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  • Muito mais que um movimento, um destino

    No século XX, o Brasil se tornou um campo de batalha ideológico em ebulição. Anarquistas, socialistas, integralistas, populistas e militares travaram uma disputa pela alma política do país, em um ciclo que alternava autoritarismo, rebeldia e tentações democráticas. Cada uma dessas forças trouxe sua própria interpretação sobre o que seria a justiça social, o desenvolvimento nacional e o lugar do indivíduo diante do Estado. Agora, no século XXI, emerge uma vertente ainda pouco compreendida, mas já protagonista em diversas pautas: o liberalismo conservador, que propõe uma combinação inédita entre economia de mercado, liberdades individuais e preservação de valores tradicionais. Como todas essas forças se digladiaram até que emergisse um novo movimento? Teria sido a exaustão das forças ideológicas ou da paciência da população que levou ao surgimento de um movimento inédito no cenário nacional? Quem sabe, um misto da falência das ideologias com o fim da capacidade de esperar por um futuro que jamais chegou? Segundo o título de um dos livros do escritor austríaco-judeu radicado no Brasil, Stefan Zweig — Brasil, um país do futuro , lançado em 1941 —, e com base em sua visão sobre a cultura, o povo, a natureza e os recursos do país, o Brasil representaria a melhor imagem de uma nação bem-sucedida. Mas, ao que parece, muitas coisas não seguiram seu curso natural, e o futuro não sorriu como se previa. Uma das primeiras ideologias a desembarcarem em nosso país foi o anarquismo. No final do século XIX, as primeiras greves operárias no Brasil foram lideradas por imigrantes italianos, espanhóis e portugueses, que trouxeram na bagagem as ideias libertárias de Bakunin e Kropotkin. O anarquismo brasileiro nasceu dentro dos sindicatos, pregando a destruição do Estado e sua substituição por uma organização horizontal de coletivos livres, baseados em acordos voluntários e autogestão. Posteriormente, chegou o socialismo, que desde cedo assumiu um caráter mais institucional. A fundação do Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1922, com forte influência da Revolução Russa, foi um marco. Ao contrário dos anarquistas, os comunistas acreditavam em uma transição através da luta de classes e da implantação de um Estado socialista, centralizador e dirigido pela vanguarda do proletariado. Diante desse avanço das ideologias revolucionárias, em 1932 surge a Ação Integralista Brasileira (AIB). Sob a liderança de Plínio Salgado, o integralismo apresentava-se como uma alternativa “nacionalista, espiritual e moral” aos “perigos estrangeiros” do comunismo e do liberalismo clássico. Fortemente inspirado no fascismo italiano, o integralismo propunha um Estado autoritário, hierárquico e corporativista, capaz de eliminar os conflitos sociais pela harmonização forçada entre classes. Com saudações reminiscentes do fascismo europeu e o lema “Deus, Pátria e Família”, os integralistas rapidamente se tornaram uma das forças organizadas mais expressivas dos anos 1930. No jogo de xadrez das forças políticas, Getúlio Vargas soube neutralizar os extremos e construir seu próprio regime. Após o golpe de 1937, que instituiu o Estado Novo, Vargas fechou o Congresso, dissolveu os partidos (incluindo o Integralista e o Comunista) e implementou um governo centralizador, amparado por uma sofisticada propaganda de culto à personalidade, num autêntico fascismo à brasileira. Embora adotasse o discurso da justiça social, o varguismo manteve a economia sob forte controle estatal, estruturou o sindicalismo em moldes corporativistas e promoveu um nacionalismo cultural que buscava reforçar a identidade brasileira sob a égide do Estado. Quando Getúlio Vargas morreu, em agosto de 1954, o cenário político brasileiro já era bem diferente do que se via nos anos 1930. Anarquistas, integralistas, comunistas foram forças que, de fato, disputaram espaço no Brasil especialmente durante a década de 1930 — período de grande polarização ideológica, instabilidade política e influência das correntes internacionais. Só que, ao longo do Estado Novo, Vargas perseguiu praticamente todos esses grupos, enfraquecendo-os bastante. Quando Getúlio voltou ao poder em 1951, num contexto democrático, o quadro era outro: os anarquistas já tinham pouca influência, principalmente restrita a sindicatos pequenos, sem força política ampla; os integralistas haviam sido praticamente desmobilizados desde 1938, após o fracasso do levante integralista contra Vargas; quanto aos comunistas, eram os que ainda mantinham alguma organização, mas o Partido Comunista do Brasil (PCB) estava ilegal desde 1947, atuando na clandestinidade. A morte de Vargas não abriu espaço para aqueles grupos históricos, o que ela fez foi aprofundar a disputa entre forças nacionalistas e liberais-conservadoras, civis e militares, que já estavam se acirrando no início dos anos 1950. Essa polarização acabaria desembocando na contrarrevolução de 1964. O movimento de 1964 marcou o retorno de um governo centralizador e anticomunista, mas também estatizante. O regime militar consolidou um modelo de desenvolvimentismo controlado, criando estatais e dirigindo grandes projetos de infraestrutura, como a Transamazônica e Itaipu. A economia foi regulada pelo Estado, que intervinha sempre que julgasse necessário. Apesar de seu discurso conservador nos costumes e sua firme oposição ao comunismo, o regime militar não se aproximava do liberalismo econômico clássico, muito menos da defesa ampla das liberdades individuais. Com o fim do período dos governos militares em 1985, o Brasil esteve “ ocupado ” demais buscando equilibrar sua economia, criar um caminho de consenso político entre antigas e novas forças políticas e reconstruir sua autoimagem enquanto nação. Somente no final da década de 2010, após a crise política que abalou o governo Dilma Rousseff, é que o Brasil começa a presenciar o surgimento de um movimento até então raro: uma direita de viés liberal-conservador, com forte apelo popular e influência digital. Este novo segmento surge defendendo o liberalismo representado pelo livre mercado e o empreendedorismo, a redução da carga tributária e do tamanho do Estado, a defesa das liberdades individuais e de expressão e o combate à corrupção. Dando suporte moral a todas estas pautas seguem a preservação da família e dos valores tradicionais. Todas essas pautas defendidas por grupos diferentes e esparsos, confrontados com o já conhecido comunismo e acompanhado pelo progressismo. A percepção era como a de acordar de um sono longo e profundo em meio a um cenário confuso e conflituoso. Além de sua agenda, o liberalismo conservador brasileiro difere de seus antecessores pelo método: não possui um partido-Estado, não propõe liderança centralizada, nem culto personalista, mas se ancora fortemente na defesa da liberdade de expressão e descentralização proporcionada pelas redes sociais. Ainda que os opositores do liberalismo conservador brasileiro identifiquem um partido como o PL — Partido Liberal — como o centralizador dos políticos de direita; a figura de Jair Bolsonaro como o catalizador do movimento, em razão de um suposto culto à sua personalidade; e mesmo a existência de um lema muitas vezes repetido por Bolsonaro que é “ Deus, pátria, família e liberdade ”, que remeteria ao integralismo; há questões a serem esclarecidas: a órbita dos políticos de direita em torno do PL é circunstancial, em razão de não existir um legítimo partido que honre os ideais do liberalismo conservador (como teria sido o Aliança pelo Brasil). Bolsonaro não é a imagem ou o ícone do movimento liberal conservador, no máximo seu representante mais popular na atualidade, ou seja, o movimento é maior que seus representantes. Quanto ao lema, este é estruturalmente parecido, mas nunca igual, pois é encerrado pela palavra liberdade, que muito mais que uma simples palavra, opõe diametralmente o liberalismo conservador do ideário autoritário do integralismo. Apesar de seus adversários tentarem rotulá-lo de “ extrema-direita ”, trata-se de um fenômeno distinto das experiências autoritárias do passado: não busca o controle estatal sobre a sociedade, mas a contenção do Estado e o fortalecimento do indivíduo. É um movimento orgânico e que não pode ser identificado em partidos ou ícones, não exalta o Estado sobre o indivíduo, não cerceia, mas antes liberta o cidadão do jugo autoritário das políticas estatais ou de qualquer aventureiro totalitarista. Depois de um século marcado por conflitos entre coletivismos de viés autoritário, o Brasil assiste ao amadurecimento de uma vertente liberal-conservadora que, pela primeira vez, une mercado, liberdade individual e tradição cultural. Um capítulo inédito na história política nacional e, possivelmente, o mais relevante para as próximas décadas. O futuro é hoje. O futuro é inédito. O futuro tem um nome, e este é liberdade! Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. IV N.º 53 edição de Abril de 2025 – ISSN 2764-3867

  • O delir do propósito

    Antigamente era cultural o propósito, isto é, no campo do entretenimento era comum ver personas com uma motivação, um objetivo a ser cumprido, indiferentemente de qual seja. A priori, não aparenta algo relevante, pois aquele sonho de criança muitas vezes não é algo que você realmente quer, todavia, viver à maneira Zeca Pagodinho, “Deixa a vida me levar, vida leva eu”, é um subterfúgio para acomodar-se onde está, ficam em sua zona de conforto, deixando a vida passar, sem a menor pretensão de vida. Geralmente, acaba por passar despercebido este comportamento hodierno, embora o mesmo seja um dois principais problemas, uma vez que este está completamente emaranhado aos demais valores, desde religiosos, filosóficos, até as virtudes pessoas, pois, se nada almeja, se não pretende deixar nada para o próximo, para que melhorar, se esforçar. Aqui, faço uma interligação de textos para maior compreensão e uma leitura sobre cada tópico referente ao assunto. Com a falta do equilíbrio interno , perde-se os bons hábitos , os quais adquiriam valores e cultura para seus praticantes, de modo que, ao ficar sem práticas para somar em seu conhecimento, muito menos em formar sua moral, cai-se em um dos maiores problemas físicos atuais, isto é, problemas os quais remédios surtem efeito, ou seja, não são na formação de um indivíduo, mas, em verdade, são doenças neuropsicológicas . Baseando-se nestes textos, temos um efeito em cascata e, infelizmente, é improvável que alguém sem a mínima vontade de viver, muito menos de deixar algo para o próximo, retorne aos bons hábitos, a frequentar seu templo, ler a filosofia de seus antepassados, justamente por este buscar o caminho menos árduo, mesmo que isto significa seu decaimento. Ratifica-se tal conceito, quando até mesmo que busca uma ascensão social, pensa apenas no quanto conseguirá desfrutar da ambrosia, esperando sucumbir ao passar dos anos. Muitas vezes, tendo a oportunidade de continuar ‘ascendendo’, todavia, interrompe para torrar todas suas conquistas, podendo deixar um legado, um caminho a ser seguido para seu sucessor. Instaurar qualquer pensamento longínquo tem sido uma tarefa penosa, as pessoas não plantam tâmaras, apenas jacas para obter resultados em poucas centenas de dias. Entretanto, o lado contrário está disposto a morrer pela causa, ou até mais, pois estes levam os ‘valores’ de sua cultura marxista a ferro e fogo, quem não as cumpre é merecedor das mais arbitrárias penas, o que é visível principalmente em favelas, comunidades dominadas por uma guerrilha narcossocialista . Legitimar os atos de criminosos, desde que estes façam pela causa, é a maestria dos comunistas, visto que, se fora pelo bem da proliferação desta cultura nefasta, tudo é permitido, não importando o crime cometido, todos são absolvidos, ou no mínimo, amenizados, e saindo do meio legal, os praticantes do delito nem sequer serão vistos com um olhar pejorativo, pois serão irmãos que lutam pela mesma coisa, apenas com armas diferentes, um usa a caneta, outra usa, desculpe o exemplo esdrúxulo, a bunda para rebolar na internet para ganhar palanque, e tem até os que usam literalmente armas de fogo. Limite é uma palavra a qual estes não conhecem, todavia, não devemos tornarmos monstros para lidar com outros, uma vez que estes mentem descaradamente, basta vislumbrar a verdade objetiva que suas máscaras cairão para o povo. Ainda que seja fácil vencê-los no campo das ideias, a batalha é árdua, pois para isto, precisamos manter tudo aquilo que citei, a fé, filosofia, hábitos, conhecimento acadêmico, isto porque não nos damos a liberdade de justificar os meios pelos fins. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N.º 14 edição de Junho de 2022 – ISSN 2764-3867

