
MENEZES COSTA
"Com conhecimento se constrói cidadania!"
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- “LUTEM, LUTEM, LUTEM”
“Tudo em volta induz à loucura, ao infantilismo, à exasperação imaginativa. Contra isso o estudo não basta. Tomem consciência da infecção moral e lutem, lutem, lutem pelo seu equilíbrio, pela sua maturidade, pela sua lucidez. Tenham a normalidade, a sanidade, a centralidade da psique como um ideal. Prometam a vocês mesmos ser personalidades fortes, bem estruturadas, serenas no meio da tempestade, prontas a vencer todos os obstáculos com a ajuda de Deus e de mais ninguém. Prometam SER e não apenas pedir, obter, sentir, desfrutar.” (Olavo de Carvalho). No sábado, 13 de julho de 2024, por volta das 18:13h (horário local), ocorreu um incidente grave durante um discurso de Donald Trump, político republicano, na cidade de Butler, Pensilvânia. O político foi alvo de tiros que o feriram superficialmente na orelha direita. Após o incidente, foi prontamente retirado do local por sua equipe enquanto declarava com determinação: "Lutem, lutem, lutem" . Infelizmente, um dos presentes no evento perdeu a vida, e outros dois ficaram feridos. O atirador foi abatido poucos segundos após o atentado e as autoridades o identificaram como Thomas Mathew Crooks. As investigações sobre o caso prosseguem em meio a muitas suspeitas de facilitação por parte das forças de segurança presentes no evento. Os Estados Unidos possuem um histórico de eventos trágicos envolvendo atentados contra presidentes. Podemos citar alguns deles. Andrew Jackson, o sétimo presidente dos Estados Unidos, também foi alvo de um atentado durante seu mandato. O incidente ocorreu em 30 de janeiro de 1835, quando Jackson estava saindo do Capitólio dos Estados Unidos após um funeral. Richard Lawrence, um desempregado britânico, tentou disparar duas pistolas contra Jackson, mas ambas falharam por problemas mecânicos. Abraham Lincoln foi assassinado por John Wilkes Booth enquanto assistia a uma peça no Teatro Ford em Washington, D.C., em 14 de abril de 1865. Ele faleceu no dia seguinte, em 15 de abril. James A. Garfield foi baleado por Charles J. Guiteau em Washington, D.C., em 2 de julho de 1881, e morreu dos ferimentos em 19 de setembro de 1881. William McKinley foi baleado por Leon Czolgosz durante uma recepção em Buffalo, Nova York, em 6 de setembro de 1901, e morreu dos ferimentos em 14 de setembro de 1901. Theodore Roosevelt foi baleado enquanto fazia um discurso em Milwaukee, Wisconsin, em 14 de outubro de 1912. Apesar dos ferimentos graves, ele sobreviveu e continuou sua campanha presidencial. Em 1933 o presidente eleito Franklin D. Roosevelt foi alvo de cinco disparos desferidos por um homem. Roosevelt não foi atingido, mas o prefeito de Chicago Anton Cermak não teve a mesma sorte, tendo morrido 19 dias após o atentado. Harry S. Truman teria sido mais uma vítima quando dois porto-riquenhos, Griselio Torresola e Oscar Collazo, tentaram invadir a Casa Branca em 1º de novembro de 1950 com o objetivo de assassiná-lo. Torresola e o policial Leslie Coffelt morreram no tiroteio, mas Truman não foi ferido. Possivelmente o atentado mais famoso da história dos Estado Unidos foi o de John F. Kennedy, assassinado a tiros em Dallas, crime supostamente cometido por Lee Harvey Oswald, em 22 de novembro de 1963. Oswald supostamente se posicionou em um prédio al longo do trajeto em carro aberto, feito pela comitiva presidencial. Kennedy teve morte instantânea e Oswald foi assassinado dois dias depois. Em 22 de setembro de 1975 a ativista política Sara Jane Moore, aproveitando uma visita do presidente Gerald Ford a São Francisco, em meio à multidão disparou contra Ford, mas errou o tiro. Antes que conseguisse atirar uma segunda vez foi imobilizada por um fuzileiro à paisana que acompanhava a visita. O primeiro tiro ricocheteou em uma parede próxima atingindo outra pessoa sem gravidade. Ford escapou ileso. Nem seis anos se passaram e mais um presidente foi alvo da loucura humana. Dessa vez o alvo foi Ronald W. Reagan, em 30 de março de 1981. Após sair de um evento no Washington Hilton Hotel, Reagan foi alvejado por John Hinckley Jr. Reagan teve um dos pulmões perfurado, mas sobreviveu ao ataque graças ao rápido atendimento médico. Para os brasileiros mais desavisados que após esta pesada leitura, dizem a si mesmos aliviados: ‘graças a Deus o Brasil é um país pacífico’, calma, não tão rápido! O Brasil também tem seu histórico de violência no seu contexto político. Apresentaremos a seguir alguns casos que se tornaram um pouco mais conhecidos. Em 15 de julho de 1889, Dom Pedro II sofreu um atentado a tiros enquanto embarcava em uma carruagem na saída do Teatro Sant’Anna (atualmente Teatro Carlos Gomes) no Rio de Janeiro. O atentado foi perpetrado por Adriano Augusto do Valle, um militante republicano, mas Dom Pedro II saiu ileso. Em 5 de novembro de 1897, Prudente de Morais sofreu um atentado durante uma cerimônia pública em frente ao Arsenal de Guerra no Rio de Janeiro. Marcelino Bispo de Melo , um soldado do exército tentou atingir Morais usando uma garrucha que falhou, dando tempo ao ministro da Guerra, Marechal Carlos Machado Bittencourt de tentar protegê-lo. Marcelino então, usando uma faca, feriu mortalmente o marechal, sendo preso em seguida. O presidente escapou ileso. Em 23 de maio de 1928, houve um atentado contra o presidente Washington Luís no Hotel Copacabana Palace. Supostamente durante um encontro extraconjugal com a italiana Elvira Vishi Maurich, o presidente foi ferido a bala. Atendido pelo médico pessoal de Octávio Guinle, dono do hotel, o presidente foi conduzido a uma casa de saúde onde foi operado e se recuperou. Em 5 de agosto de 1954, houve um atentado a tiros na Rua Tonelero, no Rio de Janeiro, contra Carlos Lacerda, um dos principais opositores de Getúlio Vargas. O atentado resultou na morte do major da Aeronáutica Rubens Vaz e acabou desencadeando uma crise política que levou ao suicídio de Vargas em 24 de agosto de 1954. Café Filho que então era vice-presidente da República assumiu o governo. Em 30 de maio de 1989, o bancário João Antônio Gomes protagonizou um dos atentados mais bizarros da história brasileira. Após sequestrar um ônibus da Viação Planeta na rodoviária de Brasília, subiu a rampa do Palácio do Planalto, sendo detido apenas pelo rebaixamento de gesso no teto do saguão do palácio. Segundo depoimento do sequestrador, ele pretendia tirar a vida do presidente José Sarney ou de qualquer um que tentasse impedi-lo, dada a sua insatisfação com sua situação pessoal e do próprio país. Ocorre que o presidente sequer estava no palácio no momento do incidente. João Antônio foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional. Em 22 de março de 1991, o então presidente Fernando Collor de Mello cumpria mais uma de suas rotineiras cerimônias de descida rampa do Palácio do Planalto, quando José Darionísio Pereira da Cruz, desempregado, furou o cordão de isolamento se lançando contra o presidente, portando uma faca. José foi impedido e imobilizado por um segurança, sendo preso logo em seguida. Collor nem mesmo percebeu o que tinha acabado de acontecer. Um ovo arremessado não chega a ser um atentado contra a vida de ninguém, no máximo contra a compostura e o bom asseio. Em 20 de maio de 2000, José Serra, então Ministro da Saúde, quando chegava para um evento partidário em um clube de Sorocaba não foi ovacionado, mas foi atingido por um ovo lançado por um manifestante anônimo que conseguiu fugir em seguida ao ato. Mais tarde, entrando em contato com jornalistas por telefone, o jovem se identificou como estudante secundarista e disse: “Eles usam a polícia para descer o pau em professores e estudantes, nós usamos ovos, que não machucam, mas deixam evidente nossa revolta”. Quanto a José Serra, depois de cuidados cosméticos, seguiu sua agenda. Ainda seguindo a linha dos “ovos voadores”, Paulo Maluf, ex-prefeito de São Paulo e figura política bastante controversa, quase foi atingido por um ovo em 22 de outubro de 2001 quando chegava ao prédio do Ministério Público em São Paulo. O ovo foi atirado por Juarez dos Santos, um manifestante, que aguardava a chegada do político para prestar depoimento. Juarez buscava demonstrar sua revolta contra a empáfia do político paulista. Em 6 de setembro de 2018, Jair Bolsonaro, então candidato à presidência, foi esfaqueado durante um comício em Juiz de Fora, Minas Gerais. Ele sobreviveu após passar por cirurgias. O criminoso foi identificado como Adélio Bispo de Oliveira, um suposto ‘lobo solitário’ que, segundo as investigações, sofreria de transtornos mentais. Adélio segue preso. Retornando ao caso de Donald Trump, suas palavras "Lutem, lutem, lutem" , ditas num contexto de profunda comoção, poderiam induzir à conclusão de que seus apoiadores deveriam se rebelar contra a violência de seus opositores. Mas, à luz das palavras do inesquecível Olavo de Carvalho, que encabeçam este texto, a luta é pelo “ equilíbrio, pela sua maturidade, pela sua lucidez” . Tanto americanos quanto brasileiros conhecem, resguardadas as devidas proporções, a loucura, o infantilismo, a exasperação. Nesse momento profundamente conturbado que vivemos, é necessário manter a sanidade e seguir a ‘luta’, que significa manter a cabeça erguida, coluna ereta e ombros para trás, no melhor estilo Jordan Peterson. A hora não é de retrocessos, mas também não é de enfrentamentos. Maior proveito e melhores resultados obterão os seguidores da paz, se souberem conduzir-se utilizando as falhas daqueles que usam da violência como instrumento, e mantendo a sanidade em meio à loucura. “Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sedes prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas” (Mateus 10:16) Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. III N.º 44 - ISSN 2764-3867
- A Montanha de Ferro
O controle social que começa pelo estômago No final de Maio ocorreu dentro do complexo de palácios de Hofburg, no centro de Viena, na Áustria, um evento denominado “Eat for future” , uma exposição que traz “alternativas” para uma alimentação “sustentável”. Hambúrgueres à base de plantas, larvas e outros tipos de comidas exóticas fizeram parte da exposição. Nos últimos tempos, tanto a indústria alimentar como a mídia de massa têm feito uma propaganda massiva sobre “sustentabilidade alimentar”: mudar a forma tradicional de comermos por uma que “afete menos o meio ambiente”. A impressão que se tem é que entramos no DeLorean (carro utilizado no filme “De volta para o futuro”) e retornamos aos anos 60, onde ser vegetariano e lutar pela paz mundial era a moda da vez. Contudo, os que têm aderido à agenda da “alimentação sustentável” não fazem ideia de que estão apenas sendo utilizados como fantoches por figurões do alto escalão mundial, que querem impor um sistema de controle social que começa pelo estômago. E nas linhas que se seguem, vamos entender, de forma mais profunda, a origem e os caminhos que este controle tomou até chegar em nossos dias. Em 1967, um grupo de especialistas produziu um relatório denominado “Report from the Iron Mountain on the Possibility and Desirability of Peace” (A Paz indesejável: O relatório da Montanha de Ferro). O Relatório afirma que a guerra desempenhou funções importantes na sociedade. Sua conclusão é: a guerra se tornou impossível. É necessário encontrar o que possa substituí-la. O Relatório aborda cinco funções exercidas pela guerra: Econômica “ A guerra fornece (…) um meio certo de realizar a estabilidade e o controle das economias nacionais.” Política “ As funções políticas da guerra são, até agora, ainda mais importantes no âmbito da estabilidade social”. Sociológica “ Funções que concernem ao comportamento humano na sociedade (…) A existência de uma ameaça externa que possa ser crível é, por consequência, essencial para a coesão social, assim como para a aceitação de uma autoridade política. ” Ecológica “ A guerra foi o principal fator de evolução que permitiu manter um equilíbrio ecológico entre imensas populações humanas e os recursos que se encontravam à disposição para assegurar a sua existência.” Cultural e Científica “ A tendência à guerra determinou os critérios fundamentais de valor nas artes de criação e forneceu sua principal fonte motivacional que conduziu ao progresso técnico e científico.” O próprio Relatório apresenta os “substitutos” que seriam ideais para preencher a lacuna deixada pela guerra: Economia a) um programa de bem-estar social b) um ilimitado programa espacial de investigações espaciais Política a) uma força internacional de polícia b) ameaça extraterrestre conhecida e admitida c) poluição massiva do meio ambiente Sociologia a) forma moderna e evoluída de escravidão b) poluição intensificada do meio ambiente c) novas religiões e outras mitologias 4. Ecologia a) programas conhecidos de formas de eugenia O Relatório causou um alvoroço tão grande que, na época, a Casa Branca, sob a liderança de John Kennedy, veio a público desmentir a autenticidade do mesmo. Porém, o economista John Galbraith publicou um parecer sobre o documento atestando sua veracidade: “Para mim, tudo isso não deixa pairar qualquer dúvida sobre a autenticidade do documento. Não poderia lhe ser dado mais confiança, se eu mesmo o tivesse escrito” Um detalhe que John menciona em seu parecer: ele relatou que foi convidado para participar de uma reunião em Iron Mountain, estado de Nova Iorque. E que: “...Iron Mountain era o quartel general do comitê de seleção criado pelo Chase Manhattan Bank ” Ou seja: quem selecionou as participantes que escreveram o Relatório foi o banco em questão, que pertence à família Rockefeller. Com um viés totalmente revolucionário, o Relatório não demonstra preocupação com nenhum dos itens apresentados, mas com a maneira de exercer controle total sobre os mesmos, o que permite justificar o totalitarismo. Com o escândalo que causou à época, o Relatório caiu em descrédito por várias razões, pois suas referências científicas foram muito pouco consideráveis. Contudo, as ideias de dominação totalitárias presentes no documento foram levadas adiante. Em 1970 (dois anos após a divulgação do Iron Mountain ), George Kennan escreveu um artigo para a revista Foreign Affairs , pertencente ao Concil on Foreign Relations (CRF). Nele, Kennan, que foi ex-embaixador dos Estados Unidos na URSS, retomava as principais teses do Relatório. Aqui inicia-se a empreitada ambiental. “Cientistas competentes se preocupam com a influência da superpopulação, com a devastação dos recursos naturais e da mecanização sobre a integridade do meio ambiente natural, do qual depende a nossa sobrevivência (…) torna-se evidente de que se as tendências atuais se prolongarem, a vida na Terra poderá ser ameaçada.” Kennan conseguiu resolver a equação presente no Relatório de 1967, ao centralizar todos os esforços no meio ambiente. Com o foco na ameaça ecológica, os demais itens são supridos: esta “ameaça” produz despesas “que não se deveria subestimar”; levará à instauração de um regime totalitário (a criação de um comitê onde todos os esforços fossem centralizados); uma oligarquia formada por cientistas, intelectuais; o retorno ao panteísmo, com a adoração à Gaia, sob o manto de “proteção do meio ambiente” de maneira desenfreada. E a partir deste documento uma série de relatórios e conferências foram feitas tendo o tema ecológico como plano principal, porém, com o totalitarismo escondido em suas premissas. Em 1972 foi realizada a Conferência Internacional de Estocolmo . Nela, termos como “redefinição de projetos civilizacionais”, “ética ambiental”, “ensino e educação”, e “superpopulação” foram utilizados. O lema do evento: “Uma só Terra! Limite ao crescimento!”