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  • A horda dos desalmados

    Na mitologia grega a Ilha de Ea, Eana ou Aiaia, que supostamente seria o que hoje conhecemos como Monte Círceo, um promontório situado ao extremo norte do Golfo de Gaeta na região do Lácio ao oeste da Península Itálica, é a morada da feiticeira Circe, filha do titã Hélio e da ninfa oceânide Perse. A também conhecida como deusa da feitiçaria, em algumas versões, vivia na citada ilha devido ao castigo imposto pelos senhor do Olimpo, em outras, teria se isolado voluntariamente após ter envenenado seu esposo Sármatas. A feiticeira, segundo a mitologia, era versada em poções e capaz de proezas mágicas consideráveis, mas o episódio vivido por homens sob o comando de Ulisses na Odisseia é o que chama a atenção, posto que, uma vez entregues aos desejos carnais, tornar-se-ia prisioneiros. Na literatura de Homero os comandados do herói Ulisses acabam por aportar na localidade ora conhecida como Ilha de Eana, lar de Circe. O comandante permanecera junto às embarcações e determinou que parte de seus homens buscassem por mantimentos na região, pois o seu objetivo era retornar para Itaca. A fração incumbida de tal missão deparou-se com um castelo cercado por animais selvagens, porém nada hostis, sendo a construção habitada pela deusa da feitiçaria e suas servas. Excetuando um dos membros do grupo, todos se banquetearam e entregaram-se aos prazeres carnais naquela oportunidade, entretanto, foram transformados em suínos. Somente Eurílico voltara ao encontro de Ulisses, haja vista que fora o único a não ser metamorfoseado em porco pelos poderes da feiticeira. Diante do que lhe foi dito, Ulisses decidiu enfrentar Circe, e, com a ajuda do deus Hermes, conseguiu resgatar seus homens, que voltaram a condição de humanos e deixaram a ilha anos depois. Esta breve introdução serve para trazer o tema central do qual precisamos cuidar, considerando que, uma vez entregues aos vícios vos reduzimos a condições grotescas análogas aos animais não racionais. Seduzidos por prazeres momentâneos podemos nos envenenar e destruir aquilo que nos é mais valioso, nossas almas. A maior vantagem que um inimigo pode ter é lutar contra uma tropa adoecida, envenenada, por isso, como acreditar que a flagrante defesa de uma moléstia pode ser resultado de uma visão simplista ou da ignorância. Dar aos que propagam a livre distribuição de uma doença significativa o benefício da dúvida é render-se antes mesmo de se opor. Em verdade, é preciso tratar a descriminalização das drogas com a devida cautela, não por acreditar que se busca a diversão ou decorre de uma visão míope, mas, enfrentando a intenta com a coragem de indicá-la em sua devida face. A defesa dos entorpecentes tem um fim especial que não pode ser ignorado, seja pela sua busca em adoecer deliberadamente uma sociedade, seja pela vontade berrante em minimizar o mal que se alimenta do narcotráfico. O mito da Ilha de Eana não se resume aos usuários de drogas, pode ser facilmente transplantados para outras figuras que se perderam em nome do poder e da fama. Se substituirmos a morada da deusa da feitiçaria por outra ilha veremos diversos seres entorpecidos pela luxúria e pelo poder, perdendo sua humanidade ao passo que se deixam seduzir pelo farto banquete. Ilhas como Caio Pedro, Caras e outras tantas podem ilustrar isso, posto que, uma vez envolto daquilo que se percebe como elite, torna-se fácil esquecer o propósito da existência. Não por acaso assistimos indivíduos outrora famosos que, uma vez despidos de sua vida glamourosa, assumem ter saboreado um banquete sem vida ou se prestarem a papéis indignos para evitar aquilo que consideram a pior das punições, o ostracismo de sua bolha. Normalmente, acreditando-se como um ser superior devido à fama, poder, riqueza e outras formas de se destacar, surge o medo de perder o status social de nobreza , uma visão perturbadora na qual se espia na sarjeta, despojado de seus suntuosos apetrechos de luxo. Naturalmente, aqueles que estão em suas sacadas com uma vistas exuberantes não se importam em deixar sua moral em uma valise enquanto aproveitam o banquete, por tal razão é que assistimos a verdade florescer dos lábios de indivíduos que estavam calados quando usufruíam das pompas da realeza. Não quer dizer que os que expõe as vísceras e os corredores dos castelos tenham se arrependido de participarem das festas, tal reação pode ser tão somente uma forma de tentar atingir seus antigos pares, uma vez que os culpa pelo descarte, ou mesmo, um jeito de conquistar algum tipo de brilho, atraindo a atenção dos que observam sua evisceração. Aponta-se casos curiosos com de pessoas famosas que após seu crepúsculo admitem terem se sujeitado à lasciva alheia como forma de conquistar um espaço nos salões reais, assumindo que se submeteram ao chamado “teste do sofá” e portando-se como vítimas. Em verdade, a relação espúria entre o detentor do passaporte para o “sucesso” e a suposta aquele que, movido pela ganância, aceita o trato, é uma trota de favores perversos cuja vítima é uma pessoa que não participara da relação mas que se viu preterida em decorrência do favorecimento imoral. Se alguém aceita um acordo obscuro para obter um papel, uma promoção ou qualquer vantagem que não lhe era destinada, não pode possar de vítima quando tirou o que seria de outrem através de um subterfúgio. Pode ocorrer o real arrependimento, uma vez que, alguém que tinha medo de perder sua posição social, temia a sombra do ostracismo, acaba por perceber que sua vida era uma ilusão e, por isso, decide servir de farol para que outros não sigam pela mesma rota. Uma espécie de alerta para os que poderiam se aventurar por um caminho, em grande parte das vezes, sem volta . Despencar da sacada do palácio é algo que qualquer um pode experimentar e, como dizia a sabedoria popular, “ quanto mais alto, maior a queda ”. Logo, a sombra do ostracismo assola mais àqueles que possuem maior apego ao poder, fazendo com que os mais poderosos sejam mais desprovidos de escrúpulos e da capacidade de renunciar aquilo que consideram como conquistas, ainda que tenham consciência do mal que significa. Bestializado e sabendo que não há como cair do topo sem sofrer as consequências de suas marcas, o indivíduo sujeitar-se-á ao preço que lhe for exigido, tudo que importa é não ser humilhado por ter perdido seu lugar no palácio, não arcar com as suas ações ou ser “rebaixado” ao nível dos seres humanos comum, deixando de ser especial, na sua concepção do que é ser especial. Protegido no interior de sua fortaleza surge a falsa crença que se é inatingível, não afeto às leis ou mesmos aos males que assolam o mundo, distanciado-se de um mundo real que é vivido pelo homem comum, contudo, implorando a cada dia para não ser lançado para fora das muralhas e se tronar aquilo que despreza, que é justamente, o ser humano que considera comum. Se preciso for, o desalmado mentirá para negar sua existência superficial, seu desprezo pela vida simples e, principalmente sua queda, inventando uma realidade que possa confortar sua imagem de superioridade. Claro, não admitirá nunca que digam que o rei está nu, calando qualquer um que ouse lhe dizer a verdade, criando instrumentos  para isso. O poder corrompe e o medo de perdê-lo cega, por isso, natural que seu detentor busque impedir sua queda, não importando como o fará, pois, o temor do ostracismo é maior que qualquer outro, assim, o indivíduo, consumido pela luxúria, buscará ainda mais poder como forma de se perpetuar no centro do palácio, fazendo de suas relações com a humanidade se resumam a movimentos de um jogo no qual impedir a ascensão, ainda que merecida, de outros e a sua derroca é a única coisa que importa. Alguém que se considera superior, capaz de conduzir as vidas alheias com base na sua visão de mundo, sempre buscará uma solução ineficaz, justamente por acreditar que está em um grau de iluminação que pode curar quaisquer que sejam os males da humanidade. Acredita que uma revolução é a forma de destruir um universo carcomido para implantar sua formula milagrosa, entretanto, é ingênuo crer que estas figuras estão no centro nervoso do processo. Um revolucionário pode propor um mundo ideal com base em fantasias que aos serem postas em práticas tornar-se-ão experiências, na melhor das hipóteses fracassadas, mas que podem tomar proporções catastróficas, como o socialismo se provou ser. Nesta primeira análise, deve-se confessar propositalmente rasa, dar-se o benefício ao revolucionário, assumindo que ela apresenta uma teoria que parece boa, entretanto, ao ser colocada em prática acaba sendo falha devido às pontas soltas. Infelizmente, não é possível tratar as coisas através de uma lente que busca enxergar a bondade em tudo, haja vista que, observando o resultado de todas as experiências socialistas, resta evidente que a teoria não é boa porém falha, sendo, na verdade, uma mentira posta a seduzir os incautos, como o banquete da Ilha de Eana. Tudo que se busca ao implantar um sistema socialista é que o grupo responsável por sua condução subtraia o poder do povo, ou de qualquer outro que o detenha, para tomar os salões dos palácios e as ilhas para si. A tirania de um socialista que chega ao poder não decorre de uma doença movida por sua condição, não é um veneno que estava no trono tomado pelo líder dos revolucionários, mas algo que estava em seu próprio ser e o motivou em sua escalada ao topo, privando-o de sua humanidade para atingir seus objetivos. Não por acaso são os déspotas que se destacam em meio a revolução, pois, uma vez privados de consciência, encontram na falta de pudor a liberdade para atropelar seus pares em busca de seu lugar ao sol. Em síntese, o socialismo é uma mentira que parece bonita cujo único objetivo é arrebanhar seguidores para impor um sistema nefasto que garantirá aos seus líderes, e somente a eles, a ascensão ao poder. Seus apoiadores, os idiotas úteis, serão objeto de expurgo tão logo sejam considerados descartáveis, por isso, a elite revolucionária, aquela que tece os fios, sabe que muitos serão desprezados e expurgados, inclusive os membros da própria elite, desde que, em algum momento sejam considerados como ameaça ao poder. O motivo de criar posições antagônicas e afastar cada vez mais pessoas por meio de rótulos decorre da necessidade de identificar quais são os indivíduos mais suscetíveis aos desmandos e os que podem ou precisam ser descartados. Não seria ideal para os líderes se livrar daqueles que possuem qualidade que se pretende explorar, entretanto, se figurar como clara oposição, o obstáculo será removido. É essencial para a dominação que existam camadas que possam se comunicar de forma que as direções estabelecidas pelo centro nervoso sejam perseguidas ainda que não compreendidas. A mente dominante sabe que precisa de toda parte que puder aproveitar, porém, não conseguirá se comunicar com aqueles que estão distante intelectual e socialmente, como o cérebro que precisa ordenar um movimento aos pés, mas que o faz através de uma rede capaz de fazer com que a mensagem seja transmitida. O pé não precisa saber para onde está indo, basta que siga na direção ordenada. A elite revolucionária já capturou intelectuais, ricos, famosos e autoridades que se consideram senhores dos castelos, por vezes o são, mas seus palácios ainda são ligados ao centro nervoso, aquilo que outrora tratamos como a Grande Torre de Marfim . Percebendo que seus servos não eram capazes de controlar grandes parcelas da sociedade, precisaram manter o controle sobre a informação e trouxeram suas vítimas seduzidas por promessas mentirosas . Ao aprisionar os indivíduos através da mentira, criou-se uma expectativa não correspondida e a farsa estava desnuda e para continuar mantendo a revolução, está, naturalmente, se transmutou em algo novo, buscou recrutar aqueles que se consideravam excluídos ou vítimas. Surgem as pautas identitárias , uma forma de cooptar indivíduos ressentidos, ainda que tal sentimento fosse implantado em seus corações pelos próprios líderes revolucionários, que passaram a buscar um lugar entre os seus, precisavam do chamado sentimento de pertencimento, queriam ser acolhidos em um grupo, assim como os gananciosos almejavam os salões dos palácios, os identitários só queria conforto em a afirmação que eram vítimas de um sistema excludente. Tornaram-se presas fáceis. Por outro lado, para que a revolução ocorra, é preciso atingir um número considerável de pessoas, motivando-os a participarem da intenta ou acuando-os para que não se insurjam. Por isso, pode-se observar a constante atuação no sentido de empurrar cada vez mais pessoas para os grupos minoritários, com a sexualização infantil, o imaginário que mulheres precisam defender os movimentos feministas, que homossexuais devem ao ativismo LGBT e que negros sofrem o chamado racismo estrutural, que nada mais é que uma forma indireta de imputar o racismo a todos. Mesmo aqueles que se identificam com determinados grupos podem preferir não se arregimentar como elementos revolucionários, ora por, simplesmente, não se preocuparem com o tal sentimento de pertencimento, não sendo dependentes de aceitação de grupos, ora por perceberem que as pautas identitárias são meros artifícios para os aprisionarem, posto que, quando as minorias se chocam, há uma nítida omissão para garantir que a revolução seguirá os rumos traçados pela Grande Torre, ainda que, uma determinada minoria seja esmagada. Aos revolucionários restou, ou sempre fora a vontade, lançar mão de mais uma fonte mão de obra para a sua intenta pelo poder, sendo preciso capturar ainda mais e pouco se importando com o material humano que iriam dispor, uma vez que consideram aqueles que manipulam para alçar o topo como seres descartáveis, os revolucionários associaram-se ao lumpemproletariado , aquilo que o próprio Karl Marx tratava como trapos humanos, é o significado do termo. Essas pessoas não tinham valores e metas, suas vidas eram relegadas à sorte e, por isso não, tinham nada a perder, viviam como se não houvesse amanhã , como passageiros de um trem desgovernado, sem pensar nas consequências. Escravizar indivíduos desprovidos de valores, sem compromisso com as gerações futuras e fé, torna-se uma tarefa pouco árdua, justamente, pela fraqueza moral que a sociedade apresenta. Não haverá resistência alguma se o alvo do tirano for um grupo de pessoas adoecidas, por isso, o pânico sempre foi uma arma eficiente para dominação. As medidas autoritárias implantadas nos últimos anos não foram questionadas em razão do estado de pavor em que as pessoas se encontravam, o medo foi a chave para que a maior parte da população mundial se curvasse à vontade de uma elite despótica. É necessário manter a constante vigilância  e deixar o legado de uma sociedade forte com indivíduos livres, para que cada ferida não seja a origem de uma enfermidade fatal, precisamos cuidar desde os primeiros momentos, não transigindo quando o preço a alma humana. Faz necessário discorrer sobre a questão das drogas. A descriminalização das drogas tem como argumentos a liberdade individual, a renda lícita em substituição à ilícita e a diminuição da violência causada pela “guerra às drogas”, que nada mais é que o enfrentamento entre forças de segurança e os narcotraficantes. Não há como debater o tema sem observar estes três pontos. No que diz respeito à liberdade individual, não há como considerar um dependente químico um ser humano livre, pois o adequado tratamento que lhe dispensado aponta de tal forma. Uma adicto, não importa qual seja o objeto de sua dependência não poderá ser tratado como livre, isso porque, sua dependência está adstrita a uma substância que lhe torna mais fraco, como é o caso de todas as drogas. No que concerne a transferência do mercado ilícito para o lícito, o argumento mais inconsistente de todos, todavia, que seduz grande parte das pessoas, pois parte da premissa que a legalização das drogas traria renda ao Estado ao passo que uma indústria legal das drogas absorveria o mercado atualmente nas mão dos criminosos, esvaziando assim a renda das organizações criminosas. Trata-se de uma narrativa vazia, pois há pontos que devem ser enfrentados. De fato, o Estado teria um ganho em sua arrecadação devido aos impostos, mas, por outro lado, mão há como sustentar que um ente que decorre da associação de pessoas possa assumir uma postura torpe ao ponto de alimentar-se de uma moléstia que sabe ter como essência aprisionar os indivíduos enfraquecendo-os. Seria como um indivíduo utilizasse o autoflagelo para aferir lucro , o que de fato alguns fazem, mas não aqueles que estão presos a valores morais. Por outro lado, a indústria legal teria alguns problemas no que diz respeito aos seus “clientes”, pois como se observa nas ruas das grandes metrópoles, os usuários de entorpecentes acabam reduzidos a uma horda zumbi se capacidade financeira, de forma que precisaram se socorrer do mercado negro para manter sua dependência. Os habitantes de uma “cracolândia”, termo que se refere aos locais de uma cidade em que usuários de drogas se reúnem, em regra, não tem meios de proverem seu sustento, recebendo doações de comida e, por vezes, trocando objetos por entorpecentes ou valores. Tais objetos, não raros os casos, são produtos de ilícito, como metais retirados de fiação e portões por meio de furto. Saber como estes, parafraseando Karl Marx, “trapos humanos” poderiam sustentar uma cadeia produtiva sem que praticassem outros crimes é quase um exercício de imaginação inalcançável, entretanto, isso não parece ser um problema para quem vende a ilusão da mentira para chegar ao poder e enfraquece seus pares para lá se manter. Naturalmente, projetamos a imagem de saques sendo realizados para manter o vício e uma indústria que prospera através drenando todas as outras, reduzindo a zumbis todos os seus consumidores. Por fim, temos a ideia, também mentirosa, que ao retirar a renda das organizações criminosas e absorver sua mão de obra, o mercado lícito de entorpecentes acabaria com a chamada “guerra às drogas”, o que, lamentavelmente é repetido como um mantra diabólico a ponto de convencer grande parte das pessoas. O mercado legal não precisaria, e não absorveria, a mão de obra do narcotráfico, posto que, uma empresa não recrutará um menor de idade para avisar quando da presença de agentes de segurança ou de membros de sua concorrente, bem como, não precisará de indivíduos que são pagos com seus produtos, são semialfabetizados e usam da violência bestializada como único meio de vida. O lumpemproletariado que porta fuzil nas comunidades não tem serventia para uma empresa que atue dentro dos parâmetros legais, logo, essa massa precisará obter outras fontes de receita. A extorsão aos moradores e comerciantes que estão sobre o julgo dos criminosos, bem como, o roubo de quaisquer bens e o controle sobre serviços nas localidades em que há controle das organização, já se provaram fontes de receita capaz de manter a guerrilha, portanto, manter o poder sobre as pessoas acaba sendo mais importante que determinada atividade como fonte de renda. A trilogia O Poderoso Chefão (The Godfather), ilustra muito bem como organizações criminosas podem migrar de atividade para se manter no poder, ao apresentar uma família de mafiosos que da venda ilícita de bebidas alcoólica passam para o jogo ilegal após o fim da Lai Seca nos Estados Unidos da América, outras famílias se envolvem com entorpecentes naque mesmo momento. A narcoguerrilha utiliza o comércio de entorpecentes como sua principal fonte de renda e forma de arregimentar indivíduos para sua horda de desalmados, uma vez que, desesperados por sua adicção, os dependentes químicos aceitam qualquer tipo de situação para ter acesso à única coisa que lhes importa, tornando-se um refém irracional das forças revolucionárias. Entretanto, ainda que não houvesse usuários de drogas, a guerrilha permaneceria lutando por poder. Os tiranos, necessariamente precisam escravizar outros para seus nefastos fins, seja pela guerra de classes, pelas pautas minoritárias ou pelo envenenamento através das drogas, sendo certo que a degradação moral é sua maior arma contra uma sociedade que busca se ver livre. Assim como a feiticeira Circe, apresentarão uma face sedutora e um belo banquete, mas no final reduzirão os desalmados a porcos e subtrairão suas almas, pois, na revolução, os que primeiro perderam sua essência humana foram os líderes revolucionários. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N.º 19 edição de Setembro de 2022 – ISSN 2764-3867