  • A Éris do Tio Sam

    A deusa da mitologia grega Éris, no panteon romano chamada de Discórdia, é a divindade que representa o conflito, a disputa, a rixa ou simplesmente o aquilo que recebera o nome dado em honra a mesma em seu espectro romano. Filha da deusa Nix, Éris era a personificação da discórdia, movendo as intrigas que geravam conflitos, sendo uma divindade muito próxima ao deus da guerra Ares. Nos tempos atuais, não é difícil encontrar entre pessoas próximas alguém que parece ser um emissário, ou mesmo descendente, da divindade greco-romana, haja vista, a predisposição que determinados indivíduos parecem ter para criar ou alimentar conflitos. Por vezes observamos traços da deusa em pessoas próximas e outras em autoridades ou celebridades, que parecem ter um dom nato para semear a discórdia e o conflito, criando celeumas em quaisquer lugares que estejam presentes. Recentemente, esteve no Brasil, uma figura mundialmente conhecida e, na melhor das hipóteses, intrigante, mas que, basta observar o rastro por onde passa e podemos espiar a ação de Éris. Trata-se da Victoria Nuland, ocupante do alto escalão do governo progressistas que ocupa, ainda que de forma questionável, a Casa Branca. Sua passagem pela Ucrânia pode ter tido alguma influência no cenário atual daquele país e a passagem pelo Brasil não deixa de ser preocupante. Lembrando que o ex-presidente Donald Trump tinha afastado tal figura do alto escalão do governo. Não há como afirmar que Victoria Nuland tenha a missão de disseminar a discórdia, mas no jogo do poder a simples aparição de alguém que parece ter a conspiração em suas veias em terras brasileiras para, justamente, defender o sistema eleitoral do Brasil , quando o governante do EUA assumiu o poder após um processo eleitoral que pós em cheque a confiabilidade do sistema daquele país, deve ser observada com a devida suspeição. É importante que, em um momento decisivo, fiquemos atentos para que conspiradores a serviço do caos não possam tocar no timão e enviar nossa nação ao naufrágio, observando os sinais para não cairmos nos erros já experimentados por outros povos, pois, a única forma de precaver contra o mal é ter a consciência que ele sempre estará nas sombras espreitando e aproveitar-se-á da primeira oportunidade para atacar, ainda que, com as garras retraídas e com um sorriso em sua face. Será que tivemos a visita da Éris dos tempos atuais, podendo ser o prelúdio de uma era de embates ainda mais gravosos, e os demais “filhos” da discórdia, estariam eles entre nós? Parece que só o tempo dirá. “ Eu fiquei em São Petersburgo Quando vi que era a hora de mudanças Matei o Czar e seus ministros Anastasia gritou em vão Pilotei um tanque Tinha a patente de general Quando a Blitzkrieg começou E os corpos federam Prazer em conhecê-lo Acho que você já sabe o meu nome Mas o que está te intrigando É a natureza de meu jogo” Sympathy For The Devil – The Rolling Stones Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N.º 13 edição de Junho de 2022 – ISSN 2764-3867

  • Aos “Tiradentes” de todos os tempos

    Neste mês, no dia 21, lembramos de um fato histórico, cujo personagem é marcado por uma motivação que parece correr o tempo na história. No dia 21 de Abril de 1792 morreu Tiradentes; um alferes que assumiu toda a responsabilidade pela chamada inconfidência mineira. Um movimento que surgiu como resposta ao comportamento da coroa portuguesa em relação à cobrança de impostos, em uma apresentação bem resumida, assim é descrito o movimento que deu ao alferes a pecha de traidor. Não prometendo aqui falar de história nem esgotar o tema, até porque há quem aborde a história em nossa revista com total competência para o assunto. Quanto sim, falar sobre a filosofia que está por trás na história. Não é de hoje que grandes homens e mulheres levantam-se contra injustiças e autoritarismo de todos os tipos. William Wallace, Andrew Moray, Maria Quitéria, Gandhi, entre muitos outros foram grandes nomes nesse sentido. Para além da história, quero destacar elementos que vieram desses idealistas. O desejo por liberdade, justiça, independência e fraternidade, levaram muitos às últimas consequências. Mais a fundo podemos falar de mulheres de anos atrás quando Platão foi injustiçado em Siracusa, por levantar sérios questionamentos sobre a administração do rei. Sócrates, sofreu uma injusta condenação por levar ao povo uma filosofia que os faria enxergar o que muitos poderosos não queriam que fosse visto. Entre os exemplos, podemos ganhar com chave de ouro ao mencionar, o Cristo, que dispensa apresentação e comentários. Na linha do tempo as tentativas foram muitas e embora parava haver um fracasso em cada tentativa, há uma força muito maior que continua a alimentar os corações dos que buscam um mundo melhor. Na atualidade, como no passado, esse sentimento continua pulsando nos corações de uma grande multidão que por motivos óbvios mantêm-se na coxia da história. As injustiças continuam e como resposta, o sentimento de liberdade, paz e justiça alcança cada vez mais corações; é algo que vem de dentro ou quem sabe de cima, pois que ainda que debeladas as manifestações, nem a morte consegue vencer. Morrem os personagens, fica o sentimento, e cada vez mais forte. O erro de todos os que tentaram eliminar cada tentativa de uma sociedade mais justa, foi achar que combatendo pessoas combateram o sentimento. O que eles não sabiam e não sabem (se existem) é que enquanto houver um ser humano que seja capaz de fazer contato com esse ideal, ele trará de volta e cada vez mais forte. No passado, presente e também no futuro o ideal nunca morrerá e é certo que terá vitória pois ele se apoia no que há de mais elevado, e ser elevado é o destino de todo o ser humano. Deixo aqui, minha homenagem a todos os “Tiradentes” do passado, do presente e do futuro; a todos que hão de manter viva a chama da justiça para uma nação nova e melhor. Que Deus abençoe nossa jornada! Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. IV N.º 53 edição de Abril de 2025 – ISSN 2764-3867

  • A Páscoa

    Tradição, Reflexão e Renovação Espiritual A Páscoa é uma celebração profundamente enraizada na história da humanidade, marcando tanto a libertação dos hebreus da escravidão no Egito como, para os cristãos, a ressurreição de Jesus Cristo. Ao longo dos séculos, essa festividade foi absorvida por diferentes culturas e tradições, adaptando-se ao contexto social e espiritual de cada época. Mais do que um feriado, a Páscoa é um convite à reflexão sobre nossas falhas e sobre a importância do perdão e da renovação da fé. A palavra "Páscoa" vem do hebraico “Pesach”, que significa "passagem". No Judaísmo, ela representa a libertação dos hebreus do Egito, evento central do Êxodo. Para os cristãos, a Páscoa tem um significado ainda mais profundo: é a celebração da ressurreição de Jesus Cristo, o momento que marca a vitória sobre a morte e o pecado. Com o tempo, a Páscoa cristã assimilou símbolos de fertilidade e renovação presentes nas tradições pagãs europeias, como o ovo e o coelho, representando o renascimento da vida. Apesar das mudanças culturais, o cerne da celebração permaneceu inalterado: a fé na ressurreição e no amor redentor de Cristo. Quando o Cristianismo se tornou a religião predominante no Império Romano, a Páscoa foi consolidada como sua principal festa religiosa. Para reforçar o sentido espiritual da celebração, a Igreja Católica estabeleceu a Semana Santa e o Tríduo Pascal, período no qual os fiéis revivem os últimos momentos de Cristo antes de sua gloriosa ressurreição. Hoje, entretanto, a Páscoa também tem um aspecto comercial e social, muitas vezes desconectado de seu significado original. Mesmo assim, para os que buscam preservar sua essência, ela continua sendo um momento de profunda reflexão sobre a vida, o sacrifício e o amor divino. O Tríduo Pascal: A Essência da Páscoa Cristã O Tríduo Pascal compreende os três dias que antecedem a ressurreição de Cristo. Ele representa os momentos mais intensos da fé cristã, convidando os fiéis a meditarem sobre o sofrimento, a morte e a vitória de Jesus sobre o pecado. 1. Quinta-feira Santa – O Amor e a Servidão Este dia celebra a Última Ceia de Jesus com seus discípulos, na qual Ele institui a Eucaristia, oferecendo pão e vinho como símbolo de seu corpo e sangue. Além disso, ocorre o lava-pés, um gesto de humildade e serviço que ensina a importância de amar e servir ao próximo. Após a ceia, Cristo segue para o Jardim das Oliveiras, onde enfrenta profunda angústia em oração antes de ser traído e preso. 2. Sexta-feira Santa – O Sacrifício Redentor A Sexta-feira Santa é marcada pela Paixão e Morte de Cristo na cruz . É um dia de jejum, silêncio e profunda reverência. Durante a Liturgia da Paixão , os fiéis meditam sobre o sacrifício de Jesus e participam da Adoração da Cruz, reconhecendo o amor incondicional de Cristo pela humanidade. A Via-Sacra relembra o doloroso caminho de Jesus até o Calvário, onde Ele entrega sua vida pela redenção dos pecados. 3. Sábado de Aleluia – A Expectativa da Ressurreição Este dia simboliza o período em que Jesus esteve no sepulcro. É um momento de reflexão e esperança, enquanto os cristãos aguardam a chegada da ressurreição. Na Vigília Pascal, celebrada à noite, a escuridão da igreja é rompida pelo Círio Pascal, representando Cristo como luz do mundo. A liturgia renova a fé e culmina na celebração da primeira missa da Páscoa. A Páscoa não é apenas uma comemoração religiosa; é um momento de reconhecer nossas falhas e buscar a reconciliação. Assim como Cristo se entregou por amor, somos chamados a perdoar, a amar e a renovar nossa caminhada espiritual. No mundo moderno, onde tantas distrações nos afastam da verdadeira essência da vida, a Páscoa nos lembra que a fé, o sacrifício e a misericórdia são fundamentais para encontrar a paz interior. A Páscoa passou, deixando em nós um chamado à reflexão e à renovação. Revivemos os momentos da Paixão, da entrega e do triunfo da ressurreição, e agora seguimos adiante com corações renovados. Que os ensinamentos vividos nesse período não se dissipem com o fim das celebrações, mas permaneçam guiando nossas escolhas e atitudes. Assim como Cristo venceu a morte e trouxe nova vida, que nós também saibamos transformar nossas falhas em oportunidades de crescimento, levando adiante o amor e a esperança que a Páscoa nos inspira. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. IV N.º 53 edição de Abril de 2025 – ISSN 2764-3867