. Na reunião, a discussão foi sobre a criação de uma Nova Ordem Econômica Internacional. No mesmo ano, o Clube de Roma patrocinou um relatório denominado “Limite ao crescimento?”, que caiu em descrédito por apresentar previsões datadas de um Apocalipse que não aconteceu. Porém, o documento, apresenta, assim, como o de Kennan, uma preocupação com o crescimento populacional: “A humanidade não pode continuar a proliferar.” Além disso, também aborda o efeito estufa: “Se as necessidades de energia estiverem um dia cobertas pela energia nuclear ao invés dos combustíveis fósseis, o aumento da concentração de CO2 cessaria consideravelmente, e isto – espera-se – depois que não se manifestarem os efeitos climatológicos ou ecológicos mensuráveis em escala mundial”. Finalmente, a ONU criou uma comissão específica - Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e o Desenvolvimento –, eu era uma das metas do Relatório Iron Mountain. Em 1988, a Comissão elaborou um documento intitulado “Nosso futuro comum” , que estabeleceu metas diretas para “preservação” do meio ambiente: Limitar do crescimento populacional; Garantia de alimentação em longo prazo; Preservação da biodiversidade e dos ecossistemas; Diminuir o consumo de energia e promover o desenvolvimento de tecnologias que admitem o uso de fontes energéticas renováveis; Aumentar a produção industrial nos países não-industrializados à base de tecnologias ecologicamente adaptadas; Controlar a urbanização selvagem e integração entre campo e cidades menores. De acordo com o documento, as soluções propostas não podem ser executadas pelas presentes instituições internacionais. Então, a solução sugerida é “A soberania nacional deve ser superada”. Ou seja, um controle global deve ser exercido para que as metas sejam alcançadas. Vale ressaltar que 16 dos 23 membros da Comissão possuíam orientações ideológicas progressistas, como um membro soviético, um membro do Comitê Executivo da República Socialista da Eslovênia, um comunista chinês e um membro do Clube de Roma. Em 1991, o Clube de Roma reaparece, desta vez elaborando um relatório chamado “Questões de sobrevivência – A revolução mundial começou” (título em francês). O documento trouxe um programa de reformas mundiais, sugerindo que toda gestão ficasse a cargo da ONU. E mais uma vez, o “combate” à superpopulação entra em cena. Além disso, outra sugestão do relatório é “refundar os valores éticos e espirituais” (lembrem-se do Relatório Iron Mountain que trouxe isso à baila). No ano seguinte, 1992, aconteceu o maior evento climático já visto, a Conferência do Rio . Líderes de 185 países estiveram presentes para discutir os “problemas” ambientais. Porém, nas linhas do documento que apresenta os Princípios da Conferência, fica claro que o objetivo é coagir as nações a entregarem sua soberania, sob o pretexto de “preservar” a biosfera. Eis alguns trechos: Princípio 1 - “(Os seres humanos) Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza” Princípio 8 - “(…) Os Estados devem reduzir e eliminar os padrões insustentáveis de produção e consumo , e promover políticas demográficas adequadas.” Princípio 12 - “(…) Devem ser evitadas ações unilaterais para o tratamento dos desafios internacionais fora da jurisdição do país importador” Princípio 15 - “(…) quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis , a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de medidas economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental (…)” Percebe-se que as soluções propostas são as mesmas das outras de outros Relatórios e Conferências, com o agravante de que estes Princípios são muito mais ambiciosos, e agora adotados pelas mais altas autoridades mundiais. Na página 460 dos Princípios, há algo interessante que merece nossa atenção: “Os meios de comunicação permitirão modelar o comportamento público” . A mídia exerce um papel fundamental na divulgação das ideias progressistas, de forma que estas sejam aceitas no seio da sociedade. Para ajudar nesta questão, foi criado em 1995 o Project Syndicate, uma espécie de sindicato mundial de jornalistas. Financiado por globalistas como George Soros e Bill Gates, o grupo “distribui artigos de opinião para veículos de comunicação de mais de 59 línguas diferentes, em 154 países e nos 492 jornais mais influentes do mundo, atingindo um total de tiragens de mais de 78 milhões de exemplares.” (“Project Syndicate: o oráculo de George Soros”, Cristian Derosa e Alex Pereira, para o livro “Introdução à Nova Ordem Mundial”, de Alexandre Costa). Esse é o ponto: com a lavagem cerebral feita pela mídia de massa, o processo de aceitação de mudanças de comportamento, com a desculpa de “salvar o meio ambiente”, é facilitado. Então, surgem artigos e mais artigos dizendo “Insetos são muito bons para consumo humano e seu consumo ajuda a salvar o meio ambiente” , ou, “Comer carne vermelha torna a pessoa violenta” , e ainda, “A pecuária ajuda no aumento de emissão de CO2, o que prejudica o meio ambiente” . E assim, a agenda é empurrada de forma sutil na sociedade, de forma que não é mais o indivíduo que escolhe sua alimentação, mas é o sistema que escolhe por ele. E o controle segue para demais áreas de sua vida, porque quem decide o que você pode comer também pode decidir quanto você pode comprar, aonde pode ir, entre outras coisas. O Relatório Iron Mountain, assim como os demais e as conferências também realizadas, têm obtido êxito em seus feitos, já que a população aceita toda sorte de controle sem questionar. E assim, o controle social, quem diria, inicia-se pelo estômago de cada um que diz “amém” a tudo o que se denomina “pelo bem da natureza”. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. III N.º 44 - ISSN 2764-3867
- O que a Maratona ensina aos conservadores
Em 490 aC, uma batalha épica aconteceu na Grécia. Na primeira guerra médica, a batalha de Maratona foi um momento histórico que muito nos ensina; vamos ao resumo? Milcíades, general helênico que lutava pela Grécia, (outrora lutou pelo império Persa). Obteve uma importante vitória naquele momento. Porém, o mais importante não era estabelecer a vitória e sim, comunicar de maneira ideal, precisa, a vitória às mulheres que guardavam Atenas, para pôr em prática seu plano em caso de derrota. O plano, era por fogo em toda a cidade, caso os Persas conseguissem a vitória, para que eles não tivessem acesso aos segredos e a toda a sabedoria grega disponível, além de não os tornarem escravos como de costume. Bom, Milcíades, tendo estabelecido a vitória Grega, ordena ao soldado Feidípedes, que corra até Atenas para comunicar o aviso às mulheres. Mas, se Feidípedes não passasse a mensagem no tempo certo, elas poriam fogo em toda a cidade e fugiriam para não virarem escravas com seus filhos e os demais habitantes. Então, ele parte para a missão mais importante de sua vida: Salvar Atenas! Feidípedes corre então, por cerca de 42Km, após 3 dias de intensa batalha. Corre, por planos, morros, montanhas e vales. Ao chegar na cidade, as primeiras que o avistarem são as guardiãs, que vendo-o extremamente exausto, se aproximaram dele e ouviram apenas uma palavra: VENCEMOS!!!! Em grego: NIKE!!! (Em Lindão a deusa da vitória)Então, o que o conservadorismo, tem em comum com esta história? Assim como os gregos, nós lutamos por um ideal de liberdade e soberania. Nossos valores estão alinhados com o conservadorismo e não negociamos isso. Mas, diferente dos gregos não estamos melhor posicionados no campo de batalha e nossos soldados embora esforçados não são tão experientes na guerra. A luta não é apenas pelo país e pelos nossos bens mais caros, como a família, por exemplo. Nossa luta é pela honra de sermos livres!!!! Livres para viver nossos valores, princípios e virtudes e com isso, assegurar os mesmos direitos de quem quer viver diferente de nós. Temos um general? Sim, temos; e não é outro se não, Deus!! Representado por nosso ideal, inegociável, nisso somos irredutíveis. Nossa Atenas é o futuro e as pessoas que ficaram aguardando na cidade são as crianças e os que dependem da nossa postura em batalha para serem cidadãos livres, tendo preservados seus direitos, sobre tudo o direito a vida e a liberdade. Sim, somos um exército de patriotas e não uma milícia que luta por valores corruptíveis. Somos, INVENCÍVEIS!!!! Pois nos apoiamos no que há de mais altivo e próprio, a saber: os valores espirituais e humanos, que nos deixaram, nossos antepassados e escolhemos os exemplos bíblicos, entre outros… Vale lembrar que, assim como em Maratona, a luta não termina com aquela Vitória, pois os Persas retornaram em outros momentos para tomar Atenas. Mas, há um Feidípedes em cada um de nós que todos os dias percorre os caminhos possíveis para levar a mensagem de ânimo, necessária a todos os que dela necessitam. Como nosso herói, temos que saber passar a mensagem certa, do jeito certo e as pessoas certas para que não destruam suas esperanças depositadas na vitória do conservadorismo. Pessoas simples que dependem de boas notícias para continuar firmes em sua fé e em nossa nação. O poder de síntese é fundamental nestes momentos. Veja: E se Feidípedes, dissesse qualquer outra palavra naquele momento? Por exemplo: Água!!!( É claro que estava com sede) Atenas, embora tivesse vencido a batalha,não sobreviveria a uma mensagem não entregue. Um mensageiro tem a RESPONSABILIDADE de saber portar e passar a mensagem que leva. Portar na vivência da mensagem e passar no seu exemplo e verbalização. Por isso a importância de resgatarmos as definições dos temas que propomos, estudar nosso inimigo e criar estratégias para vencer as batalhas que virão nesta guerra pela vida e pela liberdade. Que saibamos não apenas passar a mensagem, mas sermos a mensagem!!! Que o Brasil precisa, tendo em nós a síntese de tudo que é importante para o futuro dos nossos queridos compatriotas. Assim como a vida daqueles gregos que nem se quer sabemos seus nomes ao todo; não nos preocupemos com fama, dinheiro, poder, em fim, se não, sermos os soldados que a nossa pátria precisa. E não pusemos se quer pensar que não venceremos!!!! Pois ao nosso lado estão os valores que a própria natureza humana, clama por se estabelecer. Quanto tempo, não sabemos. Quantas batalhas, não sabemos. Mas o importante a saber o nosso objetivo; estabelecer a bondade, verdade e a justiça em nossa nação. Lucas:9:62. “Quem põe a mão no arado e olha para trás não é apto para o reino de Deus” Que Deus abençoe nossa jornada! Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. I N.º 03 - ISSN 2764-3867
- Taxar nunca será a solução
Recentemente, recebi um exemplar do livro "1984" de George Orwell, um célebre escritor britânico. Em sua obra, Orwell ilustra um cenário político que considero apocalíptico. Três grandes potências dominam o mundo, há uma guerra de narrativas, a imprensa é controlada, os cidadãos são obedientes e temem o governo autoritário, não existe liberdade de expressão e não é para menos que todos os cidadãos são miseráveis, ao ponto de que, se você piscar errado, pode ser interrogado pelo Ministério do Amor. Parece ironia, não é mesmo? Mas o livro é uma mistura de suspense, ficção e realidade. Será que o autor estava prevendo o futuro? Hoje, vivemos um cenário geopolítico complexo, onde o autoritarismo ganhou escala em boa parte do mundo, independentemente da ideologia de governo. Porém, o fato que busco ressaltar é que quanto maior o Estado, mais pobre é a população. Deixe-me explicar. O Estado é o resultado de lutas históricas, sempre na busca de tomar territórios com base na força bruta e expandir a influência de alguma tribo. Os povos antigos marchavam com seus exércitos e a ordem era matar homens, estuprar mulheres e tornar as crianças novos soldados do povo invasor. A pilhagem, como era conhecida, foi a primeira forma de Estado que conhecemos. Com o tempo, as atrocidades eram legitimadas pelo povo invadido e o povo invasor tornava-se o protetor daquela tribo com o pretexto de protegê-la de possíveis novos invasores, quase como uma síndrome de Estocolmo. Porém, nada sobrevive muito tempo sem recursos e a cobrança de impostos foi a forma encontrada para manter as estruturas de um Estado, criando assim o Estado-nação. O Estado então se torna necessário para proteger os interesses de um povo, buscando gerar unidade de pensamento e isso se perpetua até hoje com os seus devidos aprimoramentos. O Brasil é uma nação com 210 milhões de habitantes e segundo dados da FGV, uma das instituições mais renomadas do país, o Brasil chegará em 2030 com 96% do PIB comprometido com dívidas. Um dado alarmante que deveria chamar a atenção das principais autoridades do país, mas, em suma, não é isso que acontece. Para sanar esse rombo nas contas públicas o atual governo brasileiro tem aumentado tanto os impostos que gerou uma onda de memes nas redes sociais, a ponto de furar a bolha da direita e chegar na base esquerdista que comanda o país. Historicamente, o Brasil é um país marcado por escândalos de corrupção e desvios de recursos públicos. O mensalão, por exemplo, foi um dos maiores escândalos políticos do país, onde bilhões de reais foram desviados dos cofres públicos para comprar apoio parlamentar. Esse esquema, que envolveu altos escalões do governo e do Congresso, não só minou a confiança nas instituições, mas também drenou recursos que poderiam ter sido usados para melhorar a vida dos cidadãos e reduzir a dívida das contas públicas. O Brasil é um país inchado, onde os privilégios ficam com os donos da máquina pública. Um exemplo claro são os cargos vitalícios no Judiciário e os altos salários que esses profissionais recebem. Esses privilégios, somados aos benefícios e auxílios, oneram significativamente as contas públicas. Enquanto isso, a população enfrenta uma carga tributária elevada e vê poucos retornos em termos de serviços públicos de qualidade. A combinação de corrupção, altos salários no setor público e uma carga tributária crescente cria um ciclo vicioso que impede o desenvolvimento econômico e social do país. A solução não está em aumentar os impostos, mas em cortar privilégios, combater a corrupção e gerir os recursos públicos de forma eficiente. Um Estado mínimo, focado nos pilares fundamentais de uma sociedade – saneamento básico, educação, segurança, saúde e respeito integral às liberdades individuais – é o caminho para um desenvolvimento sustentável. A taxação excessiva de bens de consumo impacta diretamente a vida daqueles que o atual governo jura proteger, pois o imposto sobre o consumo é um dos mais cruéis para as classes mais baixas. Ele corrói o poder de compra, levando as famílias a uma condição de subsistência, onde ter arroz e feijão no prato é um ato heroico. Impostos são necessários, apesar de indigestos, mas não podemos pagar 40% do que recebemos por ano para bancar salários de um judiciário autoritário e um governo ineficaz, enquanto ficamos com as sobras de um país subdesenvolvido. Taxar nunca será a solução. A verdadeira solução está no Congresso, que deve largar o osso e parar de olhar somente para suas necessidades imediatas. A solução verdadeira está no livre mercado, onde a circulação de mercadorias e a troca entre vendedores e consumidores deve ser livre de interferências. A solução está em um ambiente empreendedor dinâmico, incentivado por políticas públicas a correr riscos e gerar riquezas para si e para o país. O desenvolvimento está no cérebro e na força de trabalho de cada cidadão. A dinâmica é simples: o Brasil precisa deixar de ser um Estado empreendedor e criar incentivos para que os empreendedores gerem novas tecnologias e ideias, livres de amarras. O Estado deve deixar de ser corrupto, restaurar a confiança nas instituições e, impreterivelmente, reduzir seus gastos. Cabe a nós lutar e saber que não existe salvador da pátria; nós somos o motor e a mudança que este país tanto precisa. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. III N.º 44 - ISSN 2764-3867
- A isca dourada