  • Maquiagem e estética para o baile Educacional Brasileiro

    Nos anos 1990, o Brasil enfrentou uma encruzilhada histórica que moldou seu futuro educacional. Em meio a esforços para estabilizar uma economia marcada por décadas de inflação galopante, o país buscava também se reposicionar no cenário global, demonstrando capacidade de modernizar suas estruturas sociais e institucionais. Nesse contexto, a educação emergiu como peça central nas negociações com organismos multilaterais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, que condicionavam financiamentos a reformas estruturais. A questão central, porém, permanece: até que ponto os acordos internacionais firmados para melhorar indicadores educacionais promoveram mudanças reais na qualidade do ensino? Ou será que, na ânsia por cumprir metas externas, o Brasil recorreu a soluções artificiais que maquiaram problemas estruturais sem resolvê-los? Na verdade, o leitor já deve imaginar a resposta a esta pergunta, mas vamos tentar entender como tudo se desenrolou até chegarmos onde estamos. O sistema educacional brasileiro, antes mesmo das pressões externas dos anos 1990, já carregava um fardo de problemas históricos. A escola pública enfrentava taxas alarmantes de evasão, repetência em massa e desigualdades profundas no acesso à educação. O cenário era de exclusão sistêmica: milhões de crianças, especialmente em áreas rurais e periferias urbanas, não completavam o ensino fundamental, enquanto a repetência se tornava quase uma norma, perpetuando ciclos de fracasso escolar e desmotivação. Dados do IBGE da época mostram que, no início dos anos 1990, cerca de 20% dos alunos do ensino fundamental repetiam o ano, e a taxa de conclusão desse nível de ensino mal ultrapassava 50% em algumas regiões. Nesse contexto, durante os governos de Fernando Henrique Cardoso (1995–2002), o Brasil intensificou sua parceria com o Banco Mundial, aceitando condicionalidades que vinculavam empréstimos à melhoria de indicadores de acesso e permanência escolar. A proposta era ambiciosa e, em teoria, promissora: universalizar a matrícula, reduzir a evasão e promover a democratização do ensino. Para isso, foram implementadas reformas estruturais, como o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), criado em 1996, que direcionou recursos para o ensino básico, e a municipalização do ensino fundamental, que buscava descentralizar a gestão educacional e aproximá-la das realidades locais. A meta de universalizar a educação, amplamente defendida nessas negociações, implicava não apenas ampliar o acesso, mas garantir permanência, conclusão, qualidade e equidade no sistema educacional. No entanto, o Brasil concentrou esforços em indicadores quantitativos, como matrículas e fluxo escolar, negligenciando elementos cruciais como a qualidade do aprendizado e a redução das desigualdades regionais e sociais. Dados do IBGE mostram que, no início dos anos 2000, o país alcançou taxas de matrícula próximas de 100% no ensino fundamental, um marco significativo. Contudo, avaliações como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) revelaram que cerca de 40% dos alunos do 5º ano apresentavam desempenho crítico em leitura em 2003. Além disso, disparidades persistiam: escolas em regiões pobres, como o Norte e o Nordeste, frequentemente operavam sem infraestrutura básica, como água potável ou saneamento, enquanto grupos vulneráveis, como indígenas e alunos com deficiência, enfrentavam barreiras adicionais, como a falta de materiais didáticos adaptados ou professores preparados. Esse descompasso evidencia que a universalização, em sua plenitude, exigia muito mais do que números favoráveis. No entanto, a tradução desses objetivos em políticas públicas revelou fragilidades. Medidas como a introdução de ciclos de progressão continuada, adotada em estados como São Paulo a partir de 1998, e sistemas equivalentes, como a “progressão parcial” no Rio de Janeiro, acabaram por distorcer o propósito original das reformas. A lógica por trás dessas políticas era aparentemente simples, mas perigosa: se altas taxas de reprovação comprometiam os indicadores exigidos por organismos internacionais, bastava reduzir as barreiras para a aprovação, independentemente do aprendizado efetivo. Assim, nasceu a polêmica prática da “aprovação automática”, um termo que, embora nunca oficialmente adotado, capturava a essência de um sistema que priorizava o avanço formal dos alunos em detrimento da qualidade educacional. Em São Paulo, a progressão continuada foi justificada como uma forma de combater a estigmatização da repetência e manter as crianças na escola. No Rio de Janeiro, a progressão parcial permitia que alunos avançassem mesmo sem dominar conteúdos essenciais, desde que cumprissem requisitos mínimos. Essas políticas, embora " bem-intencionadas ", criaram um paradoxo: os indicadores de fluxo escolar melhoraram significativamente, com aumento nas taxas de matrícula e redução da evasão e da repetência. Dados do Ministério da Educação mostram que, entre 1995 e 2005, a taxa de aprovação no ensino fundamental subiu de cerca de 70% para quase 90% em algumas regiões. Contudo, avaliações internacionais, como o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), revelaram um quadro alarmante: os alunos brasileiros avançavam de série, mas apresentavam desempenho pífio em leitura, matemática e ciências, colocando o Brasil consistentemente entre os últimos colocados no ranking global. Esse contraste expôs uma verdade incômoda: o Brasil havia transformado suas escolas em “fábricas de aprovação”, onde o progresso nos registros oficiais não correspondia ao domínio real dos conteúdos. A ênfase em metas quantitativas, como as exigidas pelo Banco Mundial, acabou incentivando soluções de curto prazo que negligenciavam questões estruturais, como a formação inadequada de professores, a infraestrutura precária das escolas e a ausência de políticas robustas de apoio ao aprendizado. Por exemplo, enquanto o Fundef trouxe avanços no financiamento, a distribuição desigual de recursos entre municípios perpetuou disparidades regionais, com escolas em áreas pobres frequentemente operando com orçamentos insuficientes para atender às necessidades básicas. Além disso, a pressão por resultados rápidos levou a uma cultura de accountability que remete à transparência nos atos, nas metas, nos objetivos, nas entregas de resultados, na definição de responsabilidades e, claro, na prestação de contas. A essência do sistema estava baseada em números, mas carente de foco na qualidade pedagógica. Avaliações nacionais, como o SAEB, começaram a revelar que muitos alunos concluíam o ensino fundamental sem habilidades básicas de leitura e escrita. Esse cenário evidenciava que as reformas, embora bem-sucedidas em ampliar o acesso, falhavam em garantir aprendizado significativo. As reformas educacionais dos anos 1990 e início dos 2000 foram impulsionadas por uma combinação de pressão internacional e aspirações legítimas de modernização. No entanto, o Brasil pagou um preço alto pela priorização de metas numéricas em detrimento da qualidade. Ao transformar escolas em máquinas de aprovação, o país esvaziou o sentido pedagógico do progresso escolar e formou uma geração de alunos que, embora registrados como bem-sucedidos nos índices oficiais, carecia de competências essenciais para a vida e o mercado de trabalho. Erro de cálculo ou premeditação? Os fins justificavam os meios? O resultado seria tão imprevisível que nossos burocratas não conseguiriam adivinhar? Certamente não, havia método e interesses personalistas envolvidos. O cálculo político se sobrepôs ao idealismo do magistério. O legado desse período é ambíguo: por um lado, o Brasil alcançou avanços inegáveis na ampliação do acesso à educação, com taxas de matrícula no ensino fundamental próximas de 100% já no início dos anos 2000. Por outro, a incapacidade de alcançar a universalização plena da educação — que combina acesso, permanência, conclusão, qualidade e equidade — reflete o preço pago pela priorização de metas imediatistas. A fragilidade na qualidade do ensino, evidenciada por avaliações como o PISA, e as desigualdades persistentes, especialmente para grupos vulneráveis como indígenas e alunos de regiões pobres, mostram que o Brasil ainda está longe de um sistema educacional verdadeiramente inclusivo e transformador. É verdade que o Banco Mundial e outros organismos internacionais não prescreveram diretamente a “aprovação automática” ou políticas similares. Contudo, ao impor metas rígidas e prazos apertados, contribuíram para a adoção de atalhos que privilegiaram estatísticas em vez de transformações reais. Para além deste mecanicismo, os burocratas não consideraram o fator "corrupção endêmica", que assola nosso país. Hoje, ao enfrentarmos os desafios do presente, fica evidente que educação de qualidade exige mais do que números bonitos. Superar esse legado demanda políticas que enfrentem as desigualdades estruturais, invistam na formação docente, modernizem currículos e priorizem o aprendizado efetivo, rompendo com a lógica de soluções de fachada que marcaram as últimas décadas. O Brasil aprendeu, a duras penas, que encher estatísticas não é sinônimo de educar. Cabe agora corrigir o rumo, com políticas que conciliem inclusão e excelência, para que a escola pública seja, de fato, um motor de transformação social. Ao finalizar este artigo, é no mínimo um gesto de responsabilidade reconhecer que décadas de erros, incidentais ou propositais, não serão resolvidas apenas com o uso de uma caneta Bic ou de uma Montblanc. Antes de corrigir a educação, é fundamental curar a corrupção, iniciando um ciclo virtuoso em que a responsabilidade no trato da res publica   e a seriedade na condução da educação das novas gerações se retroalimentarão. Só então teremos o Brasil do futuro — com um futuro sustentável — até lá, segue o baile. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. IV N.º 57 edição de Agosto de 2025 – ISSN 2764-3867