  • A Semana Santa

    Essa é a semana mais importante do ano, para os cristãos. Nela, revivemos a paixão de Cristo, suas dores e sofrimentos, as traições sofridas, os flagelos de sua carne e o jorrar de seu sangue. Rememoramos a Santa Ceia, o beijo da morte vindo de Judas, a negação de Pedro ao amanhecer, as falhas de caráter e a maldade humana, em sua potência máxima. Também lembramos de José de Arimateia, que pediu a Pilatos o corpo de Jesus, colocando-o em um túmulo nunca antes utilizado, aberto na cavidade de uma pedra. Dali o corpo desapareceria, reaparecendo Cristo, já ressuscitado, para seus apóstolos, no Domingo. Houve, ainda, a reconciliação de Herodes e Pilatos, inimigos declarados, mas agora unidos pela decisão que mudaria o rumo da Humanidade. Um, porque incentivou a crucificação. O outro, por ter lavado suas mãos, deixando a cargo da turba enlouquecida, que queria o Cristo crucificado, no lugar de um criminoso condenado. Refletimos sobre a primeira pessoa para quem Cristo apareceu, após ressuscitado: Maria Madalena , que foi ao seu túmulo rezar e encontrou-o vazio, tendo o Mestre surgido, então. Cristo não foi reconhecido por ela, num primeiro momento. Somente ao chamá-la pelo nome, esta percebeu que tratava-se do filho de Deus. E há muitos momentos mais… Todos os vícios e virtudes humanos já descritos ou conhecidos estiveram ali configurados, naquele episódio torpe da Humanidade, em sua pior versão. Houve quem se superasse, mostrando-se maior do que antes fora. Outros, na iminência da perseguição e da prisão, negaram o Cristo, fugiram, acovardaram-se. Muitos outros torturaram-no, feriram-no, xingaram-no, vilipendiaram seu corpo, humilharam-no, atacaram-no. A humildade de Cristo, em contrapartida, revela-se em muitos momentos. Na Santa Ceia, ao lavar os pés de seus 12 Apóstolos. Na aceitação da humilhação e dos sofrimentos que lhe foram infligidos, durante a via crucis de sexta feira. Na redenção do ladrão com ele crucificado, exortando-o para que entrassem juntos no Céu. Sobretudo, na submissão total e irrestrita à vontade de seu Pai. Afinal, Jesus poderia, após tantos milagres realizados, com um só gesto, fazer cessarem todos aqueles atos bárbaros, de selvageria e brutalidade, contra ele perpetrados. Contudo, a vontade de Deus era de que sofresse Ele, o Cristo, em seu próprio corpo, para salvar a Humanidade. E assim foi feito. Tudo que emerge da Semana Santa, pode ser ferramenta para nossa evolução, com o aprimoramento das nossas virtudes, a elevação moral, a busca do amor, da compaixão e da solidariedade. Podemos morrer para quem fomos, renascendo para sermos quem queremos ser. Muito nos foi dado. É justo que retribuamos. Podemos ser bons. Sinceros. Justos. Corajosos. Equilibrados. Amorosos. Fraternos. Menos raivosos e ressentidos, egoístas e autocentrados. A mudança sempre começa em nós. A fé materializada gera um conjunto de atitudes, que podem transformar-nos como seres humanos. Desejo uma Santa e abençoada Páscoa para todos. Que Jesus esteja em seus lares mas, principalmente, em seus corações. Todos podemos ser maiores e melhores. O exemplo está ali: basta olharmos para a cruz. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. IV N.º 53 edição de Abril de 2025 – ISSN 2764-3867