Muitos conhecem a tartaruga-jacaré ou tartaruga-aligátor, animal natural dos pântanos e rios do sul dos Estados Unidos da América, conhecido por sua mordida poderosa que se assemelha a um jacaré. A criatura, de aparência assustadora, que remete ao período jurássico, usa um artifício para capturar suas presas, uma vez que, se tratando de um carnívoro que passa a maior parte do tempo submersa, facilitando assim sua camuflagem, precisa ser habilidosa o suficiente para caçar peixes que são consideravelmente mais rápidos que o réptil em questão. Na língua da tartaruga-jacaré é possível observar um apêndice que se destaca do restante do corpo, mesmo da parte interna da boca, parecendo uma espécie de minhoca ou verme que atrai os peixes. Acreditando estar diante de uma presa fácil, um pequeno ser que se debate no fundo de um rio ou pântano, sem conseguir se deslocar, o peixe ataca o apêndice sobre a língua do réptil que, aproveitando-se de sua rápida e forte mordida, abate sua presa, deixando claro que a promessa de uma caça fácil era tão somente uma armadilha para capturar o ágil peixe. A isca natural utilizada pela tartaruga-jacaré não é a única forma de método ardil para enganar e capturar uma presa, sendo certo que o termo isca nos remete um artifício que engana a caça para que seu caçador possa a capturar com maior facilidade. A palavra isca deriva do latim “ esca ”, que significa alimento, entretanto, há divergências de como o termo passou a se referir ao uso de alimento como forma de engodo, pois, para alguns, a alteração se dera naturalmente, uma vez que o alimento oferecido aos peixes sempre tiveram como objetivo enganá-los para uma captura, todavia, há quem defenda que a palavra seja a aglutinação entre o prefixo “i”, utilizado para dar ideia de oposição, como ilegal se opõe a legal, e a expressão em latim “ esca ” criando assim a forma isca que temos hoje, na qual a letra “e” acabou sendo suprimida. O conceito de isca não se aplica de forma restrita aos peixes, podendo ser utilizada para qualquer emboscada, fazendo com que o alvo tenha sua atenção focada para algo atrativo e, valendo-se do elemento surpresa, executando um ataque com maior eficiência. A isca pode ser para qualquer tipo de caça ou mesmo em situações de guerra ou outros confrontos, todavia, é importante mencionar que, algumas formas de ludibriar o inimigo podem e devem ser consideradas como desproporcionalmente abjetas, uma vez que, há limites morais que não devem ser ultrapassados mesmo nas condições mais adversas, daí a proibição de ações pérfidas ainda que se busquem argumentos para tentar justificá-las em razão do objetivo. Em verdade, não há como confundir o uso de uma isca com ações pérfidas, posto que, a primeira usa da astúcia para se valer da ganância ou ignorância do alvo, enquanto a segunda utiliza a mentira para se aproveitar da boa-fé daquele que se pretende emboscar. Mas é preciso lembrar que a manipulação do alvo está presente em ambas as ações, de forma que, pode-se dizer que o pérfido se utiliza de uma isca, de forma imoral, para atrair seu adversário que acredita na honra, inexistente, de seu algoz. Em síntese, o que difere a caça com isca da perfídia é que a tal modalidade ultrapassa limites injustificáveis, valendo-se de uma ausência total de moral de seu autor. A emboscada sempre se valerá de uma fraqueza da presa, entretanto, no caso da perfídia, entende-se que tal ponto fraco é aquilo que se espera de qualquer pessoa com o mínimo de moral, em síntese, um cessar fogo em que uma das partes alega ser necessário socorrer uma criança inocente ou que pretende negociar a paz, sendo usada como isca, torna o uso do engodo tão abjeto que mesmo em um cenário de guerra deve ser reprovado. A promessa de riqueza “ Guardai-vos escrupulosamente de toda a avareza, porque a vida de um homem, ainda que ele esteja na abundância, não depende de suas riquezas ” ( Lucas 12:15 ) É indispensável diferenciar a ganância do que podemos chamar e enriquecimento natural e justo, não há motivos para condenar que um indivíduo ou grupo colha os frutos daquilo que produz, ão se resumindo àquilo que os revolucionários convencionaram em chamar de trabalho, o que nos debruçaremos em breve, mas todo o resultado naturalístico de uma relação saudável de troca Não se pode condenar aquele que recebe os louros de uma invenção cuja funcionalidade é desejada por muitos, que produz algo que há demanda ou mesmo cujo talento realmente encanta os apreciadores, todavia, é sim reprovável a busca da riqueza pela riqueza, procurando atalhos, ainda que indecorosos para a ascensão econômica. O ladrão, o estelionatário e qualquer um que subtraia aquilo que sabe não lhe ser devido é um ganancioso desprovido de moral e, portanto, disposto a enriquecer de forma indevida, sabendo que sua ascensão significa o flagelo de outrem. É imperioso derrubar algumas falácias para que se compreenda a real condenação da avareza, mas, por enquanto, o foco deve ser a promessa de enriquecimento fácil. Quando se busca um exemplo de enriquecimento sem esforço, nada mais comum que a expressão “ganhar na loteria”, que remete a um jogo de aposta, não há como negar que a loteria é um jogo que usa da ganância para retirar pequenas porções de muitos sob a promessa de entrega de um grande prêmio. Apostando na sorte, os jogadores tentam adivinhar os números que serão sorteados, caso um apostador ou grupo consiga prever os números sorteados, receberá um prêmio pré-estipulado pela organização do jogo. Evidente que tal jogo de apostas não sofre quaisquer sanções uma vez que seu maior beneficiado, lembrando que em todo jogo de azar a “banca” sempre terá sorte, é justamente aquele que pode ou não proibir uma atividade. Evidente que o Estado goza de poderes negados ao cidadão, mais adequado ao discurso oficial seria assumir que os cidadãos abriram mão da autotutela em favor da segurança coletiva, de maneira que, não cabe ao credor reaver pela força um bem não quitado, não podendo se valer do exercício arbitrário das próprias razões, todavia, o Estado, mesmo diante de uma dívida formal como impostos sobre veículo, apreende bens particulares para forçosamente obter do cidadão o pagamento do imposto, tornando-se uma espécie de credor privilegiado. Aproveitando-se de tal vantagem, o poder público, observando o risco de uma sociedade composta por uma maioria de apostadores inveterados, buscou mitigar o acesso aos jogos de azar, proibindo-os, contudo, ao perceber o potencial lucrativo no que tange à exploração da ganância em sua forma mais rasa, o mesmo Estado se tornou a maior banca de jogos, permitindo que a chama do enriquecimento fácil se mantivesse acesa no imaginário popular. Na loteria, basta que um apostador, em um golpe de sorte, ascende à condição de milionário para outros tantos busquem trilhar o mesmo caminho, de forma que, a vitória de um, não se trata de mero enriquecimento, mas da criação de uma isca para que a grande maioria, que não será alcançada pela sorte, mantenha as engrenagens do jogo em total funcionamento, drenando dos indivíduos para alimentar a banca. A ludopatia não é enfrentada pelo poder público justamente por ser o próprio Estado um dos maiores, senão o maior, beneficiados por tal condição, não sendo restringidas as propagandas de jogos como ocorre com o cigarro e o álcool, e ainda, nos casos das loterias estatais, sequer há um aviso do risco à saúde. Além dos jogos de azar que parecem ser guiados tão somente pela imprevisibilidade, há também as apostas em atividades desportivas, na qual o apostador escolhe um favorito, ou resultado específico, para tentar o ganho. As apostas em esportes como corridas de cavalos e outros tantos, lembrando que atualmente há em curso uma explosão de apostas no futebol, tratam de resultados que, em tese, não se resumem ao acaso, mas da análise dos envolvidos. Cabe uma breve pausa para apontar o quão perigoso é a ligação entre dirigentes, jogadores e clubes e as casas de apostas, cada vez mais, fica evidente que clubes e atletas são patrocinados pelas agenciadoras dos jogos, criando assim uma relação no mínimo curiosa, para não dizer suspeita, entre os atores em campo e nos bastidores do futebol e figuras que, conforme o resultado, poderão aferir maior ou menor vantagens. Não bastassem tais modalidades de jogos de azar, os gananciosos apostadores acabam por se seduzirem pelos jogos de aposta virtuais, aplicativos que ofertam recompensas conforme a alegada sorte do jogador, todavia, tais aplicativos são programados de forma que, aquilo que se chama de probabilidade pode ser preestabelecida pelo programador. No mundo virtual o programador é o senhor da realidade, uma vez que, sendo virtual, os resultados podem ser estabelecidos conforme a conveniência daquele que criou ou editou o sistema. Eis a maior crítica ao sistema virtual de votos. Imaginemos que o programador de um sistema que simule uma esfera que gira e sorteia aleatoriamente pequenas bolas contendo números, como as tradicionais loterias, estabeleça no código fonte que a probabilidade de um determinado número ser o escolhido é trinta vezes maior que os outros, em uma situação real, seria possível observar alguma alteração nas bolas que contém os números, entretanto, em uma realidade virtual, não há como perceber quaisquer diferenças, pois a realidade virtual permite a flexão irreal, ou seja, a distorção conforme a base da programação. Em uma aposta virtual, tudo aquilo que se atribui à sorte, é, na verdade, uma narrativa para que a presa acredite que obterá um resultado aleatório quando está diante de um sistema que entrega resultados preordenados camuflados de aleatoriedade. Por mais que o predador, como um grande tigre, finja que te deu uma vantagem para equilibrar o jogo, sendo que a vitória da presa depende tão somente do fortuito, ao acreditar nisso, a vítima já mordeu a isca e se encontra dentro do alcance do salto do predador. O único objetivo do tigre é que o alvo deixe sua lança de lado e entre no campo de batalha, uma vez que, suas garras e pressas lhe propicia uma vantagem natural. Os encantadores de incautos Não obstante ao uso dos jogos de azar como forma de seduzir os gananciosos, existem outras formas de alcançar os corações famintos por fama e riqueza. Nada é mais encorajador que observar o sucesso daquele que se enveredou pelo caminho pelo qual se pretende seguir, para isso, basta que histórias de sucesso sejam amplamente divulgadas com o intuito de arrebanhar tantos outros que desejem a mesma sorte, omitindo, porém, que a seleção, como uma fina peneira, ou ainda pior, uma farsa está entre o sonho e a realidade. Seguindo a mesma lógica do ganhador da loteria, que se trona milionário da noite para o dia, há determinados famosos que ascende de forma ímpar, em alguns casos de maneira inexplicável, para que sirvam de inspiração aos que almejam igual “sorte”, neste caso em ambos sentidos. O encanto está lançado e a ganância fará o resto, de tal forma que, um jovem deslumbrado com a vida glamorosa dos ricos e famosos tentará atingir aquele patamar de forma tão cega que não se furtará em atropelar a moral ou se prostituir, destruindo sua dignidade pelo caminho, caso o esforço acabe em frustração, não restará nada além de um indivíduo aquebrantado e faminto por qualquer esperança de alcançar a fama ou a riqueza que acreditou que faria jus um dia. Não por acaso, crianças desejam mais uma camisa de determinado jogador de futebol ou buscam imitar os passos de uma cantora famosa que estudos ou o próprio convívio familiar, se inspirando em celebridades que, por vezes, ostentam riqueza como forma de atrair seus seguidores, confundindo os mais incautos que, movidos pela ganância, deixarão de lado valores inestimáveis por acreditarem que o sucesso como ser humano reside em vomitar o luxo diante de uma situação em que a moral é aquilo que se tem como mais valiosa. Para agravar tal cenário, quando a empreitada em busca da fama e riqueza não atende as expectativas de determinado indivíduo, entender-se-á como um fracassado e não aceitará a situação real em que se encontra. O conhecido termo “artista fracassado” é nada mais que o jazigo de uma sonho frustrado que foi alimentado, por vezes, ao arrepio da realidade, sem que houvesse o preparo para os casos em que a meta não fosse atingida. Há ainda aquele que serve de isca, aquele que vive naquilo que acredita ser o sucesso mas é tão somente um aquário nefasto que o isola da realidade em troca do favor, ser o exemplo para os desavisados, que presta ao mal maior, ou seja, vive regado a luxos que não seriam lhe ofertado caso não existisse o especial fim de convencer os tolos gananciosos que existe um caminho fácil para a ascensão social traçado aos que se sujeitarem aos desejos dos mestres, aqueles que puxam as rédeas da sociedade. O valor de uma isca está na quantidade ou qualidade daquilo que é capaz de atrair, logo, uma figura cuja influencia seja tão forte a ponto de alterar decisões de seus seguidores deve receber tantos afagos o quanto seu valor justificar, todavia, caso tente romper com as engrenagens será ostracizada de seu meio, se possível, sua fama lhe será retirada e até mesmo sua riqueza. Refém do sistema que o alimenta, a isca nada pode fazer além de servir ao seu propósito, colhendo cada vez mais consciência para que seus mestres acumulem poder real, em troca das migalhas que se traduzem no luxo que pode usufruir. Não por acaso, artistas se dobram aos anseios de uma força política dominante, como fizeram nas nada saudosas União Soviética e Alemanha nazista, servindo como chamarizes para que o povo, cativo pelo seu carisma, ainda que artificial, deixe-se seduzir por discursos consonantes aos interesses da elite política. O meretrício intelectual está presente quando tais figuras avalizam as narrativas de seus senhores sabendo que sua fama lhes garante a simpatia dos tolos. Não menos oportuno observar que os hábitos dos indivíduos se contaminam conforme o exemplo daqueles que decidiram se espelhar, como jovens que regulam sua moral de acordo com o posicionamento de artistas e pseudointelectuais em detrimento dos anciões de seu convívio. Basta uma fração de segundos para que nos venha à mente jovens que tem pais, tios e avós de caráter ilibado, mas que pautam suas decisões conforme a postura de pensadores revolucionários transloucados, sectos de grupos acometidos pela esquizofrenia minoritária ou artistas que imitam pinípedes como forma de chamarem a atenção. No cenário atual, tanto a isca quanto a presa são tolos que servem aos senhores da revolução, sucumbindo à ganância, sendo alimentados de riqueza ou sonhos, procurando uma vida de utopia doentia em que seus mestres garantiram seu futuro, sem perceberem que sua vida está sendo entregue nas mão das figuras mais detestáveis, seja por terem se prostituindo em troca da fama ou por buscarem uma ilusão que os reservará um futuro trágico. “ O fraudulento não há de morar jamais em minha casa. Não subsistirá o mentiroso ante meus olhos ” ( Salmos 100:7 ) As embalagens vazias Um tema que já abordamos anteriormente, mas que é indispensável para que possamos perceber o quão a isca é refém do sistema que integra, sendo, na maioria das vezes criada e manutenida por seus mestres. Por tal razão, tratar do tema tornou-se recorrente quando precisamos entender os métodos revolucionários atuais, posto que, como as massas utilizadas pelos líderes são moralmente deficientes, é preciso que os encantadores sejam igualmente fúteis. “Embalagens vazias estão sendo cada vez mais utilizadas para propagar conteúdo, humoristas que não fazem rir, cantores que tem como única utilidade promover uma pauta, influenciadores que nada tem a dizer e outros tantos. A alternativa é sem dúvida uma jogada de mestre, pois, como qualquer embalagem vazia é facilmente substituída, não tem conteúdo, torna-se refém da vontade de seus mestres” . O papel das embalagens