  • Liberdade e Legado

    Quando o Direito vira imposição A liberdade é um conceito que pulsa entre o concreto e o abstrato, entre a história e a consciência. Ao escrever sobre suas dimensões objetiva e subjetiva, buscamos mais do que uma definição — buscamos compreender como ela se manifesta, se esconde e se transforma ao longo do tempo. Vivemos em uma era que se autoproclama livre. A liberdade é o mantra das democracias modernas, o slogan das redes sociais, o argumento dos debates públicos. Esse conceito tão exaltado quanto mal compreendido atravessa séculos como bandeira de luta, promessa de emancipação e, mais recentemente, como produto de consumo. Da guilhotina à hashtag, ela mudou de forma, mas não de função: continua sendo o instrumento pelo qual se mede o que é aceitável, o que é justo, o que é humano. Mas há algo inquietante nesse cenário: a liberdade deixou de ser uma conquista e passou a ser uma exigência. Somos obrigados a ser livres. E essa obrigação, paradoxalmente, tem nos tornado menos livres. A Revolução Francesa é frequentemente lembrada como o marco fundador da liberdade moderna. O fim do absolutismo, a queda da Bastilha, a Declaração dos Direitos do Homem — tudo isso compõe o imaginário de uma sociedade que finalmente se libertou das amarras da tirania. Mas a história, como sempre, é mais complexa. Como vimos no artigo anterior, a mesma revolução que proclamou liberdade, igualdade e fraternidade também instaurou o Terror, perseguiu dissidentes e justificou a violência como meio de purificação política. Foi, sem dúvida, um marco na construção da modernidade política. Contudo, como visto no artigo anterior, a tensão entre emancipação e violência revela um paradoxo que atravessa séculos: a liberdade, quando absolutizada ou instrumentalizada, pode se tornar seu próprio oposto. Rousseau, ao propor que o homem seja “forçado a ser livre”, não estava defendendo tirania, mas apontando para um dilema entre autonomia individual e pertencimento coletivo. Dilema que ainda nos assombra: a liberdade como contrato social exige renúncias. O problema surge quando esse contrato é manipulado por quem confunde vontade geral com vontade de poder — seja um rei, um partido ou um algoritmo. Historicamente, a liberdade foi um ideal perseguido por séculos. Lutou-se contra tiranias, contra censuras, contra estruturas que oprimiam corpos e mentes. Hoje, o espírito revolucionário sobrevive em slogans e discursos, mas perdeu sua profundidade filosófica. A liberdade virou performance. E a performance, como sabemos, exige plateia, aplauso e roteiro. Temos uma inversão curiosa: não se trata mais de lutar por liberdade, mas de se submeter a ela. A sociedade contemporânea construiu um dogma — quem não se encaixa na narrativa dominante da liberdade é visto como retrógrado, perigoso ou simplesmente ignorante. Na sociedade atual, a liberdade não é apenas um direito — é um dever. Espera-se que sejamos livres, autênticos, empoderados. O dilema “meu corpo, minhas regras” é um exemplo emblemático. Tornou-se um imperativo moral absoluto, que exclui qualquer nuance, qualquer debate, qualquer reflexão sobre os limites entre o eu e o outro. A liberdade corporal, quando transformada em dogma, deixa de ser escolha e passa a ser obrigação ideológica. Não se pode discordar, ponderar ou questionar — sob pena de ser cancelado, silenciado ou rotulado. Nesse contexto, a liberdade não liberta: ela constrange. É nesse cenário que se impõe uma reflexão mais profunda sobre os limites da liberdade subjetiva quando desconectada da estrutura objetiva. É importante reconhecer que a filosofia não se limita à exaltação ou condenação: ela interroga, provoca e desestabiliza certezas. E isso se estende a todas as esferas da vida. Essa liberdade obrigatória se manifesta também nas escolhas cotidianas. Somos livres para escolher nossa identidade, nossa profissão, nossa verdade — desde que essas escolhas estejam dentro dos limites do que é socialmente aprovado. Somos bombardeados por discursos que exaltam a autonomia: escolha sua carreira, seu gênero, sua identidade, sua verdade. A liberdade virou um produto — e como todo produto, tem embalagem, marketing e prazo de validade. A ilusão da escolha é reforçada pelas redes sociais, palco principal da liberdade performática. Ali, somos livres para dizer o que pensamos — desde que o pensamento esteja dentro dos limites do algoritmo. A liberdade de expressão virou liberdade de repetição. No Brasil contemporâneo, temos liberdades garantidas constitucionalmente — expressão, voto, associação. Mas será que essas liberdades são plenamente vividas? Quando decisões políticas são tomadas em gabinetes fechados, quando o acesso à informação é desigual, quando a participação cidadã se limita ao espetáculo eleitoral — estamos diante de uma liberdade performada, não experienciada. E quando alguém ousa sair da linha, o sistema reage com força: denúncias, bloqueios, exclusões. A liberdade, nesse contexto, é vigiada, monitorada e punida. A liberdade subjetiva, nesse contexto, pode se tornar uma ilusão confortável. Sentimo-nos livres porque escolhemos, mas não sabemos o que nos é negado. Ao questionarmos os limites da liberdade vivida, propomos que essas conquistas só se realizam plenamente quando acompanhadas de consciência crítica e estrutura transparente. A verdadeira liberdade não está apenas em agir conforme a própria vontade, nem apenas em obedecer a leis justas. Ela floresce quando há espaço para o diálogo, para o dissenso, para a escuta. Talvez o aspecto mais perigoso dessa nova configuração seja a tirania disfarçada de boas intenções. Em nome da proteção, da inclusão, da segurança, propõem-se medidas que restringem justamente aquilo que se diz defender. Um exemplo claro é o debate sobre a regulação das redes sociais. A proposta parece sensata: combater fake news, proteger usuários, evitar discursos de ódio. Mas quem define o que é verdade? Quem decide o que é ódio? Quem fiscaliza os fiscalizadores? A regulação, quando feita sem transparência e sem limites claros, transforma-se em censura. E a censura, mesmo quando bem-intencionada, é sempre uma ameaça à liberdade. A história nos ensina que regimes autoritários raramente se apresentam como tal. Eles chegam com promessas de ordem, de justiça, de progresso. E é justamente por isso que são perigosos: porque seduzem, convencem, conquistam. A liberdade, para sobreviver, precisa desconfiar das boas intenções. Precisa resistir à tentação de entregar sua essência em troca de segurança. A Revolução Francesa nos ensinou isso — mas parece que esquecemos. Estamos, portanto, diante de um paradoxo: quanto mais se fala em liberdade, menos ela é vivida. A liberdade verdadeira não é aquela que nos é imposta, mas aquela que escolhemos com consciência, com responsabilidade, com disposição para o risco. Ser livre é poder dizer “não” — inclusive ao discurso dominante da liberdade. A liberdade não é uniforme, não é absoluta, não é confortável. Ela exige conflito, exige dúvida, exige coragem. E talvez por isso esteja sendo substituída por uma versão mais palatável: a liberdade domesticada, higienizada, aprovada por comitês e algoritmos. Essa versão não incomoda, não provoca, não transforma. Mas também não liberta. O que resta, então, é a liberdade interior — aquela que não depende de aprovação externa, que não se curva às tendências, que não se vende em pacotes ideológicos. Essa liberdade é silenciosa, discreta, resistente. Ela não precisa ser exibida, nem defendida com slogans. Ela vive na recusa, na dúvida, na escolha consciente. E talvez seja essa a liberdade que mais incomoda: a que não se deixa capturar. A que não se transforma em bandeira. A que não se presta à tirania das boas intenções. Porque essa liberdade, quando vivida de forma autêntica, revela o que muitos preferem esconder: que o verdadeiro poder está em não se deixar obrigar — nem mesmo a ser livre. Se a liberdade performática nos aprisiona em narrativas ideológicas e algoritmos, talvez seja hora de olhar para uma liberdade que transcende o tempo, o poder e a cultura — a liberdade espiritual. Na tradição cristã, a liberdade não é apenas um direito humano, mas um dom divino. “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou” (Gálatas 5, 1) — não uma liberdade que se impõe, mas que se oferece; não uma liberdade que exige, mas que convida. Essa liberdade não se confunde com autonomia irrestrita, nem com a ilusão da escolha mercadológica. Ela é a liberdade de viver segundo a verdade, mesmo quando essa verdade é incômoda. É a liberdade de servir, de amar, de renunciar. Paradoxalmente, é na entrega que se encontra a libertação. Como dizia Agostinho, “Ama e faz o que quiseres” — porque o amor verdadeiro orienta a vontade para o bem. A liberdade interior, que este texto evoca, encontra eco profundo na fé: é o espaço onde a consciência se encontra com o eterno, onde o ser humano deixa de ser escravo de si mesmo para se tornar filho. Não se trata de submissão cega, mas de confiança radical. A fé não anula a liberdade — ela a purifica. E é nesse encontro entre liberdade e transcendência que o ser humano pode finalmente dizer “sim” sem medo, e “não” sem culpa. Em tempos de tiranias disfarçadas de boas intenções, a liberdade espiritual permanece como resistência silenciosa. Ela não precisa de palco, nem de aplausos. Vive na escuta, na oração, na coragem de ser autêntico diante de Deus e do mundo. Porque, no fim, a verdadeira liberdade não é fazer tudo — é saber o que não se deve fazer. E isso, talvez, só se aprende quando se olha para o alto. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. IV N.º 57 edição de Agosto de 2025 – ISSN 2764-3867