  • A guerra dos enclaves

    A Grécia antiga, conhecida por seus habitantes como Hellas, diferente daquele que vemos nos dias atuais, pois, naquele tempo, o que hoje conhecemos como Grécia era uma região composta por cidades-estados de forma que, os centros urbanos gozavam de soberania, pois os cidadãos livres, que participavam ativamente da política, não possuíam vínculos com quaisquer outras cidades, logo, havia uma total independência entre uma cidade-Estado e as outras. Evidentemente, as terras próximas de uma determinada cidade-Estado estavam sujeitas à influência daquela e, por vezes, a ausência clara de fronteiras fazia com que duas das figuras soberanas disputassem o território que consideravam como seu. A existência clara entre fronteiras faz com que nações não precisem se digladiar em disputa por porções de terras, por outro lado, a definição das fronteiras pode ser questionada com base em inúmeros argumentos. Se por um lado uma fronteira pode ter surgido com base em um determinado marco geográfico, como é o caso das fronteiras fluviais, destacando-se o Rio Danúbio, responsável por dividir diversos países do leste europeu e as fronteiras entre Brasil, Paraguai e Argentina, ao sul do continente americano. Por outro lado, há fronteiras que surgiram com base em tratados, sendo resultado de guerras ou não. Nenhuma fronteira é inquestionável, podendo uma nação reivindicar uma alteração sob os mais diversos argumentos. Usualmente, para que um país alegue que a fronteira não deveria ser estabelecida em determinado ponto, seus líderes levantarão questões históricas ou a presença de uma população que se considera integrante do povo da nação que não detém a soberania em determinado território. A Bolívia, eventualmente, reivindica seu acesso ao mar, ora perdido para o Chile em batalha, questionando o resultado do episódio, de maneira que, busca que o governo chileno reconsidera a anexação da região que ocorrera há mais de um século, todavia, não existem relatos recentes de que a Bolívia tenha ameaçado uma ação beligerante com o fim de reaver tal território. A Venezuela, por sua vez, deixa evidente que está disposta a recorrer ao uso da força para mover a fronteira da Região do Essequibo, buscando invalidar o tratado que definiu ser da Guiana a maior parte da aludida região, de maneira que, a ditadura bolivariana pretende, mesmo se isso der início a uma guerra, se apossar de todo o território, o que inclui parte que pertence ao Brasil, para satisfazer a sanha do ditador, talvez como meio de concentrar os esforços da população em uma guerra vazia que visa, tão somente, o enriquecimento do déspota que ocupa o poder, a despeito dos males que o próprio governo narcossocialista impôs ao povo daquele país. Uma outra reivindicação, está levada a cabo por ação beligerante, foi feita pela Rússia em relação à Criméia e, posteriormente, às regiões de Lugansk e Donbasse, em face da Ucrânia, cujo fundamento apontado pelo ditador russo era a proteção dos russos étnicos que habitavam a região, alegando que a Ucrânia, sofrendo grande influência do ocidente e contaminada por uma espécie de neonazismo, tomava medidas enérgicas contra grupos separatistas que pretendiam anexar tais territórios à grande potência vizinha, colocando em risco a integridade dos russos étnicos que ali viviam. Embora Moscou patrocinasse ativamente os separatistas, por isso, após seu fracasso decidiu assumir que a intenta dos supostos guerrilheiros era, na verdade, uma ação da própria Rússia, o temor em relação da aproximação da Ucrânia com o ocidente restou evidente quando o país do leste europeu decidiu se candidatar ao posto de membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte, o que impediria uma ação da Rússia contra a Ucrânia sem, em tese, sofrer a retaliação de outros membros da organização. Uma reivindicação ainda mais acentuada, embora ainda não tenha resultado em uma ação militar declarada, é da ditadura chinesa em relação à Taiwan, na qual, o governo socialista de Pequim apenas instiga um possível ataque, provocando seu alvo para desgastar a confiança do povo taiwanês em seus líderes. A questão de Taiwan difere das demais reivindicações ora apresentadas por conta de um ponto central, a China não pretende anexar parte do território de Taiwan, desejando assumir o controle total da soberania da ilha, de forma que o Estado taiwanês deve ser extinto caso a gigante ditadura asiática concretize seu desejo. A soberania permite que seu detentor, sendo o povo, uma ditadura ou qualquer outro regime de governo, exerça sobre aquele território o poder em caráter absoluto, estando adstrito às regras preestabelecidas em sua norma fundante, quando ela existir. Um Estado soberano, em regra todos o são, é capaz de se autogerir, criar suas normas e dirimir conflitos entre seus integrantes, podendo opor-se aos desmandos externos em seus domínios. As fronteiras podem apresentar características interessantes, mas o caso dos enclaves é algo que pode nos levar a uma reflexão sobre a questão da soberania, posto que, embora existam países que não possuem um acesso a uma rota libre, ou seja, uma saída para o mar, na qual é preciso manter uma relação comercial ou militar sem anuência de outro Estado, como a já citada Bolívia, incapaz de manter uma rota, ainda que espacial, sem a concordância de seus vizinhos, os enclaves, em se tratando de Estados, são países em que o território é totalmente circundado por outro país, não podendo manter rotas terrestres ou aéreas sem que o seu único vizinho permita. Os enclaves mais conhecidos são o Lesoto, inserido em meio ao território da África do Sul, o Vaticano e San Marino, enclaves envoltos pelo território italiano, de maneira que, tais Estados não podem se relacionar comercial ou militarmente com qualquer país que seja sem a aquiescência dos países que os circundam. Hipoteticamente, caso Lesoto e a África do Sul iniciassem um conflito por quaisquer motivos, salvo a interferência de terceiros, isolaria o enclave, impedindo que qualquer tipo de ajuda, seja militar ou humanitária, fosse enviada àquela pequena nação. No cenário de guerra entre Lesoto e África do Sul, se o apoio dado por outras nações se resumisse ao que ocorre na Ucrânia, envio de dinheiro e armas, o Lesoto sequer poderia receber tais contribuições, não podendo garantir seu esforço de guerra. Seria, em tal hipótese, um cerco com base na estrutura existente anterior à guerra em si. O mesmo ocorreria com San Marino em se tratando de um conflito entre tal enclave e a Itália. O Vaticano seja talvez uma rara exceção, uma vez que seu valor inquestionável à grande parte de cidadãos de outros países faria com que diversas nações fossem compelidas a intervir e impedir que a soberania daquele país fosse ameaçada. A própria Itália, dado o considerável número de italianos que professam a fé católica, teria dificuldades em promover uma invasão ao Vaticano. Analisando pela ótica do Vaticano, que, como observado, quase não corre o risco de sofrer um ataque por parte do país que o circunda, nota-se que o senário se inverte, pois a Itália acaba por se tornar uma defesa do pequeno país, impedindo que uma nação estrangeira avançar sobre o Vaticano sem antes declarar guerra à Itália, tal regra também pode favorecer San Marino e o Lesoto, se estes mantiverem uma boa relação com aqueles que os cercam. Não há como declarar guerra ao Lesoto sem que a África do Sul, ao menos, concorde com a invasão, caso contrário a nação circundante estará envolvida no confronto, servindo de barreira em favor do Lesoto, caso em que a África do Sul tornar-se-ia um obstáculo maior que as próprias defesa do país que se pretende atacar. No passado a África do Sul interviu no Lesoto para, segundo o Governo de Mandela, evitar um suposto golpe de estado, quando um dos partidos do pequeno enclave conquistou setenta e nova de oitenta cadeiras no parlamento, gerando o questionamento quanto a lisura do processo eleitoral. Evidente que a África do Sul, governada por Nelson Mandela, não constatou grandes irregularidades no processo eleitoral do Lesoto quando partido denominado Congresso do Lesoto para a Democracia, ligado à Internacional Socialista, venceu as questionadas eleições por uma vantagem quase inimaginável. A Itália, no período da Segunda Grande Guerra, também interviu em San Marino para apoiar os fascistas, bombardeando o pequeno enclave, surgindo assim o Fascio Republicano de San Marino. Seguindo os mesmos moldes de Mussolini, Mandela apoio seus pares ideológicos intervindo no enclave, o que prova a fragilidade e interdependência de uma nação cujo território está inserido e cercado por outro Estado. Ao que indica, a soberania de um enclave é algo frágil, quase que sujeita a aprovação daquela nação que cerca totalmente o país encravado. Assumindo a ideia de soberania fragilizada, é inevitável se questionar se há de fato soberania, posto que, a autodeterminação independe da permissão de um ente maior, podendo aquele povo editar regras conforme sua vontade. Hipoteticamente, a soberania de San Marino que sequer tem uma força de defesa, contando apenas com forças de segurança e cerimoniais, cabendo a Itália garantir a proteção de seu território, ou até do Lesoto, que dispõe de um exército formal que está adstrito às funções de guarda real e policiamento, sendo, portanto, incapaz de se proteger de sua vizinha, podem ser questionadas. Mais uma vez, desconsideramos o Vaticano, por ser a sede da Igreja Católica e, por isso, ter a proteção dos católicos em todo o mundo, sem contar que, mesmo os ortodoxos e protestantes, naturalmente, repudiam a ideia de um ataque belicoso ao Vaticano. A soberania permite que um ente, que pode ser representante do povo ou não, pois um ditador ou tirano podem exercê-la, possa dirimir conflitos, promover políticas e editar suas regas, podendo impô-las pelo uso da força. Um Estado soberano é capaz de impor um código de ética para o convívio e exercer a jurisdição, que é apontar a quem assiste razão em um conflito, além disso, ele se autogere, se organizando e distribuindo funções, o que não e uma prerrogativa única da soberania, mas encontra-se presente para que existam meios de legislar, julgar e governar. Não há como negar que o crime organizado, assumindo sua face de guerrilha narcossocialista, apresenta características de Estados soberanos nas áreas sob sua influência, posto que, tais forças criam seus códigos de conduta e os impõem aos que ali vivem, contando até mesmo com julgamentos e aparato de repressão. Os senhores dos enclaves chamados favelas, são praticamente soberanos em seus territórios, ocorrendo, por vezes, intervenções do Estado que os circunda, mas sem grande repercussão, pois, são situações pontuais e cada vez mais restritas. O Presidente salvadorenho Nayib Bukele, conhecido por suas ações drásticas contra o crime organizado em seu país, as chamadas maras, chegou a afirmar que um Estado que não combate com a máxima energia as organizações criminosas que atuam em seu território deveria ser considerado cúmplice, deixando evidente que a existência dos enclaves que são bolhas de soberania em meio à outra, só podem existir com a anuência daquele que deveria o soberano real sobre aquele território. A narrativa de que o Estado não poderia agir com firmeza devido às violações de direitos humanos, critica que se aplica à administração de Bukele, não encontra fundamento, uma vez que, a existência de enclaves do crime em território de um país, permite que as organizações criminosas que dominam tais espaços exerçam sua soberania violando ininterruptamente os direitos humanos daqueles que estão sob o seu julgo, ainda que vivam ou circulem apenas pelos arredores, portanto, ao sobrepesar o direito do membro da organização criminosa e de suas vítimas, o Estado deveria proteger aqueles que, em nenhum momento, optaram por delinquir e violar o direito alheio. Ao alegar que as forças de segurança não podem atuar com energia com o fim de evitar violações de direitos humanos, o Estado está relegando os cidadãos, em especial os afetados pelas ações dos criminosos, à soberania dos enclaves do crime, assumindo, segundo o Presidente Bukele, uma posição como cúmplice dos algozes de seu povo. O governante salvadorenho traz à superfície uma hipótese que pode ser aterrorizando, pois, se consideradas a áreas sob o controle das organizações criminosas, cartéis organizados, hierarquizados e com códigos de éticas claros, além de assumirem uma postura cultural, afirmando sua ideologia e influindo nas práticas comerciais e de entretenimento, podemos perceber que há um distanciamento entre os cidadãos que vivem no território circundante e os que habitam os enclaves do crime. Assumindo tal premissa, os cidadãos que vivem nos enclaves do crime podem se considerar como integrantes de outro povo, por isso, a máxima de que o outrora chamado morador do asfalto não merecia a preocupação, sendo, na visão de conflito de classe, uma classe opressora que deve ser expropriada pelos agentes da revolução, ou seja, os senhores dos enclaves com soberania parcial ou tolerada. Se, por um lado, o Estado soberano pode atuar contra as organizações criminosas que atuam em seu território, cercando-as e assumindo o controle das áreas sob suas influências, também é importante dizer que, ao deixar de investir contra as facções, mesmo que fundamentando na narrativa dos direitos humanos que só alcançam o lado dos membros do crime organizado, o Estado estaria servindo de escudo para que outras forças não pudessem atuar no sentido de reprimir as organizações criminosas. Observando tal impasse, abraçando a teoria do Chefe de Estado de El Salvador, assim como a Itália serve de proteção para um possível ataque contra San Marino e o Vaticano, e a África do Sul teria o mesmo papel em se tratando do Lesoto, poder-se-ia imaginar que o Brasil desempenha a mesma função quando em se tratando das organizações narcossocialistas, como o Primeiro Comando da Capital, o Comando Vermelho, o Terceiro Comando e os grupos paramilitares denominados milícias, além de outras facções menores que, por ventura, assumam igual papel. É evidente que a ideologia socialista abrigou em seu seio, tais facções, algo esperado uma vez que foi tal pensamento político que outrora deu vida ao que hoje são as guerrilhas narcossocialistas, portanto, não seria absurdo, após refletir a respeito da fala de Bukele, que Estados como o México são associados e protetores dos cartéis que lá habitam, confirmando a hipótese que as facções no Brasil são enclaves que gozam do reconhecimento parcial e da proteção indireta do Estado, algo que fica ainda mais sombrio se observadas as políticas de enfrentamento ao crime organizado por parte de políticos de viés marxista ou social-democratas, como o nada saudoso Leonel Brizola, a quem se atribui uma diretriz de recuo das forças de segurança e o “abandono” das áreas ocupadas pelo crime organizado. Quando houve, ao menos em proposta, a ideia de enfrentamento mais enérgico em face do crime organizado, uma legenda socialista recorreu ao Poder Judiciário para impor limites à atuação policial apenas no Rio de Janeiro, criando uma espécie de regramento que protegia apenas as organizações criminosas que atuam naquele ente federativo, o que parece uma resposta à promessa de enfrentamento ao crime que pode ter sido um dos fatores que elegeu o chefe do governo fluminense no ano anterior. Se as facções lutam pelo controle territorial e, uma vez assumindo-o, passam a impor seu código de conduta, explorar atividades mercantis, lícitas ou não, além de influenciarem diretamente na cultura, tais grupos arregimentam soldados entre os jovens locais e alimentam a narrativa de que as forças de segurança acabam por ceifar a vidas de uma juventude periférica que a própria guerrilha revolucionária levou para o fronte, romantizando a criminalidade e assediando com dinheiro e poder os incautos, dando aos que pretendem frear a atuação coercitiva dos agentes de segurança, elementos que justifiquem a interrupção total ou parcial do enfrentamento ao crime. Os senhores dos enclaves, por sua vez, percebem que podem exercer o poder em seu território através da força e avançam sobre as áreas que circundam, expandindo suas atividades para localidades mais lucrativas, cientes de que devem desafiar o Estado de forma pontual, pois, para o seu próprio povo, os que vivem nos enclaves, precisam passar a imagem de entes soberanos, ao passo que buscam conquistar os enclaves que são controlados por outras facções, entretanto, para os que vivem fora de seus domínios, é preciso impor o medo sem que se coloquem como uma afronta real ao Estado. Por fim, na mais perversa das hipóteses, ainda assumindo a premissa de Nayib Bukele, é preciso verificar se, assim como a harmonia existente entre San Marino e a Itália, não há uma relação de simbiose entre o Estado e os enclaves do crime, que proteger-se-iam mutuamente para que figuras estranhas não possam agir contra as organizações criminosas e tais facções, de alguma forma, concedam favores às autoridades ou ao regime como um todo, impedindo que o povo se levante contra seu verdadeiro algoz, um conluio entre o poder aparentemente legítimo e aquele que sequer apresenta verniz de legalidade. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. IV N.º 52 edição de Março de 2025 – ISSN 2764-3867

