Uma vida maravilhosa
Estive ausente por alguns meses, tratando das mudanças que ocorreram, recentemente, em minha vida. Precisava me organizar, por dentro e por fora, para voltar a escrever. E nada melhor para um retorno, do que uma coluna sobre um filme inspirador. Estou falando de A Felicidade Não se Compra, ou “It is a Wonderful Life”, em seu título original.
Recomendado a mim pelo meu filho Felipe (de 16 anos!), esse belíssimo filme de Frank Capra, lançado em 1947, fala de George e sua trajetória. Nascido em Bedford Falls, desde menino o protagonista sonhava alto e desejava ganhar o mundo. Antes um solteirão convicto, acaba por casar-se com Mary, a quem conhecia desde criança, tendo com ela quatro filhos. Por diversas circunstâncias da vida e sempre em prol do que é melhor para todos ao seu redor, George acaba por nunca sair de Bedford Falls.
Após inúmeras dificuldades e frustrações, atravessando problemas financeiros e vendo seus amigos mais próximos e seu irmão alcançarem fama, fortuna e sucesso, enquanto luta pela sobrevivência todos os dias, George decide por fim à própria vida, em uma noite de Natal, devido a uma dívida. Para ele, a falência e a prisão somente viriam coroar uma vida de fracassos e más escolhas. Afinal, ele não é ninguém importante.
Acontece que, embora desejoso de um futuro diferente, George sempre fez o bem, ajudou o próximo, salvou inúmeras pessoas da ruína e da desgraça, criando em sua comunidade um círculo de amor e generosidade. À frente de uma cooperativa de dinheiro, juntamente com seu tio Billy, George ampara os outros, proporcionando-lhes recursos para a realização de seus sonhos e planos, mesmo que isso signifique uma vida com algumas privações para si e sua família.
Preso aos problemas do dia a dia, George termina por não desfrutar das coisas que conquistou, junto a Mary, sempre de olho no que poderia ter tido e não teve. Por achar que a vida que leva é medíocre e desinteressante, na iminência de ser preso, ele termina por desesperar-se e acreditar que não vale mais a pena seguir desse jeito.
Entretanto, o céu ouve as preces de sua esposa e de todos os moradores de Bedford Falls, enviando um anjo – Clarence - à Terra, para demovê-lo desse intento. Essa será a oportunidade de o anjo ganhar suas asas, pelas quais espera há duzentos anos. Não é uma tarefa fácil e Clarence tem, então, uma ideia genial: decide mostrar a George como seria a sua cidade, caso ele não houvesse nascido, e qual teria sido o destino de todas as pessoas às quais ele ajudou, não fosse a sua intervenção em suas vidas.
George fica horrorizado com o que vê. Sua cidade destruída pela ganância de Potter, um velho milionário que encarna a figura do mal, da cobiça e da crueldade e é dono do banco local, e contra quem ele sempre lutou. As pessoas estão empobrecidas, desesperançosas, as mulheres prostituindo-se, os homens embriagados e de caráter duvidoso, face a toda a opressão e à falta de condições decentes de sobrevivência, na agora denominada Pottersville. E quanto a Mary… bem, sua esposa tornou-se uma solteirona e cuida da biblioteca local, sendo uma pessoa amarga e retraída, por nunca haver se casado ou tido filhos.
Ao constatar tudo isso, George implora a Clarence que devolva-lhe sua vida, compreendendo algumas das lições mais importantes que podemos obter:
Vida é o que acontece diariamente, em nossas relações corriqueiras, nosso cotidiano, no seio da família e no impacto que podemos causar, com nossas atitudes, em nosso entorno.
Não viva com os olhos no futuro, esperando pela realização de sonhos e planos que deseja concretizar, ignorando o seu presente. Lute pelo que deseja, esforce-se, mas não deixe de estar completamente inserido na sua realidade e no que se desenrola, todos os dias, sob os seus olhos. Apure os seus sentidos. Aproveite a sua rotina e tudo que já conquistou até aqui. O futuro é incerto. O que nós temos para viver é o HOJE.
Nós sempre podemos fazer a diferença no mundo. Nunca subestime o seu papel. Os heróis anônimos normalmente são as pessoas mais importantes, na fundação, na estruturação e na manutenção de tudo o que todos nós desfrutamos.
George não pôde lutar na segunda guerra mundial, por ser surdo de um ouvido, mas operou nos bastidores, tendo um papel fundamental no suporte a sua comunidade, enquanto os demais homens estavam fora. Cada um torna-se essencial de um modo.
O filme termina com todos os moradores da cidade indo à casa de George (que foi vítima de um golpe), para prestar seu testemunho sobre a sua importância em suas vidas, levando-lhe dinheiro e joias, para que quite sua dívida, mostrando-lhe que o que importa, no fim das contas, não é ser importante: o importante é ser BOM e espalhar o BEM. O protagonista teve, na verdade, uma vida maravilhosa.
Essas são as lindas lições de A Felicidade Não se Compra. Todos nós, sobretudo em momentos de decisões ou de dificuldades, deveríamos assistir a esse filme, para compreendermos o que realmente IMPORTA e DÁ SENTIDO A NOSSAS VIDAS. Viva intensamente o seu presente, abrace a sua circunstância e faça dela o melhor que puder. Tudo vale a pena, seja como aprendizado, crescimento pessoal ou motivo para elevação moral. A felicidade pode estar ao seu lado, só precisa ser vista!
Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. III N.º 47 - ISSN 2764-3867
Comments