  • A verdadeira compaixão pela mulher

    Nos últimos tempos, o Instagram incorporou algumas características do Facebook. Uma delas é a visualização de postagens de perfis que não seguimos, e, em nosso ímpeto, acabamos por comentar. Às vezes, esta atitude pode nos trazer algumas dores de cabeça, mas, a depender do caso, vale a pena. Exponho neste artigo minha experiência pessoal sobre isso: dia desses, no Instagram, deparei-me com uma matéria do portal Metrópoles, cujo título é: “Estuprada, mulher tem intestino e útero furados durante aborto legal” . Antes de analisar as diversas problemáticas, vamos conhecer esta história. A vítima, que era casada, sofreu uma violência sexual em uma rodoviária no Distrito Federal. Não sabemos a razão, a jovem de 24 anos não relatou o fato a seu marido. Contudo, ele acabou por descobrir e a agrediu. No registro do boletim de ocorrência por agressão, a jovem relatou o estupro. E a situação, que já estava ruim, se transformou em um calvário. A moça foi levada para realizar o procedimento de aborto no Hospital Materno Infantil (o que seria irônico se não fosse terrivelmente trágico). O local, que deveria servir para trazer à luz foi utilizado para ceifar a vida de um inocente. E para piorar, a jovem foi vítima de nova violência: ela teve o intestino e o útero perfurados durante o procedimento, e agora, ela usa uma bolsa de colostomia. Ao me deparar com esta situação tão trágica, me comovi por ela: sem marido, em um abrigo com a filha de dois anos, submetida a um procedimento nefasto e, na mesa cirúrgica, foi tratada como carne de açougue. Imediatamente após isso, lembrei do lema número um das feministas: “Aborto seguro salva vidas” . E então, na postagem, eu questionei: “Ué, mas não era o 'aborto legal' que salvaria vidas?” . E aqui inicia a minha saga. Imediatamente, uma enxurrada de cometários de pessoas com QI -83 vieram me acusar de estar zombando da vítima. Jamais! Meu questionamento nunca foi direcionado a esta moça, e sim para as defensoras do ato mais nefasto praticado pelo ser humano. Selecionei alguns para que o leitor veja como atua a turma do “Mais amô, pu favô”: “essa deve tirar -2 na redação do enem” “impressionante, 36 anos e não sabe interpretar texto” “o tamanho do eco que faz nessa sua cabeça é surpreendente” “você devia estar mugindo e pastando por aí, sério” “Não dá pra esperar outro comentário da seita Bolsonarista” “seu comentário provando que sua laia é completamente desprovida de inteligência” “Desprovida de raciocínio” “tu é burra ou se faz??” “chegou a bolsominion que faltava” “imagina ter falta de cognição assim que lindo” “no perfil da infeliz ainda fala de ”Jesus ” (que é meu sobrenome, diga-se de passagem) “mulher conservadora é uma piada tão grande kkkk” Contudo, de todos os comentários, os que mais me chamaram a atenção foram aqueles que desejaram que eu fosse violentada. Trago-os aqui ao leitor: "espero q passe pelo msm q ela pra desenvolver sua empatia (...)E sim eu volto a desejar que você passe pela mesma situação que ela, ou que eu passei, porque gente da sua laia só sabe a hora de calar a boquinha quando começa a usar o mesmo sapato" Antes de tudo, se faz necessário explicar aos jornalistas o óbvio: não existe aborto legal no Brasil. O que existe são exceções, três em específico, que constam no Art. 128 do Código Penal. Logo, dizer que a moça foi submetida a um “aborto legal” é o que Donald Trump cunhou como fake news . Outro ponto: a Organização das Nações Unidas (ONU) e seus tentáculos disseminaram o termo saúde reprodutiva . Bom, se a mulher realiza um procedimento onde precisa ser introduzida uma agulha de 30 centímetros, com solução salina, cujo objetivo é alcançar o coração do bebê, e ele morre em consequência de uma parada cardíaca, e esse bebê precisa ser cortado em diversas partes para ser retirado, onde que isso pode ser chamado de saúde? Até porque, utilizando os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o aborto é considerado a quinta causa de morte materna no Brasil. E mais: aborto seguro , não existe. Vou reescrever ipsis literis um trecho de uma reportagem que relata isso: "Uma das mulheres, A.N.T., 29, saiu do estado (da Geórgia) para fazer o procedimento na Carolina do Norte, mas perdeu o horário da consulta em decorrência de um acidente de trânsito na estrada. Ela foi instruída a usar pílulas abortivas - mifepristona e misoprostol-, UM DOS MÉTODOS CONSIDERADOS SEGUROS e recomendados pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Já de volta à Georgia, "A" precisou ir ao hospital por sangramento excessivo e lá descobriu que havia tecido em seu útero. Um procedimento de dilatação e evacuação resolveria o problema, mas os médicos, temendo represálias, decidiram esperar até não haver batimento cardíaco fetal. A espera culminou numa infecção generalizada e, quando o procedimento foi autorizado, "A" não sobreviveu à intervenção. Ela deixou um filho de 6 anos." E atenção a um trecho de um artigo científico (antes que me chamem de “negacionista”), publicado na Revista PubMed Central: “Na Finlândia (…) o risco de morte por aborto induzido legal é relatado como sendo quase quatro vezes maior do que o risco de morte por parto”. "…o risco de mortalidade em gestações subsequentes ao aborto aumenta devido a morbidades induzidas pelo aborto, como parto prematuro e placentação anormal." “Nos Estados Unidos, a taxa de mortalidade por aborto induzido legal realizado com 18 semanas de gestação é mais que o dobro daquela observada em mulheres que tiveram parto vaginal.” " O risco de morte por aborto legal aumenta em 38 por cento a cada semana após oito semanas de gestação. Está documentado que o aborto induzido, geralmente em gravidez avançada, leva ao aumento do comportamento de risco que resulta em morte por overdose de drogas, suicídio ou homicídio." Ah, e mais um trecho deste artigo maravilhoso para que o leitor possa mostrar (ou “esfregar”, como queira) no nariz dos defensores do ato: “Tem havido desinformação generalizada sobre o aborto legal. Parece que as mortes raramente ocorrem e o aborto é considerado um procedimento muito seguro. Ao discutir a mortalidade relacionada à gravidez, é preciso reconhecer que as alterações fisiológicas começam assim que a gravidez começa. O aborto induzido interrompe esta fisiologia normal e existem riscos únicos devido a esta intervenção.” A quem interessar possa, o título do artigo é "Induced Abortion and the Increased Risk of Maternal Mortality" . Desfrutem. Voltemos ao meu comentário na postagem do portal Metrópoles. Vendo a proporção que um simples questionamento causou, percebi o seguinte: nós, conservadores, não devemos mais repetir que aborto é assassinato. Quem defende a prática, no fundo, sabe disso. O que estes que defendem algo tão abjeto não querem que as pessoas saibam é que o procedimento não traz saúde ou dignidade para a mulher. Eles não querem que as consequências nefastas do ato sejam difundidas. Todos os defensores do aborto repetem o mantra: “Se o aborto for legal, realizado em hospital, com todos os recursos, certamente a mulher não vai sofrer”. Contudo, o ocorrido com a jovem de Brasília é a prova de que não importa se a prática é realizada em um fundo de quintal ou no maior hospital da América Latina. O problema está no ato em si. Nos comentários, me acusaram de não sentir empatia pela vítima. Oras, na cabeça destes analfabetos funcionais (para dizer o mínimo), se eu sou contra o aborto, não tenho empatia. Meu Deus! Se eu sou contra é justamente por sentir compaixão pela mulher! O que não quero para mim jamais vou desejar ao meu próximo - bem diferente de quem quer meu mal. Sinceramente, eu gostaria de saber quem é essa moça. Quero ajudá-la. Desejo que ela seja amparada e cuidada. Espero que ela se recupere de todo o mal que lhe fizeram. Quanto àqueles que querem que eu seja estuprada, um recado de Nosso Senhor Jesus: “Raça de víboras, como podem vocês, que são maus, dizer coisas boas? Pois a boca fala do que está cheio o coração” (Mateus 12.34). 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  • Se tua vida fosse um país

    Como ele seria sendo você o Presidente? Há sem dúvidas um movimento de elevação da consciência em todos os sentidos na sociedade Brasileira. Há que reconhecer que na última década as pessoas têm vivido um despertar ainda que instintivo sobre temas que outrora eram totalmente ignorados, pois se fizeram acreditar que outros deveriam fazê-los por nós. Trago então uma analogia que tem como sempre o objetivo de promover reflexão sem a pretensão de esgotar o tema, pois cada pessoa tem seu nível de reflexão e isso deve ser respeitado sempre lembrando de que seja qual for o nível da pessoa ela deve alcançar a ideia e compreendê-la, pois sem compreensão não há prática adequada do que quer que seja. Nesse caso, quando há que escolher um profissional, é inteligente que aquele que escolhe tenha nível de conhecimento ou informação suficiente para isso, e isso vale para a escolha de uma esposa, amigo, sócio, um prestador de serviço, enfim, quanto mais importante a escolha mais abrangente deve ser o conhecimento daquele que escolhe. Baseado nessa informação, fazemos escolhas e estas escolhas nos trazem seus resultados, então para melhorar os resultados devemos melhorar as escolhas e no mínimo diminuir os impactos negativos de uma escolha equivocada. Sempre que uma escolha é posta diante de nós é inteligente de nossa parte nos informarmos e refletirmos antes de decidir, sobre tudo quando áreas fundamentais da nossa vida e dos nossos queridos estão em jogo, como na escolha de cônjuge, por exemplo. Por isso a pergunta no título deste texto é reflexiva. Se nossa vida fosse um país, sendo nós os respectivos presidentes, como estaria, ou está a economia, infraestrutura, saúde, educação, trabalho, meio ambiente, enfim, as áreas fundamentais de nossa vida (país), façamos uma análise simples e veremos a quanto está nosso nível para escolhas importantes, sabendo que o que está fora é reflexo do que está dentro. Por tanto se quero uma vida exterior mais qualificada urge primeiro qualificar-me interiormente ou intelectualmente eu diria.. É simples assim: Se eu tenho um pomar que não está dando frutos e o máximo que tenho é sombra, devo buscar opções; uma delas é cortar as árvores e aí nem sombra terei mais, porém se quero mais que sombras posso optar por investir meu tempo em informações que me trarão conhecimento para tratar das árvores e fazê-las produzir seus frutos e daí outros benefícios virão, como até mesmo um novo negócio. Para finalizar escrevo uma pergunta: Você tem alguma escolha importante para fazer e que pode mudar tua vida e dos teus amados? Se sim, faça da melhor forma possível pois grandes escolhas se apresentam sempre diante de grandes pessoas. Deus abençoe nossa jornada! Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N.º 19 edição de Setembro de 2022 – ISSN 2764-3867

  • A Interiorização da colonização nos séculos XVI e XVII