  • A construção de uma nação

    Uma nação não nasce de um dia para o outro, a história de um povo é a sua essência, forjada por séculos, há aquilo que mantém tantos indivíduos ligados em uma fraternidade única. O descobrimento é o ponto chave na criação do Brasil que hoje conhecemos, para alguns até mesmo tal nome deveria ser modificado, entretanto, é assim que será chamado, pois descobrir é revelar e desde aquele encontro de duas culturas tão diferentes começara a se desenhar aquilo que hoje chamamos de Brasil. Parte das pessoas credita a chegada dos portugueses ao Brasil à fortuna e outras tantas ao desejo de desbravar novos horizontes, sendo certo que, por um golpe de sorte, o qual pode ser também reconhecido como o designo divino, ou pela dedicação daqueles que buscavam novas terras, deve-se assumir que as navegações eram aventuras que dependiam de fé e conhecimento. Se os ventos da sorte ou a dedicação trouxeram os navegadores ao Brasil, esta escrito que esta terra deveria ser o local do encontro entre os povos indígenas e os europeu, logo, independente da versão que se assume, há de se reconhecer a importância da descoberta. Dos portugueses, descendentes do Império Romano, e dos índios, que já habitavam as terras do novo mundo, a princípio, surgiria o povo brasileiro, não fosse o fato de o futuro nos reservar ainda mais. Surgem as invasões, ora franceses ora holandeses, miscigenando ainda mais o povo e, a chaga da escravidão, que trouxe às terras do Brasil os escravos, oriundos de mais de uma etnia, somaram-se a forjar a raiz do que hoje é o brasileiro. As guerras, de Guararapes à participação na Segunda Grande Guerra derramou o sangue dos brasileiros e moldou heróis, não menos importantes foram os grandes nomes que ascenderam a produção cultural do país, como Machado de Assis, Heitor Villa-Lobos e tantos outros. No Brasil atual, parece que a cultura tem sido vaporizada, consumida por chamas de uma subcultural nefasta, como recentemente ocorrera Museu de História natural, outrora palácio no qual residira o monarca. O advento da obra do lúmpen proletariado  e sua consagração como “arte”, a fim de alçar ao topo da produção cultural do país, fazendo com que, a nação seja incapaz de produzir a boa arte. Apaga-se a memória ao passo que dão novo significado às palavras, corrompendo a linguagem , ou simplesmente suprimindo informações. Tratando o regime de exceção de outrora como ditadura, os revolucionários que buscavam impor uma ditadura como defensores da democracia e, até mesmo, apagando o nome de autoridade  em feito que a envergonhe. Guardar a memória é essencial para manter a história de um povo e assim conservar sua verdade, a cultura é a manifestação de uma nação e através dele, lega-se às gerações vindouras o sentimento fraterno entre os cidadãos, sendo, um povo sem história e sem cultura incapaz de identificar-se e proteger-se. Não por acaso, revolucionários rejeitam a celebração do hino nacional, pois sabem reforça a fraternidade entre patrícios, sem, contudo, causar objeção à execução de sua abjeta exaltação do hino da internacional socialista, uma ode à pútrida ideologia que derrama sangue como meio de obtenção do poder. O cuidado em preservar a cultura e, portanto, a história é um dever de todos, afinal, muitos de nós conhecemos os chamados “velhos ditados”, reconhecidos, devidamente, como sabedoria popular. Sabemos que há inúmeros contos na literatura de cordel e nas cantigas do interior não morreram, em que pese, queiram enterrar vivas, as tradições das serestas e as festas juninas, cada vez mais distantes, celebrações que em outros tempos, tão próximos que recordamos, celebravam São João, Santo Antônio e São Pedro, apresentando ao público as chamadas quadrilhas, não as que tomam de assalto os cofres da nação, mas aquelas que através da cultura uniam seus integrantes que somavam esforços para manifestar o ser brasileiro. A sétima arte se corrompeu no crepúsculo do extinto Cinédia, antigo estúdio cinematográfico em Jacarepaguá, onde hoje há um condomínio, destroçando-se quando a produção do cinema acaba por morar na mesma região, no atual Projac, caindo nas mãos de uma empresa diretamente dedicada ao monopólio da informação . Não conservar a produção cultural, mas acrescentá-la, é indispensável ao resgate do povo e um futuro com esperança. A história precisa ser verdadeira e não aquela contada por alguns . É imperioso que a produção de conteúdo artístico seja uma prioridade, antes que sequer consigamos entender quem somos. Retomando o fato de como hodiernamente o Brasil se encontra, estamos presenciando uma revolução comunista à moda Gramsci, esta que fora implementada há anos, de forma que a cultura do povo brasileiro tem sido renegada para aderirem à sociedade uma cultura marxista. A cultura retém tamanha importância pois esta molda a sociedade, isto é, uma civilização nada mais é do que um amontoado de indivíduos, sendo baseada numa média de seus componentes, um ou outro será destoante, todavia, majoritariamente haverá uma similaridade dentre os valores de seus integrantes. De forma análoga, no Direito têm-se o conceito de que o poder emana do povo, considerando tal afirmativa e retirando do âmbito jurídico, temos o poder caracterizado como valores, mantendo-se em tal analogia retemos o sentido de que, um povo o qual deseja pena de morte para determinados crimes, terá tal pena em seu território, de forma concreta vemos este caso e na abstrata, na cultural, têm-se um povo cujo não achará nenhum absurdo algum criminoso ser morto devido seu crime, a lei nasce para regulamentar os valores sociais. Dito isto, podemos ver de forma simplificada os valores de uma nação em suas leis, pois esta é visível, é literária, enquanto a cultura está no modo de pensar, viver, de cada indivíduo. Um povo cujo renega sua própria cultura, é um povo desconexo, algo o qual vivenciamos no Brasil, pessoas distribuídas em subgrupos, tentando aderir um arrematado de ideias que não fizeram parte na construção de sua personalidade. Nada é feito atoa, uma civilização dividida é naturalmente enfraquecida por si mesma, veja bem, quem nunca viu um brasileiro falar mal do Brasil, se dizer menos brasileiro, como se fosse uma ofensa, hastear uma bandeira de um subgrupo homossexual no local de sua nação. Feito tal adendo, aponto para o âmbito artístico novamente, pois esta, é uma área inexplorada por conservadores, uma pauta a qual não se discute, visto que está em mãos inimigas. Como Olavo de Carvalho dizia, um artista é um intelectual, jamais por ser inteligente, vemos diversos artistas como Anitta e sua afirmação dos dólares voando , isto é, o título de intelectual é para aquele o qual consegue moldar a mente de uma multidão, infelizmente, a própria Anitta tem milhões de seguidores, de reproduções em suas músicas, inclusive crianças acabam tendo contato, então Olavo caracteriza alguém assim como intelectual, e é isso que falta, professores, artistas, jogadores de futebol, qualquer pessoa que tenha influência no mais leigo, apenas livros, palestras de conservadores para conservadores, acaba sendo um movimento brusco, o qual é sim necessário, todavia, não neste momento, pois entrega-se um conteúdo vislumbrante sobre patriotismo para pessoas as quais buscam a cultura brasileira, enquanto aquele que trabalha, estuda, tem filhos, uma vida humilde cujo para apenas para assistir televisão no horário da janta, estará vendo Globo neste momento, seguindo um jogador de futebol militante, ouvindo as músicas daquela citada anteriormente. Neste momento, uma atenção para o lado artístico, para o lado acadêmico, pois os professores das crianças atuais, já estudavam no estilo Paulo Freire, então terão uma didática completamente no sentido nefasto da instrução acadêmica, nos hábitos, todavia, citarei este tópico em específico. É necessário uma linha oposta no âmbito supracitado, pois principalmente as crianças, só tem acesso ao lado corrompido, muitas das vezes estas escolheriam o certo se ao menos este se fizesse presente em sua vida, se ela o conhecesse. Um caminho correto, todavia, ofuscado pelo caminho errôneo, não por capacidade daquele nefasto, mas também pela passividade do certo, faz com que só seja visto o maléfico, o qual aparenta ser o único. O povo via-se sem escolha, o Presidente desbravou o caminho e apontou para a direção, entretanto, não há como uma única pessoa trilhar o caminho de uma nação por inúmeras gerações, cabendo àqueles que compartilham do mesmo viés, do mesmo sentimento, compatriotismo, continuar a sinalizar para outrem que existe uma opção mesmo neste mar de trevas. Relembrando que, comunistas jamais se darão por vencido, da mesma forma que não aceitam o fracasso de sua ideologia, se negam a ver as chacinas feitas para no fim, fracassar, e nunca chegarão ao que fora dito como conclusão, visto que esta nada mais é do que uma utopia para os mais leigos, pois, quem realmente sabe do que se trata, tem em mente que nunca chegará em tal ponto. Lutamos para que o Brasil não seja tomado por essa metodologia gramsciana, todavia, a forma de Lenin ainda é uma opção vista por aqueles de natureza corrompida, visando o comunismo como algo sacro, desta forma, visar toda a parte social é necessária, todavia, não podemos deixar a parte militar de lado, pois esta também será usada caso a sociológica não falhe. A cultura é como um caminho, trilha esta que moldara toda a nação, através de seus costumes, valores, hábitos, moral, religião, de forma que nada será implementado de uma hora para outra, todavia, gradativamente há quem tente introduzir a cultura marxista no lugar da nossa, e caso isto ocorra de fato, o Brasil perderá sua identidade como a nação que é. Para não só manter a nação, mas melhorá-la, anteriormente precisamos saber quem fomos, para sabermos quem somos, para depois desta etapa, pensar em quem seremos, deixando frisado a necessidade de resgatar a cultura adquirida dos antepassados, e somar com algo hodierno, mas nunca substituí-la. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N.º 13 edição de Junho de 2022 – ISSN 2764-3867