vazias é alcançar o maior número de pessoas, reduzir-lhes os critérios para que aceitem qualquer coisa como valiosa, assim o que chamamos de A Grande Torre de Marfim e suas repetidoras, podem exercer o controle sobre tais influenciadores e seu público. O incentivo à vida degenerada, abuso de drogas e lasciva exacerbada, sendo daí a vontade de banalizar o aborto, decorre da necessidade dos líderes revolucionários em se valer do lumpemproletariado . Assim sendo, “a glamorizarão da vida boemia e das drogas é explicita na manifestação cultural, as embalagens vazias (influenciadores que nada tem a oferecer e são colocados em tal condição para servir como o Flautista de Hamelin), o chamado funk ostentação seduz os incautos a abraçarem uma cultura de orgias regada ao luxo, vendendo uma falsa ilusão”. Em uma realidade na qual é preciso convencer as massas a seguirem comandas que não sabem quais os fins, fica evidente que a criação artificial de ídolos é uma forma de manter sob o cabresto dos líderes todo aquele que se comunica com as massas, nada mais útil que um ser que sabe dever seu “sucesso” ao sistema que o alimenta, assim, tal como na academia, ocorre a retroalimentação. Vivendo como se cada dia fosse o último e sem quaisquer preocupações em relação à moral e o legado às gerações futuras, os “bem-sucedidos” caçadores de emoções entregam sua dignidade em troca de fama e dinheiro com meretrizes. “Cada vez mais emergem indivíduos que não possuem real valor aos seus pares, que como arautos do mal, seduzem os mais incautos ao precipício em troca de prazeres momentâneos em uma espécie de acordo nefasto do qual acreditam obter uma vantagem que justifica a vassalagem aos piores senhores. São os agentes que gosto de chamar de embalagens vazias, de fácil reposição e, por isso, totalmente obedientes” . Ao final, vivendo em suas bolhas luxuosas, não importam se condenam aqueles que os admiram, pois sabem que tal admiração é um produto artificial e que sua única serventia é propagandear aquilo que seus mestres mandarem, ainda que seja enaltecer uma ditadura nefasta como a norte-coreana, haja vista que, sua ganância os despira de sua humanidade, mesmo que estivessem bailando sobre cadáveres, pouco se importariam com aqueles que sacrificam em nome de seu sucesso. “O elo entre a Torre de Marfim e as hordas, precisa ter forte influência entre seus seguidores, devem acreditar estarem em uma condição especial e precisam temer a perda de sua posição. Tais elementos se tornam mais identificáveis nas chamadas embalagens vazias, posto que, por serem peças de fácil descarte, não podem se opor aos seus senhores. A beleza reluzente dos bailes atrai os mais frágeis como a luz faz com insetos, podendo deixar-lhes cegos em relação a tudo aquilo que o cerca, sendo uma armadilha fatal. Mas viver entre o glamour da dita alta sociedade, gozando do luxo, cobra um preço para tais indivíduos que, se forem atingidos por alguma dosagem de moral, recusar-se-ão pagá-lo. Quanto mais dependente do aparato for o agente que serve de elo, mais se submeterá aos desmandos de seus senhores, fazendo com que a elite revolucionária tenha total controle sobre sua existência. Imaginemos um artista de grande influência se sujeitar a uma exposição na qual faz um papel de total idiota para que as explanações de seu interlocutor, na forma de ensino, possam atingir seus seguidores”. A isca é um instrumento de enganação que será usada para capturar a presa, portanto, todo aquele que tiver a oportunidade deve se recusar a servir como isca e aquele que perceber a armadilha precisa se proteger e alertar aos seus pares do mal que os espreita. Nossa missão, como seres humanos é suportar a sedução do mal e enfrentar aqueles que o servem, sob pena de nos tornarmos culpados pela omissão, por isso nos compete denunciar as armadilhas que pretendem cooptar os mais inocentes antes que seja tarde. “ O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons”. Martin Luther King Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. III N.º 43 - ISSN 2764-3867
- Hades, Deméter e a representação na Constituição
Cronos dividiu o Universo em três partes: ar, mares e mundo subterrâneo. As ofereceu a cada um de seus filhos, assim, Zeus tornou-se deus dos ares, Poseidon deus dos mares e Hades deus do mundo subterrâneo. Hades tinha o poder da invisibilidade e, pensa-se que por causa da falta de luz, possuía um coração impiedoso, era implacável no julgamento das almas vindas da superfície, e cuidava das riquezas minerais do universo. Vivia muito solitário. De seu palácio escuro, assistia Deméter lançar sementes sobre a terra e espalhar amor por onde pisava para fazê-las frutificar abundantemente. Era a deusa da semeadura e da colheita. O amor espalhado por ela também frutificava através do perfume das flores, da beleza de suas cores e da sombra das árvores que ofereciam descanso e convidavam à contemplação. Sua filha, Core, colhia as lindas flores nascidas do valoroso trabalho da mãe e com elas enfeitava o templo de adoração que lhes era dedicado, cuidava das abelhas e do mel. Enfeitar e adoçar a vida era sua atividade matinal diária. Era uma deusa lindíssima, doce cuja delicadeza dos modos e bondade para com os seres do mundo enchiam o ar de acolhimento e generosidade. Deméter descansava exatamente no horário em que Core colhia as flores, gostava de observá-la, isto enchia seu coração de alegria, a recuperava do dedicado trabalho de fertilização, e fortalecia seu propósito de gerar abundância. A beleza de Core era tão radiante que Vênus a invejava, Hades se sentia incontrolavelmente atraído por ela e decidiu vencer a distância que os separava para partilhar a vida a seu lado. Core era cheia de luz, cor e perfume, o tiraria das garras da solidão. Atrelou os cavalos à carruagem e subiu à superfície, a luz do Sol o perturbava, escondeu-se entre rochas à sombra de uma árvore. Ao avistar Core completamente desprevenida, o deus, inesperada e abruptamente, a arrasta para sua carruagem, abre uma profunda fenda no chão e nela mergulha levando a moça, que se debatia e gritava por socorro. Sua ação foi tão brusca e surpreendente que Deméter não conseguiu ajudar a filha. Seu ser inteiro mergulhou em tristeza profunda, pois além de saber que Core havia sido subjugada pelo temido Deus do mundo dos mortos, insensível como as pedras e cortante como os metais, sabia que a beleza, a bondade e o encanto da filha não resistiriam à falta de luz. A ação de Hades interrompera o movimento circular de doação e recebimento, ida e vinda do amor, generosidade e beleza. Era este ciclo diário que habilitava Deméter a prover a fartura na superfície da terra. À doação de amor realizada por Deméter através da semeadura, correspondia o prazer de assistir a colheita, contemplar o trabalho da filha, de belíssimo caráter e inteira dedicação ao embelezamento da vida. Estes momentos eram entendidos, pela deusa, como retorno da generosidade e do amor distribuídos por ela no plantio. Violado este curso de doação e recebimento o ciclo de amor, Deméter tornou-se incapaz de prover a fartura na superfície, o desespero a impedia de plantar, cultivar e colher. A escassez instalou-se no mundo e com ela a fome, a tristeza, o medo e revolta. A vida depende da presença real e permanente do amor. Zeus, irmão de Hades e Deméter, interveio, não convinha ao mundo a devastação da vida. Promoveu um acordo entre os dois deuses: Core passaria um quarto do ano com Hades, no mundo subterrâneo, e três quartos na superfície com Deméter. Assim, quando Core sobe à superfície, terminado o trimestre subterrâneo, o mundo do ar se enche de flores, canto dos pássaros e as abelhas enchem os favos de mel. No trimestre seguinte, os frutos eclodem em abundância, a vida se multiplica, e no trimestre que precede sua volta para Hades, a Terra perde aos poucos a doçura e a vivacidade, as folhas amarelam e caem, pois Deméter se entristece com a proximidade da ausência da filha. Dessa forma, a superfície da Terra passou a viver ciclicamente quatro estações: primavera, verão, outono e inverno. Deméter estava certa, a falta de luz transforma Core em Proserpina, criatura bela, mas sombria e sem domínio de sua própria curiosidade, somente a Luz da superfície e a fluidez do ar restauram sua essência e a transmutam em Core. Entretanto, a essência de Core é o amor, a bondade, o embelezamento e adoçamento da vida, assim, ela aprendeu a amar Hades e com ele teve uma filha, Macária, deusa da boa morte. Apesar de sua natureza voltada ao favorecimento da vida, da beleza e da doçura, Core não consegui mudar a natureza implacável de Hades, personalidade afeita ao julgamento e à dedicação ao mundo da morte. Os esposos tinham natureza muito diversa, mas através de Macária, Core acrescentou, à morte, sua essência bondosa. O mais importante é que Core fez brotar no coração de Hades um amor profundo, por isso, acredita-se que um dia, o mundo subterrâneo se encherá de Luz. A diversidade de personalidades existente entre os seres mitológicos Hades, Deméter e Core, retratam a diversidade inerente à natureza humana. Para evitar que uns se sobreponham a outros, no ambiente do Estado, através da violência, surpresa, e outras condutas que revelam desrespeito à dignidade humana, as normas constitucionais fixam limites, prioridades e, sobretudo, estabelecem o dever de conciliação dos interesses, com fundamento na dignidade da pessoa humana para realização do objetivo estatal da promoção do bem de todos. Um dos limites constitucionais às ações individuais, eventualmente prejudiciais ao bem-estar alheio, é o pluralismo político expresso pelo artigo 1º da Constituição brasileira de 1988, como um dos elementos protetivos da liberdade individual que caracteriza o sistema democrático. O pluralismo político é escolha constitucional pela livre expressão da personalidade e da percepção de vida individual. Se opõe ao totalitarismo de Estado. Serve à harmonização das diversidades humanas. Ocorre que a Democracia tem a finalidade de assegurar o bem-estar de todos, e os agentes públicos estão inafastavelmente vinculados a esse compromisso constitucional. A democracia somente sobrevive com a submissão de todos os interesses ao dever de otimização do bem-estar geral. Por essa razão, a partir do instante em que o indivíduo assume cargo ou função pública deixa de representar parcela da sociedade e passa a ser agente de Estado, a serviço do bem de todos. Os cargos públicos têm como única finalidade a proatividade para concretização dos objetivos de Estado. Interesses específicos, expressos por plataformas partidárias, somente são legítimos como interesses secundários, submissos à harmonização com o bem-estar de todos. A maturidade e realidade democrática se materializam com a superação do pensamento Rousseauniano de que a vontade geral se opõe ao interesse individual. Este pensamento servia unicamente às democracias diretas, em que não havia limites para as decisões das assembleias. Estas eram arbitrárias e desde que referendadas pela maioria, podiam, inclusive, violar a dignidade humana. O funcionamento democrático mostrou-se inconciliável com este pensamento e o sistema de representação política revelou-se uma evolução para garantia de limites mínimos, impostos ao poder público, estabelecidos pela normatividade Constitucional. Através do sistema representativo os voluntarismos, no exercício do poder estatal, são contidos pelas normas constitucionais, mormente pelas que estabelecem os fundamentos e objetivos de Estado. Tais normas, determinam que os agentes públicos se desvistam dos interesses parciais que possam tê-los influenciado a buscarem os respectivos cargos, e assumam o compromisso único com a produção do bem de todos, que é a função de Estado. Os interesses parciais precisam ser considerados nas decisões finais, mas não são um fim em si mesmos, a finalidade absoluta é a promoção do bem-estar de todos. Postura diversa conduz a atritos desagregadores dos agentes públicos e violam o compromisso de cooperação para a realização dos objetivos de Estado. A Constituição não tutela atividades de priorização de interesses de parte da população em detrimento do dever de promoção do bem de todos. Todas as ações afirmativas vinculam-se ao balanceamento de seu potencial cooperativo para a concretização do bem-estar de todos. As condutas e ações, de agentes públicos, de priorização de interesses segmentados, como valores absolutos, é inconstitucional por ofensa aos objetivos do Estado Brasileiro, desvirtuam a finalidade de existência dos cargos públicos, no Estado democrático. Tal desvirtuamento lembra o domínio subterrâneo de Hades, com seu coração pétreo, sua dedicação aos metais, e aos julgamentos implacáveis da alma humana, cuja falta de piedade se revelou mitologicamente oposta à vida e à abundância na Terra. A prioridade cega à satisfação dos interesses individuais é irrazoável porque se todos agirem sem piedade todos pereceremos. Numa democracia, os interesses motores dos agentes públicos precisam ser claramente voltados ao benefício de todos, não podem estar encobertos pela escuridão do mundo subterrâneo, que garante a Hades o poder da invisibilidade. Interesses ocultos pela escuridão, em geral, se opõem ao bem-estar de todos, atraiçoam os cidadãos e, tal como foi feito à Core, os aprisiona violentamente ao jugo de interesses menores. A democracia e o sistema representativo somente vicejam quando os interesses trabalhados pelos agentes públicos, piedosa e maleavelmente, cooperam para o bem-estar de todos, e são postos à claridade, para que a Luz da superfície os vivifique e faça frutificar. Parece que somente esta disposição interna dos agentes públicos é capaz de dar força aos valores democráticos e nutrir a prosperidade humana. A representação política nas democracias somente é real se cada agente público tiver como foco de desempenho de suas funções o zelo pela promoção do bem de todos. Cuidemos para que nossas ações façam brotar o amor semeado por Deméter em suas plantações, e possam dar-lhe gosto à contemplação, assim ela estará reabastecida de força vital, generosidade, e beleza, necessárias para sentir-se apta à semeadura e colheita de doces e inesgotáveis frutos no mundo da superfície. Se assim for, seremos prósperos, poderemos nos acompanhar e apreciar alegremente o caráter uns dos outros, estaremos livres da solidão, a mesma que atormentava Hades. Se até seu coração pétreo e sombrio se encheu de amor por Core, nós que habitamos a superfície, o mundo do ar, temos mais chances de aprender a amar a humanidade para alimentar a vida e, por isso, gerir o Estado de um modo favorável à abundância e prosperidade de todos. A Luz do Amor nos ilumine! Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. I N.º 02 - ISSN 2764-3867
- O custo de vida e o custo da vida
