nosso Senhor Jesus Cristo já havia dito “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (João 8.32) , e alguém deve propagá-la. Se todo o discurso de empoderamento e “liberdade sexual” , de fato, fosse benéfico, não teríamos como resultado mulheres sobrecarregadas, homens sem responsabilidade, crianças traumatizadas e uma sociedade doente. Voltemos ao básico, àquilo que Deus sempre quis para nós. Não podemos salvar o mundo, mas podemos resgatar nossa família. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. III N.º 46 - ISSN 2764-3867

  • Os avisos subliminares da sétima arte

    Ao final do filme "O Advogado do Diabo", o personagem vivido por Keanu Reeves sai ao encontro do seu pai, o próprio, interpretado magistralmente por Al Pacino, pra variar. Ao se ver fora do hospital onde sua mulher, enlouquecida por demônios, acaba de se suicidar cortando a garganta com um pedaço de vidro, ele percebe a Big Apple completamente vazia e silenciosa. Essa cena é a chave do filme. A tomada que mostra as ruas da cidade mais movimentada do planeta, em completo silêncio em plena luz do dia, nos faz entender de maneira subliminar o tamanho da encrenca em que estamos metidos, desde que as Escrituras avisaram que " O mundo inteiro jaz no maligno " ( I João 5:19 ). A escolha por New York é de uma obviedade irônica. Seu símbolo, uma maçã, remete ao fruto proibido, que sabemos nunca ter sido uma maçã, mas por conta de idiossincrasias latinas, acabou pegando a fama. É claro, tudo fica ainda mais irônico quando lembramos de ‘outra’ Apple, aquela, mordida, símbolo igualmente óbvio do pecado, da queda. Interessante que o filme consagra a frase " Vaidade, o meu pecado favorito ". E o que mais pode ser a motivação por trás de se ter um aparelhinho com a maçã mordida no bolso? Se nos debruçarmos sobre as provocações sistêmicas das elites globalistas, as encontraremos todas neste filme de Taylor Hackford lançado em 1997 e que se tornou um cult. Mas, mais do que procurar referências cruzadas, como as citações bíblicas da mãe de Kevin Lomax, é entender que o que ele expõe como ficção está mais perto da verdade do que jornal diário da grande mídia. As artes, em especial a literatura e o cinema, têm sido férteis em nos alertar sobre a sombra de um globalismo satânico que a cada dia parece avançar mais sobre a humanidade. Em especial a partir das décadas de 30/40, quando livros como “Admirável Mundo Novo” e “1984” foram lançados. No cinema, obras como “Metropolis”(1927) e “Tempos Modernos”(1936) já tratavam de questões acerca de totalitarismo e manipulação de massas. Entretanto, foi somente após a década de 70 que pudemos notar nas produções cinematográficas a questão espiritual de forma mais assertiva, como, por exemplo, na obra-prima “A Profecia”(1976), um trabalho magistral do igualmente magistral Richard Donner, com a clássica trilha sonora de Jerry Goldsmith, capaz de provocar arrepios até hoje. Desde então o cinema vem capturando cada vez mais aquilo que o politicamente não ousa admitir. E “O Advogado do Diabo” é um dos filmes que melhor trata esse assunto. Absolutamente todo o establishment global está aparelhado por demônios e seus adoradores. Todas as megacorporações, cartéis, multinacionais, enfim, tudo o que, de alguma forma, alimenta o “pecado favorito” do diabo, ainda que isso se trata de licença poética, porque, biblicamente, o pecado favorito de satanás é a desobediência à Palavra de Deus, enquanto que em nós, a cobiça reina soberana no rol das transgressões, como ensina Yeshua, Paulo e Pedro nos Evangelhos. Está tudo ali, na tela. Ganância desenfreada, perversão sexual, apostasia, blasfêmia, e quem não entra no jogo acaba sendo engolido por ele. São os recortes de um mundo vindouro, cada vez mais alijado de Deus. Esse tipo de obra, normalmente classificada no gênero “teoria da conspiração” nada mais é do que o mundo olhando para si mesmo e dizendo: “Prefiro não acreditar nisso, porque se for verdade, estamos ferrados…”. A condescendência de uma humanidade sem Deus que prefere não crer naquilo que a condenará. É uma estratégia boa, mas como prazo de validade, porque assim é o sistema em todas as suas vertentes e variações. Ou não foi assim que os alemães se comportaram diante do avanço do nazismo na sociedade, de forma “legal”? E aqui, mais uma ironia: Satanás é um advogado. Para quem não entendeu a ironia, nas Escrituras somente uma pessoa recebe esse título: Jesus Cristo ( I João 2:1 ). Ao se revelar como um operador da lei, o diabo não quer jogar uma pecha maligna sobre essa profissão, mas provocar Deus, se identificando como a mesma designação de seu filho. Um tipo de apoderamento que ele já faz há milênios, quando se apossou do arco-íris, sinal de aliança e da misericórdia de Deus com a humanidade (Gênesis 9), que ele transformou em símbolo daquilo que o próprio Deus chama de abominação, ou o tridente, o enorme garfo que era usado pelos levitas no Tabernáculo do deserto, que passou a fazer parte de uma de suas representações míticas, ao lado do chifre e do rabo. Ele não escolhe essa “profissão” por acaso no filme. Ele quer irritar o Criador. Mas voltando ao raciocínio, sim, estamos ferrados. Porque existe muita verdade em “O Advogado do Diabo”, assim como em “Matrix”, “John Wick” e “Constantine”. Fico pensando às vezes se Keanu Reeves não é uma espécie de “escolhido”, afinal, nestes últimos tempos, sempre que alguém quis mandar uma mensagem de alerta, ele estava lá. Coincidência? Quem sabe? Enfim, em um mundo em completa escalada de insanidade como o que estamos vivendo, somente análises e observações igualmente fora da casinha serão capazes de encontrar respostas minimamente plausíveis para o caos. Resta saber quem de fato quer encontrá-las. “O Advogado do Diabo” tem trilha sonora do ótimo James Newton Howard, indicado oito vezes ao Oscar, e autor de algumas pérolas como a trilogia “Cavaleiro das Trevas” em coautoria com Hans Zimmer, e também a franquia “Jogos Vorazes”. Direção pra lá de segura de Taylor Hackford, que estourou em 1982 com “A Força do Destino”, um drama estrelado por Richard Gere e Debra Winger. A atuação de Al Pacino é fantástica e acaba ofuscando o carismático Keanu Reeves, sempre esforçado. Charlize Theron traz uma interpretação bem honesta da esposa em crise, mas quem chama a atenção é Connie Nielsen, como filha do diabo e irmã de Kevin. Talvez você não a reconheça, mas ela é a Lucilla, irmã de imperador que se apaixona pelo General Maximus em “Gladiador” (2000). Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. III N.º 46 - ISSN 2764-3867

  • O Papel Transformador da Igreja

    A certeza de que o pertencimento a uma Igreja transforma o ser é inquestionável. Participar de atividades religiosas não só nos mantém vivos, mas também alimenta o nosso espírito. É através do serviço que aprendemos a conviver em comunidade, a dialogar, a negociar e a defender melhor aquilo em que acreditamos. Além disso, a Igreja desempenha um papel fundamental na formação de líderes. Ao nos envolvermos em suas atividades, desenvolvemos habilidades essenciais para a liderança, como a capacidade de ouvir, de tomar decisões ponderadas e de inspirar os outros. A convivência comunitária nos ensina a importância da empatia e da colaboração, valores indispensáveis para qualquer líder. A Igreja tem um impacto profundo na formação dos nossos valores. Ela promove princípios como o amor ao próximo, a solidariedade e o respeito. Através de suas ações sociais e ensinamentos, a Igreja nos incentiva a adotar uma postura mais compassiva e justa em relação ao mundo. Esses valores moldam nossa visão de mundo, influenciando nossas atitudes e comportamentos diários. O legado de Jesus Cristo é um exemplo supremo de liderança que continua a formar líderes para o mundo. Jesus não apenas pregou sobre amor, compaixão e justiça, mas também viveu esses valores de maneira exemplar. Ele investiu profundamente em seus discípulos, ensinando-os através de seu exemplo pessoal, motivando-os com compaixão e orientando-os com sabedoria. Jesus demonstrou que a verdadeira liderança é servidora, colocando as necessidades dos outros acima das suas próprias. Esse modelo de liderança baseado no serviço e na humildade continua a inspirar líderes em todas as esferas da vida, desde a Igreja até o mundo corporativo. Um exemplo notável de transformação é Santo Agostinho. Nascido em 354 d.C., em Tagaste, no território da atual Argélia, Agostinho viveu uma juventude marcada por excessos e busca por prazeres mundanos. Ele se envolveu com o maniqueísmo, uma doutrina que via o mundo como uma batalha entre o bem e o mal, e também explorou o hedonismo e o ceticismo. No entanto, sua vida mudou radicalmente após sua conversão ao cristianismo, influenciada pelas pregações de Santo Ambrósio. A influência de sua mãe, Santa Mônica, foi crucial nesse processo. Mônica, uma cristã fervorosa, dedicou sua vida a orar pela conversão de seu filho. Ela suportou com paciência e fé as dificuldades de um casamento com um marido pagão e violento, e nunca desistiu de seu objetivo de ver Agostinho abraçar a fé cristã. Suas orações e lágrimas foram recompensadas quando Agostinho finalmente se converteu e foi batizado por Santo Ambrósio em Milão. A conversão de Agostinho teve um impacto profundo e duradouro em sua vida. Após sua conversão, ele abandonou suas antigas práticas e se dedicou inteiramente à fé. Tornou-se um dos maiores teólogos e filósofos da Igreja, com obras como “Confissões” e “A Cidade de Deus” que continuam a influenciar o pensamento cristão até hoje. Ele foi nomeado bispo de Hipona e dedicou sua vida ao serviço da Igreja, deixando um legado de 113 obras escritas, entre tratados filosóficos, teológicos, comentários de escritos da Bíblia, sermões e cartas. Agostinho desenvolveu uma filosofia que unia a fé cristã com a razão, influenciada pelo neoplatonismo, que ajudou a moldar a teologia cristã medieval. Devido à sua imensa contribuição para a teologia e filosofia cristã, Agostinho foi reconhecido como Doutor da Igreja em 1298 pelo Papa Bonifácio VIII. O título de Doutor da Igreja é concedido a santos cujos ensinamentos são de grande importância para a doutrina cristã. Agostinho é frequentemente referido como “Doctor Gratiae” (Doutor da Graça) devido à sua ênfase na graça divina. Ele também foi canonizado, sendo venerado como santo por sua vida de santidade e dedicação à fé cristã. Nós somos a morada do Espírito Santo, tanto como indivíduos quanto como comunidade eclesiástica. O Espírito Santo reside em nós, e essa presença deve impactar profundamente nossas vidas e a nossa união como corpo de Cristo. Devemos viver em santidade, buscar constantemente o preenchimento do Espírito, e reconhecer nossa dependência d’Ele para cumprir a obra de Deus. Assim, a participação ativa na Igreja não só enriquece nossa vida espiritual, mas também nos capacita a sermos líderes eficazes e compassivos em nossas comunidades e além. Além disso, os valores que cultivamos na Igreja moldam nossa visão de mundo, tornando-nos mais conscientes e engajados com as necessidades e desafios da sociedade. Que possamos, como indivíduos e como Igreja, ser receptivos à orientação do Espírito Santo, buscando viver de acordo com Sua vontade e experimentando o poder e a graça que Ele nos concede. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. III N.º 46 - ISSN 2764-3867