    O território brasileiro apresenta na atualidade, suas fronteiras estabelecidas e reconhecidas por todas as nações. É o maior país em extensão territorial da América Latina. O gigantismo do território brasileiro foi construído ao longo do período colonial, tendo a sua primeira delimitação ocorrido em 1494 através do Tratado de Tordesilhas, assinado entre as coroas espanhola e portuguesa, antes mesmo da posse oficial ocorrida em 1500 por meio da missão comandada por Pedro Álvares Cabral. Posteriormente, novos acordos foram firmados entre as duas coroas, tais como: o Tratado Utrecht (1713); o Tratado de Madrid (1750); o Tratado de Santo Ildefonso (1777) e o Tratado de Badajós (1801). É importante deixar claro que estes tratados assinados entre Portugal e Espanha foram contestados por outras nações europeias, como por exemplo a França e a Inglaterra, interessadas em participar da partilha das novas e terras e das possibilidades de exploração econômica. Uma característica ainda marcante de seu povoamento e da distribuição dos grandes centros urbanos é seu posicionamento predominantemente litorâneo. Para compreender que fatores e motivações conduziram ao que hoje conhecemos como o “território brasileiro”, precisaremos conhecer de que forma se iniciou a sua ocupação com características de permanência. Para discutir a respeito da ocupação do território brasileiro durante os séculos XVII e XVIII, é necessário que antes se faça um breve relato da trajetória brasileira desde o seu descobrimento até o momento acima citado. A partir desta perspectiva, torna-se indispensável observar aspectos sociais, políticos e econômicos inerentes ao processo colonizador português para que se compreenda aquela ocupação. Como sabemos, o descobrimento do Brasil ocorreu em 1500. Depois de um rápido reconhecimento da costa e da comunicação do achado à Coroa Portuguesa, nenhuma iniciativa de ocupação foi tomada até 1530, quando Martim Afonso de Sousa foi enviado com o objetivo de combater o amplo comércio existente entre corsários franceses e os indígenas que habitavam o litoral e para o estabelecimento de vilas e feitorias que garantissem a segurança da costa e o comércio com a metrópole. Tendo sido arrendada em 1506 a Fernão de Noronha e outros cristãos novos, as novas terras davam, por volta do fim da segunda década com o Pau Brasil, lucros significativos – não comparáveis aos do comércio oriental – e que já começavam a despertar o interesse de outras nações. Isto vem explicar o porquê da missão de Martin Afonso: ocupar para defender. Concluída esta primeira etapa, era necessário então que se tomassem medidas que permitissem garantir a posse das novas terras. Seguindo a experiência anteriormente aplicada às ilhas dos Açores e da Madeira, decidiu-se pela divisão do imenso território em Capitanias que seriam concedidas a exploração comercial mediante o pagamento de tributos à coroa. Esta medida serviu para combater, ou ao menos dificultar a ação de corsários, mas mantinha a ocupação limitada à faixa litorânea em virtude de uma série de regimentos, entre eles, o que estabelecia o limite de dez léguas de terra para o oeste no aproveitamento da agricultura. Com exceção da Vila de São Vicente (semente da futura Cidade de São Paulo) fundada no planalto paulista, a ocupação era nesse momento, exclusivamente litorânea. Esta defasagem de tempo ocorreu porque, neste período de trinta anos, Portugal beneficiava-se do comércio com as Índias através da rota descoberta por Vasco da Gama em 1498. O comércio com as Índias já estava estabelecido desde muitos séculos, e esta nova rota vinha concorrer com italianos e árabes no comércio entre a Europa e o Oriente. Por isso, não interessaria a Portugal desperdiçar tão boa oportunidade de auferir lucros com o comércio oriental, pois, as terras recém-descobertas não se apresentavam, a princípio, tão pródigas em riquezas minerais como as possessões espanholas ao norte. A partir de meados do século XVI iniciaram-se, timidamente, os primeiros movimentos rumo ao interior. Conhecidas como as “entradas” paulistas tinham o objetivo de capturar mão de obra nativa para o trabalho e sondar o interior a procura de ouro e pedras preciosas. Também neste período, o Rio Amazonas conduzia levas de missionários Jesuítas para o interior da floresta visando a formação de “reduções” indígenas para catequese. Lembrando que as reduções eram aldeamentos organizados pelos jesuítas e tinham dupla vantagem por não afastar os indígenas de suas terras e facilitar o processo de cristianização. Naqueles movimentos os jesuítas eram seguidos por comerciantes em busca de produtos tropicais muito procurados na Europa. Estas primeiras movimentações foram facilitadas durante o período da União Ibérica (1580 a 1640), pois, sob um mesmo rei – o de Espanha – o Tratado de Tordesilhas praticamente ficava sem efeito, facilitando em muito as incursões para oeste. As primeiras formas de ocupação do interior, mais efetivas e duradouras, foram observadas no final do século XVI através do estabelecimento de fazendas de criação de gado no sertão nordestino, no Maranhão e particularmente na Bahia. Mais tarde, tais fazendas chegariam à região centro-sul (Minas Gerais e Mato Grosso). O auge do deslocamento para o interior ocorreu no final do século XVII com o descobrimento de grandes jazidas de ouro em Minas Gerais. Desde os últimos anos do século XVI já se extraía ouro em São Paulo, porém, em quantidades que não despertavam maior interesse. Entretanto, com as descobertas em Minas Gerais, ondas migratórias se deslocaram de diversos pontos da colônia para sua região central. É interessante notar que as fazendas de gado que já haviam se instalado naquela região, serviram então e também, como fornecedoras de carne para a subsistência das populações que trabalhavam nas minas. Também em Goiás e Mato Grosso a descoberta de ouro provocou a fixação temporária do homem à terra. Dizemos temporária, pois, nas palavras de Caio Prado Jr em seu livro Formação do Brasil Contemporâneo , “(...) no alvorecer do séc. XIX, (...) já se tinham esgotado praticamente todos estes depósitos de superfície na área em que ocorreram. A mineração sofre então o seu colapso final. (...)” . Com isso, a maior parte da mão de obra empregada na mineração retornou à agricultura e ao litoral, ficando no interior uma pequena parcela de população associada à agricultura de subsistência ou à pecuária. Apesar de a ocupação ter sido em muito alavancada por momentos de desenvolvimento de certas atividades, sejam elas: o extrativismo, a agricultura, a mineração ou a pecuária, no período que nos interessa, a agricultura teve menor importância por ter permanecido fortemente ligada às áreas férteis e úmidas das baixadas litorâneas. Por esta razão, daremos maior ênfase ao extrativismo através da bacia amazônica, a pecuária nos sertões nordestinos e a mineração no centro-sul do Brasil. Não esquecendo a contribuição jesuítica tanto no norte quanto no sul do país. Adiante, trataremos especificamente das motivações do retardo dos movimentos de ocupação do interior e, quando ocorreram, quais teriam sido suas relações com a metrópole. Seriam o resultado de um projeto colonizador consciente ou de um movimento natural e inespecífico? Esta ocupação causou reflexos em outros aspectos da vida colonial? E a agricultura, teve influência na interiorização mesmo estando baseada no litoral ou foi por ela afetada? É o que veremos. Até o ano de 1530, o litoral brasileiro vinha sendo utilizado como escala de reabastecimento dos navios que rumavam para as Índias. Todo o interesse lusitano estava voltado para o comércio oriental que, desde muito tempo, provara ser bastante lucrativo. Em contrapartida, as novas terras descobertas não apresentavam sequer indícios da existência de riquezas minerais, podendo oferecer apenas o Pau Brasil que por este motivo se tornou a primeira fonte de lucros para a coroa portuguesa. Desta forma, o aparente desinteresse metropolitano pelo Brasil não passava de uma questão de estratégia e prioridades. Mesmo depois da divisão do território em capitanias e do estabelecimento de vilas e feitorias no litoral, um de nossos primeiros cronistas, frei Vicente do Salvador em sua obra História do Brasil , acusava os portugueses afirmando que “(...) sendo grandes conquistadores de terras, não se aproveitavam delas, mas contentam-se de as andar arranhando ao longo do mar como caranguejos”. Tal afirmativa não é incorreta, mesmo considerando que em 1627 quando foi escrita, o movimento bandeirante já avançava para o interior. A crítica era dirigida à forma pela qual a ocupação se dava, pois, “(...) que nenhum homem nesta terra é republico, nem zela, ou trata do bem comum, senão cada um do bem particular. (...). Pois o que é fontes, pontes, caminhos e outras coisas públicas é uma piedade, (...) e isto tudo vem de não tratarem do que há de cá ficar, senão do que hão de levar para o reino” . E não era exclusivo apenas dos portugueses a forma de abordagem colonizatória, pois o cronista ainda acrescenta: “(...) e isto não tem só os que de lá vieram, mas ainda os que cá nasceram, que uns e outros usam da terra, não como senhores, mas como usufrutuários, só para a desfrutarem e a deixarem destruída” . Importante esclarecer que os comentários do frei Vicente em nada podem ser vinculados a teorias de viés marxista, visto que Marx e sua teoria surgiriam séculos mais tarde. Tratava-se da constatação de práticas normais para aquele tempo e para as sociedades sul americanas de então. As “entradas” paulistas citadas anteriormente não podem ser consideradas como tentativa de povoamento, visto que seu objetivo era claramente econômico, já que buscavam a priori apenas mão de obra. Esta afirmação parece controversa na historiografia brasileira, pois, Capistrano de Abreu e Caio Prado Jr apresentam opiniões divergentes a este respeito. Abreu nos diz em seu livro Capítulos de História Colonial que, com o fim da aventura desbravadora os bandeirantes fixaram-se em fazendas às margens do rio das Velhas e do São Francisco, chegando a reunir mais de cem famílias dedicadas a criação de gado; Prado Jr afirmou na mesma obra que já citamos anteriormente, que tais movimentos tiveram cunho exclusivamente exploratório sem fixar o homem à terra. Em um autor vê-se o contar da história de forma factual e isenta, quanto ao outro (mais recente) a visão opinativa e dirigida da História. Até mesmo a ocupação do litoral seguiu uma prática que se tornaria comum ao processo de colonização brasileiro, ou seja, apesar das dificuldades naturais oferecidas pela natureza, o colonizador português procurou aproveitar-se de tudo que tornasse seu trabalho mais suave e/ou reduzisse as dificuldades. A respeito disso, Capistrano de Abreu nos revela que o aproveitamento do curso dos rios e das trilhas criadas e usadas pelos índios – como no caso amazônico – teve vital importância para o reconhecimento e ocupação do interior. Também Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil, acrescenta que os aldeamentos originalmente encontrados no litoral eram aproveitados para a formação de vilas, e onde não havia indígenas observava-se um “vazio” de ocupação europeia. Outro fator importante indicado por Buarque era o fato de encontrar-se por todo o litoral um mesmo tronco linguístico, o que facilitava sobremaneira a comunicação e, por conseguinte, a ocupação. Ainda segundo Buarque, “O que o português vinha buscar era, sem dúvida, a riqueza, mas riqueza que custa ousadia, não riqueza que custa trabalho. A mesma, em suma, que se tinha acostumado a alcançar na Índia com as especiarias e os metais preciosos. (…)”. Há que se considerar que esta fixação ao litoral pode ser explicada, em parte, porque a população de Portugal no século XVI não passava de um milhão e meio de habitantes em decorrência das baixas causadas pela peste negra nos séculos anteriores e do fato de ter-se empregado grandes contingentes de população no comércio marítimo com as Índias, mas estes não haviam de ser os principais motivos. Todos os elementos até aqui apresentados, nos levam a concluir que o distanciamento da costa prejudicaria o objetivo principal da ocupação: a extração de riquezas, que naquele momento estava ligada a agricultura e, em função das grandes distâncias percorridas do interior ao litoral, elevaria os custos da produção, além de desguarnecer a costa. Além disso, ou talvez por isso mesmo, por um longo período de tempo as incursões ao interior ficaram vedadas sem a autorização expressa do rei de Portugal, e mesmo obras literárias que descrevessem as riquezas naturais do Brasil eram censuradas para não despertar o interesse de outras nações. Um bom exemplo disto é a obra escrita por André João Antonil: “Cultura e Opulência do Brasil por suas Drogas e Minas”, censurada por conter informações consideradas estratégicas. Era preciso proteger a costa e produzir riquezas a partir dela, ao mesmo tempo em que se guardava o que houvesse no interior por explorar. Assim, nesta primeira abordagem buscamos apresentar os elementos factuais mais importantes para as incursões circunstanciais e para permanência do homem junto às áreas litorâneas. Para o segmento deste artigo trataremos dos movimentos com caráter mais definitivo de fixação à terra e de configuração de nosso território. (continua na próxima edição). 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  • Uma nação perdida