Desde criança ouço falar sobre o custo de vida, hora alto, hora relativamente baixo, porém sempre é o radical dos assuntos que dizem respeito a política. A economia ramo que abarca esse tema, tem sido explorada de várias maneiras pelos agentes do estado, mídia, empresariado e os interessados. Há que considerar a importância de proporcionar à população um custo de vida adequado aos seus ganhos financeiros e nisso todos concordamos. Além da cesta básica, lazer, saúde, vestimentas, segurança, etc... também compõem o custo de vida. Se há um sonho para nossa sociedade nesse momento histórico é poder viver dignamente e esse é um anseio legítimo. Com tudo, quero chamar atenção para um outro aspecto tão ou mais importante, que é o custo da vida. Quando tratamos do custo de vida, nós abordamos o aspecto físico -material- da vida, pois é o que nossa educação nos impõe, faz séculos; mas quer propor uma abertura da visão sobre a vida e como sempre, uma reflexão. É fato que estamos lutando por um país melhor? Sim, mas em que aspecto? Pois o materialismo já se mostrou um fracasso para a dignidade humana. No campo sociopolítico, temos que lutar incessantemente pela nossa qualidade de vida? Sim, mas de que vida estamos falando? Seria uma existência materialista que só nos faria parecer cada vez mais como animais, que dominados pelos instintos, buscam apenas, caçar, comer, beber, brincar e procriar? Penso ter deixado claro que quando falamos em “custo de vida” falamos do aspecto materialista da vida, e tudo bem, pois é real este aspecto da vida. Porém, não nos esqueçamos que existe também pelo menos mais um aspecto da vida ao qual devemos nos atentar; o aspecto conhecido como espiritual, que também é legítimo e mesmo com seus vários conceitos, indiscutivelmente real para o serviço humano, e é aí que tudo muda. Conhecido também como aspecto sutil, o aspecto espiritual, caso seja ignorado, pode comprometer toda a vida, seja ela material ou espiritual. Vejamos: temos dedicado todo nosso esforço, energia e intelecto para conquistarmos um padrão de vida ideal porém tudo que temos conseguido são algumas migalhas que o materialismo nos proporciona após algumas pequenas vitórias que são sempre muito passageiras e muito dependentes do contexto histórico, onde ora a demanda é pela moralização do judiciário, pela vida, contra o aborto entre outras demandas, e embora a vitória seja certa, porque não temos tido tanto sucesso quanto esperávamos na nossa luta contra esses aspectos negativos? Vamos refletir? Em Romanos 12:21 o apóstolo Paulo nos recomenda uma tática infalível para termos sucesso na empreitada da vida, e é o seguinte “conselho”: “Não vos deixeis vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem”. O de está o valor lógico desse versículo? Vejamos: se a minha luta é contra alguém que prática o mal logo se minha atitude julga ser contrária ela deve ser impulsionada pelo amor movida por sentimentos nobres pois se luto contra alguém que praticou ódio odiando-o logo estou dando força ao próprio ódio. Não parece claro? Ser vivo em uma sociedade onde o materialismo impõe seus resultados e a sociedade então vive de tal forma desonesta, violenta e desumana se preciso que essa sociedade tome um caminho contrário devo apresentar elementos, que nos leve a uma conversão que nesse caso eliminarão os sintomas que citei acima. Ouço muitas pessoas que ao mencionarem suas lutas contra a determinadas personalidades ou até mesmo instituições, destilam o seu ódio e raiva, com vontade muitas vezes de eliminar a vida de seus oponentes, portanto se de um lado vejo os resultados de quem opera o próprio ódio, como poderei eu querer combater os resultados do ódio sendo eu o portador do ódio? Não nos parece este o conceito de loucura? " Fazer a mesma coisa esperando resultado diferente". Talvez aí esteja um ponto importante para reflexão, se queremos um mundo melhor temos que apresentar pensamentos, sentimentos e atitudes melhores pois não podemos combater o mal com o próprio mal, do contrário iremos apenas nos deparar com o mal do outro ou com o nosso próprio mal; e por ignorância caminhamos dando força àquilo que queremos eliminar. Talvez o mundo esteja cada vez mais difícil, materialista e com tantos sentimentos negativos porque de alguma forma colaboramos com isso quando nos deparando com tais atitudes, agimos da mesma forma pensando que agimos com força contrária, mas estamos no mesmo fluxo, apenas nos iludindo. E aí está o radical da nossa reflexão; quanto custa da vida agirmos errado pensando em melhorar o nosso custo de vida? Quanta saúde tem alguém que vive baseado no ódio, nos sentimentos mais baixos? Quanto de vida tem alguém que segue no caminho contrário dos sentimentos que quer ver nascer no mundo? Pensemos sobre como queremos justificar nossa luta, se com valores altivos ou com a pobreza das mais baixas emoções… Sejamos nós então os portadores dos elementos que faltam à nossa sociedade, caso contrário seríamos como o cão que corre atrás do rabo, pois aquele que busca justificar sua vida fora daquilo que lhe é próprio, está morto mesmo sem saber, e isso serve para nossos ideais. Nesta questão, há muitos que dizem que Cristo veio ao mundo e de nada adiantou, pois o mundo está cada vez pior, porém sabemos que ele foi vitorioso, pois sem sua presença talvez nem estivéssemos aqui hoje. Lembremos que ele não veio para fazer por nós, mas para nos mostrar o caminho e é inexorável que uma vez por seu caminho, não cheguemos ao paraíso. Que Deus abençoe nossa jornada! Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. III N.º 43 - ISSN 2764-3867
- A concretude do real
Viver não é fácil. E quem disser que é, está mentindo. As nossas construções mentais esbarram, de foma prática e até impiedosa, nas limitações da realidade. Ao longo da vida, passamos inúmeras vezes por essa situação, que ocorre quando, como dizia Cazuza, “as ideias não correspondem aos fatos”. No momento em que isso acontece, ou seja: quando nós idealizamos algo que não pode se concretizar, do modo que desejamos, surge uma escolha: a de qual reação teremos, diante do que se apresenta para nós. E é nesse exato momento que os maduros e os imaturos se distinguem. O ser humano vive rodeado de paradoxos. Ele ama, mas não quer se entregar. Ele está sem dinheiro, mas sai e gasta o que não tem. Ele quer ser mais saudável, mas passou a noite na bebedeira. A contradição reside em nós, e a única forma de lidar com ela é encarando-a de frente. Com base em tantos paradoxos, nós projetamos uma série de eventos mentais, os quais não tem condições de se materializar, por inúmeros motivos diferentes. Inclusive porque nós podemos ter feito tudo errado, apesar de termos desejado muito aquele resultado, que não ocorreu. Contudo, o problema reside na nossa reação, quando as coisas não acontecem conforme imaginamos. O imaturo sempre reagirá de modo destemperado. Seja tomado por ira, soberba, orgulho, vaidade, vitimismo ou frustração, sua reação será sempre desequilibrada, como se a vida estivesse contra ele e o resultado fosse imerecido. A pessoa madura, que desenvolve as suas virtudes, entretanto, reage de outro modo àquilo que lhe acontece de forma diversa da que aguardava. Ela simplesmente compreende que não pode controlar tudo. E que também teve sua parcela de participação naquele desdobramento. Essa maturidade chegou-lhe, provavelmente, por meio do desenvolvimento de espiritualidade, religiosidade, gratidão e das virtudes cardeais da temperança, da prudência, da fortaleza e da justiça. Logo, seus critérios do que seria justo ou merecido são mais elásticos, por compreender que as coisas são como devem ser, pois há algo superior a nós, que detém uma inteligência e uma sabedoria divina, as quais não dominamos. Então você está apaixonado por alguém. Você faz mil planos, projeta um futuro maravilhoso, imagina muitas coisas com aquela pessoa. Porém, em uma atitude inesperada, ela se afasta de você, torna-se inacessível, não te responde mais, retrai-se. Aquela amizade que você tinha em alta conta te decepciona. Faz algo inaceitável, trai a sua confiança, expõe você. É desleal. Isso te fere e faz sentir-se péssimo. Você perde o emprego dos seus sonhos e cai de paraquedas no mercado de trabalho, já com mais idade e sem saber bem para que lado ir, sentindo-se completamente desamparado, desmotivado e inseguro, em relação ao seu futuro. Sobretudo porque seu chefe comunicou-lhe com frieza e zero empatia. Existem duas atitudes possíveis, nessas circunstâncias e em muitas outras. Você pode ser tomado pela raiva, deixar uma mensagem malcriada, sair por aí difamando essa pessoa, queixando-se do modo com que foi tratado… ou você pode tentar compreender os motivos daquela atitude (deve existir pelo menos um). Você pode ter um olhar generoso e acolhedor, colocando-se no lugar dela, compreendendo que pode não ser algo pessoal: ela pode estar atravessando um momento ruim. Se foi justo, correto, adequado – dirão os afoitos e imaturos que não. Entretanto, nós não controlamos as situações e as reações, precisamos ter a exata dimensão da nossa pequenez e simplesmente compreender que há coisas que não podemos modificar. Na concretude do real, vamos seguindo pela vida, percebendo com a maturidade, que nem tudo que projetamos pode realizar-se no mundo. E vamos nos humanizando. E nos tornando pessoas mais calmas. Comedidas. Equilibradas. Em uma busca sincera da verdade. Menos fofoqueiros. Menos maldosos. Mais amorosos. Menos raivosos. Não pensem que é fácil. Passamos a vida ouvindo receitas e fórmulas prontas, sobre como devemos nos comportar, nas mais variadas situações. Aprendemos que “bateu, levou”. Revidamos para não parecermos idiotas, aos olhos dos outros. Perdemo-nos na opinião alheia (aliás, como as pessoas tem opiniões sobre tudo o que não lhes diz respeito, mas não enxergam um palmo à frente, quando se trata de suas próprias vidas). O ser humano tem respostas para quase tudo que não lhe atinge. Quando compreendemos que revidamos com agressividade, raiva, maledicência e histeria, porque somos imaturos e não sabemos dominar nosso complexo de inferioridade, nosso medo de rejeição e nossa preocupação com a opinião alheia, teremos caminhado muitos passos, rumo à maturidade e ao equilíbrio pessoal. É utilizando essas oportunidades para o aprimoramento pessoal e a renovação da nossa fé em Deus e no que a nossa existência, certamente, nos reserva de bom, que vamos nos tornando pessoas melhores, mais sábias e evoluídas. É nos momentos de frustração das expectativas, que distinguimos quem é quem. Adequar as expectativas aos reveses do caminho é a escolha mais acertada, sempre. Olhe para cima, faça uma prece e confie em Deus. Afinal, Ele conduziu-te e guiou-te até aqui! Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. III N.º 43 - ISSN 2764-3867
- A ilha dos famintos
O mito de Adônis nos apresenta uma feroz criatura que, enviada por Ares, é encarregada de mandar ao Hades o jovem amado por Afrodite. Enciumado, o deus da guerra enviara, para alguns se transformara, em um javali que após atingido por um dardo laçado por Adônis, conseguiu desferir um ataque fatal contra o jovem. Fonte da imagem: https://www.mitologia.pt/o-falecido-adonis-de-autoria-228200 Adônis era fruto da relação incestuosa de Mirra e seu pai, o Rei Téias de Assíria na Mesopotâmia, que ao descobrir que fora enganado pela filha ordenou sua morte. Os deuses decidiram ajudar Mirra transformando-a em uma árvore, da qual, nascera Adônis, cuja a beleza encantou Afrodite, para alguns uma vingança de Mirra, por ter a deusa feito a princesa apaixonar-se por seu pai. Adônis foi acolhido por Afrodite e criado pela deusa do submundo, Prosérpina, que também se encantaria pelo jovem, tornando-se motivo de disputa entre as duas divindades. Entretanto, Adônis se apaixonara por Afrodite, dividindo com ela a maior parte de seu tempo, sendo esta a motivação dos deus da guerra, amante da deusa. Movido pelo ciúme, Ares envia o javali para ceifar o belo jovem, que sucumbe ao ser atacado pela fera, morrendo antes da chegada de sua amada. A morte de Adônis deixa evidente que uma criatura selvagem pode ser o meio qual tira-se de alguém aquilo que ama, parecendo uma obra do acaso, o ataque do javali atinge os anseios do deus da guerra. Não por acaso, a figura do javali fora trazida da mitologia antiga, uma vez que, no cenário atual temos a mesma criatura do mito como um provável, mas não mais relevante, algoz do frágeis humanos que são vítimas de planos dissimulados de tiranos impiedosos. Talvez o próprio deus da guerra invejasse a crueldade dos déspotas atuais. Uma das medidas de governos totalitários, ainda durante sua escalada ao poder, é restringir, ao máximo, o acesso às armas de fogo aos cidadãos, mantendo assim o monopólio da força nas mão do Estado, ou ainda pior, dividindo-o com organismos criminosos que atuam sob as bênçãos de atores do poder. Um conluio necessário entre políticos e marginais revolucionários para que, de mão dadas, pressionam a população refém em favor de sua persecução ao poder. Utilizando-se da falácia de que o armamento civil resulta em mais violência, alegando que armas de caçadores são usadas para os mais diversos crimes, argumento vazio que ignora a máxima que infratores não se enquadram às normas, os revolucionários tentam impor o desarmamento. Somente um idiota pratica crimes e usa o seu próprio veículo como meio de fuga, uma vez que, tem certeza que será identificado, de igual forma, é inegável que cometer crimes com uma arma registrada é uma demonstração clara de eficiência cognitiva. O leitor pode se perguntar o que caçadores têm a ver com armas sendo utilizadas por criminosos, entretanto, a Presidente do Partido dos Trabalhadores, atualmente a situação, deixou claro em uma entrevista que sobre o desarmamento que a caça é algo “medieval” e que o controle de pragas deveria ser realizado pelo Estado, tratando especificamente do chamado manejo, que é a permissão da caça de espécies invasoras, para controle de população. Segundo a Presidente do PT “Por que esse registro existe? Registro para caçadores? Isso é medieval. Nessa época da humanidade beira ao sadismo. Hoje são permitidas a caça de subsistência (comunidades tradicionais) e a do javali, para controle populacional. Esse controle deveria ser feito pelo Estado e não por caçadores. Essa caça foi completamente corrompida para servir de pretexto para circulação de armas em todo país”. Cabe ressaltar que o chamado manejo é meio para tentar controlar uma espécie invasora que nem deveria existir no ecossistema em que fora introduzida, portanto, tal população sequer deveria ser controlada, pois, o correto é a erradicação da espécie em um ambiente no qual sua presença se torna deveras nociva. Uma espécie invasora, por não ter predadores naturais, acaba tornando-se uma praga capaz de causar danos imensuráveis ao meio ambiente. Viajando pelo mundo podemos encontrar o sapo-cururu, espécie nativa da América do Sul que se tornou uma praga na Austrália, uma vez que, venenoso e voraz, tal anfíbio não tem predadores naquela região e se reproduz sem obstáculos, sendo um animal que se alimenta de quase todo animal que puder abocanhar, há quem aponte que crocodilos de água doce, entre outros animais nativos, sofreram queda considerável no número de espécies por conto do sapo, estima-se que um marsupial local perdera cerca de 75% da população . O perigo das espécies invasoras é considerável, em especial se tal animal se alimenta de diversas fontes, se reproduz rapidamente e não encontra obstáculos no habitat em que fora introduzido, de maneira que, como dito, o correto seria sua erradicação. O controle, por outro lado, pode ser o máximo que indivíduos consigam colocar em prática, todavia, alegar que somente o Estado deveria fazê-lo, em nome do monopólio do uso da força, é igualmente desonesto e irresponsável. O desarmamento de caçadores, aos interesses revolucionários, pode servir de dois modos, pois, ao passo que, na busca pelo controle totalitário, retira-se do cidadão um instrumento que pode ser usado para se opor à tirania, inviabiliza o manejo de uma praga invasora no Brasil que é o javali. Sim, se bem observado, não só ao desarmamento se presta a “defesa” dos javalis. É importante para quem assume uma visão totalitária que os cidadãos estejam vulneráveis ao seu poder, por tal motivo, desarmar a população é impedi-la de reagir aos avanços revolucionários. Por isso, é indispensável que a população confie sua segurança totalmente ao Estado, tornando-se uma presa fácil, indefesa, quando os revolucionários declamarem sua tomada de poder. A Pirâmide de Maslow , também conhecida como Teoria da Hierarquia das Necessidades Humanas, proposta pelo psicólogo americano Abraham Maslow, aponta que o ser humano alcança tais necessidades em diferentes níveis, de maneira que, um indivíduo que tenha acesso às necessidades