  • Bem-vindo a 2030

    O início do inferno na terra Quem se debruça em estudar os planos globalistas já observou que, paulatinamente, as metas traçadas estão sendo cumpridas. Umas das razões é a imensa lavagem cerebral feita em escala mundial através da mídia e do entretenimento. Com uma população inerte, que não questiona determinadas práticas, os “senhores do mundo” têm maior liberdade para agir. E como fazer para que uma população se torne inerte e “obedeça” sem questionar? Simples: pratique terrorismo psicológico! Diga que a terra está super povoada, que a água está contaminada, que não haverá comida para todos. E utilize isso em filmes, séries, documentários sensacionalistas para que isso paire no imaginário de todos e a própria população “peça” uma solução. Quem explica este fenômeno é o escritor David Icke com a “regra de três” (problema - reação - solução). Esta técnica de manipulação mental evita não só a exposição à meta dos manipuladores, mas também manipula as pessoas a exigirem dos manipuladores que façam o que eles planejavam fazer de qualquer jeito. Um deles é o chamado efeito estufa . Embora seja um fenômeno natural, foi transformado em “problema” quando foi citado em relatórios e conferências a partir dos anos 70 como sendo um “obstáculo para a vida na Terra” , e que para resolvê-lo, seria necessário diminuir a população do planeta, para que menos quantidade de gases fosse emitida. Outra “solução” é frear a pecuária: alguns ditos ambientalistas têm insistido na ideia de que o CO2 emitido pelo gado é prejudicial ao planeta, sugerindo assim que insetos sejam utilizados como alimento no lugar de carne bovina. No último dia 18, o Fórum Econômico Mundial publicou em seu site um documento intitulado “ 3 abordagens de economia circular para reduzir a demanda por metais críticos”. Uma das “soluções” propostas é: pessoas comuns não devem ter seu próprio veículo. De acordo com Fórum, as pessoas devem vender seu carro e andar ou compartilhar porque “plataformas de compartilhamento de carros como Getaround e BlueSG já aproveitaram essa oportunidade para oferecer veículos onde você paga por hora usada”. Notem bem: o “problema” é criar alternativas para metais críticos (cobalto, lítio, níquel, entre outros), e a “solução” para este e outros é retirar a propriedade privada da população. Isso fica evidente no início do documento: “ Um processo de design que se concentre em atender a necessidade subjacente em vez de projetar para a compra de produtos é fundamental para essa transição. Essa é a mentalidade necessária para redesenhar as cidades para reduzir os veículos particulares e outros usos.” Mas quem pensa que estas “soluções” são novas está enganado, infelizmente. Em 2016, Ida Auken, parlamentar do partido socialista da Dinamarca, escreveu um artigo para o Fórum Econômico Mundial que, para os que estão atentos aos acontecimentos, parece ter saído da cabeça de Maldanado (personagem da obra “Cartas de um diabo a seu aprendiz” , de C.S. Lewis). O documento, intitulado “Bem-vindo a 2030. Não possuo nada, não tenho privacidade e a vida nunca foi melhor”, é um relato fictício ( peró no mucho ) de quem já está em 2030 após a implementação completa da agenda. Ela inicia dizendo: “Eu não possuo nada. Eu não possuo um carro. Eu não possuo uma casa. Eu não possuo nenhum eletrodoméstico ou qualquer roupa. Pode parecer estranho para você, mas faz todo o sentido para nós nesta cidade. Tudo o que você considerava um produto, agora se tornou um serviço.”. Ou seja, não há mais propriedade ou bem para chamar de seu. Aqui o sonho de Marx está realizado . E no assustador mundo de Ida Auken, as pessoas utilizam apenas transporte público ou bicicletas para se locomover: “Começamos a nos transportar de forma muito mais organizada e coordenada quando o transporte público se tornou mais fácil, rápido e conveniente do que o carro (...) às vezes eu uso minha bicicleta quando vou ver alguns dos meus amigos.” O trecho mais assustador é quando ela trata daqueles que estão fora da cidade. Auken explica que o “preço” para manter o transporte e comunicação gratuitos não possuir bens é viver em uma cidade fortificada e completamente vigiada. E quem não aceitar, não poderá conviver em sociedade: “ Minha maior preocupação são todas as pessoas que não moram em nossa cidade. Aqueles que perdemos no caminho. Aqueles que decidiram que se tornou demais, toda essa tecnologia. Aqueles que se sentiram obsoletos e inúteis quando robôs e IA assumiram grande parte de nossos trabalhos. Aqueles que ficaram chateados com o sistema político e se voltaram contra ele. Eles vivem diferentes tipos de vida fora da cidade. Alguns formaram pequenas comunidades auto-abastecidas. Outros apenas ficaram nas casas vazias e abandonadas das pequenas aldeias do século XIX.” O artigo mostra, de forma escancarada, os objetivos da elite globalista para o mundo : todos devem socializar seus bens, exceto eles; todos devem socializar suas casas, exceto eles; todos devem parar de comer carne, exceto eles; todos devem ser rigorosamente vigiados, exceto eles. E graças à lavagem cerebral feita pela mídia, os moradores ainda irão agradecer por todo o controle exercido sobre suas vidas. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. III N.º 45 - ISSN 2764-3867

  • O Laboratório do Impossível

    Fico imaginando se alguém tivesse o poder de definir parâmetros daquilo que não tem parâmetros, poder dizer que o oculto tem uma explicação científica, como seria proveitoso se pesquisadores de alto nível pudessem abrir mão de conceitos preestabelecidos para mergulhar de cabeça em temas outrora deixados na penumbra. Investigar o paranormal, no sentido daquilo que não parece ter uma explicação aos olhos de simples mortais, poderia ser o desafio da vida de qualquer um, cientificamente estariam na qualidade dos bandeirantes, que se embrenhavam na densa selva, ou mesmo, dos navegadores que lançaram-se ao mar desconhecido para descobrirem novas terras. A notícia de que a Universidade de São Paulo criou o chamado Laboratório do Impossível , para “estudo da influência de fenômenos considerados impossíveis ou sobrenaturais, sua relação com as crenças e o conhecimento científico” , parecia ser um avanço na busca pela evolução da pesquisa, entretanto, nada acontece por acaso, parece que tal instituição pretende colocar em seus trilhos aquilo que não se consegue explicar. Segundo o coordenador do InterPsi , Wellington Zangari. “A ideia é que esse seja um espaço dedicado à realização de atividades de extensão que, de forma lúdica, promovam o diálogo entre a arte mágica e a ciência. Funcionará como um palco de apresentações didáticas e vivências científicas e artísticas, multissensoriais e reflexivas, motivando a curiosidade a respeito de como as coisas funcionam por trás dos efeitos observáveis, enfatizando a importância do método científico como antídoto contra a ignorância, as fake news, o negacionismo, e em favor do desenvolvimento do pensamento crítico”. No mínimo estranho que o pesquisador deixe tão evidente o viés ideológico por trás do novo laboratório, posto que, estranhamente utiliza-se de termos, usados por um espectro político-ideológico para suprimir o contraditório científico, com o fim adjetivar algo que o laboratório e sua equipe tem clara intenção de dizimar. Fala-se em investigar fenômenos que não tem explicação e, ao mesmo tempo, deixa evidente que aquilo que lhe for contrário não será enfrentado, uma vez que, pretende afastar de forma sumaríssima as vozes dissonantes. O mencionado Coordenador não esconde seu posicionamento ideológico, nada de novo debaixo do sol, por isso, torna-se temerária a criação de tal laboratório, em especial, por ser voltado aos alunos dos ensinos fundamental e médio. Poderia ser uma forma de “desmistificar” sua visão de mundo e afastar aquelas que fosse contrárias. A frente do instituto que serve como pilar do Laboratório do Impossível podemos ver um coordenador com declarada visão político-ideológica e, ainda mais grave, disposto a pesquisar com indivíduos em formação, atribuindo um “pensamento crítico”, desde que, não seja este movido por “negacionismo, ignorância e fake news”. Em verdade, o Laboratório do Impossível mais parece um centro para afastar teses contrárias ou corroborar as pautas de um grupo através de uma ciência oculta, mas difícil de ser contestada, uma vez que, só se admitira como fonte científica paranormal aquela forjada nas universidades. Como o coordenador considera ideologia de gênero algo científico, sem qualquer lastro, cabe perguntar se grupos por ele dirigidos não iriam se valer de critérios obscuros para justificar tal tese. Lembrando que há um diagnóstico científico, ainda que dúbio, para a disforia de gênero , mas que não se confunde com “transexualidade”. Embora não seja o tema a ser tratado. “Não se sabe quantas pessoas têm disforia de gênero, mas estima-se que ela ocorra em cinco a 14 em cada mil bebês cujo sexo de nascimento é masculino e em dois a três em cada mil bebês cujo sexo de nascimento é feminino. Um número muito maior de pessoas se identifica como transgênero que as que de fato atendem aos critérios para disforia de gênero ”. Logo, há um flagrante risco de que progressistas se utilizem do tal Laboratório do Impossível para tentar legitimar sua pautas, ainda que eivadas de desinformação, dando-lhes um selo de autoridade acadêmico. Tudo indica que o povo paulista está prestes a sustentar o que será o centro de criação e legitimação da pós-verdade. Antes fosse algo como apenas uma aventura fictícia em que Peter Wenkman  aplica choques em um voluntário, mas parece que a experiência, agora real, pode ter um fim muito mais nocivo. “ Vivemos tempos sombrios, onde as piores pessoas perderam o medo e as melhores perderam a esperança”   Hannah Aerndt. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N.º 03