    A Torre de Babel ruiu quando os homens que conduziam sua construção se perderam em línguas diversas e não conseguiram mais se comunicar. Deus fez com que os responsáveis pela obra que pretendia afrontar o poder divino e elevar o governante daquelas terras aos céus, para que pudesse ocupar um trono mais alto que o do criador, perdessem o rumo e não mais pudessem erguê-la. Não se trata de um caso isolado em que os homens perdem a noção de suas limitações e tentam, inutilmente, dobrar a própria realidade para que seus sonhos se realizem, mesmo quando se tratam de utopias. Os governos coletivistas da primeira metade do século XX, que acabaram por desencadear a II Guerra Mundial e a chamada Guerra Fria, prometiam sonhos irreais caso seus líderes fossem alçados a posições de líderes supremos. Buscavam o poder absoluto para promover o impossível, levando o mundo a uma guerra na qual o Eixo, prometendo uma civilização perfeita, acabou cobrindo de sangue humano grande parte do globo. Após a II Guerra Mundial, a União Soviética, que anos antes havia exterminado muitos ucranianos em um processo, que alguns consideram desastroso e outros como intencionalmente nefasto, de morte pela fome, também conhecido como Holodomor, fato que foi encoberto pela máquina de propaganda soviética que ultrapassava as fronteiras daquela confederação. O Governo Soviético e seus apêndices, como governos socialistas do leste europeu e da Ásia, propagaram sua doentia ideologia pelo mundo através da criação e financiamento de partidos comunistas ligados diretamente ou não a Internacional Socialista, criando assim a chamada Guerra Fria. Criaturas inescrupulosas, os socialistas difundiram suas ideias cooptando e formando intelectuais, artistas, ativistas e até sindicalistas, em que pese os dois últimos grupos serem, em regra, embrionários dos movimentos socialistas. A União Soviética exportava seus ideais doentios por meio de propaganda, patrocinando organismos ou se aliando com simpatizantes do socialismo como os chamados sociais democratas, assim, era possível envenenar o ocidente com premissas cunhadas por pensadores amantes da revolução. As redações foram tomadas por grupos que acreditavam na utopia da coletivização de meios de produções e, tão logo percebiam se tratar de uma mentira, deixavam a crença maldita para combatê-la como alguém que outrora professara uma fé que exige sacrifícios a demônios e denuncia os erros quando, tomado por uma epifania, verifica quão maligna era a sua crença. O político Carlos Lacerda e o pensador Olavo de Carvalho, dois nomes que o Brasil jamais pode esquecer, são exemplos de figuras que conheceram as vísceras dos movimentos socialistas e se libertaram para denunciá-lo, entretanto, ambos sofreram grande resistência, sendo que Olavo, com o advento da informação descentralizada, conseguiu romper a barreira da chamada espiral do silêncio para expor a natureza abjeta dos revolucionários. Ambos alertavam para o mal que o socialismo era, entretanto, como a Academia e as redações estavam tomadas por amantes da mentirosa ideologia, foram tratados como teóricos da conspiração enquanto os verdadeiros cientistas fixavam diplomas em suas paredes e medalhas em seus bustos por assumirem falsas premissas como sustentáculo daquilo que chamariam de ciência no final do século passado. Ressignificavam termos para que as pessoas perdessem a noção daquilo que realmente é certo e errado, bom e mau, belo e feio, bem como, justo e injusto, moral e reprovável para que pudessem reprogramar a realidade através da distorção de conceitos antes claros, de maneira que, expressões que tinham uma interpretação nítida passaram a ser alteradas, não em sua forma, mas em seu conceito, para servirem aos interesses dos líderes revolucionários, entretanto, como se tratava de algo artificial, construído sem fundações, naturalmente, tais estratagemas não se sustentam, pois, como uma narrativa descolada da realidade apresentará inconsistência, uma estrutura que se fundamenta sobre planos desconectados tende ao desabamento quando suas bases se movem em sentidos diversos. Imaginemos que uma grande edificação seja construída sobre ilhas flutuantes que não se conectam, sendo levadas pela maré, caso em que, a obra ruirá quando cada ilha se mover em diferentes direções, por isso, é necessário ter como base um conceito sólido, evitando que toda uma edificação desmorone. Como o socialismo, e toda ideologia revolucionária, se baseia em premissas que não contam com a verdade, mas com a fome de seus líderes pelo poder, torna-se natural que os movimentos naturais acabem derrubando suas estruturas, desmontando a farsa que, uma vez insustentável, manter-se-á somente pela força, que se traduz no apego doentio pelo poder, a corrupção e o endividamento. O apego pelo poder fica evidente quando o indivíduo se banqueteara da estrutura totalitária de tal forma que não se vê renunciando ao conforto que lhe foi dado, bem como, pela incapacidade de enfrentar as consequências de suas ações uma vez no trono. O tirano preferirá morrer como Joseph Stalin, no poder e impune por suas ações malignas, considerando que revolucionários não creem na justiça divina, a morte é a forma de escapar do julgamento diante de suas atrocidades. Por outro lado, o destino de um déspota destituído poderá se assemelhar ao de Benito Mussolini ou Nicolae Ceausescu. A corrupção é uma forma de manter os membros dos círculos de poder sob o controle ou, ao menos, alinhados aos revolucionários, pois um corrupto se locupleta de vantagens indevidas que os senhores do poder não deixaram de fornecer em troca de apoio ou servidão. Uma figura corrupta está disposta a precificar seus valores morais, portanto, se prostitui no sentido figurado, ao vender sua alma ao mal. Para os agentes da revolução, o corrupto é o aliado com o qual, tendo meios, sabe que poderá contar. Os endividados são todos aqueles que, por algum motivo, se colocam na mira dos tiranos por serem chantageados em razão de alguma mácula que não pode ser exposta, aquilo que os soviéticos chamavam de “Kompromat”, uma espécie de dossiê que pode ser usada para acabar cm a reputação ou incriminar àqueles que podem ser úteis aos interesses da revolução. Evidentemente, um corrupto é um endividado em potencial, haja vista que, uma vez que aceitou vantagem indevida, restará para o corruptor a possibilidade de chantageá-lo caso tente se voltar contra a revolução, ou mesmo, elevar seu valor além daquilo que o tirano está disposto a pagar. Outra forma de endividamento é o indireto, uma espécie de gratidão que o indivíduo tem para com o regime, pois acredita, em regra, por ter sido ludibriado, que deve algo aos ocupantes do poder. As políticas assistencialistas ou aquelas voltadas ao benefício desigual de grupos que acreditam necessitar da proteção dos poderosos são meio de fazer com que, naturalmente, os agraciados tenham se apeguem a déspotas que lhes deram supostas vantagens em troca de afeto. Não por acaso, autoridades do espectro de esquerda costumam ameaçar os dependentes do assistencialismo ou políticas que chamam de “inclusivas”, como as cotas, caso apoiem o outro espectro, insinuando que tais regalias lhes seriam retiradas, ou seja, deixando claro que tratam-se de medidas políticas que agraciam em troca de apoio. Não há como negar que, alguém agraciado por cotas tenderá a defender tal sistema mesmo que perceba ser algo injusto, posto que, uma vez beneficiado por tal injustiça, negar-se-á a admitir que em algum momento obteve uma vantagem indevida sobre terceiro como favor político, logo, sentirá o dever de defender e promover ainda mais medidas ditas inclusivas. O problema é que a inclusão de uns acaba por, artificialmente, excluir outros, não criando um processo naturalmente justo, mas corrompido por interesses diversos com os dos beneficiados e seus benfeitores, que estarão dispostos a cobrar pelos favores assim que possível. Portanto, quando as políticas identitárias se conflitam, aquele que está no poder não buscará resolver tal embate de forma justa, mas avaliará qual lado será o mais vantajoso politicamente. Um bom exemplo é o conflito entre as ideias feministas, que dizem colocar as mulheres como merecedoras de proteção, e os movimentos transgêneros, que impedem a definição do que é mulher para que indivíduos possam se encaixar em tal categoria com base na sua simples declaração de vontade. Para os movimentos que defendem a existência de homens e mulheres “trans”, expressões como homem e mulher perdem o seu real significado, sendo necessário acrescentar o termo “cis”, para informar que aqueles indivíduos são, realmente, aquilo que o termo original já os definia. Ao tentar derrubar a barreira entre o que é um homem ou uma mulher real e aquele que pretende se identificar como sendo do sexo oposto e, especialmente, impondo a terceiros que se curvem a sua visão de vida, ainda que se isso importe renunciar a verdade, inseriu-se o termo “trans” para realocar tais indivíduos, entretanto, a criação desconectada da realidade se mostra falha quando se faz necessário o uso de tal expressão, evidenciando que a figura do homem “trans”, por exemplo, não tem o mesmo significado de homem, por isso, foi necessário rebatizar o homem como homem “cis”, algo que, com as devidas vênias, mantém a diferença entre ambos. Restou aos poderosos impor medidas coercitivas para que os indivíduos tivessem que renunciar a verdade por medo de perderem sua liberdade, ou seja, em uma ilusão que não se sustenta, impede-se que alguém aponte que “o rei está nu”, criminalizando tudo aquilo que desagrade os poderosos. Temendo a repressão estatal, mais “eficiente” que a destinada aos verdadeiros criminosos, os cidadãos precisaram aceitar a mentira como única forma de se manterem livres, como aqueles que outrora foram obrigados a renunciar sua fé, algo comum nos regimes revolucionários. Ressignificando o vernáculo, a tirania conseguia impor-se sem que suas reais intenções fossem flagrantes, de maneira que, os inimigos da revolução deixaram de ser reacionários ou conservadores para serem rotulados de fascista, por mais que fossem contrários ao que realmente o regime fascista de Mussolini pregava. A oposição ao aborto, à eugenia, ao totalitarismo, ao estatismo e até mesmo a proibição do armamento civil tornaram-se ideias associadas ao nazi-fascismo quando é evidente que tais regimes tinham postura exatamente contrária. Banalizando e ressignificando os termos para que servissem ao seu propósito, os líderes revolucionários passaram a chamar ditaduras, como a China, a Coreia do Norte e a extinta Alemanha Oriental de democracias ao passo que anulavam quaisquer vertentes de oposição, distorceram a ideia de soberania para que um grupo fizesse às vezes do povo ainda que contra o povo e deram a mídia, quase sempre controlado ou parceira do poder, o título de opinião pública, subtraindo, mais uma vez, uma característica que deveria ser do povo. Nações tomadas pelo unipartidarismo que fingem que há soberania popular, parlamentos com eleições indiretas que solapam os verdadeiros representantes e, na sua mais nova versão, tribunais que se consideram mais democráticos que o parlamento enquanto tratam o verdadeiro soberano, que deveria ser o povo, como um aglomerado de pequenos tiranos. A verdadeira tirania, que testou, com sucesso, um regime de exceção durante a pandemia, instaurou um sistema no qual a vontade da autoridade expressa em uma carta, deve ser cegamente cumprida, mesmo que afronte a realidade e não apresente qualquer justificativa. Durante os testes da pandemia, houve quem impusesse aos cidadãos, verdadeiro toque de recolher, se que ficasse claro qual a relação de contágio com o período noturno, bem como, a impossibilidade de adquirir determinados bens, isolando prateleiras nos mercados, algo que, igualmente, não foi explicado. Recentemente, o aumento do percentual de etanol na gasolina, algo que era limitado com base no argumento de que um percentual elevado colocava em risco o funcionamento do motor dos veículos, logo, danificava os bens de terceiros em função do aumento do lucro dos postos, foi adotado com a premissa de manter o preço do combustível viável, ignorando totalmente o argumento que sustentava a proibição anterior. Restou evidente que a proibição anterior era uma farsa ou, ainda mais grave, que o aumento no percentual colocado em prática, visa um benefício político para o Governo atual que resultará em prejuízo, antes inadmissível, aos proprietários de veículo. Ao perceber que não é preciso justificar suas ações perante o povo, uma vez que, tal aglomerado de pequenos tiranos não é digno de se julgar soberano, o autoritarismo tomou cada vez mais medidas descabidas e não fundamentadas, deixando claro que o outrora invocado “espírito da lei”, a justificativa para a existência de lei, ato normativo ou decisão judicial, perdeu sua serventia, pois não se sabe o quê é soberania e qualquer ato contrário a uma autoridade que se considere a nação pode ser tratado como ataque à soberania ou ao Estado Democrático de Direito, sem, ao menos definir como seria derrubado o Estado em mera cogitação ou sem meios eficientes, abolindo assim os conceitos de fase de cogitação e crime impossível, outrora válidos, do Direito Penal. Se nem mesmo organizações criminosas como o Comando Vermelho, O Primeiro Comando da Capital, o Terceiro Comando Puro e outras tantas, que, de fato, exercem controle territorial e aplicam suas regras aos cidadãos que habitam em tais regiões, por mais que tenham características de organizações terroristas, não são consideradas como ameaças reais ao Estado Democrático de Direito, seria absurdo assumir que indivíduos armados, em um domingo, tomariam o poder e fariam a abolição forçada do Estado, além, é claro, executarem uma autoridade que sequer no país se encontrava, por isso, a narrativa acaba deixando pontas tão soltas que impedem que qualquer ser racional, não movido por interesse nefasto ou uma paixão doentia, seja convencido. Restou a famigerada defesa de uma democracia sem povo, posto que, são pequenos tiranos, e da soberania nacional que se vê atacada quando autoridades têm vistos negados para entrarem em outro país, que está exercendo a sua própria soberania, ao não aceitar visitantes indesejados em seu território, confundindo os incautos alegando que qualquer prejuízo a determinadas autoridades é um ataque à nação. A confusão entre a figura tirânica e o próprio Estado, muito bem colocada na frase “ Je suis la Loi, suis L’Etat; L’Etat c’est moi ” nunca foi tão evidente. Por mais que pareça absurdo, vivemos em um momento no qual compreender o real significado das coisas tornou-se uma tarefa indispensável, pois, se não um povo ignora a verdade, nos tornamos uma nação perdida. É preciso enfrentar a raiz do problema para que não sejamos iludidos guiados por tiranos. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. IV N.º 56 edição de Julho de 2025 – ISSN 2764-3867

  • Ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil

    Neste ano de 2022 comemoramos o bicentenário da Independência do Brasil, ou seja, no dia Sete de Setembro celebraremos os duzentos anos do famoso ‘grito do Ipiranga’, “Independência ou Morte!”. A Revista Conhecimento & Cidadania preparou para você leitor, três textos introdutórios imediatamente anteriores a esta edição, ( José Bonifácio, Leopoldina , Pedro de Alcântara ) de caráter biográfico e pretende oferecer agora uma visão ampliada do cenário dentro e fora do Brasil, que acompanhou o processo de nossa Independência, processo que se estendeu de 1821 a 1825. Iniciaremos esclarecendo que o Sete de Setembro é atualmente a nossa data oficial, porém já foi comemorada em outra data, ou seja, o dia doze de outubro que era o dia do nascimento de D. Pedro I e foi também o dia de sua aclamação como imperador do Brasil. Para alguns estudiosos do tema, o dia vinte e nove de agosto de 1825 seria a data mais correta para a celebração, visto que naquela data foi assinado o Tratado do Rio de Janeiro, firmado entre o Brasil e o Reino de Portugal, reconhecendo nossa Independência de maneira oficial. Ainda durante o segundo reinado o dia doze de outubro foi substituído pelo Sete de Setembro, para dissociar o evento da figura do imperador, garantindo a impessoalidade do fato (impessoalidade que viria posteriormente se tornar um princípio constitucional). Fato é que só muito posteriormente o Sete de Setembro se tornou oficialmente o Dia da Independência por meio da Lei Federal número 662 de sete de abril de 1949. O quadro que ilustra este artigo é obra do pintor Pedro Américo, executada em 1888 é uma representação artística e idealizada do fato ocorrido sessenta e seis anos antes nas proximidades do Riacho do Ipiranga em São Paulo. Por ser uma representação, não segue necessariamente o rigor histórico, mas pretende antes atender a um interesse. O quadro serve de reforço à construção de um sentimento de identidade nacional, fundamental à existência e manutenção de uma nação. A rememoração dos fatos, a celebração dos ícones e o culto aos mitos fundadores, todos são elementos constituintes do que poderíamos chamar de ‘processo de criação do sentimento de brasilidade’. Os soldados presentes no cenário representariam a Imperial Guarda de Honra de D. Pedro I, criada a partir do famoso Dia do Fico, entretanto o fardamento remete aos trajes de gala da tropa, assim como a indumentária de D. Pedro I. Em ambos os casos estariam inadequados aos eventos retratados. De igual modo, a utilização de cavalos para o trajeto Santos-São Paulo seria inviável, preferindo-se o uso de mulas. Como dissemos não é o objetivo de uma representação artística, atender aos rigorismos históricos de uma obra escrita, mas antes atender ao seu objetivo de comunicação com o observador. O ‘Grito do Ipiranga’ pode ser entendido como o clímax de um processo de separação política entre o reino do Brasil e os reinos de Portugal e Algarve. Esta afirmação é parcialmente correta como veremos adiante, mas não pode ser associada necessariamente à conquista ou à manutenção das liberdades em nosso país. Crer na Independência como um fim em si mesma, ou que esta caminha de mão dadas com a liberdade, é fechar os olhos às transformações impostas pelo tempo, pela natureza e pelos homens. Na brilhante citação atribuída a Thomas Jefferson, alertando que “o preço da liberdade é a eterna vigilância” , é que planaremos sobre os eventos dos idos de 1822, buscando perceber o quanto os fatos se interligaram, criando uma tela onde podemos apreciar como que estáticos, o tempo e os entes que inauguraram os nossos frágeis tempos de liberdades. Durante as décadas recentes, diversas obras literárias buscaram representar a Independência do Brasil como uma dádiva que não contou com a viva participação do povo. Apresentou-se por muito tempo os colonizadores portugueses exclusivamente como exploradores, usurpadores de riquezas e genocidas das etnias nativas. Reduzir o período colonial à obra de párias portugueses que legaram apenas destruição, morte, atraso e fracasso, tem criado, fortalecido e mantido um sentimento de vergonha ou de não identificação com a própria história que só tem causado danos ao país. A expressão cunhada por Nelson Rodrigues, o “complexo de vira-latas” define bem o desencanto a que foi levado o imaginário popular brasileiro. Quando falamos em processo de independência, normalmente nos remetemos também à todas as revoltas anteriores que de alguma forma questionavam a autoridade portuguesa sobre alguma parte de nosso país. Há que se diferenciar as de viés nativista e as separatistas. No primeiro caso, buscavam se opor ao poder das autoridades locais sem pretender a autonomia da colônia como um todo. No segundo caso os objetivos eram mais abrangentes, ainda que iniciados a partir de um ponto de vista restrito aos seus locais de origem. Em todos os casos é inadequado supor a possibilidade de qualquer identificação coletiva da população ao que viria a ser o Brasil. Tínhamos regionalismos pujantes e um nacionalismo em estado de gérmen. Assim, elencamos dentre as nativistas a Revolta de Beckman (1684), a Guerra dos Emboabas (1708 a 1709), a Guerra dos Mascates (1710 a 1711) e a Revolta de Filipe Santos (1720). Dentre as separatistas temos a Inconfidência Mineira de 1789 e a Conjuração Baiana de 1798. Não é correto entender estes eventos nativistas ou separatistas como preparatórios e cumulativos para chegarmos à independência em 1822, porque de fato não eram integrados àquele sentimento de identidade nacional anteriormente citado e não representavam ainda um pensamento único e estruturante. Nossas revoltas ocorreram paralelamente e sendo subsidiárias de eventos externos que as influenciaram. Os ideais iluministas, que apesar do controle exercido pela coroa portuguesa, vinham chegando ao Brasil trazidos pelos brasileiros que voltavam dos estudos na Universidade de Coimbra, despertavam algum senso de liberdade. A própria Independência das colônias britânicas na América do Norte em 1776, seguida da Revolução Francesa em 1789, demonstravam que o absolutismo monárquico estava sendo afrontado na prática e não mais de modo restrito ao campo das ideias. Não podemos esquecer que a Revolução Haitiana de 1804, a argentina em 1810, do Paraguai em 1811, do Chile em 1818, México e Peru em 1821, mostravam de modo inquestionável que o fenômeno das independências se tornava generalizado e que o Brasil não passaria ao largo de tantos eventos sem colher em seu próprio solo os frutos das sementes de liberdade. Nenhum destes eventos isoladamente pode explicar a Independência do Brasil, mas vistos com o necessário distanciamento, afirmam positivamente a inserção do Brasil em um cenário regional de independências. A Ascensão do Brasil à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves em dezesseis de dezembro de 1815, promovida por D. João VI, anos após a chegada da estrutura administrativa do império português ao Brasil, está diretamente relacionada à ascensão de Napoleão Bonaparte ao poder na França em 1804 e a posterior ameaça de invasão a Portugal. Do ponto de vista administrativo, não faria sentido manter instalada a sede do reino de Portugal em uma colônia, daí a solução de elevar o status administrativo do Brasil a reino unido. A questão a ser destacada é que esta elevação não passaria sem deixar seu legado. A instalação de tribunais, nomeação de juízes, todo um conjunto de elementos formais da burocracia estatal, incluindo funcionários, cargos e outros acessórios passariam a fazer parte da sociedade brasileira. Em 1820 a Revolução Liberal do Porto escancara alguns pontos importantes para a história de Portugal, mas que interferiram diretamente na história do Brasil. Desde 1815 com a prisão de Napoleão, findo o governo dos Cem Dias, ficava clara que a causa da permanência de D. João VI no Brasil, em companhia de importante parte da administração do império estava encerrada. Do ponto de vista dos remanescentes portugueses, o retorno do rei era mais que justo, era prioritário. Tal retorno vinha sendo adiado, entre outras razões de estratégia política de D. João, também porque o rei havia desenvolvido muito apreço pelo Brasil e por sua permanência aqui. Somente com o início da Revolução de 1820 é que ficou evidente que não retornar representaria a real possibilidade da perda definitiva do Reino de Portugal. Assim, em vinte e seis de abril de 1821, D. João VI chega à Lisboa, deixando D. Pedro de Alcântara como príncipe regente do Reino do Brasil. O retorno do rei a Portugal não era a única petição dos revoltosos. A elaboração e efetiva aceitação de uma Constituição liberal, também estavam previstas e foram formalizadas em setembro de 1822. Para além da alteração do status de governo, passando de uma monarquia absolutista para uma monarquia constitucional liberal, era também pretensão das cortes portuguesas que o reino do Brasil deixasse de existir e que suas províncias se reportassem diretamente ao governo de Portugal. Se recordarmos de toda a estrutura criada e já citada para o funcionamento do Brasil enquanto Reino Unido a Portugal, compreenderemos o impacto desta medida na vida social e política do Brasil. A permanência do príncipe D. Pedro no Brasil, reforçada e entendida como uma afronta direta às cortes e seus ideais, no episódio do ‘Dia do Fico’, colocava o Brasil no centro das atenções metropolitanas. Urgiria recrudescer e impor ao Brasil as decisões partidas de Lisboa, onde D. João VI já se encontrava como rei de direito, mas não completamente de fato. Em 1822 o Brasil se encontrava dividido quanto ao alinhamento às duas causas que se apresentavam: a aquiescência às ordenações vindas de Lisboa ou a ruptura completa em relação a Portugal. Os setores vinculados ao funcionalismo administrativo, aos tribunais locais e setores econômicos que vinham se beneficiando (e ao país) com a liberdade do comércio conseguida com o fim do ‘exclusivo colonial’, apoiavam a permanência de D. Pedro e a possível ruptura. Por outro lado, parte dos militares, algumas lideranças políticas regionais visando antes se opor à ascendência de José Bonifácio sobre D. Pedro, que alcançar objetivos maiores ao país, alinhavam-se à Portugal. Mesmo entre os apoiadores da ruptura não existia um consenso com relação à forma de governo, havendo os que defendessem a ruptura em direção direta a uma República, outros defendendo a instauração de um reino independente sob a liderança de D. Pedro e, dentre estes últimos havia os partidários de um poder mais centralizado e outros que defendiam a elaboração de uma Constituição própria para o Brasil, além de mais autonomia para as províncias. Em meio às contendas quanto à forma administrativa, setores das províncias de Minas Gerais e São Paulo ameaçavam rebelarem-se contra a autoridade do Príncipe Regente. Nesse sentido, D. Pedro viajou àquelas províncias para retomar a ordem necessária à solução dos problemas que o país enfrentava. Em meio à viagem pacificadora à província de São Paulo, D. Pedro possivelmente percebeu a necessidade premente de garantir a segurança das fortalezas próximas aos portos mais importantes do Brasil (Santos era o segundo mais importante, precedido pelo porto do Rio de Janeiro). Daí, seguindo em direção a Santos no dia cinco de setembro, inspecionou as fortalezas locais, dando ordens para garantir o abastecimento dos paióis e a prontidão da guarda. No dia sete, ainda a caminho de retorno a São Paulo, D. Pedro recebe as famosas cartas enviadas pela Imperatriz Leopoldina e José Bonifácio, dando conta das últimas informações sobre as atas de assembleias das cortes. Por serem relatos das atas, ainda não representavam ordens vindas de Portugal, mas certamente antecipavam a iminente dissolução do Reino do Brasil e a imposição do retorno imediato do Príncipe a Portugal. Em meio a todas as questões internas e externas que exerciam pressão sobre o Príncipe Regente, conhecedor de todos os processos que se desenvolveram nas antigas colônias espanholas a seu tempo, sabendo por José Bonifácio da iminência de uma revolução que ocorreria à revelia de sua vontade caso se submetesse à cortes, D. Pedro possivelmente se viu em um ‘ponto sem retorno’. A Independência do Brasil ocorreria e quanto a isso não haveria remédio. Vejamos as palavras de José Bonifácio em sua carta: “(...) A revolução já está preparada para o dia de sua partida. Se parte, temos a revolução do Brasil contra Portugal, e Portugal, atualmente, não tem recursos para subjugar um levante, que é preparado ocultamente, para não dizer quase visivelmente. Se fica, tem, Vossa Alteza, contra si, o povo de Portugal, a vingança das Cortes, que direi?! Até a deserdação, que dizem já estar combinada. Ministro fiel que arrisquei tudo por minha Pátria e pelo meu Príncipe, servo obedientíssimo do Senhor Dom João VI, que as Cortes têm na mais detestável coação, eu, como Ministro, aconselho a Vossa Alteza que fique e faça do Brasil um reino feliz, separado de Portugal, que é hoje escravo das Cortes despóticas. (...) Fique, é o que todos pedem ao Magnânimo Príncipe, que é Vossa Alteza, para orgulho e felicidade do Brasil. E, se não ficar, correrão rios de sangue, nesta grande e nobre terra, tão querida do seu Real Pai, que já não governa em Portugal, pela opressão das Cortes; nesta terra que tanto estima Vossa Alteza e a quem tanto Vossa Alteza estima.” A pacificação das desordens em Minas Gerais e São Paulo, a recepção de um abaixo assinado contendo mais de oito mil assinaturas (volume extraordinário de adesões voluntárias para a época), os conselhos de Bonifácio e da Imperatriz, a condição de D. João VI em Portugal, a possibilidade de uma revolução interna que poderia conduzir o Brasil ao esfacelamento de seu território, todas as questões ora apresentadas não deixaram a D. Pedro outro caminho que não fosse agir. “O momento não comporta mais delongas ou condescendências” dizia Bonifácio no início de sua carta, e de fato nada mais restaria a fazer senão lançar fora o adorno de fita azul e branca, representativa de Portugal que seguia preso a seu chapéu e bradar aos membros de sua guarda e acompanhantes: “Pelo meu sangue, pela minha honra, pelo meu Deus, juro promover a liberdade do Brasil. Independência ou Morte!”. Estava feita, ainda que de maneira simbólica, mas profundamente representativa, a Independência do Brasil. Refutando as teses que defendem que o processo de Independência do Brasil foi passivo e pacífico, entre 1822 e 1825 ocorreram distúrbios, revoltas e enforcamentos. Bahia, Piauí, Pernambuco, Maranhão e Grão-Pará foram palcos de enfrentamento entre as forças revoltosas locais e as tropas leais a D. Pedro. A independência não se resumiu a um acordo em família e ao pagamento de uma indenização a Portugal. Lutas ocorreram, sangue brasileiro foi derramado e o legado das lutas não pode ser esquecido, mas antes de tudo exaltado. “ Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda” é parte de uma poesia de Cecília Meireles. Liberdade não é um lugar de descanso, liberdade é um exercício ao longo do próprio caminho rumo ao futuro. Nosso sonho de liberdade tem sido alimentado e construído há séculos, foi buscado e defendido por muitos brasileiros antes que nós sequer viéssemos a existir. A liberdade que D. Pedro jurou defender, liberdade que uma vez conquistada, tantas vezes foi ameaçada e defendida. Liberdade, palavra tão abrangente que carrega em si múltiplas possibilidades: de pensamento, de expressão, de fé, de ir e vir, enfim, palavra tão atual e mais uma vez ameaçada. “Cadê a nossa liberdade? Eu prefiro morrer do que perder minha liberdade” disse o Presidente Bolsonaro se referindo à imposição de um suposto passaporte vacinal. Nosso Presidente em sua fala já entendera que vida sem liberdade não é vida, é simulacro de morte. Onde está a liberdade sonhada por José Bonifácio e defendida por D. Pedro? O que faremos nós, herdeiros de um legado tão nobre diante de tantas e insanas ameaças às nossas liberdades? O ano de 2022 se apresenta como ‘um ponto sem retorno’, ou defendemos as nossas liberdades ou o fracasso, a corrupção, a dilapidação do erário nacional em nome de uma utopia despótica e castradora será nossa realidade. A liberdade já foi conquistada, mas deve ser continuamente protegida para não ser perdida. A nós não resta outro caminho que não seja agir, pelas vias democráticas, com senso de identidade nacional, com amor e patriotismo, mas agir. Findas todas as possibilidades, não havendo horizonte além da escravidão e da opressão, ainda assim nos restará por divisa “ou ficar a Pátria livre ou morrer pelo Brasil!”. Vivas o Brasil! Salve Sete de Setembro! Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N.º 18 edição de Agosto de 2022 – ISSN 2764-3867

  • Ser ouvido

    No dia 18 de julho foi aniversário do meu filho. Em uma comemoração simples, reuni em casa alguns poucos parentes com bolo e salgadinhos. Um desses parentes é meu primo pequeno, de apenas oito anos, filho da minha prima mais nova. Em um certo momento da festinha, ele me aborda e pergunta: "O que você sabe sobre deuses gregos?" Confesso que a pergunta me pegou de surpresa. Afinal, nos dias de hoje, não é com frequência que uma criança dessa idade se interesse por mitologia. No máximo, quer um livro de colorir da moda. Neste momento, minha tia (avó dele) falou "Que besteira!". E meu pai destacou: "Quero é pix!"Contudo, minha irmã e eu saímos em defesa do primo: "É bom que ele se interesse por isso", disse minha irmã. Eu salientei: "Não acho errado ele demonstrar interesse por mitologia, pelo contrário! Ele vai aprender muito!" Porém, meu primo seguiu sendo ignorado. E isso me fez pensar. "Meu Deus, eu ouço meu filho, eu presto atenção no que ele gosta. Como que meu primo não é ouvido?", refleti no meu íntimo. E, no meu caso, há o plus do autismo. Mais do que ninguém, eu conheço a criança da minha casa e faço questão de incentivá-lo. Por conta do autismo, Renato, meu filho, possui hiperfoco em veículos. Então, o ânimo em seu gosto peculiar: assistimos vídeos de trajetos inteiros de trens e ônibus no Youtube, compro ônibus de brinquedo (que, inclusive, ajudam em momentos de crise quando estamos na rua) e, de vez em quando, saímos para dar uma volta de BRT. E já tomei conhecimento de uma feira de ônibus antigos que ocorre de tempos em tempos, somente aguardando a data para que possa levá-lo. Aproveitei o hiperfoco para desenvolver sua leitura. Embora sempre me visse com um livro na mão, Renato rejeitava a ideia de ler. Era só eu me aproximar com o livro da escola que a crise era certa. Então, aproveitei o hiperfoco a meu favor. O primeiro livro que comprei para ele se chama "Meus primeiros veículos". Renato praticamente decorou, ao ponto de eu mesma aprender. Voltemos ao caso do meu primo: embora não tivesse nenhum livro à mão sobre mitologia grega, já sei onde encontrar um exemplar sobre o tema. Eu o ouvi e vou atender a esta voz. Muitos de nós que nos autodeclaramos direitistas e conservadores e declaramos guerra automática contra Paulo Freire e companhia ilimitada, fazemos militância contra as telas, exaltamos a educação clássica e tantas outras coisas. Mas será que ouvimos nossos filhos? Quantos de nós estamos, de fato, prestando atenção nos interesses deles? Será que não estamos fazendo da nossa ideologia uma muleta para não tocarmos na real ferida? É fácil produzir vídeos, adquirir cursos e tantas coisas mais porque isso abafa a problemática real: não queremos assumir a nossa responsabilidade. Reclamamos dos progressistas, que insistem na terceirização do ensino, mas agimos tal qual a eles, quando perguntamos a terceiros como agir em nossa própria casa. Ao invés de maratonar horas e horas de conteúdo de "influenciadores", mais produtivo é desligar os aparelhos e levar as crianças para brincar na terra. Mais sábio é levar os filhos ao parque e ensinar sobre a vida. Mais inteligente é levar as crianças à igreja e ensinar sobre a santidade. Não há dinheiro no mundo que pague essa aproximação com nossos filhos. Ainda sobre o corrido com meu primo e após comentários dos parentes: imediatamente lembrei do saudoso professor Olavo, que disse: “Todo mundo sabe que brasileiro é o povo mais dinheirista do mundo. Não se pode dizer que ele só pensa em dinheiro porque ele também pensa em sexo. Mas se tirar o sexo, só pensa em dinheiro. Ou como dizia o Millôr Fernandes, ‘Ele pensa em falta de dinheiro.’ Então são pessoas obcecadas. E isso aí é um dos motivos do atraso brasileiro" (True Outspeak, 12-03-2007). Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. IV N.º 56 edição de Julho de 2025 – ISSN 2764-3867