básicas, fisiológicas, começa a buscar a segurança e, somente após conquistá-las, aspirará por necessidades mais elevadas como sociais, estima e realizações. Assim sendo, ao imaginar qual seria a melhor forma de dobrar indivíduos aos anseios revolucionários, é fácil constatar que aqueles que almejam nada além de sua subsistência, ou seja, encontram-se no patamar que figuram as necessidades fisiológicas, estão mais vulneráveis à ação dos revolucionários. Em síntese, quanto mais fragilizado um indivíduo, ou grupo, se encontra, mais frágil ele é, de tal maneira que, é possível escravizar quem almeja o básico e igualmente difícil se impor aos que se sentem seguros o suficiente. Quem busca realizações pessoais poderá sustentar suas posições em uma sociedade, entretanto, os que imploram pela simples existência, tornar-se-ão reféns daqueles que puxam as rédeas, sofrendo por ser dependentes de seus algozes. Observando como populações assoladas pela miséria tornam-se escravas de déspotas, voltamos os olhos para países e regiões em que o povo parece ignorar suas mazelas e manter os piores tipos de líderes no poder. O continente africano é um bom exemplo, diversos povos subjugados por governos de tiranos e que parecem nada fazer para tirá-los do poder, todavia, o que verifica é que os grupos que se rivalizam perante tais tiranos são, nada além de aspirantes aos seus postos, que pretendem ocupar o poder e exercer igualmente a tirania em seu favor. A máxima de combater a elite para impor a ditadura do proletariado, que jamais deixará os mais simples ocuparem as posições de comando, serve apenas para que um bando de usurpadores, geralmente mais gananciosos e nefastos que os que se pretende derrubar, assumam o trono para espalhar uma desgraça maior que qualquer uma que aflija o povo. Como o povo francês cair nas mão dos revolucionários, entregando o pescoço aos loucos, qualquer um que veja no poder um tirano aceitará sua substituição, ainda que pela força, o que permite ao mal ainda maior que espreita nas sombras mostrar-se como solução. As constantes decisões judiciais e atuações de outros órgãos que deveriam promover a justiça, que se distanciam cada vez mais da noção do que é justo, para satisfação daqueles que detêm o poder, incuti no cidadão o sentimento de que o Poder Judiciário, e outros, são meros instrumentos aos anseios dos mais poderosos e que não servem ao seu fim. Tal visão de abandono, fundamentada, leva os indivíduos a busca por outros meios de solução de conflito, clamando, por vezes, a “justiça” dos marginais, um justiçamento doentio que valida a soberania do crime. Segundo o Promotor de Justiça Roberto Wider Filho, em entrevista concedida à Folha de São Paulo , a respeito dos chamados tribunais do crime. “São tribunais de justiçamento com duas naturezas principais: uma é a manutenção da disciplina dentro da hierarquia do PCC. Eles condenam pessoas que lesam a facção criminosa e integrantes que não cumprem as ordens dentro da facção criminosa. A outra natureza é a de que esses tribunais se estendem às pessoas estranhas aos quadros da facção e aí é mais grave ainda, porque eles estão julgando, eles se arvoram no poder de julgar pessoas que nem sequer fazem parte daquela quadrilha”. Assim como os praticados pelos movimentos revolucionários que gestaram tais facções, o justiçamento deve ser eficaz para que os “jurisdicionados” vejam nele a confiança que não se observa nas instituições legitimamente constituídas. Tal “eficiência” valida o poder do crime sobre os indivíduos cuja sua mão puder alcançar. Um trecho de matéria recente da Revista IstoÉ , uma mulher torturada e morta por ordem de criminosos por subtrair uma bicicleta, a notícia apresenta uma parte que merece destaque “O dono da bicicleta teria descoberto paradeiro do veículo e foi até o ponto de venda de drogas para reclamar. Nesse sentido, o gerente do tráfico no local teria ordenado a morte da mulher”. Chama a atenção que o dono do objeto furtado tenha procurado o crime organizado para promover a justiça diante do crime, o que leva a dois apontamentos. Que, de fato, a autora do furto mereceria punição e a vítima sabia que o Judiciário, diante de uma legislação penal complacente e sua própria inventividade, o chamado ativismo judicial, seria leniente com o crime, bem como, o fato de a vítima do furto reconhecer a autoridade do crime organizado como capaz e mais eficiente para julgar a questão, ou seja, para materializar justiça ao caso. Tal tipo de situação faz com que os indivíduos reconheçam, através da suposta eficiência, que o justiçamento promovido pelo crime organizado é mais confiável, portanto legítimo, que o prestado pelo Estado. A armadilha faz com que tais organizações, que possuem nítido viés revolucionário , sejam reconhecidas como instrumentos de justiça, para, posteriormente, expondo sua face maligna, possam impor suas vontades mais dantescas através da força dos seus justiçamentos. A tirania sempre se revelará quando estivem confortável o suficiente, dando agora o resultado que pretende impor e não aquele que os jurisdicionados esperam como resposta natural ao injusto. Assim, um tribunal, do crime ou não, quando corrompido, tornar-se-á instrumento de imposição com verniz de legitimidade. Em uma outra matéria da mesma revista supramencionada , destaca-se o trecho “a vítima se recusou a beijar um homem em uma balada e teria o ofendido na sequência. Dessa forma, o membro da facção foi embora da casa noturna e retornou com outros comparsas para cobrar a mulher”. Nota-se que o “crime” que era objeto do justiçamento foi a recusa em beijar um criminoso em uma balada, curiosamente, ainda há quem repita a falácia de que o crime organizado condena o estupro e outros abusos, ignorando que tais organizações só o fazem quando o autor da infração é membro do baixo clero da facção ou não pertence à mesma. Difícil imaginar como populares não se rebelam diante de tamanho abuso, mas o primeiro obstáculo pode ser justamente a fragilidade em que os indivíduos que, poderiam se levantar contra o mal, se encontram. Em uma comunidade dominada pelo crime organizado, geralmente, os mais fragilizados pelas mazelas são os que não comungam dos ideais da facção dominante, por outro lado, os que se banqueteiam, mesmo que das sobras, dos tiranos, tendem a abraçá-los como líderes revolucionários liberadores. Como se pode ver também nas regiões mais carentes, nas quais os algozes da população perpetuam-se no poder pelo medo ou pelas amarras que põe sobre os menos afortunados. Uma sociedade desprovida do básico sequer cogita uma mudança nos rumos da política, posto que, suas necessidades são urgentes, como comida, abrigo e saneamento básico, por tal motivo, privar as pessoas do mínimo existencial é uma forma de acorrentá-las. Talvez isso explique o motivo dos revolucionários se oporem de forma aberta à medidas que pretendiam melhorar as condições de saneamento em geral, o que afetaria de forma positiva os mais carentes. O jargão “quem tem fome, tem pressa”, explica de forma clara como um indivíduo faminto torna-se incapaz de buscar medidas de longo prazo, por isso, àqueles que pretendem manter a miséria para oferecer sempre o peixe, é indispensável que tais indivíduos nunca consigam pescar. A seca do nordeste, o isolamento dos indígenas e a marginalização das favelas são fatores que prejudicam a libertação dos que se encontram fragilizados por tais condições. Um povo desarmado não poderia reagir a tirania, seja ela imposta pelo Estado ou por uma força à margem da lei a qual o próprio não desarmou, da mesma forma, indivíduos que são privados d mínimo precisarão se libertar para desenvolverem um pensamento de longo prazo. Os revolucionários precisam de uma sociedade aquebrantada para que seus arautos possam, oferecendo migalhas, cativar o máximo os corações. Voltando à fera que matou Adônis, resta fácil compreender que ao dificultar o manejo do javali, os líderes revolucionário podem obter dois resultados em uma só tacada, pois, reduziriam o número de indivíduos com armas legais, evitando assim uma reação aos arroubos do Estado e, principalmente, do braço arma da revolução, seja grupos que se rotulam como movimentos sociais, gangues que se unem com diversos pretextos como torcidas, ou as mais violentas, as narcoguerrilhas. Por outro lado, a explosão da população da espécie invasora pode resultar em perdas imensuráveis para o agronegócio, incluindo o pequeno produtor, e o ecossistema. O animal, que é originário do velho mundo, se alimenta de vegetais e animais, podendo ser devastador para agricultores ou pecuaristas, além de destruírem a flora e a fauna nativa, em alguns casos, nascentes podem ser vítimas da ação da fera . Podem transmitir doenças aos animais de estimação ou da pecuária, bem como, se reproduzir com porcos, criando assim o chamado javaporco , criatura de proporções maiores que os seus genitores selvagens, conservando sua agressividade. Tal praga já preocupa agricultores e pecuaristas das regiões sul, sudeste e centro-oeste, deixando um rastro de destruição por onde passa. Obviamente, o cidadão que estão de frente com a devastação trazida pela espécie invasora, encontram obstáculos para que realizar o controle, ou erradicação da praga, o que é enfrentado mesmo nos EUA, país em que o acesso às armas de fogo é bem menos penosos que o Brasil. A sugestão de que o Estado deveria ser o responsável pelo manejo, considerando que não consegue controlar sequer o crime e faz com que as indivíduos recorram aos marginais para suprimir a falta de tutela jurisdicional, é um vergonhoso convite aos caçadores para que depunham suas armas e deixem a praga dos javalis devorarem o Brasil. O agronegócio e a agricultura de subsistência brasileiros contribuem de forma ímpar para a alimentação da população mundial, sem fazer elucubrações sobre o tema, é importante contatar que a destruição da produção rual do Brasil impactaria, não só a população do país, mas do mundo. Os interessados em “preservar” a praga dos javalis devem ser, no imaginário de muitos, indivíduos incautos que podem, devido à irresponsabilidade, levar o mundo ao caos e expandir a fome de maneira assustadora, em especial no Brasil. Os revolucionários espalharam a desgraça por onde pisaram, causaram matanças, desastres e fome, sendo assim, podemos presumimos que são totalmente incapazes de discernir a verdade de sua visão distorcida, o que justificaria não delegar nenhum poder aos mesmos, ou, o que parece mais racional, suas ações são pensadas e os resultados, por mais que sofríveis, são os desejados. Sim, pode ser assustador pensar que alguém cria mecanismos para que a fome e outras mazelas se espalhem pelo mundo, mas como explicado, é a fraqueza dos outros que os mantém no poder. Presumir que o Holodomor e a Grande Fome de Mao resultaram de gestões incompetentes, também leva a crer que Cuba também sofre por conta das decisões erradas de Fidel Castro. Infelizmente, tal visão de mundo, que parece uma forma de calar os socialistas em nome do sucesso do livre mercado, esbarra em um único fator. Não seria possível que a ditadura venezuelana, apesar de possuir grande reserva de petróleo e ter observado os erros das gestões socialistas que foram implementadas em todo o mundo, seguiria pelo mesmo caminho. Nada justificaria o que o governo socialista da Argentina colocou em prática e, muito menos, as direções que a “democracia relativa” brasileira busca adotar, em que pese, apesar das restrições globais durante a pandemia, o Brasil tenha sentido menos alguns efeitos. A questão do manejo do javali, quando se propõe que a caça seja dificultada, quiçá abolida, por ser uma prática “medieval”, decorre da total insanidade ou do interesse na criação de uma crise alimentar acompanhada de fragilização do cidadão do campo para reagir ao que grupos que expropriam terras em nome da revolução, muitas vezes com armas ilícitas. Se a intenção dos revolucionários é aumentar o caos para que os cidadãos de bem, que eles ensinam seus vassalos a desprezar, possam reagir, bem como, escravizar através da imposição da condição do mínimo existencial, no qual o indivíduo deverá ser grato pela renda básica oferecida por poderosos que se regozijam no luxo, querendo cada vez mais poder e prestígio. A praga do javali é a arma ideal para que tal plano se concretize, uma vez que, trará fome, seca, danos ambientais, desarmamento e, por fim, a dependência em relação ao Estado. Os verdadeiros cérebros revolucionários não são descrentes que buscam fazer do mundo seu paraíso, mas demônios que pretendem reinar no inferno. Se nada fizermos, morreremos como Adônis, lutando contra uma besta enviada por um tirano maior. Devemos, em primeiro lugar, conservar a nossa bondade, sem, contudo, permitir que os que não pretendem fazer o bem, possam destruir tudo aquilo que serve de escora a humanidade. Lembrando que as trevas nada mais são que a ausência de luz. “Por isso se são privadas de todo o bem, deixarão totalmente de existir. Logo, enquanto existem, são boas. Portanto, todas as coisas que existem são boas, e aquele mal que eu procurava não é uma substância, pois, se fosse substância, seria um bem. Na verdade, ou seria substância incorruptível, e, nesse caso, se não fosse boa, não se poderia corromper”. Santo Agostinho, Confissões (São Paulo: Nova Cultural, 2004) Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. II N.º 35 - ISSN 2764-3867
- Débora, a Profetisa
Feminismo e contradições Mulheres Bíblicas: PARTE III No último final de semana contribuí em um retiro para jovens. Foi um tanto árduo. Agora com um bebê de sete meses não está sendo muito fácil manter o ritmo das atividades que eu desempenhava antes. Todavia, o trabalho com jovens sempre me cativou. Afinal, o jovem de hoje será a sociedade de amanhã. E é através dos nossos filhos que nossos valores serão perpetuados às próximas gerações. Entender essa grandeza contida no jovem é de extrema importância para transformação do mundo. Certos grupos compreenderam essa verdade tão bem que mesmo com o passar dos anos não abrem mão de suas atuações no ambiente dos jovens. O grupo é jovem. Mas os jovens já não são tão jovens. E aqui mora um perigo. O perigo de manipular os pensamentos dos jovens em favor de lutas e conquistas poucos ortodoxas. Como dito em edições anteriores , Jesus tinha uma mensagem libertadora. Era uma mensagem que cortava os grilhões e correntes da época. Jesus não seguia aquilo que um judeu esperava. Certamente um bom judeu o consideraria um verdadeiro rebelde, um desobediente. Tanto que para tanta heresia, Ele mereceu a cruz. A mensagem de Jesus era revolucionária para a época, quebrava paradigmas, fugia do senso comum. Jesus era um judeu que não limitava o dia Santo para realização de milagres. Para Jesus o ser humano era mais importante do que as regras. Mas a vida de Jesus não era sinônimo de baderna e desobediência. Jesus é o nosso protagonista da história da Salvação. Entretanto, para se chegar no ponto alto do Cristianismo tivemos muitos coadjuvantes. A Boa-Nova estava sendo anunciada há longa data. Muitos personagens precisaram passar para que o Cristianismo surgisse. Hoje iremos abordar a figura do profeta e profetisa. Um profeta é uma pessoa que serve como mensageiro de Deus, transmitindo Suas palavras e orientações ao povo. Na Bíblia, os profetas desempenham um papel crucial, comunicando a vontade divina e corrigindo abusos morais e religiosos. Os profetas são porta-vozes Divinos. Eles falam em nome de Deus, transmitindo Suas mensagens e revelações. Eles são considerados a “boca” pela qual Deus comunica Sua vontade aos homens. Além de prever eventos futuros, os profetas frequentemente corrigem comportamentos errados e orientam o povo em questões morais e espirituais. Muitos profetas recebem visões ou revelações diretas de Deus, que podem incluir instruções específicas ou mensagens