  • Quando os senadores se rebelam…

    O assassinato de Júlio César, uma das figuras mais proeminentes da Roma Antiga, ocorreu em 15 de março de 44 a.C., nos famosos “Idos de Março”. Esse evento não apenas marcou o fim de um dos mais poderosos líderes da história, mas também desencadeou uma série de acontecimentos que levariam à queda da República Romana e ao surgimento do Império Romano. Após conquistar grande prestígio militar e popularidade, Júlio César assumiu o controle quase total de Roma, primeiro como ditador temporário e depois como ditador vitalício. Sua ascensão ao poder ocorreu em meio a intensas lutas políticas, durante um período em que a República Romana estava mergulhada em crises internas. César era visto por muitos como um salvador, mas para a elite senatorial, ele representava uma ameaça ao sistema republicano. O Senado Romano, na época de Júlio César, era composto por cerca de 900 membros, um número que ele mesmo havia aumentado após suas reformas. Esse aumento visava ampliar sua base de apoio, trazendo novos membros leais a ele, mas também diluindo o poder da velha aristocracia senatorial. Os senadores temiam que César estivesse se tornando um monarca de fato, o que era intolerável para aqueles que valorizavam a tradição estabelecida em Roma. A conspiração foi arquitetada por cerca de 60 senadores romanos que temiam a crescente concentração de poder em suas mãos e o que isso representava para a sobrevivência da República Romana. Os conspiradores eram conhecidos coletivamente como " Liberatores " e eram uma minoria dentro do Senado, mas incluíam alguns dos mais influentes e respeitados membros da classe senatorial. Eles se viam como defensores das tradições republicanas e acreditavam que o assassinato de César era necessário para preservar a República e evitar a tirania. A maioria dos senadores não estava envolvida na conspiração e muitos provavelmente apoiavam César, seja por convicção, interesse pessoal, ou simplesmente por medo de suas represálias. Entre os conspiradores, destacavam-se nomes como Lúcio Tílio Cimbro, Públio Servílio Casca Longo, Décimo Júnio Bruto Albino, Caio Cássio Longino e Marco Júnio Bruto, este último, ironicamente, considerado por muitos como um filho adotivo de César. Bruto era visto como um símbolo da virtude republicana, e sua participação na conspiração deu ao plano uma legitimidade que Cássio sozinho não poderia alcançar. As motivações para o assassinato variavam entre os conspiradores. Para Cássio, era uma questão de vingança pessoal e ambição política. Ele havia se ressentido de César por anos, acreditando que o ditador estava usurpando os poderes que deveriam pertencer ao Senado. Já Bruto, apesar de seus laços com César, foi motivado por um senso de dever cívico, acreditando que o assassinato era necessário para salvar a República e restaurar a liberdade romana. Os conspiradores sabiam que eliminar César não seria tarefa fácil. Ele era cercado por guardas e apoiadores leais, e suas aparições públicas eram cuidadosamente controladas. Assim, eles escolheram os Idos de Março, um dia em que César estaria presente em uma sessão do Senado no Teatro de Pompeu, onde eles poderiam se reunir sem levantar suspeitas. No dia fatídico, César foi avisado por vários sinais de que sua vida estava em perigo. Um vidente conhecido como Spurinna havia advertido a Júlio César que ele deveria estar atento aos Idos de Março pois correria perigo naquele dia específico. Calpúrnia, esposa de Júlio César, teve um sonho perturbador na noite anterior ao assassinato. Ela sonhou que César estava sendo esfaqueado e que sua própria imagem estava sangrando. Ela tentou alertar César sobre o sonho e pediu-lhe para não ir ao Senado naquele dia. Artemidoro, um professor de retórica, preparou uma carta alertando César sobre a conspiração, detalhando o perigo que ele corria. Ele tentou entregar a carta a César, mas o imperador não a leu imediatamente, e acabou sendo assassinado antes que pudesse vê-la. Algumas fontes antigas como as encontradas em Suetônio e Plutarco, relatam que César teve um comportamento incomum e pareceu preocupado antes do assassinato. Ele teria tido uma sensação de inquietação e desconforto, e, mesmo assim, decidiu comparecer ao Senado, e lá chegando já encontrou os conspiradores prontos para o que ocorreria. Ele foi recebido por Lúcio Tílio Cimbro, que se aproximou para fazer um pedido em nome de seu irmão exilado. Este gesto era o sinal para o ataque. Assim que Cimbro agarrou a toga de César, Públio Servílio Casca Longo desferiu o primeiro golpe, atingindo-o no ombro. A partir desse momento, os demais conspiradores, incluindo Cássio e Bruto, atacaram César com facas. O relato do crime varia em detalhes, mas é amplamente aceito que César foi apunhalado 23 vezes. Segundo a tradição, suas últimas palavras foram dirigidas a Bruto: "Et tu, Brute?" (Até tu, Bruto?), expressando sua surpresa e dor ao ver seu protegido entre os assassinos. Outros relatos sugerem que César não disse nada, sucumbindo em silêncio ao perceber a magnitude da traição. Após o assassinato, a falta de um apoio mais amplo dentro do Senado e entre o povo foi uma das razões pelas quais os conspiradores não conseguiram restaurar a República como planejado. Os conspiradores não esperavam que o crime permanecesse sem solução, na verdade, muitos deles estavam preparados para serem identificados como os assassinos e, desde que alcançassem o que acreditavam ser um objetivo nobre, não se importavam em serem descobertos. Os líderes da conspiração, como Bruto e Cássio, estavam cientes de que o assassinato não seria visto apenas como um crime, mas como um ato político destinado a restaurar a liberdade e os valores republicanos de Roma. Eles esperavam que, uma vez que César fosse eliminado, o Senado e o povo romano os considerariam heróis que haviam salvado a República da tirania. Essa visão foi reforçada pelo fato de que eles realizaram o assassinato em plena luz do dia, no Senado, um lugar público e simbólico, e na presença de outras figuras políticas proeminentes. Isso sugere que os conspiradores estavam dispostos a assumir a responsabilidade por suas ações, acreditando que, ao demonstrar coragem e determinação, eles inspirariam outros a apoiar sua causa. O assassinato de Júlio César foi inicialmente comemorado pelos senadores que acreditavam ter salvado a República. No entanto, o ato teve consequências opostas às esperadas. Em vez de restaurar o poder do Senado, o assassinato mergulhou Roma em uma nova onda de caos e guerra civil. O povo romano, que via em César um herói, ficou indignado com seu assassinato e clamou por vingança. Marco Antônio, aliado de César e segundo em comando, inicialmente fingiu aceitar o golpe para ganhar tempo. No entanto, durante o funeral, ele inflamou a população contra os conspiradores ao ler o testamento de César, que deixou legados monetários a muitos de seus aliados e soldados. Ele designou uma grande quantia de dinheiro para ser distribuída entre os cidadãos romanos, em particular, para aqueles que eram mais pobres e para os veteranos de suas campanhas militares. Além dos legados monetários, também deixou disposições para a construção de projetos públicos e para a melhoria das condições urbanas em Roma. Essa manobra de Marco Antônio consolidou sua posição e iniciou a perseguição aos assassinos. A morte de Júlio César precipitou a formação do Segundo Triunvirato, composto por Marco Antônio, Otaviano (futuro Augusto, sobrinho-neto e herdeiro adotivo de César) e Lépido. Juntos, eles enfrentaram os assassinos na Batalha de Filipos em 42 a.C., onde Cássio e Bruto cometeram suicídio após serem derrotados. Otaviano eventualmente consolidou o poder em suas mãos, derrotando Marco Antônio e a rainha egípcia Cleópatra VII na Batalha de Ácio em 31 a.C. Em 27 a.C., Otaviano foi nomeado Augusto, o primeiro imperador de Roma, marcando o fim da República e o início do Império Romano. O assassinato de Júlio César é um dos eventos mais dramáticos da história romana, sendo um divisor de águas entre a República e o Império. A conspiração, motivada pelo desejo de proteger a República, ironicamente acelerou sua queda. Júlio César tornou-se um mártir e símbolo do poder absoluto, e seu legado continuou a moldar a história de Roma por séculos. O evento inspirou inúmeras obras literárias, sendo imortalizado por William Shakespeare na peça "Júlio César", onde o drama e a traição são explorados de maneira vívida, perpetuando a memória desse acontecimento tão importante na formação do imaginário político. Uma medida extrema como aquela tomada pelos senadores romanos nos Idos de Março, quase invariavelmente resulta em dramas ainda mais complexos que aqueles que se buscava evitar. Analisar aqueles eventos sob a ótica maniqueísta de uma luta do bem contra o mal, ou mesmo sob um ponto de vista do alcance de um bem maior, como aqueles que defendem a ideia de que os fins justificam os meios, reduz à aceitação do caos como meio de se alcançar a ordem. Regimes ditatoriais não são benéficos às sociedades, por outro lado, a manutenção de elites políticas que defendem a priori o “ status quo ” também não agrega valor àquilo que mais importa: o cidadão. Quando refletimos nas ações de um Senado legalmente constituído, representado por seus senadores, imbuídos de um senso de responsabilidade política, civil e social, esperamos que para além de cumprir seus deveres legais, tenham como atributos no cumprimento de seus deveres: a coragem, o senso de autossacrifício, a integridade, a competência, a empatia, a habilidade de comunicação, a responsabilidade, a visão estratégica, a resiliência, os sensos de equidade, de justiça, de ética e de moralidade. Tais atributos não parecem ter sido demonstrados nos Idos de Março pelos senadores romanos. Comparativamente, resta perguntar a nós mesmos se os senadores da República Federativa do Brasil demonstram ao menos alguns daqueles atributos. O Senado é parte de um dos três poderes da República e um dos elementos fundamentais na defesa da Democracia, da Liberdade, da Nacionalidade e do povo a quem representa. O que cada cidadão consciente deveria desejar de seus representantes é que sua coragem jamais fosse ofuscada pelo medo da mudança, que os interesses nacionais estivessem sempre à frente como estandarte de coesão e não os seus interesses pessoais. Que as tiranias fossem combatidas com as armas da legalidade, mesmo às custas de seus próprios mandatos. Pareceu muito sonhador este final? Muito utópico? Pareceu que estamos no mundo de Pollyanna? Pois é exatamente o que esperam que pensemos! “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto” (Rui Barbosa, senador) Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. III N.º 45