  • Antes de partir

    A hora da nossa morte, nosso “memento mori”, é quando fazemos um balanço de tudo que se passou conosco e das escolhas que fizemos, perante essas circunstâncias. Filósofos antigos como São Tomás de Aquino colocavam um crânio sobre suas mesas de trabalho, a fim de que não se esquecessem da máxima “do pó viemos e ao pó retornaremos”. Esse é o tema abordado, como pano de fundo, na série Il Gattopardo na Netflix. Baseada nos livros de Giuseppe T Lampedusa, a narrativa se desenrola em torno do príncipe siciliano Fabrizio Salina e de sua família. Também conhecido como Il Gattopardo (O Leopardo), o príncipe é um homem vaidoso e altivo, arrogante e soberbo em suas decisões. Conduz com pulso de ferro os rumos de sua família, não admite críticas a suas atitudes, é intransigente em diversos assuntos e gera conflitos e disputas que poderiam ser evitados, por meio do diálogo. Entretanto, os tempos eram outros. Estamos no século 19, quando a Itália era palco de inúmeros conflitos por sua unificação, sendo, à época, dividida em vários reinos. O reino governado pelo príncipe era o da Sicília. Pai de seis filhos, Don Fabrizio tem que demonstrar força e poder e enxerga seu sobrinho Tancredi como seu sucessor natural, em detrimento do próprio filho Paolo. Com isso, protege e encobre os excessos do sobrinho, o que gera ressentimentos no filho. Sua filha Concetta é a menina de seus olhos e a voz da razão, dentro de sua família. A ela, cabe o difícil papel de alertar o pai sobre seus erros, não sendo, contudo, bem compreendida por este, o que gera muitos desentendimentos entre os dois. A estória é belíssima, trazendo questionamentos sobre fé, amor, valores e virtudes, prazeres e política, escolhas e renúncias, traições e reconciliações. Reproduz a época e os conflitos havidos na Itália do século 18, até a sua unificação. Ocorre que, na hora de sua morte, Don Fabrizio confessa que, ao longo da vida, fez muitas coisas de que se arrepende, com pequenos lampejos, “entre as cinzas de seus erros”, acerca de momentos felizes que viveu. E esses momentos não possuem correlação com dinheiro, poder, vitórias e glórias, mas com o sorriso da esposa, em seu primeiro encontro, ou uma valsa dançada, um perfume sentido no ar, a aurora de uma nova manhã… Assim é, também, a nossa experiência na Terra. O que nos faz felizes são as coisas simples. Os gestos de bondade. O amor e a amizade sinceros. O sorriso de um filho. A contemplação de uma linda paisagem. Buscamos, muitas vezes, prazeres e sensações, reconhecimento e dinheiro, quando o que importa está muito além disso. Don Fabrizio, como tantas pessoas, percebeu isso apenas ao constatar que a morte estava próxima. A partir desse momento, tornou-se mais humano, menos autoritário, mais sensível ao que estava ao seu redor e que antes, simplesmente, não percebia. Um livro que traduz a hora da morte de um homem poderoso, imerso em um universo de vaidades e interesses dúbios, é A Morte de Ivan Ilitch, de Tolstói. Neste, um juiz de direito da alta corte, na Rússia do Século 19, dá-se conta de que, em seu memento mori, só restou-lhe a companhia do criado. O romance foi escrito logo após a conversão religiosa do escritor e é de uma sensibilidade impactante. Todos nós devemos refletir sobre como será o nosso memento mori, qual será o nosso legado e quem serão as pessoas que estarão realmente presentes, quando a nossa vida estiver chegando ao fim. Caso a conclusão a que você chegar não seja aquela que desejava, olhe para dentro de si e analise as suas escolhas e para o rumo que está dando às coisas, por aqui. Sempre há tempo de mudar… Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. IV N.º 52 edição de Março de 2025 – ISSN 2764-3867

  • A imprensa e o Direito de Informare

    Vivemos na era da informação e das redes sociais. O volume de dados que circulam o planeta Terra diariamente ultrapassa o valor inimaginável de 12 bilhões de Gb. O fenômeno da capilarização da informação, proporcionado pela internet, fez com que os grandes conglomerados de comunicação praticamente perdessem o controle e o monopólio que mantinham sobre a comunicação de massas. Cada pessoa pode ser um comunicador, cada celular é um instrumento de informação. Mas o que é informar? Do latim informare , informar significa dar forma, instruir. A ideia implícita em informar é oferecer conteúdo àquele que ignora, pressupondo que a informação é construída a partir de alguém que previamente conhece o fato e, moldando – dá forma – para em seguida comunicar ou informar. A história da veiculação de informações e notícias no Brasil colonial, seguiu na contramão do que se praticava na América espanhola. Segundo Sergio Buarque de Holanda, ainda na primeira metade do século XVI já se prensavam livros na Cidade do México, mas somente em treze de maio de 1808 através de um decreto assinado pelo Príncipe Regente D. João VI, foi criada a Imprensa Régia. Então, em setembro daquele ano e com a utilização de maquinário de tipografia instalado na residência de Antônio de Araújo e Azevedo, futuro conde da Barca, Ministro dos Assuntos Estrangeiros e da Guerra, saiu a primeira edição da Gazeta do Rio de Janeiro. Essencialmente o jornal reproduzia informações anteriormente distribuídas por outros periódicos europeus, além de apresentar notícias sobre os atos de governo. Uma biblioteca era um jardim em um ambiente cultural ainda extremamente árido como o do Brasil colonial e, somente a partir de 1808 o Rio de Janeiro, capital do império português, recebeu sua primeira Biblioteca Real. Ainda em 1808, por não ser permitida no Brasil a impressão de qualquer livro, jornal ou panfleto, além do material produzido pela Imprensa Régia, o jornalista Hipólito José da Costa fundou o Correio Braziliense. Hipólito fundou seu jornal em Londres, onde passou a ser impresso e distribuído, chegando clandestinamente ao Brasil e escapando assim da proibição imposta pela coroa, já instalada na cidade do Rio de Janeiro em função das invasões napoleônica a Portugal. Tornando-se um instrumento de divulgação de ideias liberais em língua portuguesa, tendo acompanhado e transmitido informações sobre a Revolução do Porto de 1820 e o processo que conduziu à independência do Brasil em 1822, certamente causava transtornos à coroa portuguesa. A independência americana e a Revolução Francesa eram ainda episódios recentes e preocupantes aos interesses coloniais portugueses. De tal modo era necessário controlar a livre circulação de notícias e informações que, segundo o historiador Laurentino Gomes, o Correio Braziliense passa a ter parte de sua tiragem adquirida pela própria coroa e passa a receber subsídios para apresentar um conteúdo mais amigável ao governo de D. João. Arriscaríamos dizer que pode ter sido o primeiro caso conhecido no Brasil de acumpliciamento entre o Estado e um meio de comunicação. Em 1811 surge na Bahia o jornal Idade d'Ouro do Brazil, publicado duas vezes por semana e com a permissão do Governador Geral da Bahia, Marcos de Noronha e Brito. Ainda não se diferenciava do que hoje conhecemos como Diário Oficial, apresentando apenas atos oficiais e notícias do governo. Após o retorno da família real a Portugal em 1821, o Reverbero Constitucional Fluminense é lançado no Rio de Janeiro. Era um momento em que muitas ideias circulavam, como o retorno à condição colonial, a independência e o republicanismo. Sem a presença da família real e contando com um ambiente menos repressivo, os periódicos tornam-se menos raros. O amplo desenvolvimento da imprensa brasileira vai ocorrer a partir de 1822 com a Independência. Durante o primeiro reinado e, sobretudo ao longo do segundo reinado, os jornais se consolidavam como veículos de comunicação, transmissão de ideias e como formadores da opinião pública. A propósito do segundo reinado, D. Pedro II era alvo rotineiro de matérias críticas, charges e humor ácido, nem assim o Soberano impôs qualquer censura, reforçando o ideal de liberdade de expressão e de imprensa. Segundo o pensamento liberal, a atividade da imprensa em qualquer lugar do mundo está ligada de modo indissociável à liberdade de expressão e ao sigilo das fontes. Assim sendo, é impossível informar se houver qualquer tipo de barreira ou limite. Entretanto, durante o período Vargas, especialmente durante a fase do Estado Novo (1937 a 1945), a atividade jornalística e a livre circulação de informações foram seriamente ameaçadas e a pesada mão do controle estatal se fez presente. Não trataremos neste artigo das especificidades do controle da gestão Vargas, mas podemos afirmar que até aquele momento, nem mesmo durante o período anterior à República a censura se fez de modo tão intenso e institucionalizado. Somente com a Constituição de 1946 a imprensa brasileira pôde contar com um ambiente menos hostil, ainda que regulamentado pelos instrumentos legais. Durante os anos do regime militar, e nos reportando à Constituição de 1969, o Art. 153, § 8º tinha a seguinte redação: “É livre a manifestação de pensamento, de convicção política ou filosófica, bem como a prestação de informação independentemente de censura, salvo quanto a diversões e espetáculos públicos, respondendo cada um, nos termos da lei, pelos abusos que cometer. É assegurado o direito de resposta. A publicação de livros, jornais e periódicos não depende de licença da autoridade. Não serão, porém, toleradas a propaganda de guerra, de subversão da ordem ou de preconceitos de religião, de raça ou de classe, e as publicações e exteriorizações contrárias à moral e aos bons costumes” . Depreende-se que qualquer informação com caráter de licenciosidade moral, apologia ou incentivo a crime, ou ainda à subversão da ordem estabelecida e desejada pela ampla maioria da população conservadora da época, era obviamente proibida. Ainda que as informações que nos chegam referentes àquela época, descrevam um controle absoluto do Estado sobre os meios de comunicação, este não é o consenso. O filósofo e jornalista Olavo de Carvalho, que trabalhava no meio jornalístico naqueles tempos, afirmava que não havia censores em cada redação, que eles sequer eram autorizados a acessar os recintos restritos aos jornalistas, que as notícias não eram censuradas de todo, apenas os trechos que violavam o referido artigo constitucional. A Constituição de 1988 retoma a questão da liberdade de modo muito especial em dois de seus artigos. O Artigo 5º, IV diz que “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato” ; e no Art. 220 lê-se: “A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição” . É clara e de facílima compreensão a mensagem destes artigos, não cabendo dúvida ou interpretação: liberdade! Para os casos de abuso ou inverdade o Código Penal contém previsões quanto a injúria, calúnia e difamação. Casos específicos são tratados de forma específica, e de maneira geral vivemos sob o estandarte da liberdade de expressão. Em 2009 o Plenário do STF decidiu que era inconstitucional a exigência de diploma de jornalismo para o exercício da atividade jornalística. Aquela decisão derrubou o Decreto-Lei 972/69 que limitava o exercício legal da profissão aos formados em curso superior de jornalismo. Assim, em conformidade com o princípio de liberdade de expressão sob o qual vivemos, qualquer pessoa pode informar “sob qualquer forma, processo ou veículo” (C.F. Art. 220) . A decisão do STF veio àquela época acompanhar as inovações que abordamos em nosso primeiro parágrafo deste artigo, tornando ainda mais livre o terreno digital em que hoje “trafegamos”. Mas afinal por que tantas vozes se levantam clamando pelo estabelecimento de limites à liberdade de expressão? Por que motivo, setores da política nacional tem incorporado esta mentalidade que só pode ser compreendida em governos ditatoriais? O ex-presidente Lula, por exemplo, tocou ao menos nove vezes no tema da regulamentação desde 2019, tendo sido bastante explícito em uma de suas falas durante viagem à Europa: “Vamos ter que regulamentar as redes sociais, regular a internet, colocar parâmetro” . Pode ser que o sentido etimológico original da palavra informar possa dar alguma luz aos questionamentos. Informare é dar forma. Informar, mais que o simples ato de dar a conhecer é moldar o fato para atender ao sentido ideológico daquele que informa, formando a opinião daquele que é informado. Múltiplas opções de “forma” deixam ao leitor a tarefa de refletir e decidir por si só quanto à verdade dos fatos. E o que a política tem a ver com os meios de comunicação? Ao menos em dois momentos o poder político e os meios de comunicação se encontram. O primeiro momento é representado pelo Artigo 21 da Constituição de 1988 que trata das competências da União, onde está estabelecido no inciso XI que compete a União “explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais” . Desta forma a União tem poder de influência, mesmo que indireta, sobre o conteúdo e a linha editorial ou de programação que lhe compete conceder, atendendo de toda forma aos termos da nossa Constituição. O segundo momento é indireto, mas de profunda relevância para o bom entendimento dos interesses e conflitos de interesses envolvidos na legítima tarefa de informar. Em uma lista tornada pública em 2011 pelo Ministério das Comunicações, 56 parlamentares constavam como sócios ou diretores de empresas de comunicação. Ainda que a legislação da época autorizasse a participação societária e vedasse o exercício de diretoria a políticos, ou seja, ainda que fosse legal, seria perfeitamente lícito o questionamento quanto a moralidade daqueles vínculos. A título de exemplos, a família do ex-ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães possuía naquele ano a TV Mirante e a família Collor de Mello a TV Gazeta, ambas afiliadas à Rede Globo de Televisão. Segundo Lucas Borges de Carvalho, em seu artigo ‘A política da radiodifusão no Brasil e seu marco legal: do autoritarismo ao ultraliberalismo’, “(...) Assim é que, conforme demonstram Costa e Brener, o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) se valeu da possibilidade legal de conceder autorizações, sem licitação e de forma não onerosa, para a prestação do serviço de Retransmissão de Televisão (RTV), visando angariar apoio político em momentos cruciais, como no caso da votação da emenda da reeleição” . E no mesmo artigo, citando Costa e Brener em ‘Coronelismo eletrônico’, “(...) Depois de passar praticamente quase todo o ano de 1995 sem distribuir RTVs, o ministro Sérgio Motta — que coordenou o processo de arregimentação de votos pró-reeleição — assinou, naquele mês, portarias de outorga de aproximadamente 400 repetidoras, sobretudo para empresas e entidades controladas por políticos e para prefeituras” . Se considerarmos as conexões diretas e indiretas criadas a partir do controle ou participação em emissoras de rádio, televisão, jornais, revistas, sites de internet, canais... Bem, a lista seria quase infinita. Todas as conexões nos induzem à conclusão de que muito mais que informar, “muito além do papel de um jornal” conforme uma campanha publicitária de O Globo, a atividade jornalística tacitamente se presta a formação de opinião, direcionamento de seu público, atenção aos interesses de mercado e principalmente, associação com o meio político para melhor alcance de seus interesses próprios e mútuos. Se as pautas da censura velada e da regulamentação dos meios de informação têm sido cogitadas com frequência, não é de causar espanto. Os poucos exemplos apresentados neste artigo são apenas a ponta de um iceberg gigantesco que, caso fossem elevados acima da linha d’água do conhecimento público, desnudariam as relações formadas entre a comunicação e o poder. Políticos de oposição e os tradicionais veículos de comunicação de massas unidos, buscando desfigurar as políticas de governo e moldar a opinião pública (como sempre o fizeram), encontrando na internet a barreira final que os têm impedido de voltar às velhas relações de compadrio. De Hipólito da Costa às denúncias de favorecimento a emissoras de televisão por meio de publicidade oficial, passando pela participação política em empresas de comunicação, há um padrão histórico de compadrio, de corrupção, de concussão. O silêncio comprado ou o foco dos holofotes, tudo depende de qual lado se está. Se não pagam pela informação que querem, recebem a informação que não solicitam. Para os detentores tradicionais da informação, a verdade e a mentira são dois lados da moeda viciada lançada ao ar. A relação do público e do privado e ambas com seus eleitores, leitores e telespectadores nunca mais serão as mesmas, ou ao menos não retroagirão enquanto estivermos sob o refrão: “Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós! Das lutas na tempestade dá que ouçamos tua voz!” . Voz alta e clara, isenta de censura e livre. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N.º 13 edição de Junho de 2022 – ISSN 2764-3867