sobre o futuro. No Novo Testamento, João Batista é um exemplo de profeta que preparou o caminho para Jesus, anunciando Sua vinda e chamando o povo ao arrependimento. Os profetas desempenham um papel vital na história bíblica, ajudando a guiar e moldar a fé e a moralidade do povo. Além de João Batista existe uma outra figura bem icônica na Bíblia na função de profeta: Débora. Profetisa e juíza em Israel, Débora liderou seu povo à vitória em batalha durante um período de grande opressão pelos cananeus. Ela é um exemplo de liderança feminina e confiança em Deus. Débora era conhecida por resolver disputas civis entre as tribos de Israel. Ela se sentava debaixo de uma palmeira, conhecida como a “palmeira de Débora”, onde os israelitas vinham buscar suas decisões. Quando os israelitas foram oprimidos por Jabim, rei de Canaã, Débora convocou Baraque para liderar o exército israelita contra Sísera, o comandante do exército de Jabim. Baraque concordou em ir para a batalha apenas se Débora fosse com ele. Débora profetizou que a honra da vitória não seria de Baraque, mas que Deus entregaria Sísera nas mãos de uma mulher. Isso se cumpriu quando Jael, uma mulher, matou Sísera, garantindo a vitória de Israel. Após a vitória, Débora e Baraque entoaram um cântico de louvor a Deus, celebrando a libertação de Israel. Este cântico é registrado em Juízes 5 e é um dos mais antigos poemas hebraicos conhecidos. Débora é um exemplo poderoso de liderança feminina, coragem e fé. Sua história inspira muitos a confiar em Deus e a assumir papéis de liderança com sabedoria e justiça. De acordo com algumas interpretações bíblicas, o dom da profecia não foi algo temporário ou passageiro e pode continuar a existir para edificar a igreja e transmitir revelações de Deus, isto é, temos profetas nos dias atuais. No entanto, é importante analisar cuidadosamente qualquer pessoa que se declare profeta, ou ainda, intitulações de terceiros, comparando suas palavras com os ensinamentos bíblicos para garantir que não contradigam a Bíblia. Greta Thunberg, profeta da atualidade? Greta Thunberg é uma ativista ambiental sueca conhecida por seu ativismo em relação às mudanças climáticas. Ela não é uma profetisa no sentido religioso ou bíblico, mas muitas pessoas a veem como uma figura inspiradora e uma voz poderosa na luta contra a crise climática. Sua capacidade de mobilizar milhões de pessoas ao redor do mundo e de falar diretamente aos líderes mundiais é notável. Começou seu ativismo climático em 2018, quando tinha apenas 15 anos. Ela iniciou um protesto solitário em frente ao parlamento sueco, segurando um cartaz que dizia “Skolstrejk för klimatet” (Greve escolar pelo clima). Esse ato simples rapidamente ganhou atenção mundial e inspirou milhões de jovens a se juntarem ao movimento Fridays for Future, organizando greves escolares e manifestações em todo o mundo. Greta tem falado em importantes conferências internacionais, como a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP), e se encontrou com líderes globais para pressionar por ações mais ambiciosas contra as mudanças climáticas. Ela é conhecida por seu discurso direto e por sua ousadia de criticar líderes mundiais. Além de seu ativismo, Greta também escreveu livros e artigos sobre a crise climática e foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz várias vezes. Mas Greta é uma profetiza? No sentido bíblico, não. Profetas são mensageiros divinos. E no sentido moral? E porque falar dela? Greta é uma jovem com capacidade de inspirar outros jovens, é discutida em grupo, aplaudida. Nossos jovens hoje possuem preocupações que antes a sociedade pouco se preocupava. Eles são atentos a uma sociedade mais justa e mais auto sustentável. E Greta representa essa bandeira para o jovem atual. Quando pegamos a fome de justiça do jovem com a vontade de comer de alguns grupos, criamos uma combinação bombástica. Por isso é importante abordamos aqui as pautas levantadas por essa menina. Existe uma fala assim: “a história é contada pelos vitoriosos”. Eu diria que a história é contada pelo dono da caneta e de poder de voz. Nossos jovens são contagiados por discussões inflamadas. Pela fala empolgante, sendo o discurso falacioso ou não. E por isso é minimamente fácil que figuras militantes sejam tão amadas pelo jovem, pois eles manipulam os corações. Trabalham nas emoções. Jesus, era um revolucionário em sua mensagem. Isso é um fato incontestável. Mas justamente por essa característica que alguns grupos conseguem distorcer a mensagem do Evangelho e puxar o jovem para causas inclinadas à esquerda. Precisamos estar mais atentos aos jovens e mostrar a eles os outros lados da moeda. Apresentar que a história tem mais de uma versão e que todos são agentes da história. A sociedade atual possui muitas bandeiras hasteadas: direito das mulheres, preservação do meio ambiente, saúde pública etc. Todas essas causas são relevantes, a problemática existe quando essas pautas são usadas para promoção de causas muito específicas. O direto das mulheres é importante? Claro que é. Mas todo ser humano é importante. Não existe seres humanos mais importantes do que outros. Não pode uma busca por uma suposta igualdade ser justificativa para eliminar bebês. O meio ambiente é importante? Óbvio. Se não cuidarmos do nosso planeta estamos matando um pouco mais a nós mesmos. Mas não podemos preservar a vida das baleias e ignorar a vida de bebês. Muitas vezes, as bandeiras levantas parecem ter uma mensagem altruísta, mas no fundo são apenas discursos para movimentos de manadas e privilegiar certos grupos políticos. No fundo, no fundo… “Uma mentira dita mil vezes torna-se verdade” (Joseph Goebbels, ministro da propaganda na Alemanha Nazista). Em suma, mesmo diante de tantas limitações e dificuldades não podemos deixar de contribuir para um legado melhor para nossos filhos. E você? Quais são suas contribuições para perpetuar seus valores às próximas gerações? Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. III N.º 43 - ISSN 2764-3867
- Vamos falar seriamente sobre aborto
Volta e meia o tema aborto reaparece em debate; desta vez, por conta do projeto de lei 1904/2024. De autoria do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) , o texto “Acresce dois parágrafos ao art. 124, um parágrafo único ao artigo 125, um segundo parágrafo ao artigo 126 e um parágrafo único ao artigo 128, todos do Código Penal Brasileiro”. O texto equipara o aborto realizado após 22 semanas ao homicídio simples, previsto no Art. 121 do Código Penal. Este projeto foi uma resposta para a intromissão do Supremo Tribunal Federal de interferir em uma decisão do Conselho Federal de Medicina , que proibiu a prática da assistolia fetal – injeção de cloreto de potássio na barriga da gestante com o objetivo de atingir o coração do bebê, provocando uma parada cardíaca e, por conseguinte, sua morte. Para se ter uma ideia do tamanho da crueldade, o Conselho Federal de Medicina Veterinária proibiu o uso deste método alegando ser inaceitável, já que o animal sente profunda dor durante a eutanásia; oras, se um animal sente dor, é lógico pensar que um ser humano, com estrutura cerebral bastante desenvolvida a partir das 16 semanas, sinta muita dor. No que tange ao projeto de lei, a ala progressista se levantou de uma maneira nunca antes vista para deturpar o texto e apelidar de “PL do estuprador” , isso com ajuda da rede globo, a Secom paralela deste desgoverno; tudo por conta do parágrafo único sugerido para ser inserido no Art. 128 do Código Penal: “Se a gravidez resulta de estupro e houver viabilidade fetal, presumida em gestações acima de 22 semanas, não se aplicará a excludente de punibilidade prevista neste artigo.” Sabemos que o aborto é crime no Brasil, portanto não existe “aborto legal” , mas sim excludentes; são três: má formação do feto, quando a vida da gestante corre perigo ou em caso de estupro. Ou seja, nem o médico e nem a gestante serão incriminados dentro destes três casos. Porém, o diabo sendo o pai da mentira, possui filhos igualmente mentirosos, pois possuem a mesma natureza. E foi desta maneira que a grande mídia brasileira atuou: propagaram a mentira de que a mulher vítima de estupro seria condenada e que teria pena superior a do estuprador (Art. 213 Código Penal – pena de reclusão, de seis a dez anos). Vamos ao fact checking: esta é uma fake news das piores que já vi sendo propagada pela dita “mídia tradicional” ; o art. 128 trata do médico que realiza o procedimento. Logo, o crime da prática do aborto, mesmo em caso de estupro após 22 semanas, não é para a mulher. Quando parlamentares de esquerda e jornalistas de baixo nível trabalharam em propagar essa mentira, a militância foi para as ruas; utilizando-se do termo “Criança não é mãe” , defenderam o assassinato de bebês com a desculpa de que meninas que foram abusadas não estão aptas para serem mães, e que por isso, não são obrigadas a parir um fruto de estupro. Este é um dos pontos que torna o assunto difícil: como ninguém, em sã consciência, defende violência sexual, a maior parte se cala pensando que, neste ponto há uma “certa razão” em ser favorável ao aborto. A esquerda sabe disso é justamente neste ponto em que desdobram o debate, pois querem sensibilizar a opinião pública – já que com argumentos sólidos não obtém êxito. O primeiro estágio é apelar com números – nada concretos, diga-se de passagem. Em minha pesquisa, deparei-me com dados completamente diferentes; por exemplo, em matéria do site Metrópoles , publicada no ano de 2023, “Sem subnotificação, Brasil tem 800 mil estupros ao ano” . Já outra matéria, de 2024, diz que “Uma mulher é estuprada a cada 46 minutos” . Porém, chamo a atenção do leitor para que nunca se guie pelo título de uma matéria, e tomarei esta última citada como exemplo; os dados são oriundos do Atlas da Violência, em parceria com Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública . Os números da edição deste ano são baseados em registros no Sistema Único de Saúde (SUS) em 2022. Como sempre faço (e oriento aos admiradores do meu trabalho), utilizo sempre de fonte primária, que, no caso, é o documento publicado em PDF com todos os dados. E na descrição da obtenção de dados de violência contra a mulher, diz: “… tendo como objetivo qualificar a discussão sobre violência doméstica e intrafamiliar, incluímos nesta categoria todos os registros cujo PROVÁVEL autor foi identificado como pai, mãe, madrasta, padrasto, cônjuge, ex-cônjuge, namorado(a), ex-namorado(a), filho(a), irmão(ã) ou cuidador(a). Estes totalizam 65,2% de todas as notificações de violência contra vítimas do sexo feminino no ano de 2022.” Ou seja, não utilizaram de DADOS CONCRETOS, MAS PROVÁVEIS. Outro ponto são os dados distintos de VIOLÊNCIA DOMÉSTICA e VIOLÊNCIA SEXUAL contra a mulher: “Dentre as formas de violência mais frequentemente notificadas no contexto da violência doméstica, a violência física apareceu como prevalente com 36,7% dos casos: 51.407 registros apenas em 2022 (…), violência sexual com 8,9% (12.477 dos casos)” Agora, vamos a própria definição de VIOLÊNCIA SEXUAL descrita no relatório: “…é qualquer ação na qual uma pessoa, valendo-se de sua posição de poder e fazendo uso de força física, coerção, intimidação ou influência psicológica, com uso ou não de armas ou drogas, obriga outra pessoa, de qualquer sexo e idade, a ter, presenciar ou participar de alguma maneira de interações sexuais, ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, com fins de lucro, vingança ou outra intenção. Incluem-se como violência sexual situações de estupro, abuso incestuoso, assédio sexual, sexo forçado no casamento, jogos sexuais e práticas eróticas não consentidas, impostas, pornografia infantil, pedofilia, voyeurismo; manuseio, penetração oral, anal ou genital, com pênis ou objetos, de forma forçada.”. Pergunto: como que dizem que uma mulher é estuprada a cada 46 minutos se o relatório inclui “jogos sexuais e práticas eróticas” , que nem sempre se enquadram em conjunção carnal? Nosso Código Penal, em seu Art. 213, define estupro como: “ Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter CONJUNÇÃO CARNAL ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso” Observação: não estou relativizando o crime, muito menos desprezando a dor da vítima, mas apenas tratando da tipificação para tratarmos do tema principal do artigo, que é o aborto. Um outro fato importante: não foram consideradas as falsas notificações de estupro; inclusive, a autodeclarada agência de checagem “Aos Fatos” afirma que “ Não existem dados oficiais no país que deem conta de subsidiar a afirmação — seja para confirmá-la ou para derrubá-la”. Então, como vimos, os dados são inflados para tocar na emoção da opinião pública, sem uma verificação mais concreta e profunda . Agora, vamos analisar um hipotético fato consumado: uma pré-adolescente de 10, 11, 12, 13 anos foi violentada sexualmente e está grávida; o que dizem os progressistas: “Criança não é mãe, como que uma criança vai dar à luz?” Vamos aos dados? Segundo estudo publicado no The Journal of the American Medical Association (JAMA) , engravidar entre 10 e 13 anos aumenta em 56% o risco de parto prematuro e em 32% o de uma cesárea, em comparação com adolescentes que ficam grávidas entre 14 e 17 anos. O estudo constatou, ainda, que 18,5% das meninas entre 10 e 13 anos desenvolveram pré-eclâmpsia (quadro de pressão alta) na gravidez, contra 16,2% das adolescentes de 14 a 17 anos e 15,7% das jovens de 18 e 19. Ou seja, a faixa de maior risco é dos 10 aos 13 anos, tanto para gestar como para dar à luz. Então, é lógico dizer que uma menina dessa idade está apta para fazer um aborto? Vamos sujeitar esta menina a outra violência? Já viram alguém da ala progressista chegar a esta conclusão? Agora, voltemos ao projeto de lei para tratar de algo importante: a pessoalidade do bebê. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, denominou o PL de “irracionalidade” : “Isso não tem o menor cabimento, não tem a menor lógica, a menor razoabilidade de se punir [a mulher que aborta], a título de homicídio — que se pressupõe matar alguém com vida, gerada após o parto” Ignoremos a irracionalidade de Pacheco no que tange a culpabilizar a mulher, afinal, já expliquei isso; o ponto aqui é que ele trata como homicídio matar apenas quem já foi gestado. Oras, isso não tem cabimento. Francisco Razzo , em sua obra “Contra o Aborto” , explica que “o ser humano é DESDE A CONCEPÇÃO uma pessoa (grifo meu); o autor faz uma análise filosófica e antropológica para dizer que ”por ser uma pessoa, o nascituro deve ter seus direitos protegidos, mesmo quando o desejo de sua mãe é abortá-lo”. Daí boa parte da ala progressista defender a ideia estapafúrdia de que até tantas semanas o que existe é apenas um “amontoado de células” sem importância. Quando não tratamos o embrião/feto/bebê como pessoa desde o início, este pode ser tratado como “coisa” , e algumas “coisas” podem ser eliminadas, não é mesmo? Razzo explica: “Faz toda diferença referir-se à singular vida humana do embrião como alguém ou algo. Se o indivíduo humano por nascer for qualificado como pessoa, a este mesmo indivíduo deverá ser garantido, como é garantido para qualquer outro indivíduo já nascido o direito à vida – como um direito básico e universal –, o respeito moral e a proteção legal contra qualquer ameaça à sua integridade.” Infelizmente, chegamos em um ponto onde estamos pessoalizando coisas e “coisificando” pessoas; onde defender pessoas que ainda não nasceram tornou-se “fundamentalismo religioso”; onde tratar aborto como homicídio é chamado de “irracionalidade” . Está cada vez mais caro para o nosso caráter defender a vida humana; contudo, lutar contra o assassinato de inocentes não tem preço. Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. III N.º 43 - ISSN 2764-3867
- Ben jor, os alquimistas já chegaram!