  • Maria, mãe de Jesus

    Feminismo e contradições Mulheres Bíblicas: PARTE V De todas as figuras femininas bíblicas , Maria, sem dúvida alguma é a mais intrigante. Maria era uma menina simples quando recebeu um chamado: “conceber o filho de Deus”. Maria de Nazaré, também conhecida como a mãe de Jesus , é frequentemente retratada de maneira tradicional e submissa. No entanto, será que ela realmente foi essa figura? Independente das suas crenças e convicções em relação a isso, uma coisa é inegável. Jesus não é invenção de mentes criativas e Maria não é diferente. Maria foi uma mulher real, judia e descendente de Davi. Numa leitura fria do perfil de Maria, diria que Maria foi o que toda feminista gostaria de ser. Numa sociedade patriarcal, Maria foi pela contramão, antes mesmo de se unir a José apareceu grávida. Maria aceitou a missão de ser a mãe de Jesus, mesmo sabendo dos riscos sociais e pessoais envolvidos. Lembrando que tal acontecimento para aquela época era um verdadeiro escândalo, ainda poderia resultar em ostracismo ou até mesmo em apedrejamento. Vamos avançar um pouco mais na história. Maria recita o Magnificat (Lucas 1, 46-55), durante sua visita a Isabel, sua prima, que também está grávida (de João Batista). Inspirada pelo Espírito Santo, Maria expressa sua alegria e gratidão a Deus. Contudo, neste cântico Maria fala sobre a derrubada dos poderosos e a exaltação dos humildes. Isso pode ser visto como uma crítica às injustiças sociais e uma esperança de transformação. Este cântico é visto por alguns teólogos como uma declaração de justiça social e igualdade. Maria começa exaltando a Deus por olhar para a humildade de sua serva. Ela reconhece que, apesar de sua posição social baixa, Deus a escolheu para uma missão grandiosa, mostrando que Deus se importa com os humildes e desprivilegiados. Aborda também sobre Deus enchendo de bens os famintos e despedindo os ricos de mãos vazias. Este é um forte apelo à justiça social, onde os necessitados são atendidos e os excessos dos ricos são questionados. Isso a posiciona como uma figura de resistência e esperança para as mulheres e outros grupos marginalizados. Agora vamos dar um salto nessa história. É dia de festa e estamos em Canaã da Galileia. Durante um casamento, o vinho acabou, o que poderia ser um grande constrangimento para os anfitriões. Maria, percebendo a situação, tomou a iniciativa de falar com Jesus sobre o problema. O episódio das Bodas de Canaã, narrado no Evangelho de João (João 2, 1-11), é um dos momentos mais significativos que destaca como Maria desempenha um papel ativo ao pedir a Jesus que realize seu primeiro milagre, transformando água em vinho. Isso mostra sua capacidade de influenciar e tomar iniciativa. Maria foi a primeira a notar a falta de vinho e a levar a questão a Jesus. Sua ação mostra sua capacidade de observação e preocupação com os outros. Ao dizer a Jesus: “Eles não têm mais vinho” (João 2, 3), ela demonstra sua confiança na capacidade Dele de resolver a situação. Apesar da resposta inicial de Jesus, que poderia ser interpretada como uma recusa: “ Mulher, que temos nós em comum? A minha hora ainda não chegou” – João 2,4 Maria instrui os serventes: “ Façam tudo o que ele lhes disser” (João 2, 5). Isso mostra sua autoridade e fé inabalável em Jesus. A intervenção de Maria pode ser vista como um exemplo de empoderamento feminino . Ela não apenas reconhece um problema, mas também toma medidas para resolvê-lo, influenciando diretamente o curso dos eventos. Sua ação resulta no primeiro milagre público de Jesus. O papel de Maria nas Bodas de Canaã vai além de uma simples intervenção prática. Ela atua como mediadora e intercessora, mostrando que sua influência e importância não se limitam ao âmbito doméstico, mas se estendem ao plano espiritual e comunitário. Vamos avançar ainda mais nessa história. Em Atos 2, 1-4, a passagem começa com os discípulos reunidos em um só lugar. De repente, um som como de um vento impetuoso enche a casa, e línguas de fogo aparecem e pousam sobre cada um deles. Todos ficam cheios do Espírito Santo e começam a falar em outras línguas, conforme o Espírito os capacitava. Pentecostes é uma festa judaica que ocorre 50 dias após a Páscoa. No Novo Testamento, é o dia em que o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos e outros seguidores de Jesus, incluindo Maria, enquanto estavam reunidos em Jerusalém. Este evento é considerado o nascimento da Igreja Cristã. Maria estava presente com os apóstolos e outros discípulos, unidos em oração e expectativa pela promessa de Jesus sobre a vinda do Espírito Santo (Atos 1, 14). Sua presença é significativa, pois ela é a única mulher mencionada nominalmente entre os presentes. A presença de Maria no Cenáculo demonstra sua perseverança na fé e sua liderança espiritual. Ela, que já havia experimentado a ação do Espírito Santo na Anunciação, agora se une aos apóstolos em oração, aguardando uma nova manifestação do Espírito Santo. Assim, que o Espírito Santo desceu sobre todos os presentes, incluindo Maria, capacitando-os a falar em outras línguas e a proclamar as maravilhas de Deus. Além de sua maternidade divina, ela também é uma figura de liderança espiritual, pois sua participação é ativa na comunidade cristã nascente. Sua presença em Pentecostes reflete sua coragem e fé inabalável, servindo de exemplo para todos os cristãos. Nos dias de hoje, Maria continua a desempenhar um papel de intercessora, unindo-se em oração com os apóstolos e preparando-se para a missão da Igreja. Entretanto, porque a necessidade de apresentar Maria e outras mulheres bíblicas como mulheres empoderadas? A resposta é muito simples, diferente do que alguns grupos gostam de pregar as mulheres cristãs não são “moscas mortas” e são grandes símbolos. Ser cristã é fazer a diferença no mundo. Ter fé no mundo atual e não ter vergonha disso é um grande desafio. E ser mulher está longe de ser algo discreto e imperceptível. E mais, muitos “perfis” hoje exaltados por feministas como algo positivo surgiu na verdade entre mulheres de fé, judias. Eis a grande contradição. Mas como dizia um antigo comunicador da televisão brasileira, “nada se cria, tudo se cópia”. E você cara leitora, vai continuar acreditando nas mentiras feministas ou virá se unir ao nosso legado? Quer fazer a diferença? Quer que seus filhos conheçam o verdadeiro lado dessa história. Então, nos apoie nessa luta. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. III N.º 45

  • Complexidade da vida

    Nos dias atuais, é muito comum falar de um modo geral sobre o meio ambiente; infelizmente este tema tão importante e fundamental para o ser humano está recheado de interesses outros, que não o ideal, que é tornar nossa presença no planeta mais harmoniosa e contributiva com a natureza. Hoje, qualificar a relação com a fauna, flora, água, minerais e até mesmo entre nós, deve se dar, não porque teremos ou não algum capital, mas porque temos que cumprir com nossa parte nessa grande engrenagem. Quando se propõe um simples exercício de plantarmos uma semente, cuidar de uma planta ou de uma árvore, não se passa pela nossa cabeça que seria tão impactante o fato de dar ainda que um pouco de atenção a um outro ser que se considerava apenas um enfeite posto para decorar o ambiente; quando fui pai pela primeira vez, meu pai me disse: “Agora você tem uma vida para cuidar”, mas neste exercício eu pude perceber que eu sempre tive vidas a cuidar… Quando levei a sério o ensinamento de meu pai, o levei a ponto de me dedicar com muita intensidade, organizando meu tempo, mudando prioridades, reforçando meu psicológico, percebendo sensações e emoções que ainda não havia experimentado; agora com essa nova visão da vida, e esta permeia todo o mundo minha dedicação a esta relação não pode ser menor ou menos intensa que antes, pensando nisso entre outras coisas, descobri o quanto uma atenção voluntária pode mudar completamente toda a minha percepção da vida; que a mesma vida que se manifesta em mim, também manifesta em todos os outros seres. Em resumo, não há como cuidar de mim sem cuidar dos outros e o contrário também é verdadeiro, embora a consciência esteja em estágios diferentes, a vida é a mesma deferindo em quantidade e complexidade e nestes pontos não há como interferir, mas em termos de qualidade eu tenho poder para atuar, e uma vez pondo em prática essa percepção, é inevitável minha responsabilidade em proporcionar a mim e aos outros mais qualidade de vida. Propondo uma reflexão, como é de costume nos meus textos, de alguma forma enigmática esperamos no fim das nossas jornadas, que à hora marcada alguém nos espere, porém este mistério deve ser reproduzido nas pequenas ações do dia a dia. Lembremos que nossa existência é marcada pela dualidade, e que não há nada que eu faça a mim, que de alguma forma, em algum tempo e lugar, não alcance a vida de outro ser. Existe um pensamento atribuído ao imperador Marco Aurélio e posteriormente ao barão de Montesquieu, que expressa o seguinte: " Se não é bom para a colmeia, não é bom para a abelha". Em outro momento, continuaremos a refletir sobre a vida e sua complexidade a fim de construirmos um conceito adequado para este tema tão distante ainda do pensamento humano. Que Deus abençoe nossa jornada!! Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. III N. 45 – ISSN 2764-3867