  • Uma mensagem assinada com sangue pelo povo da cruz

    “ E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram. E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? E foram dadas a cada um, compridas vestes brancas e foi-lhes dito que repousassem ainda um pouco de tempo, até que também se completasse o número de seus conservos e seus irmãos, que haviam de ser mortos como eles foram.” (Apocalispe 6.9-11). Eu pensei muito no que abordar neste artigo; tantos acontecimentos políticos e geopolíticos que sobram temas para dissecar nessas linhas que a Revista me proporciona (a quem agradeço publicamente pela confiança). Mas gostaria de tratar sobre um assunto importante: a perseguição aos cristãos . “ Ah, mas isso existe há tempos” . Concordo. Há mais de dois mil anos o cristianismo é ostracizado nos quatro cantos do planeta. Contudo, Nosso Senhor Jesus nos preveniu sobre isso: “... vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus.” (João 16,b) . Ou seja, quem deseja eliminar os cristãos pensa estar fazendo a vontade de Deus. E assim, nossa história vem sendo escrita com sangue. Estevão foi o primeiro mártir; homem sábio e cheio do Espírito Santo, foi terrivelmente injustiçado. Testemunhas falsas corroboraram com as mentiras ditas pelos membros da sinagoga e levaram-no para julgamento. Após um longo discurso, onde não negou sua fé, foi lançado para fora da cidade e apedrejado. Com os apóstolos de Cristo não foi diferente: Tiago, o Maior, irmão de João, foi o primeiro dos doze a ser assassinado, no reinado de Herodes Agripa; Felipe, que evangelizou na Ásia Setentrional (atual Rússia), foi açoitado e crucificado. Mateus, que foi para a Etiópia, foi imolado com uma albarda (espécie de machado). Tiago, o Menor, irmão de Jesus, faleceu aos 94 anos, com seu crânio esmagado; Matias, que ocupou o lugar de Judas, terminou seus dias, decapitado. André, irmão de Pedro e um dos primeiros discípulos de Nosso Senhor, foi crucificado em forma de X. Marcos, o escritor do evangelho que leva seu nome, foi arrastado pelas ruas de Alexandria, no Egito, até que sua carne fosse rasgada. Pedro, o pescador, um dos mais próximos de Jesus, foi crucificado, dizem, de cabeça para baixo, a pedido próprio, pois não se achava digno de morrer como Nosso Senhor. Paulo, aquele a quem Jesus apareceu no caminho para Damasco, foi decapitado. Judas, irmão de Jesus e Tiago, foi crucificado. Bartolomeu, um dos discípulos menos conhecido, que pregou até na Índia, também foi crucificado. Tomé, chamado Dídimo, atravessado por uma lança. Lucas, evangelista e médico, foi enforcado na Grécia. Simão, o Zelote, evangelizou na Grã-Bretanha e lá foi crucificado. “ Mas como que Jesus não os protegeu?” : esta é a pergunta daqueles que não crêem, e não é um questionamento sem resposta. Jesus disse: “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia.” (João 15.18-19). “... Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa.” (João 15.20b) Jesus não prometeu vida sem qualquer tipo de problema ou dificuldade; e segui-Lo significa abdicar de si próprio. A verdade é que aquele que se predispõe a seguir a Cristo precisa entender o seguinte: não tem como ter duas vidas; ou eu tenho a minha própria, ou a Dele. E aqueles que perderam a sua vida por amor a Ele estão em melhor situação do que nós. “ Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á.” (Mateus 16.25) Humanamente falando, seguir a Cristo é uma loucura; imagine abdicar dos meus desejos e vontades para entregar minha vida – e alma – para uma divindade e sofrer ao invés de ser recompensado? O apóstolo Paulo entendia perfeitamente isso: “ Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.” (1° Coríntios 1.18) Aquele que renuncia a tudo pelo Reino dos Céus entende que sua recompensa jamais virá nesta terra, mas na Eternidade. Não é errado buscar uma vida confortável, afinal “E também que todo o homem coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho; isto é um dom de Deus.” (Eclesiastes 3.13) . Mas todo aquele que entrega a sua vida a Jesus sabe que o bem mais precioso é a salvação da sua alma. Farei um salto histórico dos tempos da igreja primitiva para a Revolução Francesa. Aquele período que hoje é aclamado como o mais iluminado, onde o homem se separou da fé e passou a idolatrar a razão, na verdade, foi um dos mais sanguinários. A guilhotina, que leva este nome graças ao médico J oseph-Ignace Guillotin, foi a “máquina de matar” quem discordava do sistema. E os cristãos não foram poupados. As Carmelitas de Compiègne foram dezesseis religiosas do mosteiro carmelita de Compiègne assassinadas por revolucionários franceses do Comitê de Salvação Pública que as levaram à guilhotina por ódio à religião, no segundo período do Terror da Revolução Francesa, no dia 17 de julho de 1794, no local hoje denominado " Place de la Nation" , na época "Place du Trône Renversé" . A lei revolucionária de 1790 forçava o fechamento do convento, o que acarretou a redistribuição das freiras em quatro casas separadas. Com muita “ liberdade, igualdade e fraternidade” , as religiosas ainda tiveram que escolher entre assinar o “juramento revolucionário” ou sofrer a deportação. A priora carmelita Teresa de Santo Agostinho fomentou entre as irmãs da sua comunidade a fidelidade aos preceitos da vida conventual, que elas continuaram a praticar na clandestinidade. Entretanto, algumas denúncias às autoridades revolucionárias levaram a uma investigação que juntou “ provas de vida conventual ”: as carmelitas foram assim acusadas de “ complô para restabelecer a monarquia e extinguir a República ”. As religiosas que foram presas se negaram a assinar novamente o juramento revolucionário e, acusadas de “ conspiração contra a revolução ”, foram amarradas e levadas a Paris em duas carroças. Na capital francesa, foram trancadas na prisão da Conciergerie. Foram condenadas à morte no dia 17 de Julho de 1794. Em uma carroça, foram levadas para seu destino; no caminho, entoavam Te Deum, hino católico cuja redação final é tradicionalmente datada do ano 387 d.C. quando da ocasião do batismo de Santo Agostinho por Santo Ambrósio. O hino é usado principalmente na liturgia católica, como parte do Ofício de Leituras da Liturgia das Horas e outros eventos solenes de ações de graças. Eis um trecho: “ Dignai-Vos, pois, assistir a Vossos servos, que haveis remido com Vosso preciosíssimo sangue. Fazei que sejam do número dos Vossos santos na glória. Salvai o Vosso povo, Senhor, e abençoai a Vossa herança (…) Dignai-Vos, Senhor, neste dia conservar-nos sem pecado. Compadecei-Vos de nós, Senhor! Compadecei-Vos de Nós. Desça sobre nós a Vossa misericórdia, segundo a esperança que em Vós pusemos. Em Vós, Senhor, esperei; jamais serei confundido.” Aos pés da guilhotina, iniciaram o Veni Creator Spiritus : “ Vinde, Espírito criador, visitai as Vossas almas; enchei com a graça do alto os corações que criastes.” Uma a uma, pedindo a última bênção da priora, subiram ao cadafalso e foram martirizadas. A realidade ocidental é um pouco melhor em termos de liberdade religiosa do que era há cem, duzentos anos. E isso faz com que nossos olhos estejam fechados para o que acontece na Janela 10-40. A Janela 10-40 é uma faixa da terra que se estende do Oeste da África, passa pelo Oriente Médio e vai até a Ásia. A partir da linha do Equador, subindo forma um retângulo entre os graus 10 e 40. Calcula-se que até hoje menos da metade da população mundial com as suas etnias e línguas tenham sido confrontadas com o evangelho. Eu, particularmente, não fazia ideia de que esta delimitação existia até 2006. Neste ano, a cantora evangélica Fernanda Brum lançou o álbum “Profetizando às Nações” , o segundo mais vendido da sua carreira. O disco tinha a seguinte missão: contar à igreja ocidental o que ocorre com cristãos pelo oriente. E foi quando eu descobri que não sou crente. Caro leitor, não me leve a mal; sou nascida e criada na igreja. Mas quando digo que “não sou crente” me refiro ao fato de que eu ainda “não resisti até ao sangue” (Hebreus 12.4) pelo Evangelho de Cristo. E, penso eu, que esta é a condição da igreja no ocidente. Temos mordomias, regalias, bíblias com diversas traduções a nosso dispor, devocionais, pregações de todo o tipo e para todos os gostos, podemos ir à Igreja sem sermos apedrejados ou fuzilados, podemos exibir terços, crucifixos ou simplesmente a cruz. Mas temos Cristo? E isso traz a seguinte reflexão: se não estamos conseguindo viver para Ele, como teremos condições de morrer por Ele? O pior martírio ocorrido nos últimos tempos completou dez anos em 15 de Fevereiro: a degolação de 21 cristãos no litoral de Sirte, na Líbia, no Mar Mediterrâneo, pelas mãos do ISIS. As águas que levaram os apóstolos para pregar o Evangelho foram as mesmas que receberam o sangue dos servos de Cristo. Na época, estava no início da gestação do meu filho; não procurei saber de maiores detalhes porque estava poupando minha mente, pois me senti muito mal fisicamente nos primeiros meses de gravidez. E depois, cumprindo meu papel mãe, não recordei de pesquisar sobre o caso. Mas agora, dez anos depois, eu fiz meu papel de jornalista e fui pesquisar. Dos 21, 20 deles eram da Igreja Coopta do Egito e moravam em uma pequena cidade ao sul do Cairo, chamada Minya. O 21° era proveniente de Gana, e também era cristão, provavelmente protestante. Esses homens eram trabalhadores comuns, operários da construção civil que deixaram o Egito em busca de melhores oportunidades para sustentar suas famílias. Foi em Sirte, entre os meses de Dezembro de 2014 e Janeiro de 2015, que eles foram sequestrados por milícias do Estado Islâmico. O mundo só voltaria a saber deles por ocasião do seu martírio. A morte dos 21 cristãos foi registrada em um vídeo divulgado pelo grupo terrorista, denominado “Uma mensagem assinada com sangue para o povo da cruz” . Eu procurei este vídeo, e com muita dificuldade, encontrei. Assisti na íntegra. A cada cena, um nó na garganta. Lágrimas insistiram em cair. Porque uma coisa é tratar de martírio em tempos longínquos, os quais não vimos, e outra bem diferente é assistir em nossos dias, com nossos próprios olhos. O vídeo começa com a chegada dos cristãos e dos soldados jihadistas na praia, na costa de Wylãyat, Tarãbulus; os cristãos, descalços e vestindo macacões laranja, semelhantes aos utilizados nos presídios americanos, e os islâmicos, de preto e toucas ninja. São alinhados e postos de joelhos. Na legenda, a seguinte frase: “O povo da cruz, os seguidores da hostil igreja egípcia” O maioral toma a palavra. Escreverei seu discurso ipsis literis : “ Louvado seja o Deus Forte e Poderoso Que a paz esteja com aquele que garantiu a família, que Deus proteja os mundos. Ó povo, vocês nos viram nas colinas de Sam e na planície de Dabiq, abates de cabeças que sempre carregaram a ilusão da cruz. Eu absorvi o ódio pelo islamismo e pelos muçulmanos. Hoje estamos no sul de Roma, na terra do islamismo, a Líbia, enviando outra mensagem. Ó Cruzados, segurança é o teu desejo. Principalmente porque vocês estão lutando contra todos nós, nós lutaremos contra todos vocês, até que a guerra termine. Então jesus, que a paz esteja com ele, desça. Ele quebra a cruz, mata o porco e cobra o imposto (citação do Alcorão) Este mar em que vocês esconderam Osama bin Laden, que Deus o aceite, juramos por Deus que será coberto com seu sangue (cristão)” Em seguida, os rostos dos cristãos são exibidos em silêncio. Alguns estão chorando e orando, outros, estão chamando por Jesus, e os demais, firmes. Depois, são jogados ao chão. Uma música árabe toca ao fundo enquanto os jihadistas tomam suas facas e degolam-nos vivos. No áudio, é possível ouvi-los clamando por Jesus em sua própria língua. No fim do massacre, suas cabeças foram colocadas sobre seus próprios corpos; o que me chamou a atenção foram seus semblantes: não havia desespero, não havia dor. Pareciam estar dormindo. Jesus os recebeu. O líder tomou a palavra novamente, agora com as mãos sujas de sangue: “ Conquistaremos Roma, se Deus quiser. Esta é a promessa do nosso profeta. Que Deus o abençoe e lhe dê paz.” A última cena: o Mar Mediterrâneo. Não mais azul. Vermelho. Confesso que não foi fácil assistir. Sinto um nó na garganta apenas por pensar da dor que sentiram. Contudo, o que vi me levou a uma profunda reflexão sobre meu próprio estado espiritual: como tenho vivido?Será que tenho feito o que agrada a Deus? E se radicais invadissem minha casa, eu teria coragem de permanecer ou negaria minha fé? “ E as famílias?” , pode questionar o leitor. Enlutadas, feridas, machucadas. Receberam os corpos apenas três anos depois. Mas felizes. Parece inacreditável, mas é isso que eles relatam. Encontrei várias entrevistas e documentários com as famílias dos 20 cristãos egípcios. Os depoimentos no geral são: “estou feliz porque tenho um mártir na família”, “graças a Deus ele não negou a Jesus”, “eu tenho orgulho dele” . Os membros do ISIS devem ter imaginado que veriam familiares com ódio e sede de vingança, mas eles encontraram cristãos autênticos que perdoaram todo o mal feito. Difícil de acreditar, não é mesmo? Mas é real. Temos em nossos dias cristãos ocidentais vendendo suas almas por um prato de lentilha, por uma noite, por um momento; e do outro lado, cristãos que preferem ser degolados vivos a apostatarem de sua fé. Que Nosso Senhor Jesus Cristo tenha misericórdia de nós e nos ensine a como servi-Lo, porque até o dia de sua vinda, o número de mártires terá de se completar. Seremos algum deles? Não sabemos. Mas como disse Paulo: “Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor.” (Romanos 14.8) Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. IV N.º 52 edição de Março de 2025 – ISSN 2764-3867

  • O Ícaro que habita cada um de nós

    Na Ilha de Creta reinava Minos, governante que sofrera um castigo por tentar ludibriar o senhor dos mares, Poseidon, tendo o deus feito com que a esposa do rei se apaixonasse por um touro, gerando assim a temida figura do Minotauro, que significa o touro de Minos. A besta era uma maldição para o senhor de Creta, mas considerando ser tal castigo merecido por ter afrontado o deus dos mares, tratou de conter a fúria da criatura mantendo-a em um labirinto engenhoso. A mente genial por trás da construção do labirinto de Creta fora Dédalos, um arquiteto, artesão e inventor ateniense cuja habilidade fez do labirinto algo inimaginável, praticamente impossível de fugir. A construção, não só mantinha a besta com corpo humano e cabeça de touro confinada, como evitava que suas presas, jovens virgens oferecidos em sacrifício à fera, que os devorava. Dédalo ajudou a fila do Rei Minos, Ariadne, ensinando-a como seria possível sair do labirinto, posteriormente, a princesa ensina o herói Tseu, que, após ceifar a vida da besta, usa o fio de lã para escapar do local. Pela ajuda dada à princesa e ao herói, Dédalo foi castigado pelo Rei Minos que o colocou no labirinto, aprisionando também o filho do arquiteto, Ícaro. Dédalo sabia que era impossível sair de Creta por mar, pois Minos, ao acatar o castigo imposto pelo deus dos mares, tinha recuperado o apreço da divindade. O governante também era o senhor da ilha, sendo inviável escapar de sua ira enquanto estivessem naquele solo. O engenhoso artesão decidiu que o único meio de fugir do monarca era escapar de sua temível obra, o labirinto, e sobrevoar para longe da Ilha de Creta. Criando asas para si e para Ícaro, usando penas coladas com cera, conseguiram escapar do suplício. O arquiteto instruiu seu filho que permanecesse próximo, assim poderia acompanhá-lo durante o voo, orientando que não voasse muito alto para que a cera não derretesse ou muito baixo ou as penas seriam molhadas. Fascinado pela luz do sol, sentindo-se livre ao voar, Ícaro ignora o conselho de seu pai e acaba voando cada vez mais alto, tentando assim se aproximar do astro. Conforme se aproxima do sol, o calor derrete-lhe as asas fazendo com que o jovem caia de uma altura fatal. O pai só percebe que Ícaro tomou tal destino tardiamente, não podendo evitar tal infortúnio. Levou os restos mortais de seu filho para a Sicília, onde o enterrou no lugar que batizara como Icaria, homenageando o jovem falecido. Em sua trajetória, Dédalo foi um sábio e talentoso inventor, que cumprira com esmero as missões que lhes foram confiadas, mas seu filho, ignorando sua a sabedoria e vivência encontrou seu fim quando deslumbrado pela beleza do astro-rei. Devemos aprender com o trágico fim de Ícaro que a sabedoria é um dom que deve ser respeitado e a vivência uma conquista que jamais pode ser desprezada, para que, nunca nos deixemos cegar pela luz da soberba ou da ilusão de sermos mais do que aquilo que temos como missão de vida. Não se deve voar acima da capacidade de suas asas ou derreterão, impedindo que seja feito mais do que o que está ao alcance, bem como, não é correto voar muito baixo para não ter as asas molhadas, pois edificar aquém daquilo que é possível, é deixar de cumprir seu papel como ser que carrega a cama divina. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N.º 13 edição de Junho de 2022 – ISSN 2764-3867

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