  • Sobre a democracia

    Se tem algo que muitas pessoas já constataram é que a democracia está extremamente fragilizada, e o que é pior, fragilizadas estão também as instituições e as pessoas que deveriam protegê-la. Mas, porquê a democracia é tão ovacionada pelo povo se é realmente tão frágil? Lembremos que em todas as grandes civilizações – e aí eu me refiro aos tempos áureos – todas elas não tinham como formas de governo a democracia, como podemos conferir em nossa história humana. Sobre isso podemos aprender um pouco mais com Platão, em sua obra: A República. Sobre estas civilizações que duraram milênios e em perfeita harmonia com a leis do universo, e aí está o segredo! Em todo seu auge apoiaram-se naquilo que era inexorável, e não no que era imprescindível, embora o imprescindível seja importante como meio enquanto o inexorável é o fim. O imprescindível seria, por exemplo, algo que seja fundamental, mas que se pode optar por não fazer mesmo que com prejuízo da própria vida como o ato de alimentar-se ou hidratar-se; Pode-se optar por não fazer, mas certamente morrerá. Já o Inexorável, é aquilo que não está sobre nosso controle, competência, alçada, em fim, está fora do campo da ação humana, como por exemplo o nascer do sol, a chegada das estações, o nascer, o morrer, entre outros poderes. Mas, se o ideal é nos apoiarmos enquanto sociedade ao menos em algum nível naquilo que é Inexorável, como posso então me aproximar desta forma de governo tão ideal e que nos torne soberanos? O segredo é observarmos o que deu certo em cada nível de vida e em seu lugar próprio como ser que é. E de que maneira? Trazendo para nós o seu reino. Isso não não lembra o Conservadorismo? Isso nos lembra alguma frase importante? Veja que por exemplo o reino animal é muitas vezes usado como exemplo para o reino humano e isso não é porque o reino animal seja melhor, do que o reino humano, e sim por que o mesmo não está cumprindo seu dever próprio. Devo lembrar que isto é fruto da ignorância e isso nos lembra outra frase importante: Meu povo erra por ignorância. Vou citar alguns exemplos para esclarecer como uma sociedade que pretende cumprir seu papel e ser plena, não deveria se fixar em uma forma de governo que existe como meio e não como fim, veja: uma família é regida de forma democrática? Certamente que não, lá manda quem sabe mais. (ao menos é o ideal) No reino animal, o líder é escolhido pela maioria? Certamente que não, certamente o mais preparado assume o grupo. Na flora a democracia está presente? Não, lá uma força da natureza rege tudo a partir de uma inteligência superior. Assim como no universo, ninguém questiona a autoridade do sol, quem pode impedi-lo de nascer? Lembremos que aquele que deve ser governado, jamais deveria estar em posição de governo. Sobre este olhar reflexivo, quero lançar uma semente para que possamos ampliar nosso leque de opções como alvo e fortalecer nossa esperança, sabendo que estamos buscando vitórias sobre batalhas e muito longe de vencer a verdadeira guerra que é sobre a ignorância. Talvez alguém pergunte: Podemos aplicar esta forma de governo em nossa sociedade? Certamente que não, não hoje, mas podemos em algum nível aplicá-la em nós como uma disciplina em direção ao nosso alvo atual que é a LIBERDADE! Podemos hoje mesmo ver em nosso momento histórico, homens que praticamente sozinhos, liderando tantos outros lutam contra o que parece impossível vencer, visto o tamanho do aparelhamento, mas como algo que lembra uma lei universal, age de maneira quase inabalável, acompanhado por seus periféricos. Podemos sim internalizar esta força que Platão chamava de Aristocracia e não nos movermos de nossas posições nesta batalha que urge não apenas lutar, mas vencer, e assim será feito, dentro das quatro linhas da ética, moral, patriotismo e do amor a Deus. Que Deus Abençoe nossa jornada! Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N.º 18 edição de Agosto de 2022 – ISSN 2764-3867

  • Meus dracmas ou minha existência

    A Batalha de Salamina ocorreu no ano de 480 a.C. e teve como envolvidos os povos gregos e os persas, sendo uma revanche por parte dos persas contra, principalmente, os atenienses, por terem frustrados as investidas anteriores, ao vencerem a Batalha de Maratona. O Rei Xerxes dos persas enviou parte de sua tropa por terra, mas, ante as dificuldades do terreno, optou por lançar a maioria de seus guerreiros em barcos, que partiriam da Ásia Menor, atualmente a Turquia, com destino à Atenas. Após a vitória dos atenienses em Maratona, que se dera uma década anterior a Batalha de Salamina, foi profetizado pelo Oráculo de Delfos que sua cidade cairia perante um novo ataque dos persas, sendo lhes dito que protegessem em suas muralhas de madeira. Após longo debate, compreenderam que as referidas “muralhas de madeira” seriam embarcações, logo, os gregos deveriam levar a batalha para o mar. Atenas deveriam construir um número de embarcações capaz de frustrar a invasão vinda da Pérsia, o que foi feito, mas havia um custa a ser suportado. O custo da guerra sempre foi impactante, mas perdê-la seria ainda um peso maior, por isso, decidiram construir a frota. Durante a batalha, as forças persas foram consideravelmente atrasadas por terra, contudo, conseguiram chegar ao litoral ateniense, destruindo a cidade enquanto os cidadãos estavam protegidos em suas “muralhas de madeira”. O contra-ataque dos gregos destroçou os invasores que não tiveram condições de vencer a cidade-estado de Atenas e, por conseguinte, tiveram seu pretenso avanço por toda a Grécia antiga interrompido. Temístocles, um líder à época, convenceu o povo de Atenas a construir o máximo de barcos que fosse possível, posto que, sabia que os persas não desistiriam após a derrota em Maratona. A mina de prata localizada ao sul da cidade de Atenas, chamada Mina de Laurion, que além do metal mais abundante, também era fonte de cobre e chumbo. Um terceiro veio foi descoberto na região, tornando a mina grande fonte de riqueza, há quem defenda que poderia dar certo conforto a todos os cidadãos da cidade-estado, uma vez que, inicialmente a fortuna extraída de Laurion seria distribuída igualmente entre os atenienses. Tal destino fora decidido entre os habitantes e Temístocles teve de convencer cada um de seu povo a abdicar de sua parcela da riqueza, sendo necessário que todos confiassem a fortuna aos que dariam cabo da missão de construir os navios. Os cidadãos atenienses abriram mão de uma considerável participação para que sua cidade-estado pudesse se defender dos persas, o que parece em um primeiro momento uma ideia coletivista, entretanto, longe disso, aqueles cidadãos deixaram suas ambições de lado para garantir a existência de sua sociedade, construindo uma frota naval capaz de vencer seus algozes. Nenhum dos atenienses aproveitaria seu quinhão se fizessem a escolha pelo imediatismo. Ao repartir a riqueza de Laurion, Atenas faria de seus cidadãos mais ricos porém os condenaria a uma derrota quando da invasão vindoura, por isso, cada um teve que suportar a perda para construir as embarcações. No caso da Batalha de Salamina, os atenienses restaram vitoriosos, sendo certo que seu sacrifício foi recompensado pela sua sobrevivência. Todavia, há alguns pontos que devem ser observados e trazidos para a contemporaneidade, para compreendermos o quão nossas ações podem impactar no futuro e que a busca por um retorno imediato pode nos custar caro demais. Uma das questões centrais seria a atual ausência de patriotismo, bem como, da identidade como povo, que poderia levar os indivíduos à recusa em construir as embarcações, tendo em vista que, sem a menor preocupação em salvar nada além de sua própria pele. Imagina-se que nos dias atuais, mitos optariam pelos dracmas e simplesmente esbanjariam tal riqueza, ou mesmo, tomariam um rumo de posse dos valores. A falta de compromisso com a civilização poderia ser tamanha que não haveria a renúncia às riquezas de Laurion em favor das futuras gerações. Basta observar quantos são os que se corrompem e deixam um legado nefasto, vendendo o futuro de seu próprio povo em nome de sua ganância. A corrupção é, sem dúvida, uma chaga comportamental, que macula o caráter, mas está intimamente ligada ao desapreço pelo próprio povo. É doentio como um agente pode aceitar a corrupção tendo consciência de que o preço será a destruição do futuro, em síntese, aceitar um valor para seu proveito sabendo que um dia os persas chegaram. Por outro lado, há também a desconfiança, pois como as autoridades são também cidadão, não se pode dar fé aos seus pares quando se sabe são tão corruptíveis quando todos os demais. Na realidade atual, confiar seu quinhão às autoridade não parece algo muito sóbrio, posto que, muitos daqueles que deveriam se dedicar aos cidadão são aqueles que se locupletam das coisas públicas, dos bens alheios. Por fim, cabe-nos entender que nossas decisões são o que nos mantém de pé ou de joelhos e que sacrifícios serão exigidos em nome daquilo que consideramos maior, pois, para muitos, a Batalha de Salamina foi quem garantiu a existência de toda a civilização ocidental, portanto, devemos compreender que alguns combates não podem ser evitados e que pode haver um propósito maior em nossas ações, ainda que não possamos compreendê-lo. A defesa da cidadania é a defesa da existência como indivíduo, o legado não pode ser um veneno para as futuras gerações e sim uma dádiva que brota do sacrifício. A maior prova de amor aos descendentes e honra aos ancestrais e deixar um mundo livre e justo como fruto de uma vida. Herdeiros, que somos, da civilização ocidental, seguindo os exemplos dos atenienses, nos cabe honrar nossa história e lutar por um futuro na qual a civilização seja alicerceada em valores de justiça e liberdade. Que o povo brasileiro tenha muitos dracmas, mas que saiba sempre que sua existência está muito acima, pois não será consumida se cada um fizer da liberdade, justiça e a fé sua “muralha de madeira”. “Se a Pátria querida For envolvida pelo inimigo Na paz ou na guerra Defende a terra contra o perigo Com ânimo forte, se for preciso Enfrenta a morte Afronta se lava com fibra de herói De gente brava Bandeira do Brasil Ninguém te manchará Teu povo varonil Isso não consentirá Bandeira idolatrada Altiva a tremular Onde a liberdade é mais uma estrela a brilhar” Fibra de Herói - Teófilo De Barros Filho Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. I N.º 18 edição de Agosto de 2022 – ISSN 2764-3867

  • A Revolução que calou os altares

    A Revolução Francesa, ocorrida entre 1789 e 1799, é frequentemente apresentada como um marco de progresso, símbolo da luta pelos ideais iluministas de liberdade, igualdade e fraternidade. No entanto, ao analisar com profundidade os eventos que marcaram sua relação com a Igreja Católica, percebe-se uma face contraditória e sombria: os mesmos revolucionários que proclamavam os direitos universais foram também responsáveis por uma intensa perseguição religiosa, que culminou em massacres, exílios e execuções de padres, freiras e fiéis leigos. A Igreja Católica, até então uma das instituições mais influentes da França, possuía vastas propriedades e uma forte presença no cotidiano dos franceses. Não obstante, foi rapidamente associada ao Antigo Regime pelos líderes revolucionários e acusada de conivência com a opressão aristocrática. A imposição da Constituição Civil do Clero em 1790, que obrigava os sacerdotes a jurar fidelidade ao Estado, acentuou essa tensão. Aqueles que recusaram, tornaram-se inimigos da Revolução e foram rotulados como “refratários”, alvos preferenciais do novo regime. A perseguição se intensificou com o Reinado do Terror, entre 1793 e 1794, período em que milhares de religiosos foram presos e executados, muitos deles guilhotinados publicamente apenas por defenderem sua fé. A contradição entre os ideais proclamados e as ações praticadas torna-se evidente ao se observar que, apesar da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão garantir a liberdade religiosa, na prática houve o fechamento de igrejas, proibição de cultos, destruição de símbolos religiosos e substituição do cristianismo pelo culto à razão. Cerimônias públicas passaram a entronizar alegorias como a "Deusa Razão", inclusive dentro da Catedral de Notre-Dame, o que revelou uma tentativa explícita de apagar a influência espiritual da sociedade francesa. A resposta da Igreja Católica foi marcada por resistência e resiliência. Muitos padres continuaram a celebrar missas clandestinas, sustentados por fiéis que recusavam abandonar sua fé. O Papa Pio VI, em 1791, condenou oficialmente a Constituição Civil do Clero, criando um cisma entre os padres que aceitaram o juramento e os refratários. Religiosos exilados mantiveram vínculos com comunidades de fé fora da França, enquanto os que permaneceram tornaram-se, aos olhos de muitos, mártires da liberdade espiritual. Exemplos emblemáticos dessa perseguição incluem as 16 Carmelitas de Compiègne, guilhotinadas em 1794 por manterem a vida conventual em segredo, e os massacres de setembro de 1792, que vitimaram centenas de padres e religiosos encarcerados. A violência revolucionária atingiu um nível tal que o uso contínuo da guilhotina gerou consequências físicas no espaço urbano de Paris. Relatos históricos indicam que o sangue das vítimas escorria entre os paralelepípedos das ruas, impregnando o solo com um odor tão forte e persistente que, anos após o fim do Terror, foi necessário refazer as calçadas para eliminar o fedor das execuções. A guilhotina, inicialmente idealizada como símbolo de igualdade na morte, transformou-se em instrumento de opressão brutal e de propaganda do medo. Diante desses fatos, impõe-se uma reflexão inevitável sobre a natureza humana e a essência das revoluções. Todo movimento social, está sujeito à contaminação por interesses particulares, vinganças e disputas de poder. A imparcialidade é uma ilusão, e a justiça proclamada em discursos muitas vezes contradiz-se na prática. A perseguição aos religiosos na Revolução Francesa revela que a liberdade não era para todos, a igualdade não contemplava os que pensavam diferente, e a fraternidade excluía os devotos da fé cristã. O legado da Revolução Francesa, portanto, é ambíguo. O discurso de liberdade, igualdade e fraternidade era belo e atraente, mas, na prática, existia um palco de violências atrozes em nome da razão e do progresso. A Concordata de 1801, assinada por Napoleão Bonaparte, representou uma tentativa de reconciliação ao restaurar parte da liberdade religiosa, ainda que sob o controle do Estado. Reconhecer as contradições da Revolução é essencial para compreender que a verdadeira liberdade só existe quando há respeito pela diversidade de crenças, e que qualquer sociedade que suprime vozes dissidentes em nome de uma verdade única corre o risco de repetir os mesmos erros sob novas bandeiras. Qualquer semelhança é mera coincidência. Nos ajude a continuarmos publicando artigos como este, participe da nossa vaquinha virtual . Artigo publicado na Revista Conhecimento & Cidadania  Vol. IV N.º 56 edição de Julho de 2025 – ISSN 2764-3867

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