  • A ciclotimia do sistema anticristão

    O mundo subsiste em ciclos. Basta uma breve observação no macro para percebermos isso. Todas as peças absolutamente encaixadas e interdependentes de um sistema solar criado para que tivéssemos as condições necessárias à vida tal qual a conhecemos. Salomão afirma que “ O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; de modo que nada há de novo debaixo do sol . ” ( Eclesiastes 1:9 ). Depois da primavera sempre virá o verão, e inverno nunca vem antes do outono, porque assim é. Foi o que Deus determinou quando as águas do dilúvio baixaram: “ Enquanto a terra durar, sementeira e sega, e frio e calor, e verão e inverno, e dia e noite não cessarão. ” ( Gênesis 8:22 ). O foi criado, literalmente, como uma forma de apoteose desse universo cíclico, perfeitamente ordenado, moldado para que ele, homem, tivesse todas as condições de viver uma vida plena e feliz. É a ordem divina que produz essas condições, e o homem, ao ser criado do pó da terra, nos deixa uma mensagem profunda de inteiração com o elemento de onde foi tirado. Não por acaso o termo “Adão” vem de “Adamah”, que significa “terra”, “barro”, “pó”. Deus poderia ter criado o homem da mesma forma que criou todas as coisas, apenas com a sua palavra, mas preferiu lhe dar um tratamento distinto do restante da criação, e fê-lo pessoalmente. Poderia ter também ter escolhido qualquer outra matéria-prima para nos criar, mas optou pela menos valiosa e mais comum entre todas: o pó da terra. Ao fazer isso duas mensagens ficam claras. A primeira: não somos tão importantes como imaginamos. E a segunda, fomos tirados de um mundo preordenado criado antes de nós, não para modificar essa ordem, mas para interagir com ela, a partir de determinações claras e expressas do Criador. “Ao criar o ser humano, o Criador o fez dentro de certas especificidades contextuais perfeitamente interdependentes, cuja ordem lhe garantiria a manutenção do status quo do Éden, ainda que por “Éden” se entenda uma imagem idealizada de um paraíso na terra ” (Neto Curvina. A Velha Desordem Mundial: A Teologia do Caos. Autografia. 2024.). De forma resumida podemos afirmar que a felicidade e a plenitude do homem está diretamente ligada com o modelo de terra original dos primeiros dias. O sistema sabe disso, e por isso empenha todos os seus esforços para criar todo tipo de desvio que leve o homem a contestar, resistir, combater e rejeitar tudo aquilo que de alguma forma represente essa ordenação, que traga Deus e a fé nele para o centro do debate, que se centralize na tradição judaico-cristã, porque ele – o sistema – sabe que uma sociedade ancorada na Revelação Divina, não é presa fácil para os sistemas de manipulação, exploração e controle que ele implementa, a fim de exercer um controle cada vez maior sobre a humanidade, com o intuito de preparar o mundo para a chegada do “ príncipe que há de vir ” ( Daniel 9:26 ). Então aqui cabe uma análise mais ampla, que evolva os diversos aspectos da natureza e tradição humanas. Se há um conluio de entendimentos entre o que as forças anticristãs querem e o que querem os globalistas e toda a sua vasta gama de faces (comunismo, progressismo, ateísmo, baixo misticismo, etc.), não há prejuízo à lógica afirmar que, no fundo, tudo aquilo que milita contra nossos valores mas caros e ancestrais na verdade é de origem satânica. O apóstolo Paulo dá o tom ao escrever que a nossa luta não é contra coisas visíveis, mas invisíveis ( Efésios 6:12 ). Mas mesmo as coisas invisíveis estão sujeitas às leis do Criador, e não podem agir sozinhas, sem a contrapartida humana, que permite o intercâmbio e a interação de mundos, unidos pelo propósito de desafiar o Deus que gerou a vida e a mantém. Se os agentes das trevas são criaturas espirituais sem tempo de validade, seus instrumentos humanos são temporários, passageiros, por maior que seja sua crueldade e o legado de destruição e terror que deixaram na história, em algum momento ele se vão, e o sistema precisa se reorganizar para então reiniciar sua sanha diabólica de subverter o homem pelo pecado, pela negação de Deus, pela afronta à tradição judaico-cristã. É a ciclotimia do sistema anticristão, autodestrutivo, autofágico, suicida, posto que não tem nada a perder, desde que faça o maior número de vítimas possível. Uma cena do filme “Matrix – Reloaded” (2003) chama à atenção . Nela, o personagem principal Neo tem um encontro com o Arquiteto, que é o responsável pela criação da Matrix, vivido pelo ator Helmut Bakaitis, que diz para o herói que ele não é o primeiro e nem será o último a se insurgir contra o sistema. Obviamente nunca saberemos se o que ele diz ou mesmo as imagens que ele mostra de outros “escolhidos” nas telas em volta da sala são verdades ou não passam de um jogo de desinformação. Mas a ideia de um ciclo de “perde e ganha” atemporal nos parece mais factível do que qualquer outra coisa. Quando Marx, um agente da Matrix, afirma que “A história se repete, a primeira vez como tragédia, e a segunda como farsa” (há quem conteste se a frase foi dita desse jeito), essa ciclotimia do sistema é exposta. O principal teórico do comunismo, ao mesmo tempo uma farsa e uma tragédia, capturou a narrativa dos tempos e a moldou de forma a lidar com o lado caído do subconsciente da humanidade, talhado para o mal, como bem informam as Escrituras em diversas passagens. Sempre foi assim e sempre será. Daí a necessidade de uma produção cada vez maior de zumbis doutrinados. E aqui mais uma vez a arte dá o tom apocalíptico dos destinos da humanidade. Ou será que ninguém percebeu que todos esses filmes sobre um “apocalipse zumbi” não têm absolutamente nada a ver com zumbis, mas com manipulação mental? Há, pelo menos, três tipos de “zumbis”. O primeiro, fabricado pelas drogas, cada vez mais livres e liberadas. O segundo, fabricado pelas instituições de ensino, os zumbis militantes, caricaturas sociais dotadas de uma imbecilidade imensurável. E o terceiro, os zumbis espirituais. Esses são os agentes do sistema para um futuro agora já não mais tão distante. E, assim como nos filmes, não há nada que possa ser feito – além de uma intervenção divina – para evitar que eles se proliferem, tal qual os agentes Smith, que saíam de todos os cantos para infernizar a vida de Neo e seus aliados fora da Matrix. Finalmente, podemos constatar o quanto o sistema é doentio, tal qual seu chefe maior, o diabo. Uma psicopatia que se revela na interdependência de pilares antagônicos e hostis entre si que, se trabalham pelo mesmo fim, hão de se matar ao final, porque de homogêneos não têm nada. Todos militam de forma feroz contra tudo o que remete à tradição judaico-cristã, ou, como diz Paulo, “ Se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto ” ( II Tessalonicenses 2:4 ). E é aqui que se revela o traço mais ignóbil das narrativas anticristãs. Imagine que um lado temos o fundamentalismo religioso raivoso que impera no Oriente Médio, que apoia e sustenta o terrorismo e a barbárie contra mulheres, idosos e crianças, e do outro lado temos a militância progressista das “minorias”, com seu discurso patético sobre identidade de gênero, aborto e outras idiotices woke. Imagine se jogássemos esses dois grupos em uma ilha deserta. O que você acha que aconteceria? Isso é o sistema. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. III N. 45 – ISSN 2764-3867