No Brasil, as décadas sob o regime militar (1964-1985) foram marcadas por uma polarização intensa, onde artistas frequentemente utilizavam suas músicas para criticar o governo e suas políticas. Canções como "Apesar de Você" de Chico Buarque e "Cálice" de Chico Buarque e Milton Nascimento, embora consideradas subversivas na época, refletiam uma visão contestadora que se popularizou entre parte da população brasileira. Desde 2014, vivemos um momento de turbulência política, mas, a partir de 2019 a turbulência se tornou particularmente jurídica, onde o judiciário brasileiro tem sido alvo de críticas por suas decisões controversas e algumas vezes monocráticas. O ano de 2019 marcou o início de uma série de atos que, sob o manto dos garantidores do “Estado Democrático de Direito” e da democracia, são interpretados como necessários para garantir a ordem e combater o fascismo (ou o que quer que esta palavra signifique atualmente). Por outro lado, existem aqueles que veem o óbvio ululante: o rei está nu. As canções que outrora criticavam o regime, algumas vezes nos parecem como um rascunho de uma agenda revanchista. Sem perceber, os autores ou intérpretes estavam não apenas falando daquilo que acreditavam, mas quem sabe, prevendo o que posteriormente ocorreria. Teoria da conspiração? Não, apenas estamos usando a imaginação para conseguir lidar com o clima pesado que nos envolve nestes tempos em que o amor não só venceu, mas parece querer esmagar a tudo e a todos. Em 1974, Jorge Ben (ainda sem Jor), lançava seu 11° LP intitulado “A Tábua de Esmeralda”. A canção que abria aquele álbum era “Os Alquimistas Estão Chegando os Alquimistas”. Aquela canção nos sugere um padrão de comportamento dos “ilustrados” que dão as cartas no jogo político atualmente: “Eles são discretos / E silenciosos / Moram bem longe dos homens / Escolhem com carinho / A hora e o tempo / Do seu precioso trabalho / São pacientes, assíduos / E perseverantes / Executam / Segundo as regras herméticas / Desde a trituração, a fixação / A destilação e a coagulação / (...) / Todos bem iluminados / Evitam qualquer relação / Com pessoas de temperamento sórdido”. Sim, os ilustrados eram discretos e silenciosos, suas ações tantas vezes ocorriam a portas fechadas, mas há que dizer que atualmente nem lutam mais contra o desejo incontido pelos holofotes. Certamente moram bem longe dos homens, qual deles sairia às ruas sem temer a repulsa do populacho ignaro? Como esquecer a fala de um deles, um pouco mais contido, desafiando outro um pouco mais audacioso? “Saia à rua (…), saia à rua”. Quem sabe aquele mais audacioso saísse às ruas, mas à Rua do Salitre, em Lisboa, uma das mais caras daquela cidade. Quem sabe… Certamente têm inegável perseverança, elaborando secretamente as regras herméticas que trituram opositores, destruindo capacidades de ação ou reação, em razão da supremacia de suas posições. São iluminados e, qualquer um que obstrua o sagrado caminho da Democracia, terá a marca da sordidez. Os sórdidos são de antemão perdedores, e na linguagem rasteira… manés. Mas nem só de Jorge viveu a história musical daqueles 21 anos. Em 1968 tivemos o Festival Internacional da Canção e Geraldo Vandré, artista muitas vezes mal compreendido acabou conquistando o segundo lugar daquela disputa. Sua canção “Pra não dizer que não falei das flores” é uma das mais poéticas e menos militantes dentre as que surgiram naqueles 21 anos. Em 2024 não seria difícil ver qualquer coach ensinando “Vem, vamos embora / Que esperar não é saber / Quem sabe faz a hora / Não espera acontecer”. É quase uma fala de palestra de autoajuda. Geraldo Vandré não errou nem estaria errado atualmente em um quesito: “ Há soldados armados / Amados ou não / Quase todos perdidos / De armas na mão ”. É verdade, há soldados amados e outros nem tanto, mas sem um braço forte e uma mão amiga que os conduza, podem parecer perdidos, sem alma. Mas por outro lado, falharia miseravelmente se mantivesse a visão: “ Nos quartéis lhes ensinam / Uma antiga lição / De morrer pela pátria / E viver sem razão ”. Geraldo, Geraldo… Quanto tempo precisaremos viver para entender que, a defesa de uma ideia cria a necessidade de instalar uma instituição que a represente. A criação de uma instituição obriga à formação de um corpo de servidores, defensores da ideia inicial. Mas em poucos anos, os servidores militarão mais no sentido de preservar suas carreiras e vantagens dentro da instituição, que defender a ideia inicial inspiradora da instituição. E assim a ideia se perde na burocracia e nos interesses pessoais. Nas instituições tacitamente é ensinado que defender a carreira, os títulos, as honrarias é o Monte Castelo a ser conquistado, ainda que publicamente a honrada ideia de morrer pela pátria permaneça encimando muitos portais. Francisco Buarque de Holanda, o Chico, letrista renomado marcou época. Aqueceu o coração de muitas jovens militantes com seu cantar desafinado em suas letras bem elaboradas. Um bom exemplo é a canção “ Apesar de Você ”, lançada em 1970 e que tem um lugar especial na lista de obras de “resistência” pela atualidade de sua mensagem. “Hoje você é quem manda / Falou, tá falado / Não tem discussão, não / A minha gente hoje anda falando de lado / E olhando pro chão, viu / Você que inventou esse estado / E inventou de inventar / Toda a escuridão (...)”. Chico, eu não ousaria dizer quem é “ Você ”, penso que já abusei demais do risco, mas ninguém duvida que em 2024 “ Você ” é quem manda e falou... tá falado. Discutir pode levar à visita matinal de uma bela Blazer preta. Em razão disso minha gente também fala de lado e olha para o chão. Chico, “Você” inventou esse estado de coisas e sim, até o horizonte está bem escuro. Chico, às vezes fico me perguntando: será revanchismo? Será que o seu grupo, aquele dos anos 60, será que querem pagar na mesma moeda? Se for, em que vocês seriam melhores que os seus antigos algozes? Estou exagerando Chico? Leia o que você cantou... “(...) Quando chegar o momento, esse meu sofrimento / Vou cobrar com juros, juro / Todo esse amor reprimido, esse grito contido / Este samba no escuro / Você que inventou a tristeza / Ora, tenha a fineza de desinventar / Você vai pagar e é dobrado / Cada lágrima rolada nesse meu penar (...)”. Não apenas dobrado, esses juros sobre juros estão tornando a suposta dívida impagável. Neste olho por olho, qualquer dia seremos um país de cegos. Ou já somos, Chico. Seguindo na linha produtiva de Chico, a canção chamada “ Meu Caro Amigo ”, última faixa do lado B do LP “Meus Caros Amigos” de 1976 é no mínimo interessante. Nela Chico cantava para seu amigo Augusto Boal em tom de confidência o seguinte: “(…) Muita mutreta pra levar a situação / Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça / Que a gente vai tomando e também sem a cachaça / Ninguém segura esse rojão (…)”. E que situação Chico! São muitas mutretas atualmente! Só desculpe não poder te oferecer a cachaça, porque com o aumento do imposto sobre bebidas alcoólicas ficará difícil, mas creio que em Paris você não encontrará dificuldades em degustar, não é mesmo? Agora no quesito teimosia, continuamos os mesmos, teimamos em ser livres, mas não por pirraça, mas por direito natural. Ainda outra vez Chico Buarque, agora em parceria com Milton Nascimento, o Bituca, lançou também em 1978 uma das mais impactantes mensagens contra a censura, a canção “ Cálice ”. Um trocadilho com a ordem, cale-se , vinculando ao cálice amargo que Nosso Senhor Jesus pediu que passasse Dele. Uma mensagem direta e forte, sem dúvida. “De muito gorda, a porca já não anda (cálice) / De muito usada, a faca já não corta / Como é difícil, (Pai) Pai, abrir a porta (cálice) / Essa palavra presa na gargantaEsse pileque homérico no mundo / De que adianta ter boa vontade? / Mesmo calado o peito, resta a cuca / Dos bêbados do centro da cidade”. Mas Chico, a porca é ainda mais gorda em 2024. Me refiro ao Estado brasileiro, que imenso como a porca de sua canção, é inerte. E pervertendo a ordem natural das coisas, suga de seus leitões o divino leite que lhes manteria fortes, saudáveis e autônomos. A faca (ou espada) da justiça também é cega, posto que não corta seus privilégios nem daqueles que a ela aderem. Realmente, é quase impossível abrir as portas da burocracia, imagine então a porta da sala de totalização dos desejos dos brasileiros. Chico, nosso mundo parece ter acordado de um pileque homérico, daqueles! A dor de cabeça, o mal-estar, a sensação de ter cometido o mesmo erro pela terceira vez. O clima é tão ruim que muitos se perguntam se vale a pena insistir em ter boa vontade. Mas mesmo calada a voz, resta o patriotismo na Paulista e em Copacabana. Parar? Só depois do coração. Em 1976 o Brasil também vibrava com a voz forte e a emoção rasgada de Elis Regina. Ah, a nossa Pimentinha! Naquele ano, Elis lançava o LP “ Falso Brilhante ” e dando voz a Belchior ela interpretava de modo inigualável a canção “ Como os Nossos Pais ”: “(...) Hoje eu sei que quem me deu a ideia / De uma nova consciência e juventude / Tá em casa guardado por Deus / Contando o vil metal / Minha dor é perceber / Que apesar de termos feito tudo, tudo, tudo o que fizemos / Nós ainda somos os mesmos e vivemos / Ainda somos os mesmos e vivemos / Ainda somos os mesmos e vivemos / Como os nossos pais (...)”. Ah Elis, se você soubesse quanto desse vil metal pode caber em algumas malas de um apartamento em Salvador. Ah se você tivesse visto quanto dinheiro um simples “ Lava-Jato ” poderia trazer de volta ao nosso país, tua dor teria sido incalculável. Maior até que aquela que você experimentaria ao ver seus contemporâneos usufruindo as benesses do capitalismo e as belezas da Europa, em seus apartamentos em Paris. Entretanto, discordo de você em relação a viver como os nossos pais. Eles viviam menos e melhor que nós, num mundo cheio de injustiças e contradições é verdade, mas onde Deus, a pátria e a família eram a base e sustentação dos sonhos daquela geração. Mas Elis, Deus continua guardando a todos, até que venha o dia de Sua Justiça, não se preocupe. Já em 1979 no LP “ Essa Mulher ”, interpretando a obra de João Bosco e Aldir Blanc “O Bêbado e o Equilibrista”, Elis cantava com inspiração: “(…) Que sonha com a volta do irmão do Henfil / Com tanta gente que partiu / Num rabo de foguete / Chora a nossa pátria, mãe gentil / Choram Marias e Clarisses / No solo do Brasil / Mas sei que uma dor assim pungente / Não há de ser inutilmente / A esperança dança / Na corda bamba de sombrinha / E em cada passo dessa linha / Pode se machucar / Azar, a esperança equilibrista / Sabe que o show de todo artista / Tem que continuar (…)”. É verdade Elis, continuamos sonhando, não mais com a volta do “ Betinho ”, mas com a volta do Allan dos Santos, do Paulo Figueiredo, do Rodrigo Constantino entre outros. Nossa Pátria Mãe Gentil continua chorando por seus filhos, não apenas pelas Marias e Clarisses, mas pelos Clezões e Eustáquios também. A dor é verdadeiramente pungente, mas como você estava certa, a esperança ainda se equilibra e segue adiante afinal, o show brasileiro da vida real nunca para e desistir não é uma opção. Este texto é dedicado a todos os artistas militantes, de antes e de agora. Flautistas de Hamelin que tocam, cantam e encantam as multidões. De onde vêm as trinta moedas que vocês recebem por pagamento? Eis a questão final, conduzem por quem? Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania Vol. III N. 43 – ISSN 2764-3867