  • Diké na Sarjeta

    A hipertrofia autofágica do ativismo judicial O conceito de justiça não é uma ficção, está presente na existência humana e pode ser associado ao fato de ter o homem consciência, portanto, podemos admitir que um ser racional, necessariamente, adquire a noção de sua existência, não reagindo instintivamente ao que percebe. Tal ser, racional, abandona a visão superficial para tentar entender o mundo que o cerca. Naturalmente, busca-se compreender a natureza humana e tudo que a cerca, assim, o próprio instinto de sobrevivência passa a ser ponderado, posto que, é reflexão sobre o mundo busca uma explicação racional para o todo. O direito natural nada mais é que a observação de algo que está presente no ser humano e sua interpretação à luz de uma compreensão, baseia-se na moral que define o justo e o injusto, tem como base a busca pelo equilíbrio. O direto positivo, por sua vez, tem a missão de dar corpo através da norma ao que se pretende alcançar através do Direito, especialmente o natural, não deveria ter como missão criar ou extinguir direitos através da redação de textos legais, sendo sua função precípua transcrever o direto natural para evitar sua volatilidade, dificultando seja a norma distorcida ao bel prazer do julgador. Um ponto importante é a generalidade de uma lei, pois, ao legislador não se faculta a elaboração de uma norma destinada ao benefício ou prejuízo de um determinado indivíduo, devendo este, como titular de uma procuração inominada representar tanto seus eleitores quanto os demais cidadãos. Estaríamos diante de uma sociedade despótica se as leis fossem redigidas conforme o apreço do legislador pelo destinatário do direito, o favor e o revanchismo tornar-se-iam as engrenagens da atividade legislativa. A norma ideal tem um destinatário futuro, alguém que à época de sua definição, não era alcançado por seus efeitos e, ainda assim, quando o advento da lei altera a condição de quem já estava na situação objeto da mesma, deve-se ter em mente que tal inovação não é direcionada apenas aquele individuo. Não há como falar em justiça quando o tratamento entre indivíduos em uma mesma posição jurídica, em determinado ordenamento, é excessivamente díspar e desconexa, ao ponto de, mesmo sendo diante de posições jurídicas semelhantes não se observa referência alguma entre ambos, permitindo a liberdade total do criador da norma ou do julgador. As sociedades antigas reconheciam a importância essencial do sentimento de justiça no cerne da humanidade, tanto que, mesmo as civilizações da idade antiga, politeístas, tinham uma visão divina da justiça como sendo um valor fundamental, tal simbolismo se refletia nos panteões daqueles povos. A justiça era, em considerável parte delas, atribuída a uma divindade de alto escalão, ocupando um posto digno daquilo que era tido como de relevância ímpar para a sociedade. Os egípcios creditavam a justiça à deusa Maat, que também era considerada a senhora da verdade, restando evidente que, há milênios, o ideal de justo e a verdade andavam de mão dadas, sendo indissociável uma coisa da outra. A mentira não se coaduna com o valor essencial do ser humano que é bom, logo, não há como ser justo e falso. Entre os nórdicos, o deus Forseti cumula a justiça e o conhecimento, atribuindo à mesma divindade dois fatores indispensáveis, haja vista que, mesmo nos dias atuais o sem conhecer é impossível julgar ou legislar. Nota-se que a justiça, como ideal, desde a antiguidade, está associada ao conhecimento e a verdade, sendo esta a legitimidade atribuída à própria justiça e seus arautos. Os gregos, em sua influente mitologia, consideravam Themis, ou Têmis, como a deusa da justiça e conselheira do senhor do Olimpo. Filha de Urano, o céu, e Gaia, a terra, a titânide traduzia o ideal de justiça, como algo sobre-humano, metafísico, assim sendo, está além da simples compreensão do homem, mas era um valor natural. A associação com da divindade e o Direito natural é algo que decorre da essência da mesma, sendo claro que, na concepção do povo grego, já era possível perceber a importância da justiça como ideal. “Considerada a deusa da Justiça era representada como uma divindade de olhar austero, não tinha os olhos vendados inicialmente, mas sempre esteve junto da balança que simboliza o equilíbrio e a espada, como o poder. No século XVI, os alemães, colocaram uma venda em Thêmis para indicar a imparcialidade, ausência de preconceitos.” A divindade ocupava uma das posições mais importantes do Olimpo, sentada ao lado de Zeus, de quem fora a segunda esposa e conselheira, simbolizando a moral que sustentava a justiça. “Na mitologia grega, Têmis é a personificação das leis divinas, reconhecida pelo Costume e pela Lei. Em contraste à justiça, leis e decretos humanos. Contudo, é vista como a deusa guardiã dos juramentos dos homens e das suas regras. Era comum ser mencionada durante os juramentos dos magistrados. Pela representatividade, ela possui três subsistências: deusa da ordem natural, deusa de profecia e deusa da ordem moral. Além disso ela foi inventora das artes e administrava sobre as relações adequadas entre homem e mulher, ou seja, a base da família. Ela também presidia sobre juízes que também eram chamados de themistopóloi ( servos de Thêmis ).” Da união entre Zeus e Themis descendem as moiras e as horas, dentre as quais é imperioso destacar Dique, também grafada como Dice ou Diké, está que, a priori, pode criar uma confusão, uma vez que, também é uma divindade associada à justiça no panteão grego. É essencial distingui-la de sua mãe, pois há uma grande diferença entre Themis e Diké, sendo possível atribuir a primeira a ideia de justiça como ideal ou direito natural enquanto a sua filha simbolizava a justiça no caso concreto ou direito positivo, como aponta Rodrigo Cerveira Cittadino . “E como associar Têmis e Dique às correntes, no Direito, do jusnaturalismo e do juspositivismo, respectivamente? Em primeiro lugar, é de bom tom esclarecer que tal associação configura tão somente um esforço de se identificar caracteres comuns entre as deusas e as perspectivas jurídicas. Em segundo lugar, importa que definamos estas. O jusnaturalismo defende que, além e acima do direito escrito, há o Direito Natural, cujas normas servem como parâmetro da justiça perfeita e devem, idealmente, nortear o legislador na elaboração do ordenamento jurídico de seu Estado.” “O adjetivo natural… indica que a ordem de princípios não é criada pelo homem e que expressa algo espontâneo, revelado pela própria natureza.” (Reale, 2008, p. 375) A fundamentação do Direito Natural tem variado ao longo da História: para os estóicos, era o equilíbrio cósmico; para a teologia medieval, a vontade divina; no Iluminismo, a razão. Hoje, impera a ideia de que o Direito Natural advém da natureza humana; significa que, simplesmente por ser humano, o homem possui direitos inalienáveis, estejam eles elencados ou não numa constituição. Já o juspositivismo rejeita a existência de um Direito Natural. “Para o positivismo jurídico só existe uma ordem jurídica: a comandada pelo Estado e que é soberana”; o Direito Natural é tido como pertencente à esfera da metafísica, e portanto é desprezado, visto que não pode ser cientificamente apreciado (Reale, 2008, p. 374, 384-385).” Pode-se, ante a análise do mito, concluir que aquela antiga civilização já concebia a ideia de um ideal de justiça, puro e divino, e, por outro lado, uma justiça humana, que deveria buscar o ideal, mas que era limitada à compreensão dos homens. Ironicamente, alguns conceitos percebidos pelos povos da idade antiga parecem ter sido perdidos com o passar do tempo. Continua Cittadino. “Por fim, as comparações. O Direito Natural é eterno e universal; assim como Têmis, cuja influência se protrai no tempo rumo ao passado (pois é Titânida) e ao futuro (pois é divindade oracular) e que atua sobre o âmbito dos mortais, dos deuses e do Universo em geral. O Direito Positivo restringe-se aos limites do Estado. À semelhança de Dique, que se volta estritamente para os assuntos dos homens e está intimamente concatenada ao nómos; logo, a deusa cessaria sua manifestação com o fim da vida humana ou da vida da pólis; a correlação aqui se dá por intermédio da cidade-Estado grega, que, por ser a unidade política principal da Hélade, pode equivaler em essência ao Estado, central no cenário internacional presente.” Não se pode atribuir ao cristianismo está amnésia coletiva, pois, a distinção entre o divino e o mundano também se apresentam nos ensinamentos legados à cristandade, mas àqueles que ousaram ser mais que divino, presumindo-se iluminados, recai o fardo de levar ao esquecimento o ideal de justiça. Por certo que a justiça como valor se reflete no mito de Themis, tal qual, a justiça dos homens e, portanto, o Poder Judiciário, personifica Diké. Sendo assim, poder-se-ia acreditar que a titânide seria incorruptível, ao passo que sua fila estaria mais vulnerável aos descalabros dos arautos da justiça, entretanto, a divindade é tida como defensora da verdade, não se afeiçoando aos magistrados que, por ventura, afastam-se de sua nobre missão para seguir um caminho de trevas. Diké lamenta-se perante seu pai quando aqueles que deveriam a personificar corrompem o Direito e afastam-se da verdade, não sendo conivente com a pútrida prática de macular a justiça por magistrados, posto que, estes, mais que todos, devem honrar suas togas, vestes que deveriam tratar com sacralidade de que tem o poder de falar em nome da divindade, a chamada jurisdição. Em se tratando do senhor do Olimpo, este se define como o poder, a ação, enquanto a mãe de Diké adota uma postura passiva, sendo invocada ao socorro quando necessária a valoração do certo, justo e verdadeiro, assim como sua filha deve acolher a verdade como pilar. Aos juízes é imperioso manter-se equidistante do poder manifesto, da ação daquele que governa, deixando assim de se imiscuir na propositura para se reservar ao torno de Themis. Todo magistrado, a priori, personifica Diké, devendo sempre ter a divindade em suas ações e Themis como norte, pois, tentar separar uma da outra resultará no fatídico fim de ambas. Muitos associam a deusa romana Iustítia a uma junção das duas figuras em uma, talvez para a civilização antiga da península itálica, tal associação fosse uma forma de unificar de forma irrevogável a justiça como ideal e aquela que deve ser promovida, tornando as duas figuras míticas gregas uma única coisa no panteão romano. Por outro lado, a teoria de que a deusa Iustitia aglutinava Themis e Diké em uma só, pode ser compreendida como uma corrupção do imaginário grego, fazendo com que Roma perdesse a capacidade de distinguir uma coisa da outra ou, ainda mais grave, não fosse realmente uma sociedade apta a entender que existe o plano da justiça intocado que preserva o valor essencial do justo. Não parece crível a última hipótese, pois, é nítido como o Direito romano tinha como norte a justiça como ideal, ainda que, aplicasse o Direito no plano real. Não obstante, a busca pela aproximação entre a justiça imaculada e aquele que serve aos homens, por eles sendo praticada, que pode ter sido a causa da sugerida aglutinação das duas divindades gregas na figura do panteão romano, fazendo de Iustitia uma representação absoluta da justiça, daí o nome ter significado aplicado em ambos os casos. Poder-se-ia admitir que Diké, amante da verdade, não se corrompe ante as ações dos magistrados, haja vista, que os juízes precisam afastar-se da divindade para subverter sua missão, deixando de inspirar-se em Themis e, inevitavelmente, extraindo Diké de sua alma. O mito como recurso para compreender o homem torna-se um instrumento mais que necessário, todavia, pode surgir a reflexão de qual seria a correlação entre as duas divindades e o ativismo judicial, posto que, se há uma ideia de justiça divina incorruptível e a justiça concreta também o seria, não seria plausível invocar tal mito para compreender os males do ativismo. Preliminarmente, é essencial constatar que a judicialização da política é um dos desdobramentos do ativismo judicial, pelo simples fato de que um Poder Judiciário residual, que socorre àqueles em posições jurídicas de vantagem, não se coaduna com ações proativas que tentam conduzir a humanidade, pondo-se a direcionar rumos de uma sociedade em detrimento de sua precípua missão de fiador da paz, que deve ser a tábua de salvação aos atirados nas trevas da injustiça. Para Pedro Santoro de Mello, o ativismo judicial e a judicialização da política são institutos dissociados. “Portanto, pode-se notar que o ativismo e a judicialização são práticas distintas constantemente praticadas pelo Judiciário, sendo aquela caracterizada pela atuação do Judiciário além da legislação, sem respaldo legal e promovendo uma ampliação das normas jurídicas a partir de suas interpretações, enquanto que esta se evidencia pela ação do Judiciário além de suas competências, interferindo assim nas decisões políticas dos demais poderes, fazendo com que questões políticas de grande repercussão nacional ao invés de serem analisadas pelo Congresso Nacional ou pelo Poder Executivo, passem a ser decididas pelo Poder Judiciário. É válido ressaltar que ambos os fenômenos são praticados em diversos ordenamentos jurídicos distintos e são fatores contribuintes para o crescimento do Poder Judiciário dentro do Estado.” (Mello, Pedro Santoro de; A Judicialização da Política no Brasil: os Desafios, os Limites na Atuação do Judiciário e a Defesa Dos Princípios Constitucionais; Âmbito Jurídico; 2019). Apesar da possível separação entre ambos, resta evidente que não há como existir a judicialização da política sem o ativismo judicial, pois um tribunal que não ultrapassa seus limites jamais servirá de palco para o segundo. Ao Poder Judiciário cabe socorrer os indivíduos ante o mal perpetrado pelo poder e da covardia de seus pares, não, há dentre as missões dos magistrados conduzir a sociedade, bem como, ser o agente que exprime a vontade de um povo. A legitimidade de tal poder reside em sua tecnicidade e imparcialidade. Aos que julgam é necessário, ainda que seja impossível, despir-se de suas paixões para laborar sob a égide dos valores construídos e solidificados em uma sociedade, privando-se de agir como representante, para socorrer aqueles que se veem desamparados. Tenta-se justificar ativismo judicial perante os indivíduos como forma de levar a justiça aos homens, supondo que, estes estariam refém da inércia dos que estão no poder, assim, o Poder Judiciário promoveria a justiça através da ação, não esperando para solucionar os problemas à posteriori. Não existe premissa mais equivocada, justamente, pelo fato de que, aquele que segura a balança não pode pesar para um lado ou não haverá justiça e sim vontade. Se, no Olimpo, Zeus simbolizava o poder divino, reinando sobre todos, Themis não poderia agir como se o Cronida fosse, sob pena de ser parte da ação tendo sua balança pendendo para um lado antes mesmo de colocar os pesos em ambos. Diké, como visto, não pode se dissociar de sua mãe, haja vista que, quanto mais agir como seu pai, mais tornar-se-á parcial e alheia à sua missão. O ativismo judicial é uma mazela contemporânea que promete uma Justiça atuante e capaz de solucionar os problemas de uma sociedade, substituindo os demais poderes constituídos e fazendo com que o poder que deveria repousar inerte, adira à pautas ideológicas que, por vezes, não encontram abrigo no seio da sociedade. Tal nefasta prática resultará na hipertrofia autofágica do Poder Judiciário, mas não antes de colapsar os demais poderes, criando uma sociedade distópica que se envenenou acreditando tomar uma cura milagrosa, sem buscar entender seus efeitos colaterais. O povo, ao ser guiado por quem se desvia de sua missão, terá como certa a trajetória para o abismo. Nem sempre os praticantes do ativismo dar-se-ão conta do mal que fazem, em alguns casos cegam-se para a realidade de bêbedos pelo poder do néctar da ambrosia, acreditam que realmente são capazes de guiar os rumos do mundo por se tratarem de seres melhores que os outros. Alguns, de fato, são algozes conscientes tomados pela ganância e por uma fé revolucionária, contudo, há juízes que se tronam incapazes de reconhecer o quão danoso é tentar fundir Themis e Zeus em uma só figura. Dos arautos do ativismo judicial ascende a aristocracia das togas, deixando de lado sua missão de socorrer para buscar um protagonismo antagônico com a segurança que deveriam refletir aos homens. Os julgadores perdem a credibilidade ao passo que deixam de figuram como técnicos equidistantes do palco dos acontecimentos para, lançando-se ao mesmo, travarem suas próprias batalhas e trocarem suas togas neutras por estandartes que os colocam como interessados. A adesão às agendas internacionais e a renúncia constante das fontes do Direito para enveredar pela propositura política, ora legislando, ora governando, conduz, inevitavelmente o Poder Judiciário a uma hipertrofia, engolindo os demais poderes por acreditar que é o detentor do conhecimento e bastião da verdade. Uma premissa tão equivocada, senão destrutiva, que ignora o mito no qual tanto Themis quanto Diké não se imiscuíam nas tarefas dos demais deuses e titãs, haja vista a necessidade de manterem-se imparciais, desta feita, presume-se que detentoras do conhecimento e amantes da verdade, tinham a concepção que o melhor a ser feito era deixar a ação para os protagonistas. Ninguém credita um julgamento justo a um dos envolvidos na contenda e, por tal motivo, um judiciário que está envolto de forma proativa em determinados temas, não goza de legitimidade, de maneira que, o crescimento desenfreado de tal poder, engolindo os demais, será, inevitavelmente, a sua ruína, pois, o reduzirá a um órgão parcial, atécnico e desmoralizado. A máxima de Orwelliana de que “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros”. (Orwell, George; A Revolução dos Bichos (Animal Farm); Reino Unido; 1945) A fé depositada na justiça é, necessariamente, resultado de sua postura distante da seara política, havendo no imaginário de cada indivíduos a esperança que o Poder Judiciário lhe trará a justiça quando tudo mais lhe for subtraído, por tal razão, não há motivo para se socorrer de um órgão que tem sua balança retorcida pelas suas ações, deixando evidente que não amparará aos que não comungam de sua visão, ainda que distorcida, de mundo. Não raro os indivíduos deixarem de buscar a justiça através do Poder Judiciário por terem a, por vezes justa, impressão de que os julgamentos serão enviesados pelas crenças do julgador ou da instituição. A postura ativa do judiciário macula não só os julgados, mas a fé da sociedade em tal poder, quando se vislumbra uma face que pode ser considerada como declaradamente tendenciosa, essa que tenta se “autojustificar”, ante a uma suposta fragilidade a ser protegida, assumindo postura flagrantemente política ideológica e, por vezes, fazendo até mesmo propaganda de suas visões. O cidadão não pode acreditar que um órgão possa lhe socorrer quando o mesmo assume uma clara postura em relação a determinado tema, restando evidente que sua demanda não será acolhida por questões de convicção do órgão julgador, que independe dos comandos legais, dos valores da sociedade que se insere ou da vontade do povo. “Neste contexto, caberia ao Poder Judiciário somente defender e assegurar direitos, agindo peremptoriamente para que ninguém – cidadão ou Estado – atente contra ou afaste qualquer direito previsto em Lei e, principalmente, na Constituição. É o Judiciário, enquanto Poder do Estado, que garante a aplicação da Lei. É nessa ótica que o Poder Judiciário pode ser considerado como uma instituição democrática. Porém, não caberia a este Poder conceder, ampliar ou criar benefícios, ou mesmo criar leis abstratas e gerais. Assim o fazendo, a respeito da vontade da maioria consubstanciada na aprovação de leis editadas por seus representantes eleitos (ou mesmo na omissão da aprovação de determinada lei que não espelhe a vontade popular), está sim agindo o Poder Judiciário como uma instituição não democrática.” ( Ceroy, Alexandre Meinberg; Quem Realmente Defende a Democracia?; Revista Conhecimento & Cidadania Vol 10, Rio de Janeiro; 2022 ) Ao subtrair do governante a direção das políticas públicas ou do legislador a capacidade de expressar a vontade do povo, solapando a maior lei da nação e sustentáculo de todo o ordenamento jurídico pátrio, o Poder Judiciário não está violando a prerrogativa do poder que, aparentemente, fora alvo de sua ação. Em verdade, a única vítima é o real detentor do poder que, no caso de uma república, deveria ser o povo. O mandatário, seja o governante ou o parlamentar, presenta aquele que o investiu na missão, logo, o verdadeiro soberano é o povo, portanto, avançar em direção dos mandatários é subtrair do real senhor, que confiara aos seus representantes, o poder. O ativismo judicial torna um poder residual, que deveria manter-se passivo e legítimo, um usurpador da soberania popular para fazer-se governo juristrocrata que se impõe pela força de seus desmandos. “Não se trata de mera violação formal, portanto, não é necessário verificar se tal princípio é reconhecido no ordenamento jurídico colombiano, salvo se aquele país for assumidamente uma ditadura, como toda juristocracia o é. A judicialização da política e o ativismo judicial não subtraem dos parlamentares o poder de legislar ou do governante de dirigir a máquina pública, em verdade, retira a vontade do povo ao entregar para outrem a capacidade de escolher pelos cidadãos, a verdadeira vítima de tal nefasta prática é justamente aquele que concedera um mandato aos membros do legislativo para que manifestem sua vontade, bem como, o fizera com o governante, esperando que este adote as políticas públicas que lhes são caras. Utilizando-se de falsas premissas, um determinado grupo impõe sua ditadura sobre a população, em um verdadeiro ato antidemocrático, agentes políticos ora derrotados e magistrados que comungam de sua visão de mundo, ainda que distópica, usurpam descaradamente o mandato alheio por se auto intitularem como um secto supra-humano que tem o poder-dever de conduzir os rumos da nação. A ideia de representantes eleitos em uma democracia reside, justamente, no fato de que estes devem representar a vontade do povo, real soberano, de maneira que, quando uma determinada prática é reprovada em uma sociedade, em tese, criam-se normas para coibi-la, em sentido contrário, são incentivadas condutas tidas como desejáveis. Por tal razão, um projeto de lei que não é aprovado reflete, ressalvados os casos distorcidos, naquilo que os cidadãos esperam de seus mandatários, posto que, não atendendo tais expectativas sofrerão a rejeição em um futuro pleito eleitoral. Uma norma que não tem sucesso no processo legislativo, a princípio, não é bem-vinda no ordenamento jurídico, sendo seu forçoso ingresso neste um atentado contra a democracia, haja vista, que em tal modelo o povo não é, tão somente, um elemento do Estado, mas a razão de existir do Estado, pois este, é servo daquele, não sendo, em nenhuma hipótese, o seu detentor. Dos elementos que constituem esta figura, são indispensáveis o território em que se exerce a soberania, entretanto, em si falando de democracia, o povo é o senhor do Estado, e não o contrário.” ( Costa, Leandro dos Santos; O Pior Crime do Mundo; Revista Conhecimento & Cidadania Vol 7; Rio de Janeiro; 2022 ) Voltando ao mito de Diké, assumindo que os magistrados seriam a corporificação da divindade, o ativismo judicial e, consequentemente, a judicialização da política acabam por desfigurar a filha de Zeus e Themis, afastando-a de sua mãe para dar-lhe um trágico destino. Diké seria o alvo da hipertrofia, a medida que subtrai dos demais deuses do panteão suas atribuições por se acreditar como um ser justo e mais indicado para quaisquer que sejam os desafios, rebelando-se contra a postura, que entende, letárgica de sua genitora para propagar os ideais de justiça pelo mundo. A divindade afasta-se de Themis e busca sufocar seus pares no panteão grego, suprimindo a violência de Ares, os arroubos de Poseidon, a luxúria de Afrodite, o ciúme de Hera, a frieza de Hades e tudo aquilo que pode causar desiquilíbrio conforme sua visão cega e arrogante de mundo ideal, tornando-se o mal que deveria combater. Não percebe, ou não quer ver, que quanto mais se afasta de Themis, a justiça como ideal, Diké se dissocia de sua existência, justa e verdadeira, metamorfoseando-se, ainda que de forma inconsciente, na em sua antagonista, Adikia, refletindo a injustiça e a mentira e destruindo-se em uma ação autofágica, O crescimento desordenado da divindade acaba por fazer com que se devore para saciar sua fome pelo poder. Desmoralizada pelas ações de seus arautos ilegítimos, Diké se destrói gradualmente em uma busca por solucionar aquilo que não lhe é afeto, sufocando todos que a cercam e sorvendo seu próprio sangue, que se tornou veneno, uma vez que, ao metamorfosear-se em Adikia sua essência lhe é nociva. Não podendo se lamentar ao Cronida, pois mesmo o senhor do Olimpo jaz em seu trono, ferido pela espada que Diké ainda impunha e branda contra tudo aquilo que se move. Cega e recusando-se a parar, resta à divindade socorrer-se da justiça que não se corrompera, voltando, como o filho pródigo aos pés de Themis para então perceber que aquilo que acreditava ser a letargia de sua mãe, era, na verdade, a sabedoria em reconhecer que cada qual tem seu papel e não se pode promover a salvação deixando de cumprir a sua missão. Os magistrados que maculam a justiça, ainda que movidos pela boa intenção, avançando sobre os mandatários, na verdade sobre a vontade do povo, ampliam seu poder e destroem no ao mesmo tempo, cada vez mais audazes e ilegítimos, hasteiam suas bandeiras e condenam a justiça ao infortúnio destino dos que se corromperam ante o poder. Por outro lado, sempre haverá esperança, por certo que muitos que honram suas togas mais que bandeiras ideológicas trarão consigo a justiça como ideal e o judiciário como tábua de salvação dos relegados, mantendo Themis como norte e Diké em seus corações. A justiça divina e imaculada sempre prevalecerá e abrigará aqueles que forem justos, assim, quando Diké estiver na mais profunda sarjeta, poderão aqueles que lhe corporificam se levantar em oposição ao ativismo que a consome, resgatando sua dignidade e conduzi-la aos braços de sua mãe, Themis, que a acolherá tal como um filho pródigo, renascendo assim a justiça dos homens como deve ser, restando aos arautos de Diké preservá-la e a todo cidadão defendê-la. Resgatar a justiça é o dever todo jurista para consigo e com o mundo. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. III N. 44 – ISSN 2764-3867

  • A tecnologia para o ser humano

    Se tem um tema que parece nunca sair de moda é o da tecnologia. Mas o que é tecnologia? Bom, como sempre a minha proposta não é esgotar os temas e sim suscitar reflexões, pois é na reflexão que temos algo de muito maior valor que o senso crítico e, diga-se de passagem, até o computador trabalha com este processo. Temos na reflexão o despertar das ideias próprias e é isso que nos faz evoluir como ser humano. ( Em outro artigo trataremos da diferença entre senso crítico e ideias próprias). Podemos pensar da seguinte forma: A ciência é o foco do estudo, é onde podemos tratar das causas e efeitos e seus porquês. Já a tecnologia é a ferramenta que permite que a ciência seja prática, permite o laboratório, os experimentos para a consolidação da ideia científica. Isto, explicado de maneira popular pois meu objetivo é que todos os níveis intelectuais alcancem a mensagem dos artigos por mim escritos. Como exemplo, eu colocaria da seguinte forma: A medicina é a ciência e os equipamentos que permitem sua aplicação a tecnologia. A ótica é a ciência, os óculos são a tecnologia. Em fim, creio serem suficientes os exemplos. Tenho que deixar claro que os conceitos aplicados por mim serão os clássicos, embora os conceitos modernos tenham seu lugar. Se todas as ciências possuem suas respectivas tecnologias e é isso que as faz cumprir seus papéis, ou seja, as fazem ser o que realmente são, o que podemos dizer do ser humano? O que nos faz ser o que realmente somos? O que nos consolida como seres humanos? Se a ciência é o ser humano, sua tecnologia são as virtudes. Esta é a equação: Valores bem aplicados = Virtudes. Virtudes bem aplicadas = Princípios. Princípios humanos resultam no real ser humano. No presente momento histórico, onde os instintos parecem aflorarem cada vez mais fortes, nenhuma vitória será possível sem a aplicação das virtudes humanas, pois são elas que nos fazem humanos. Eu poderia discorrer por inúmeras linhas sobre valores, virtudes e princípios humanos, mas nesse caso tratarei, especificamente, de duas virtudes, pois elas são importantíssimas para o resgate consciente do conservadorismo. São elas: Inteligência e Temperança. Vamos então as definições de ambas e discorreremos sobre. Inteligência no conceito clássico, nada tem a ver com agudeza mental ou raciocínio lógico, rápido, preciso, em fim não é uma habilidade cerebral mas uma faculdade da mente e assim se define: Inteligência é a capacidade de saber discernir entre o que se deve ou não se deve fazer enquanto ser humano e comprometer-se com isso. Repare que o ponto radica no comprometimento, pois se discernimos a escolha certa e não nos comprometemos com ela, somos corruptos e tolos. Não é o que muitas vezes vemos na política? Na sociedade? E em todas as áreas de atuação humana? A segunda virtude é a temperança e assim se define: Temperança é a capacidade de agirmos de maneira ideal independente do nosso estado de ânimo. Na guerra política que travamos hoje, temos tido várias derrotas em diversas batalhas e a temperança é fundamental para continuarmos lutando independente do que aconteça. Não é difícil vermos em momentos de derrota, soldados desanimarem das batalhas e saírem de cena, além de não se comprometerem com a escolha certa, a de lutar mesmo perdendo, pois a luta é só um meio e o nosso lugar próprio é o fim. Fica a reflexão: Se num tema tão básico como a política há tantos descomprometidos e desistentes, como será na batalha pela vida?(Estaria aí uma chave para o grande número de depressivos e suicidas?) Pela família? (Estaria aí a chave para tantos divórcios, traições e tragédias familiares?) Por sua dignidade? (Estaria aí a chave para tanta corrupção?) Pensemos...Teriam mesmo comportamento? Só nós, em nosso íntimo, podemos responder com sinceridade. Fica um conclave a todos os que querem vencer como verdadeiros heróis!! Que lutemos com Inteligência e Temperança, pois com apenas estas duas tecnologias, seremos imbatíveis, quanto mais se lançarmos mão de toda a tecnologia Humana disponível para a guerra. Em outro momento trataremos de maneira mais ampla sobre este tema fundamental para nosso avanço nesta batalha do bem contra o mal. Deus abençoe nossa jornada! Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N. 04 – ISSN 2764-3867

  • Rainha Ester

    Feminismo e contradições Mulheres Bíblicas: PARTE IV A história de Ester, uma das mulheres mais notáveis da Bíblia, transcende os séculos e continua a inspirar pessoas em todo o mundo. Sua trajetória como rainha da Pérsia e sua coragem diante da adversidade são exemplos poderosos de exaltação feminina. Quem foi Ester? Ester era uma jovem judia da tribo de Benjamim, filha de Abiail. Ela viveu durante o período de reinado de Assuero (Xerxes) entre 486 e 465 a.C. Criada por seu primo Mardoqueu, Ester alcançou favor na corte do rei e foi coroada rainha no lugar de Vasti. Sua beleza e coragem chamaram a atenção de todos na corte. A história de Ester ganha destaque quando Hamã, um alto funcionário do rei, planeja o genocídio dos judeus. Informada por Mardoqueu, Ester enfrenta o desafio com ousadia. Ela arrisca sua própria vida ao se apresentar perante o rei sem ser chamada, algo impensável na época. Sua coragem e determinação são exemplos de que Ester era uma mulher forte. Ester é um símbolo de coragem, fé e providência divina. Sua história destaca como Deus usa pessoas comuns para cumprir Seus propósitos. A festa judaica de Purim celebra a vitória dos judeus sobre Hamã. Durante Purim, os judeus leem o livro de Ester, compartilham presentes e alimentos, e se alegram pela salvação recebida. Sua elegância e feminilidade não se limitam à aparência externa, mas emanam de sua essência interior. A verdadeira elegância, segundo Ester, vai além do vestir-se bem; ela reflete integridade, compaixão e força. Deus usou da beleza e da feminilidade de Ester para manifestar Seu poder e salvar Seu Povo Eleito. Além de sua coragem, Ester personifica valores hoje exaltados pelo movimento feminista: Autonomia e Escolhas Conscientes: Ester não aceitou passivamente seu destino. Ela usou sua posição como rainha para agir em prol de seu povo, desafiando normas sociais e hierarquias. Sua autonomia é um lembrete de que as mulheres têm o direito de tomar decisões que afetam suas vidas. Ela personifica a força e a resiliência que transcendem gênero e inspira mulheres e homens de fé até hoje, não se conformou com o papel tradicionalmente esperado de uma mulher naquela sociedade. Empoderamento e Influência: Ester não apenas buscou sua própria segurança, mas também intercedeu pelo bem-estar de toda a comunidade judaica. Ela usou sua influência para proteger os outros, demonstrando que as mulheres podem ser agentes de mudança e impacto positivo. Persistência e Resiliência: Ester enfrentou desafios significativos, incluindo o risco de morte ao se apresentar perante o rei sem convite. Sua determinação e coragem são inspiradoras para todas as pessoas, independentemente de gênero. A jornada de Ester nos ensina que a coragem, a fidelidade e a busca por justiça podem transformar vidas e impactar gerações. Ela é um farol de esperança para todos que enfrentam desafios e buscam fazer a diferença em seu tempo. As características de Ester, tão exaltadas hoje por movimentos feministas, são, na verdade, perfil que toda mulher cristã possui. No fundo, o movimento feminista apenas se apossou dos perfis de mulheres cristãs. E muito contrário do que pregam, mulheres cristãs são mulheres de personalidade forte. Ser temente a Deus permite que a mulher cristã, confie no Senhor e não tenha medo do que pode estar por vir. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. III N.º 44 - ISSN 2764-3867

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